Eu queria mesmo sair correndo, fugir e sumir até que tudo se resolvesse ou até que tudo desaparecesse. Será que as pessoas que eu mais amo não entendem que estou tentando fazer diferente, que eu escolhi por uma alimentação mais natural para me desintoxicar e para não intoxicar o meu filho desde cedo, que existe uma nova forma de perceber a criação dos filhos e agir, que precisamos cuidar para que nossas crianças se desenvolvam e permaneçam conectadas com quem são em essência, e  se tornem adultos livres para escolher o caminho da própria felicidade? O diálogo ficava cada vez mais difícil, quase inexistente, discussões, brigas, palavras doídas que abriam feridas e buscavam sustentação em atitudes do passado.

Algo simples, que poderia ser tranquilamente conversado e resolvido, abria portas para monstros adormecidos saírem. E, de repente, eu me via sem chão. Em pleno processo de desenvolvimento pessoal, com um sonho lindo dentro de mim e a minha missão recém-descoberta, de cultivar a vida com saúde e felicidade, sentimentos tão difíceis de lidar e negativos vinham com toda força. Raiva, fúria, frustração, tristeza.

Antes, eu trabalhava sem propósito. Agora, eu tinha propósito, mas estava com dificuldades sérias de ajustá-lo ao meu dia a dia. Uma nova encruzilhada e a antiga frase reverberava em meu ser novamente: “eu sou uma fraude!”. E isso era só a pontinha do iceberg: são nítidas as consequências desse ambiente conflituoso no comportamento do meu pequeno. E mesmo que os adultos cuidem para que as crianças não presenciem momentos desagradáveis, elas sentem que algo não vai bem, elas são capazes de sentir a nossa alma.

Estou fugindo de quê?

Quando você decide mudar o rumo da sua vida, prepare-se. Certifique-se de sua clareza mental e controle emocional. É certo que muitos desafios aparecerão. E adivinha!! Não funciona correr, fugir, se esconder. Às vezes, alivia mesmo se trancar um pouquinho no quarto e chorar. Não resolve, mas alivia. Precisamos deixar fluir nossos sentimentos. A questão é: quando você abre a porta, os mesmos desafios vêm de encontro, às vezes de cara nova e outra roupagem. O que fazer? Lutar, brigar, tentar convencer o outro de que está certa? A gente sabe a resposta. Ter que provar algo a outra pessoa é agir a partir de uma resistência externa, é desgastante.

Os conflitos acontecem porque há um desequílibrio na relação e não ocorre assertividade na condução desses conflitos. Os pensamentos ficam turvos, os sentimentos descompensados e agimos impulsivamente. Respostas de luta ou fuga são acionadas como estímulos primitivos do nosso cérebro em situações de estresse. Saúde e felicidade são incompatíveis com o estresse. Vários processos internos do nosso organismo se desligam temporariamente porque precisamos direcionar a nossa energia para esse instinto de sobrevivência. O corpo sente. O corpo fala.

Não foi uma vez, nem duas, foram tantas discussões que é duro lembrar. Minha família, meu tesouro e meu maior desafio. Eu queria fugir. Do quê? De quem? Quando conseguia respirar melhor, me acalmar, dissipar a confusão mental em que me colocava, eram essas as perguntas que eu me fazia. Quanto mais abria a janela da minha alma, quanto mais luz deixava entrar, mais perceptível ficava a bagunça. A bagunça estava em mim, mas era escuro e eu não enxergava. Se está doendo em mim aqui, vai doer onde quer que eu vá. Como eu fugiria se levava junto a raiz dos conflitos que eu vivia? A boa nova é que, se clareei um pouquinho mais desse quartinho escuro interno, consigo arrumar o que estou vendo.

Aceitação da realidade

Eu consegui ver a minha bagunça, a minha verdade, o caminho que escolhi trilhar. Eu compreendi que era uma escolha minha e, claro, essa escolha afetaria outras pessoas, principalmente aquelas que seguiam comigo. Eu compreendi que existe a minha verdade e a verdade do outro, e a minha não era mais verdadeira ou correta, apenas era minha. Eu finalmente entendi que o óbvio, para mim, é só isso mesmo: óbvio para mim. Eu aprendi, primeiro na teoria e, depois, muito bem constatado na prática, que não vou convencer ninguém falando o que eu acredito. Aliás, eu nem tenho o direito de ficar convencendo alguém das minhas verdades. Enfim, aceitei, que o meu processo de evolução é único. Cada um tem o seu, no seu tempo. Aceitei a realidade como é.

Engraçado que, muitas vezes que falo de aceitação, isso não é bem aceito em nossa sociedade, a aceitação é logo associada a uma atitude passiva. Mesmo assim, eu quero lhe mostrar a forma como vejo. Se as coisas não estão ou não são como eu gostaria, tudo bem, eu aceito. Se uma pessoa não age como eu gostaria, eu aceito. Eu preciso aceitar os fatos como são neste momento. Lutar ou fugir não resolvem, lembra? E ainda gastam nossa energia de forma negativa.

Aceitar é um passo importante na compreensão de que a realidade que existe foi também criada por mim. Pensa comigo: os impasses na criação do meu filho só existem porque eu fiz a escolha consciente de buscar uma alternativa que considero melhor, mais natural. As discussões surgem quando resisto “bravamente”, rejeito o que se apresenta como realidade, a realidade que eu ajudei a criar. Quando aceito, abro o campo de possibilidades. Quando deixo de nutrir essa necessidade de convencer o outro do meu ponto de vista, me liberto para viver da maneira que acredito, sem essa dependência externa, entende?

Foco na solução

Apontar culpados é um escape para se isentar da responsabilidade. Uma vez aceita a realidade que cocriei e preservada a minha energia vital, posso direcioná-la à resolução das questões. Nesse caso, trago a responsabilidade para mim, a única pessoa em que tenho total poder de transformação e, o que antes era visto como um problema, se transforma em uma oportunidade de crescimento e de realização. O que o outro está me mostrando? Por que isso me incomoda? Como posso resolver essa situação dentro de mim?

No início, eu me desesperava e me perdia. Hoje, mesmo que aconteçam ainda conflitos, eu, cada vez mais consciente, respiro fundo, aquieto a mente e, então, reflito. Trazer à luz nossas sombras é, muitas vezes, doloroso, mas é necessário se queremos mudança. Dói perceber que, muitas vezes, eu brigava tentando convencer o outro de uma verdade que eu queria para minha vida, mas ainda não estava bem estruturada. Na verdade, eu estava tentando convencer a mim mesma de que podia ser diferente, que o açúcar faz mal mesmo e inflama o corpo, que eu posso ser firme com meu filho sem agressividade, que é possível uma vida mais simples e leve. Eu gritava com o outro para que eu mesma conseguisse me ouvir. Imagino que já tenha acontecido com você: quanto mais se grita, menos se ouve, a conexão se perde. Aprendi que preciso silenciar para uma escuta ativa.

Nós não fomos ensinados a voltar esse olhar para dentro e buscar nossas respostas, compreender nossas crenças e limitações. É um processo contínuo de observação, acolhimento e autoeducação. Não é fácil, mas é o caminho que permite um resultado diferente do que já é conhecido e, melhor, permite mudar o rumo dos acontecimentos e criar uma nova realidade.

Eu sou uma Fraude? 

Fraude… que palavra forte, né!? Não, eu não sou! Em cada momento da minha vida, agi com o conhecimento que tinha, com as condições que se apresentavam, e busquei sempre evoluir, segui a intuição. Não me agrido mais duvidando de mim mesma.

Essa frase foi importante para profundas reflexões. A partir dela, fui limpando a bagunça interna para aprimorar a minha vida autêntica, em que minhas ações falam mais que as palavras, para chegar aqui hoje e dizer que, tenho sim, muito a descobrir, aprender, melhorar, que os erros vão acontecer e eu estarei disposta a aproveitar as dificuldades e desafios como propulsores da verdade e do meu sucesso diário.

O Caminho para a Liberdade

Pelo que observei nesse meu processo e em experiências vividas por pessoas que acompanho, temos o impulso de buscar a cura de nossas relações em fatores externos. Isso é verdade para relações diversas, a relação com a comida, com o próprio corpo, com o ambiente em que se vive, com os filhos, com outras pessoas, com as finanças, com a criatividade, e por aí vai. Enquanto esse for o sentido do movimento, perdemos o bonde da nossa jornada, perdemos a chance de ir além e avançar para a estação seguinte.

Conceber a realidade, aceitar, responsabilizar-se e curar o que apenas eu posso curar. Voltar o olhar para dentro, enxergar e agir em coerência ao que se vê. Quando compreendi esse caminho, os dias se tornaram mais leves. As discussões e brigas diminuíram, continuo atenta ao que posso melhorar, mas sigo com confiança de que estou alinhada ao melhor que há em mim e à realidade que quero criar. E olha que incrível: as minhas ações silenciosas dizem muito e inspiram pequenas “mágicas” nos comportamentos dos outros em minha volta. É a vida fluindo de dentro pra fora, as sementinhas que plantei em minha alma germinando também em outros corações. A única cura capaz de libertar e transformar a realidade em que vivo é a cura de mim mesma, a autocura, a primeira cura para que todas as outras se tornem possíveis.

SOBRE A AUTORA

Cibele Calderan

Sou mãe do João de 3 anos, criadora do Espaço Vice Versa, movimento pela vida.

Saúde Holística, Nutrição Integrativa e Permacultura para Mães e Famílias com crianças de até 7 anos.

-Vou descer aqui no prédio para fazer ginástica.

Eu disse de maneira afoita e apressada ao meu marido, enquanto caminhava para chamar o elevador.

Ele me pegou pelos braços, olhou para as minhas mãos e falou:

-Vá, mas deixe o seu celular aqui comigo.

Pensei em revidar, mas resolvi praticar o exercício de aceitar ser cuidada pelo próximo.

E os cuidados continuaram, ele me colocou um fone de ouvido e, antes mesmo que eu me recusasse a usá-lo, a música passou a tocar e me transportou para um ambiente completamente desconhecido.

-Tchau, até mais tarde.

Senti-me um extraterrestre diante daquela tecnologia que anda, pula, torce e retorce junto com a gente.

Afinal de contas, sou da época do toca-fitas, em que era preciso estar sentado ou caminhando com um trambolho nas mãos para ouvir uma música.

Abri a porta da academia do prédio e para a minha surpresa estava sozinha. Ufa, poderia me divertir com o meu mais novo brinquedo, é que havia percebido em mim uma criança escondida.

Meu filho, ah meu filho, sua liberdade e espontaneidade me vieram à mente. Deixei aquele ritual de exercícios impensados de lado e resolvi me entregar àquele momento.

Se eu dancei conforme a música? Não. Decidi dançar conforme o meu coração. Senti a leveza e a sabedoria de saber ser criança, na delicadeza do vento que tocava os meus cabelos e os rodopiava ritmicamente para lá e para cá.

Vivenciei a única coisa que tinha em minhas mãos, o PRESENTE.  E desfrutei dele como quem come uma maça, em plena paisagem campestre, embaixo de uma macieira.

Uma senhora passou e me acenou com as mãos, de maneira simpática, mas com um riso esquisito de deboche (Será que essa mulher enlouqueceu?).

E quantas vezes nós somos chamados de loucos, porque as pessoas não conseguem ouvir a música que toca em nosso fone de ouvido?

Quão libertador é ver que dentro de cada um de nós há um arsenal musical tantas vezes incompreendido.

Como foi bom suar a camisa, ou melhor, despir-me da suada camisa de força que vive em mim.

Voltei para casa revigorada, com uma vontade danada de passar adiante aquele exercício que havia aprendido.

Tão logo entrei em casa, saí dizendo aos quatro ventos para o marido: -Dance mais sozinho e respeite a música que toca em seu fone de ouvido.

 

Esse texto foi escrito por Lígia Freitas, Mãe do João e Participante do Zum Zum de Mães.

@ligiafreitasescritora

Queridas mamães, sou a Tânia, psicóloga, psicanalista, mãe da Milena e participante do Zum Zum. Hoje vamos falar de um tema muito importante para o desenvolvimento infantil: a ansiedade de separação. Ela é vivida por todos os bebês e a forma com que nós mães lidamos, faz toda a diferença para que o desenvolvimento transcorra de forma saudável.

Uma das psicanalistas que mais estudou essa fase de desenvolvimento infantil foi a Margaret Mahler. Ela foi pediatra e psicanalista nascida na Hungria em 1897, formou-se em pediatria em Viena e faleceu em 1985 em Nova York. Mahler construiu uma teoria sobre o desenvolvimento emocional primitivo baseada em sua experiência como pediatra e psicanalista e uma pesquisa realizada por ela com bebês de zero a três anos.  Ela divide o desenvolvimento por fases, na qual a primeira seria a autística normal. Corresponde ao estado de sonolência em que vive o bebê nos seus primeiros dias de vida com uma ausência relativa de investimento nos estímulos externos. É através dos cuidados maternos que o bebê vai gradualmente caminhando para uma consciência sensória do meio ambiente. O objetivo desta fase é a aquisição do equilíbrio homeostático pelo organismo no meio extrauterino. Nesta fase, o bebê deve ser protegido contra excessos de estimulação, numa situação similar ao que aconteceu no útero materno.

A segunda fase é Fase simbiótica normal. Aqui há um estado indiferenciado de fusão com a mãe, na qual eu e não-eu, assim como o dentro e o fora ainda não estão diferenciados. A partir da terceira ou quarta semana de vida, uma consciência difusa de que a satisfação vem de fora, começa a acontecer. Isso marca o início da fase simbiótica normal, na qual o bebê se comporta e funciona como se ele e sua mãe fossem um sistema, uma unidade formada por dois seres, dentro de uma fronteira comum. A disponibilidade da mãe e a capacidade inata do bebê de se envolver no relacionamento simbiótico são essenciais para o bom desenvolvimento emocional da criança. Essa sensação de ser um com a mãe precisa ser vivenciada, a mãe precisa se deixar encantar pelo bebê, ele precisa ocupar o centro da vida dela nesse momento. A sintonia da mãe é tão fina nesta etapa, que ela se adapta as necessidades do bebê permitindo que ele vivencie um estado de onipotência, uma ilusão de que ele cria o mundo. Ele chora e a mãe aparece para satisfazer suas necessidades. Mahler chama atenção para tudo que ocorre na superfície total do corpo do bebê (a pressão que a mãe exerce ao segurar a criança, a sustentação física do corpinho da criança). Ao moldar o corpo da criança ao seu próprio corpo, a mãe imprime experiências cenestésicas globais (na vida adulta teremos a maior ou menor dificuldade para o contato físico).

A fase autística e a fase simbiótica são pré-requisitos para o estabelecimento do processo normal de separação e individuação. Separação é uma aquisição intrapsíquica de um sentido de desligamento da mãe. O bebê percebe que ele e a mãe são pessoas separadas delimitados pela pele e que possuem um dentro e um fora. Individuação é uma aquisição intrapsíquica que leva à consciência de uma individualidade distinta e única, de uma singularidade pessoal. A fase de separação e individuação é complexa e por isso, Mahler a divide em 4 subfases: 1) diferenciação; 2) Exploração; 3) reapresentação e início da constância objetal.

1) Diferenciação: 

Acontece entre os 5 e os 9 meses de vida.

Caracteriza-se pela diminuição da dependência corporal da mãe, até então total. Coincide com a maturação das funções parciais de locomoção, como engatinhar, subir nas coisas e levantar-se. A criança mostra prazer ativo no uso de todo o seu corpo e volta-se para o mundo com curiosidade. São características deste período a investigação sensório motora primitiva do rosto, cabelos e boca da mãe, como também os jogos de esconde-esconde. Aqui ocorre o desenvolvimento da imagem corporal da criança. Ela começa a perceber que tem um corpo delimitado pela pele. É importante que a criança seja estimulada a se movimentar. A mãe pode colocar o bebê em um tapetinho com brinquedos para ele explorar, deixando o bebê vencer as dificuldades em pegar um brinquedinho que está um pouco mais longe de suas mãozinhas. Deve-se evitar deixar o bebê por muito tempo, em lugares que ele não possa se movimentar, como carrinhos, cadeirinhas de alimentação, etc. É interessante mesclar momentos de descanso com os momentos de mais atividade e movimento.

2) Exploração:

Se justapõe a fase anterior de diferenciação. Vai dos 7 – 10 meses até 15 – 16 meses. Mahler desdobra essa subfase em duas: exploração inicial e exploração propriamente dita. A primeira está justaposta com a fase de diferenciação quando a criança se torna capaz de se separar fisicamente da mãe engatinhando e levantando-se mesmo precisando de apoio. A segunda parte é caracterizada pela locomoção livre em postura vertical. O interesse da criança se desloca para objetos oferecidos pela mãe. Apesar do interesse se voltar para os objetos, o interesse pela mãe ainda é predominante. O bebê precisa da liberdade de explorar o mundo, mas necessita retornar para ser reabastecido emocionalmente pela mãe, através do contato físico com a mesma. Mahler observou que após esse primeiro distanciamento da mãe para explorar o mundo externo, a maioria dos bebês apresenta um período de ansiedade de separação. O bebê não gosta de perder sua mãe de vista. Permanecem ligados a ela não apenas quando estão no colo, mas também vendo-a, ouvindo-a mesmo que a certa distância. Nesse período, algumas mães podem se sentir ameaçadas com a autonomia desenvolvida por seus filhos e acabam interrompendo a exploração dos mesmos, criando ambivalência e dificultando o prazer que a criança tem direito a experimentar nessa fase. Outras mães passam a ter o sentimento de que seus filhos já estão completamente independentes e se afastam emocionalmente. O ideal é que a mãe se sinta confiante de que seu bebê pode fazer as coisas longe dela, sem, no entanto, abrir mão de seu papel de estar conectada ao seu filho. Isso vai alavancar o sentimento de segurança da criança e ir trocando a onipotência mágica pela autonomia. Na segunda parte desta subfase, a criança vive um caso de amor com o mundo. Ocorre um grande investimento em suas capacidades, a tal ponto que observamos certa insensibilidade com batidas e quedas. O bebê fica tão absorvido com suas próprias atividades que parece se esquecer da presença da mãe, desde que possa retornar a ela para reabastecer-se. Nesta fase é muito importante a sensibilidade da mãe para suportar as idas e vindas de seu filho, de tolerar momentos de dependência e independência, sem interferir no ritmo de seus filhos.

3) Terceira subfase: Reaproximação:

Ocorre dos 15, 16 meses aos 25 meses. A criança apresenta uma crescente diferenciação cognitiva e emocional, e se torna mais sensível à frustração e a presença da mãe. Mahler notou um incremento da ansiedade de separação quando a criança descobre que a mãe não está automaticamente ao seu lado. Na fase anterior havia uma criança pouco preocupada com a presença materna, mas agora temos uma criança com conduta ativa de reaproximação e permanentemente preocupada com a presença materna. Agora tem necessidade de que a mãe compartilhe de cada nova aquisição, habilidade, experiência – daí seu nome reaproximação. O reabastecimento emocional no estágio anterior é substituído por uma busca constante de interação com a mãe, pai e outros familiares, num nível de simbolização mais elevado, com o desenvolvimento da linguagem e do brinquedo simbólico. Entre os 18 e 24 meses o bebê se dá conta que o mundo não é seu umbigo, que deve enfrenta-lo com seus próprios recursos, mais ou menos como um indivíduo separado, relativamente desamparado, e que não obtém alívio para as necessidades apenas porque deseja. Se dá conta que nem tudo é adivinhado pelo mundo. Nessa subfase, enquanto a individuação prossegue e a criança exercita-a ao máximo, ela também se torna cada vez mais consciente de sua separação, e emprega todos os tipos de mecanismos para resistir a isso. O bebê compreende que seus pais são indivíduos separados com seus próprios interesses, e eles devem renunciar gradualmente à dolorosa ilusão de sua grandeza. A relação mãe-bebê fica vulnerável. A tentativa de reaproximação muitas vezes é vivida pela mãe como insuportável, por ela ser novamente exigida, tendo que estar disponível, quando pensava já estar com um bebê “quase independente”. O ideal é que a mãe suporte nesse período, se transformando em continente para essa crise, e que “intua” que seu filho não regrediu.

4) Quarta subfase: Inicio da constância de objeto emocional.

Ocorre entre os 26, 27 meses até uma data não muito bem definida. Tem como objetivo atingir uma individualidade definida para toda a vida e obter um certo grau de constância objetal. Há uma clara internalização de exigências parentais. O estabelecimento de que chamamos “constância objetal afetiva” depende da internalização gradual de uma imagem interior positiva e constante da mãe. Implica também na integração do bom e do ruim, que a mãe que nutre, dá amor é a mesma que frustra, que eu posso amar e ter raiva da mesma pessoa sem haver nenhum dano a ela. Outros fatores que contribuem para aquisição da constância objetal são: maturação, predisposição inata, teste da realidade, tolerância a frustração e a ansiedade. Para Mahler a constância Objetal não ocorre antes dos 3 anos de idade. A partir disso, a mãe pode ser substituída na sua ausência, pelo menos em parte, pela presença de uma imagem interna na qual se pode confiar e que permanece relativamente estável a despeito das coisas.

A ansiedade de separação é um processo normal saudável na qual todos os bebês passam. É importante desde cedo já ir sinalizando que a mamãe sai, mas ela volta, que enquanto isso a vovó ou qualquer outra pessoa vai cuidar muito bem dela. Quando a mãe chegar em casa, pode dizer que a mamãe voltou e dedicar um tempo para o bebê. Esse movimento da mãe ir e voltar é muito importante, assim como as brincadeiras de esconder e achar. Se a mãe e os cuidadores entendem como essa fase acontece e se colocam disponíveis a vivencia-la junto com o bebê a tendência é que tudo se desenvolva bem. É importante que a mãe permita a entrada de outras pessoas da sua confiança para auxiliar nos cuidados com o bebê. Aqui o papel do pai também é muito importante no sentido de facilitar a saída da fase de simbiose representando o mundo bom que poderá acolher o bebê e mostrar o mundo fora da mãe.

A ansiedade de separação fica preocupante quando sua intensidade e sofrimento é grande demais, quando o bebê não se acalma com outra pessoa que já tem costume apenas com a mãe.

Fatores que podem levar a isso:

  1. Quando na fase simbiótica, não há adaptação suficiente da mãe ou cuidador as necessidades emocionais do bebê permitindo que ele sinta ser um com a mãe e viva as necessárias experiencias de onipotência.
  2. Sentimento prematuro de estar separado da mãe, por isso não é aconselhável que os pais estimulem em excesso para que o bebê ande rápido demais com 9, 10 meses, pois pode ainda não estar preparado emocionalmente para lidar com isso. Isso pode acontecer também quando a mãe fica ausente por um tempo maior do que o filho possa suportar.
  3. Dificuldade muito grande da mãe em deixar o bebê se separar e individuar, como se ela fosse perder aquele vinculo. Assim, a mãe pode ter dificuldades em deixar o filho explorar, se distanciar, e ficar aos cuidados de outras pessoas de sua confiança.
  4. Quando tudo ocorre rápido demais, num momento há a simbiose e no outro um distanciamento emocional da mãe como se o bebê não precisasse mais daquela dedicação.

Em geral, quando a mãe e os cuidadores se dedicam a criança, oferecem respostas emocionais para as necessidades dela, conversam sobre os sentimentos vivenciados pela dupla mãe – bebê, percebem os possíveis entraves para o bom desenvolvimento e mudam sua conduta, as coisas vão entrando nos eixos. Quando a família não consegue realizar as mudanças sozinha ou não consegue perceber o que está acontecendo para o bebê sofrer tanto é necessário ajuda de uma psicoterapia pais – bebê.

A ansiedade de separação quando não foi bem vivenciada nesta fase de desenvolvimento na qual estamos nos referindo, ela pode voltar ao longo da infância, adolescência ou mesmo na vida adulta. Atendi uma criança de 8 anos com ansiedade de separação: tinha um sentimento muito forte que se estivesse longe dos pais, eles iriam morrer ou algo muito grave iria acontecer. Ele não conseguia mais ir para escola e quando os pais saiam ele quase morria de tanto chorar. Em grau menor observamos isso em alguns adolescentes e adultos que tem a sensação que se estiver longe do namorado (a) tudo irá se acabar, como se os sentimentos não sobrevivessem a ausência. Nos casos em que a ansiedade de separação aparece de forma a causar sofrimento fora da idade esperada é importante procurar uma avaliação profissional, pois provavelmente haverá necessidade de uma psicoterapia para auxiliar na elaboração e superação destes sentimentos.

Espero que vocês tenham gostado do texto. Estarei de volta no próximo mês. Abraços!

SOBRE A AUTORA: 

Tânia Oliveira de Almeida Grassano

Psicóloga formada pela UFMG. CRP-04/19643

Psicanalista: Membro efetivo e docente na Sociedade Brasileira de Psicanalise de Minas Gerais – SBPMG.

Realiza atendimento em psicoterapia individual de crianças, adolescentes e adultos. Atua também com psicoterapia pais-bebê.

Os atendimentos são realizados em BH, próximo à praça da Liberdade.

Tel: (31) 30725974

[email protected]

Atualmente vivemos numa sociedade tecnológica cheia de parafernálias para nos ajudar a controlar! São ferramentas úteis e muito importantes, mas por vezes, nos desconectam do SENTIR! Exercitamos tanto nosso lado mental querendo controlar a agenda, a dieta, as finanças e acabamos virando autômatos sem coração! 

Este é o cotidiano da maioria das pessoas que vai seguindo a vida, fazendo o que precisa ser feito, buscando atender expectativas… Por algum tempo eu estava seguindo esta trilha também! Mas não me sentia confortável nela! Algo em mim me dizia que o caminho não era por ali!

A partir da gravidez fui tomando maior consciência do incontrolável da vida! O meu corpo foi me mostrando que as coisas seriam MUITO diferentes dali para frente! O sentir foi se impondo, os limites do meu corpo foram se tornando mais exigentes. Assim, fui percebendo que o “controle” seria uma palavra praticamente riscada do meu dicionário!

Sentir é preciso!

Temos muito medo de sentir, por isso buscamos racionalizar ao máximo, isto é, controlar para que nada saia errado! Desta forma, damos muito mais espaço para a mente e sufocamos nosso coração, nossa intuição! Ou seja, aspectos mais sutis que fazem a diferença em nossa vida! Quando buscamos a perfeição deixamos de tentar, de errar e também de EXPERIMENTAR! Leia também Maternidade: busca por perfeição gera solidão

Certamente, a maternidade aprofundou esta consciência dentro de mim de que é preciso voar utilizando as duas asas: razão e emoção! Quando nossos filhos chegam logo demonstram que têm necessidades e urgências das quais nem fazíamos ideia! Vale salientar que este é sim um processo estafante, mas também é uma forma de largarmos a tentativa de controlar, prever e administrar as coisas roboticamente!

Minha professora de Yoga sempre me dizia que os exercícios eram uma forma de bater no corpo para desestabilizar a mente do controle! Deste modo, é preciso desconstruir esse excesso de racionalização e fortalecer nossa capacidade de SENTIR, intuir e perceber o mundo também através de nossos sentidos! Recomendo muito o documentário O poder da intuição para refletir mais profundamente a respeito da importância do sentir em nossa vida!

Fusão: tempo para construir a confiança

O medo do sentir é visível em algumas falas a respeito de bebês: “Cuidado, você está dando muito colo!”; “Fica esperta, senão ela vai chupetar seu peito!”; “Olha esse bebê vai ficar muito mimado!” Todas estas falas revelam um medo imenso de sentir, de observar o que realmente acontece! As pessoas preferem rotular ao invés de RESPEITAR aquele serzinho que acaba de chegar!

Deste modo, as pessoas pressionam a mãe para fazer assim e assado, oferecem mil conselhos e invadem uma relação que está sendo construída paulatinamente! Vale ressaltar aqui o importante papel do pai de proteger esta relação entre mãe e bebê e não permitir que terceiros invadam! Sabemos das ótimas intenções de avós e avôs, tias e tios e todo mundo, mas é preciso silêncio para que a mãe consiga se escutar, escutar seu coração e sua intuição! Que tal confiar mais na sabedoria da vida e dos instintos?!

“O bebê chega ao mundo físico trazendo notícias do mundo sutil, mas, paradoxalmente, só consegue transmiti-las à medida que suas necessidades imediatas do mundo físico são atendidas com precisão. Ele é incapaz de sobreviver no mundo da luz se não tiver qualquer necessidade física e emocional satisfeita integralmente. (…) O bem-estar ou o mal-estar fazem toda a diferença neste tempo mágico de qualquer ser humano. Atrevo-me a afirmar que é este o momento em que a humanidade é dividida entre aqueles que receberam proteção, contenção e contato corporal, e aqueles que não ganharam nada disso”. (Gutman: Mulheres visíveis, mães invisíveis p.13)

É preciso contato, presença para que se estabeleça uma relação de confiança e conexão. Sabemos bem onde nos leva a falta disto, leia também: Maternidade: uma oportunidade de curar sua criança interior!

Conexão Profunda: entre mãe e filho

Escolhi o nome Conexão Profunda para o meu blog, porque sinto que é isso que falta no mundo! Ao escrever, refletir, filosofar eu sinto que aprofundo a conexão com os conteúdos, as pessoas e tudo o que vivo!

Ao observar minha filha percebo o genuíno poder de conexão que ela me traz com a vida! Como é bonito perceber os laços que nos conectam, a forma como ela vai experimentando a si mesma e sua relação com o mundo! Assim, nesta observação, ressignifico também minha própria relação com a vida e o mundo!

Neste processo também percebo como ela me traz questões indigestas de minha própria infância para curar! É tentador bancar a sabe-tudo e tentar fugir desta sensação de desconforto. Porém, sei que o convite que minha filha me traz é uma oportunidade imensa de cura interna e desconstrução de crenças limitantes que devem remontar gerações!

Para tanto, é fundamental manter uma conexão saudável, respeitando meus limites e também os dela! É importante observar a relação de respeito e confiança que temos e perceber quando, às vezes, saio desta sintonia para “ser a mãe que esperam de mim!”. Gosto muito quando Laura Gutman diz que os filhos não precisam de uma boa mãe, mas sim de uma mãe capaz de sentí-los! Vale a pena ver o vídeo Conversamos com a psicopedagoga argentina Laura Gutman sobre o poder do discurso materno.

Acredito que apenas esta disponibilidade emocional para SENTIRMOS permite uma conexão profunda conosco e com nossos filhos! E, a partir deste pressuposto, podemos criar vínculos saudáveis e amorosos para a desconstrução de muitos padrões e crenças limitantes! Ou seja, limpamos e curamos feridas, desconstruímos padrões, e, assim, ressignificamos e construímos novas bases para uma nova história! 

Cada Escolha, uma Renúncia!

Este mergulho emocional requer respeitar o “tempo próprio das coisas!”, algo que é um luxo em nossa sociedade! Geralmente as mães precisam deixar seus pequenos aos cuidados de outras pessoas e retornar para o mundo do controle! Outras, optam por isso como uma forma de fugir deste caldeirão de emoções, desconforto e enfrentamentos! Para as mães que conseguem cuidar de seus filhos nestes primeiros anos também não é uma escolha fácil! Como diz o ditado: “cada escolha, uma renúncia!”

Seja como for, é preciso muita sabedoria e flexibilidade para administrar quaisquer das escolhas que fizermos! Neste processo o que é garantido é o crescimento e amadurecimento! Por isso, quanto mais conscientes estivermos do Agora, quanto mais conectadas aos nossos filhos, mais facilitado será este processo! Quanto mais negarmos, quanto mais medo e fuga, mais “birra” e encrenca nos espera pela frente! Tudo depende do que escolhemos e da forma que decidimos olhar para estas escolhas!

Gosto de pensar a maternidade como uma grande viagem, uma jornada cheia de trilhas e bifurcações, muitos obstáculos e perigos! Claro, há trilhas mais fáceis que levarão a caminhos mais fáceis no início e mais complicados no final. Por outro lado, há escolhas que parecem muito mais difíceis de sustentar, mas que depois se mostram grandes provas de superação!  Recomendo muito o Podcast Tenda Materna sobre autonomia para refletir mais a respeito!

A minha experiência prática

Às vezes quando paro para dar uma respirada e vejo o quanto caminhei, percebo que fiz escolhas mais dificeis e cansativas. Mas que me trouxeram à um caminho de muita conexão com minha filha e muito mais segurança como mãe! Não escolhi porque fulano ou beltrano falou, ainda que fosse pediatra! Eu pesquisei, estudei, analisei, MAS principalmente eu procurei colocar a mão no peito e SENTIR! Tarefa complicada já que não somos mais incentivadas à isso!

Existem muitos caminhos que eu gostaria de ter seguido: parto humanizado, fraldas de pano, sling, shantala… Eu idealizei vários caminhos, mas alguns não aconteceram, não sustentei, simplesmente não deu! Outros, fiz questão de me manter firme, pois SENTIA que eram importantes! Leia também Amamentação: um capítulo à parte!

Assim foi a decisão de dar “complemento” na maternidade no copinho e não na mamadeira. Assim foi a amamentação e a decisão de não dar chupeta! Assim também foi que decidi usar o BLW na introdução alimentar da minha filha. Assim foi a escolha dos alimentos que utilizamos em casa…

E por aí seguem várias trilhas que, provavelmente, me fizeram ficar muito mais cansada à primeira vista! Entretanto, quando vejo onde estamos agora, percebo que segui as trilhas certas de acordo com o meu coração! Por isso, novamente faço uma provocação: quantas vezes nos permitimos simplesmente SENTIR?!

Seja um exemplo digno de ser imitado

“Dar o exemplo não é a melhor maneira de influenciar os outros. É a única”. Albert Schweitzer

Gosto muito de ouvir a Clarissa falando sobre nossa importante tarefa de liderar nossos filhos! E aqui é importante lembrar que liderar não significa mandar, mas sim inspirar, conduzir, facilitar. E para isso, é preciso conhecer tanto a nós mesmas quanto aos nossos filhos!

Vale ressaltar que quando digo para observar e aprender com o processo de desenvolvimento dos filhos, não quero dizer para adotar uma postura passiva! Aliás, muito pelo contrário! Ao observar a si mesmo e ao seu filho, você se permite uma conexão intensa e fundamental para o processo de liderança! Quando acalmamos os “tem que…” e todas as vozes em nossa mente, toda expectativa social, atingimos um estado de consciência maior de nós mesmos e de nossos pequenos! Leia também Colocar o link Universo das Emoções: a Empatia como ferramenta!

Neste estado conseguimos tomar decisões conscientes, autogerir nossas emoções, exercitar a empatia e as habilidades sociais necessárias para redesenhar nossa rotina em direção ao que almejamos como vida, família e educação! No próximo artigo falaremos um pouco mais a respeito deste redesenho!

Gratidão pela leitura! Namastê!

SOBRE A AUTORA

Este texto foi escrito por Gisele Mendonça, cientista social, mestre em sociologia, participante do Zum Zum de Mães e, principalmente, MÃE! Tem um blog chamado Conexão Profunda, visite www.conexaoprofunda.com.br e curta a página no facebook Conexão Profunda

As malas prontas fechadas com cadeado abrem as comportas para uma inundação de incertezas, medos e insônia. Já não há mais tempo para desistir, já não há mais como conter ou impedir o crescimento que me espera, sigo apesar e com o pesar da culpa. No portão de embarque, a despedida, digo palavras engasgadas e desafinadas, um choro contido em um nó. Sigo em frente e olho para traz, ela está sorrindo e me dando tchauzinho no colo do pai, penso o quão forte e resiliente ela é, uma lagrima me foge em alta velocidade rosto abaixo, ela não vê. Lembro da primeira vez que me separei da minha mãe, foi com 15 anos que fiz meu primeiro voo solo, exatamente naquele mesmo lugar olhei para traz e quis voltar, sinto agora a mesma vontade, mas sei que se eu voltar não viajo nunca mais. A medida que meus passos me levam para longe vai crescendo em mim a segurança e a certeza de que tudo vai ficar bem.

É a primeira noite em quase 3 anos que não tenho que amamentar, por isso me permito beber vinho livremente, como minha refeição devagar e ainda quente, crianças correm pelo restaurante e vejam só, não sou eu que preciso me levantar para ir atrás, posso enfim terminar uma conversa sem interrupções. A noite avança, entro no quarto me jogo na cama enorme e só minha, não tenho que trocar fraldas, nem escovar dentes que não sejam os meus, me sinto livre, posso ler de luz acesa, posso beber mais um vinho, posso ver um filme ou assistir um vídeo, são tantas as possibilidades, mas acabo dormindo exausta sem ter me decidido por nenhuma delas. Acordo na madrugada sobressaltada, meus olhos e minhas mãos procuram por ela no breu gelado do quarto de hotel, com o coração disparado demoro a me dar conta de onde estou e a que estou, pego novamente no sono, porém agora ele é superficial.

Os dias estão passando, entre aprendizados, afloramentos, cadernetas, anotações e fotografias a saudade se camufla e fica ali como um pano de fundo. No entanto nos finais de tarde ela vem com tudo, as noites vão ficando cada vez mais difíceis. Ligo para falar com ela, mas a tela fria da ligação por vídeo não a entretém como eu gostaria, me ressinto e choro ao desligar, que saudade é essa gente? É normal! Respondo consolando a mim mesma, se não sentisse é que seria estranho. Saio do quarto conformada e pronta para mais um descontraído jantar com outros adultos.

Amanhece mais um dia, mando uma mensagem para uma amiga em franco desabafo: “hoje está especialmente difícil, cansaço, saudade, sinais de ansiedade, mas estou respirando fundo, nomeando as coisas que estou sentindo e assim vou seguindo, afinal está sendo muito importante estar aqui”. Quase que imediatamente chega a resposta cheia de empatia, minha amiga me diz com sinceridade que me entende, diz que eu a inspiro, mal sabe ela que é ao contrário, é ela que me inspira, é ela que me resgata e me traz de volta a razão, aquecendo meu coração antes mesmo da primeira xícara de café.

Antes da viagem eu e minha filha fizemos juntas um potinho de massinha rosa e colocamos pedrinhas transparentes dentro dele, o combinado é a cada dia de manhã ela tirar uma e quando o potinho estiver vazio eu volto. Em uma tentativa frustrada de antecipar minha chegada, ela tira do pote todas as pedrinhas restantes de uma única vez, o pai explica que não é assim, que as pedrinhas são só uma ajuda para contar os dias que faltam e que tira-las de uma vez não vai me trazer de volta. Ela parece entender, mas depois arruma confusão por causa da meia, do sapato, da blusa e do penteado, o pai acolhe, diz que o que ela sente se chama saudade, que é normal e que ele sente também! Por aqui eu também sigo acolhendo e respeitando os meus próprios sentimentos, os valido e os sustento pelo tempo que se fazem necessários. A cada manhã eu também tiro uma pedrinha do meu potinho rosa e imaginário, faltam poucas…

Voltar para casa…

A sensação de missão cumprida me alerta que já é tempo de regressar. Me distraio com a paisagem lá em baixo, rios negros meandrando por entre montanhas de diferentes tons de verde, o avião faz uma curva abrupta e agora o que vejo é o mar, estou enfim chegando em casa…. Viro a chave e abro a porta, sou recebida com sorrisos e abraços pelo meu marido, pergunto por ela ansiosa, ele me aponta o sofá, lá está ela dormindo profundamente. Chego bem pertinho, beijo a bochecha macia e me delicio com cheirinho de bebê que ela ainda tem, ela se meche e se aconchega ainda mais na almofada, parece que minha saudade vai ter que resistir um pouquinho mais. Fico esperando ela acordar, observando e percebendo cada detalhe sobre ela, meu Deus como ela é linda, como os traços dela são delicados e perfeitos, como o cabelinho lembra o meu quando criança, como ela pode estar crescendo tão rápido diante dos meus olhos?

Olhar tudo como se fosse a primeira vez

Em meio a gratidão por estar de volta, meus pensamentos se perdem no espaço e a percepção de tempo fica confusa, parece que muito tempo se passou desde de que parti e ao mesmo tempo sinto que nunca me ausentei. Procuro me distrair reparando a disposição dos moveis e outros detalhes da casa, começo a ver beleza e ordem onde antes só via bagunça e caos. As bonecas de pano espalhadas pelo corredor, as manchas de comida no sofá, as paredes rabiscadas, as marcadas de guache na porta do armário, só fazem confirmar o quanto sou feliz e sortuda. Nossos olhos se encontram enfim, ela sorri e me abraça forte, constata sonolenta “A mamãe voltou! ” fica ali abraçada quietinha sob o meu calor, fica por um tempo mais longo do que o comum para uma criança da idade dela e mais curto do que o necessário para uma mãe babona como eu.

À noite, sozinha no sigilo das minhas reflexões, concluo orgulhosa que uma etapa importante foi concluída com êxito. Percorri novos caminhos, por mais uma vez permeei pelas entranhas da terra desvendando seus segredos, por mais uma vez em meio a natureza vivi a sensação de desbravamento, saciando um pouco dessa sede que me acompanha desde a infância. Mas dessa vez foi tudo tão diferente, pela primeira vez eu silenciei e me reconectei com uma parte de mim que estava adormecida, me recordei quem eu fui um dia e me liguei a quem eu hoje sou. Voltei para casa, já não sou mais a mesma, sou outra, estou completa enfim, mãe e a geóloga se fundiram, já há algum tempo vinham timidamente ensaiando essa integração, tiveram um início confuso de acusações e frustrações, se engalfinhavam ferozes em uma louca disputa de quem renunciava mais em favor da outra, agora seguem pacificas e unidas com o mesmo propósito, dando o melhor que podem, somos uma só… Por agora revisito tudo e olho para tudo como se fosse a primeira vez….

 

Esse texto foi escrito por: Vivian Pessoa, geóloga e mãe da Ive de 2 anos e 10 meses e participante da turma 5 do Zum Zum de mães.

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viviancpessoa

 

Hoje foi um dia lindo, almejado eu diria, após um dia de inúmeros desafios e aquela velha e conhecida culpa e sensação de fracasso após o duelo corriqueiro da minha mente tagarela repleta de crenças limitantes enquanto “enfrentava” uma criança nitidamente necessitada de conexão.

Enquanto escrevo essas palavras me sinto ridícula ao dizer que “enfrentava” (isso explica as aspas), uma criança de dois anos e nove meses – o meu filho. A maternidade é muitas coisas, fato, mas definitivamente não é uma batalha, não há o que – ou não deveríamos ter que – enfrentar nem nossos filhos nem ninguém, e ao me ver “enfrentando” meu filho de dois anos e nove meses, me dou conta de que estou enfrentando a mim mesma.

Depois de abrir meu coração e me reconhecer como uma pessoa agressiva, eu abri, para mim, a possibilidade de um caminho, que ainda está certamente cheio de pedregulhos, que agora, no entanto, eu consigo enxergar. Recaídas acontecem, e hoje me vejo num momento de “erros conscientes” que antes vagavam pelo mundo do subconsciente e sem que eu tivesse coragem ou maturidade ou ambos, para acessar. Agora eu tenho. E me responsabilizo, às vezes (na grande maioria ainda) me culpo, me sinto uma fraude, e depois me acolho revisitando toda a trajetória que me fez caminhar até aqui. Certa vez ouvi uma frase que me impactou e sigo refletindo sobre ela: “o caminho se faz caminhando”. E preciso me ancorar nela para entender que o processo é exatamente esse, o de caminhar, o de continuar tentando até que, o que é hoje um erro consciente se torne um acerto inconsciente. É não desistir, nem de mim, nem do meu filho, nem da nossa família. É enfrentar cada queda de frente, tirar a poeira e seguir caminhando, também para frente, ainda que a queda nos faça voltar 3 passos atrás. Essa é a verdadeira poética da resistência ❤️ “a gente quer parar, mas a gente teima” e seguimos nos comprometendo com a gente, com o nosso auto amor, auto cuidado, e sobretudo com o auto conhecimento que, ambíguamente, nos rasga e nos liberta.

Hoje foi um dia lindo, com uma noite desafiadora, um choro, uma frustração, e a tomada de consciência horas mais tarde de que a culpa é resultado do meu Ego querer controlar o que não é controlável… A vida.

Hoje foi um dia lindo e ainda é.

Este Texto foi escrito por: Iara Schmidt (participante do ZumZum 6)
Iara é mineira, e como boa sagitariana é uma viajante nata e buscadora de si. Mãe de um aquarianinho nascido em fevereiro de 2016 – fonte do puro amor e inspiração infinita – realizou da gestação ao puerpério ritos de passagem que transformaram – e continuam transformando – sua essência.

Numa sociedade tão marcada pela tecnologia e racionalidade, quem anda ditando o jogo são as emoções! O medo, a tristeza, a raiva, a alegria vão se impondo de forma consciente ou, na maioria das vezes, inconsciente! E, quando temos filhos, temos também a oportunidade de fazer um mergulho profundo neste mar de emoções. Afinal, nossos filhos reestruturam nossa existência de forma irrevogavelmente avassaladora! Vale a pena ler também Maternidade: a intensidade de sentir.

A maternidade e também a paternidade trazem à tona muitos sentimentos confusos, muitas emoções que estavam trancadas à 7 chaves! Por isso, lidar com elas é fundamental para que possamos trabalhar com as emoções de nossos pequenos! Neste sentido, considero interessante abordar um pouco o conceito da inteligência emocional.

Inteligência Emocional

Eis aí uma habilidade essencial a ser desenvolvida! Desde que li o livro Inteligência Emocional de Daniel Goleman, fiquei fascinada pelo conceito e sua importância em minha vida pessoal e profissional, como educadora! No livro, o autor descreve cinco habilidades fundamentais para desenvolvermos a inteligência emocional:

1) Autoconciência: reconhecer o que sentimos e porquê sentimos;

2) Autogestão: como administramos nossas emoções estressantes para que não estraguem nosso dia! E como nos motivamos, alinhamos nossas emoções positivas com nossas ações e nossas paixões;

3) Empatia: compreender o que o outro está sentindo;

4) Habilidade Social: a arte de se relacionar, compreender e lidar com as próprias emoções e também com as emoções dos outros!

Desta forma, fica claro o caminho a ser percorrido para desenvolver ou melhorar nossa inteligência emocional. Assim, poderemos liderar nossos filhos para uma vida mais saudável consigo mesmo e com o mundo!

Segundo Goleman, a parte do cérebro que sustenta a inteligência emocional e social é a última a se desenvolver anatomicamente. Por isso, o autor ressalta a importância das experiências repetidas e como podemos ajudar nossas crianças tendo maior clareza do caminho a ser percorrido. Daniel Goleman – Inteligência Emocional

Autoconsciência

De fato, autoconhecimento é algo muito falado, mas pouco exercitado! Por isso, quero fazer um convite desafiador: escreva 10 qualidades suas segundo a SUA PRÓPRIA opinião! Agora escreva 10 defeitos! Em qual das listas você teve maior facilidade, qual delas veio à sua mente com maior rapidez?

Lembro-me de participar de uma dinâmica em que este exercício foi proposto e vi adultos se comportando como crianças querendo “colar”! A dificuldade de olhar para si mesmo era imensa e palpável! Conforme ressaltei no artigo anterior Pedidos deslocados: as consequências das necessidades não atendidas, dificilmente conseguiremos estar emocionalmente disponíveis para nossos filhos, se não pudermos olhar para nós mesmas!

Neste exercício contínuo de se autoconhecer, busque silenciar sua mente e ouvir seu coração! Do que você precisa? O que deseja? Procure cuidar-se e nutrir-se para que possa transbordar em se doar para seu filho, sua família e para o mundo! Desapegue do papel de mãe mártir e sofredora e redesenhe a mãe que você imagina feliz, satisfeita consigo e com seu papel!

Autogestão

Administrar meus próprios sentimentos é a tarefa mais incrível e desafiadora com a qual tenho me ocupado recentemente! Vale ressaltar que minha filha tem 2 anos e meio, então acredito que não preciso explicar muita coisa! Vejo que ela nega para se impor, me imita grande parte do tempo e eu gostaria de transmitir a ela a minha melhor versão.

Entretanto, como fazer isso quando “minha platéia” está colada em mim e me acompanha inclusive “na coxia”, isto é, fora do palco, rs!? Acho que a citação que Daniel Goleman escolheu para seu livro é excelente e propícia:

Qualquer um pode zangar-se, isso é fácil. Mas zangar-se com a pessoa certa, na medida certa, na hora certa, pelo motivo certo e da maneira certa não é fácil. Aristóteles, “Ética a Nicômaco”

Quando li o livro, percebi a importância de me autoconhecer e reconhecer minhas fragilidades emocionais para trabalhá-las! Desta forma, eu pensava que seria uma guerra interna: minhas qualidades versus os aspectos que eu precisava trabalhar. Por muito tempo vivi neste conflito interno: idealizando a pessoa que eu queria ser e buscando sufocar a que eu já era e via como “defeituosa”.

Contudo, ao longo de minha caminhada fui percebendo que decretar guerra interna é inútil, pois consome energia, tempo e amor-próprio! Então, fui percebendo a importância de abraçar e integrar minhas sombras! Afinal, como diz Jung: “Aquilo a que você resiste, persiste”. Após a maternidade, esta frase foi se explicitando cada vez mais na concretude da vida diária com uma criança, rs!

Empatia

A capacidade de sentir empatia, de se colocar no lugar do outro e simpatizar com seus sentimentos é algo instintivo! No documentário A Revolução do Altruísmo, cientistas fazem experiências com macacos e também com bebês e descobrem esta habilidade desde muito cedo. A partir de nossos primeiros passos nesta jornada chamada vida, já somos capazes de nos simpatizar com o outro, suas preferências e necessidades! Ou seja, trazemos esta habilidade dentro de nós e acredito que a maternidade e paternidade seja um convite para desenvolvê-la e expandi-la ainda mais!

Sendo assim, para que sejamos capazes de nos reconectar com esta habilidade é preciso exercitar olhar o mundo sob a perspectiva do outro! Neste aspecto, recomendo assistir ao vídeo O Mundo Sob A Perspectiva da Criança. Com uma narrativa leve e bem humorada, Isabela Minatel nos mostra o distanciamento que temos do Universo de nossas crianças e a importância da empatia! Quantas vezes as crianças são ignoradas pelos adultos? Tratadas como “páginas em branco” ou como mini-adultos? Desconsideradas em suas necessidades?

Vamos exercitar a empatia com nossos pequenos! Vamos permitir que uma roupa suja seja uma descoberta de sabor ou um exercício de autonomia! Vamos ser mais leves e deixar que a criança experimente o mundo, utilizando todos os seus sentidos com paixão pela descoberta! Amo ver a forma como minha filha se relaciona com os legumes, se suja com a beterraba, “cozinha” com a casca da cebola… Menos plástico e mais vida, as crianças e o planeta agradecem!

Habilidade Social

A partir destes pressupostos: autoconsciência, autogestão e empatia, o relacionamento social acontece com muito mais fluidez! Quando estamos em harmonia conosco, somos capazes de nos relacionar muito melhor com os outros e com o ambiente! Neste ponto, quero ressaltar a ânsia que percebo em muitos pais para que seus filhos desempenhem papéis que eles próprios não conseguiram. Muitos pais depositam em seus filhos suas expectativas frustradas para que a criança seja: a bailarina, o jogador, o inteligente ou o esportista…

Vejo que, muitas vezes, caímos na armadilha de ficar fixados em nossa criança ferida e esquecemos de olhar VERDADEIRAMENTE para nossos filhos e deixar que sejam como são! Ansiosos por corresponder às expectativas externas, deixamos de olhar para nossos pequenos e perceber do que realmente precisam! Vale a pena se atentar para este universo dos rótulos: a tímida, o esperto, a popular… Leia também Rótulos para produtos, não para pessoas!!

Pensando nas crianças do nascimento aos 7 anos, posso afirmar que suas necessidades emocionais devem ser satisfeitas prioritariamente. Uma vez construída uma estrutura afetiva sólida, logo aparecerão os interesses intelectuais ou esportivos genuínos, que os pais atentos poderão ajudar a desenvolver. O interesse e a paciência necessários para olhar aquela criança em particular correspondem a uma maturidade do adulto que não projeta nos filhos seus próprios desejos, mas sim os libera de sua sombra, permitindo que aquela criança desenvolva sua missão na Terra como ser único e diferenciado. (Laura Gutman, A Maternidade e o encontro com a própria sombra, p.313)

O convite aqui é para que sejamos capazes de permitir aos nossos filhos serem AUTÊNTICOS em sua forma de se comportarem socialmente! Aliás, quem sabe aproveitamos o momento e exercitamos esta autenticidade também! “Só aquilo que somos realmente tem o poder de nos curar”. Carl Jung

A Empatia como ferramenta

Desde a gravidez tive a sensação de cair num gráfico de estatísticas! Neste figuravam: qual o ganho de peso; quantos centímetros neste mês; qual o padrão esperado? Conforme a gente vai ganhando mais confiança, percebemos que se trata de uma pessoa com escala única de desenvolvimento! Não é um número, não é uma estatística, é um ser humano com o SEU TEMPO de desenvolvimento!

Desde que me descobri grávida eu adotei a filosofia de CURTIR CADA MINUTO! Por isso, fui buscando SENTIR o ritmo de minha filha para começar a comer, a engatinhar, a andar, a falar… Eu procurei me blindar para as opiniões e comparações externas! Desta forma, eu nunca a pressionei e mantive algumas inevitáveis comparações apenas dentro de minha mente ou em conversas particulares com meu marido! Nós dois nos apoiamos no processo de OBSERVAR nossa filha se desenvolver!

No documentário A Educação Proibida, do qual ainda falarei muito a respeito, é citado o exemplo de um jardineiro que ansioso para ver as plantas crescerem todo dia as puxava, tentando esticá-las. O resultado não foi o que ele esperava: ou elas cresceram deformadas ou morreram!

Portanto, é preciso seguir o fluxo natural das coisas, respeitando o seu tempo próprio com sabedoria e EMPATIA! Esta sim é uma grande ferramenta para exercitarmos melhor nossa relação com nosso filho e dele com o mundo! Por isso, faço um último convite: resolva seus próprios traumas e frustrações! Leia Maternidade: uma oportunidade de curar sua criança interior! Liberte-se e permita-se observar e aprender com o processo ÚNICO de  desenvolvimento de seu filho. Seja empático com ele e ensine-o a arte da empatia nas relações, nosso mundo ficará muito mais harmonioso desta forma!

Gratidão pela leitura! Namastê!

 

SOBRE A AUTORA

Gisele Mendonça, cientista social, mestre em sociologia e, principalmente, MÃE! Tem um blog chamado Conexão Profunda, visite www.conexaoprofunda.com.br e curta a página no facebook Conexão Profunda

Já é fato conhecido o ditado de que quando nasce um bebê ali também nasce uma mãe. Nesse sentido, desde que a maternidade chegou na minha vida, há quatro anos e meio, me deparei com um desejo de que tudo fosse parecido com outras experiências de maternidade, seja da minha mãe, família ou de amizades… Busquei referências de como eu era quando bebê, ou criança pequena, lia revistas, artigos, rede sociais, sempre em busca de referências, do melhor modelo, da melhor abordagem; enfim, do ideal de perfeição… Seria mais fácil ter um manual…

Em vários momentos, encontrei semelhanças e essas referências super me ajudaram a lidar com várias questões encontradas, trazendo por meio da experiência de outras pessoas, aprendizado para minha vida. Em outras vezes, seja por não ter encontrado ou mesmo pela falta de tempo na procura, fui de alguma forma meio que obrigada pela vida a simplesmente me reinventar e lidar com situações que surgiam, como elas se apresentavam e com o meu próprio repertório.

No meio dessa busca intensa por essas referências e pelo modelo ideal, eu me dei conta que em poucos momentos, eu parei para admirar o caminho. Apreciar a caminhada. Eu estava sempre querendo chegar ao final, na resolução, no tempo em que essa parte desafiadora tivesse passado. E principalmente, nessa ânsia pelo ponto de chegada, eu não reconhecia o quanto eu já tinha caminhado para chegar até onde estava, até onde estou. Eu percebi o quanto deixei de valorizar minha própria história de vida e poucas vezes senti gratidão por toda essa capacidade de buscar, desbravar, mesmo que nesse abrir fronteiras, eu tenha chegado a lugares diferentes do que eu tinha imaginado, mas muitas vezes até mais gratificantes.

Por essas reflexões, pude notar o quanto de repertório vem do nosso corpo, da nossa memória. Eu me dei conta das tantas vezes que busquei respostas fora de mim. Em outras, em que me permiti simplesmente parar, essas respostas simplesmente vinham, seja pela intuição ou insight, ou simplesmente por lembranças. Memórias que vieram das experiências. Experiências essas que fui colocando em caixas de boas e ruins. Mas agora, refletindo e buscando entender cada uma delas, consigo reconhecer alguns dos pontos de virada que cada uma delas me proporcionou. Isso contribuiu para moldar a minha própria realidade, independente dos papéis que exerço na vida, como mulher, mãe, esposa, amiga, profissional.

Ainda no embalo dessas reflexões, pude perceber que poucas vezes me permiti realmente digerir os acontecimentos da vida. Extrair deles, os sumos, os sucos, a nutrição, os aprendizados. E justamente por não me permitir isso, me pego muitas vezes pulando de galho em galho, de experiência em experiência, sempre aguardando o próximo momento, e com muita dificuldade de estar no momento presente. Principalmente porque para me conectar é necessário quase sempre algum grau de interiorização. Refletir, parar, observar o corpo, as emoções, meditar… Estar presente. Estar no corpo. Observar a respiração, sentir o vento, ouvir o canto dos pássaros, sentir o coração bater, sentir a vida. Mas isso é muito doído quando estamos sob o efeito de alguma forte emoção que não conseguimos digerir. Mais desafiador ainda é entender o que essas emoções querem nos dizer. Principalmente porque existem emoções categorizadas socialmente como boas ou ruins e ainda não temos esse grau de racionalidade de escolher que só sentiremos as caracterizadas como boas.

Continuando com as reflexões, pude compreender o quanto essa dificuldade em “digerir” vem também de uma não aceitação de vários fatos que aconteceram na minha história de vida. Muitos desses, foram marcantes e que, com meu julgamento, cataloguei como injustos, tristes. E essa mágoa não me permitiu enxergar os aprendizados que vieram com isso, nem enxergar as pessoas, as relações que se desenvolveram a partir disso, compreender como o mundo se transformou a partir dessa experiência.

A dificuldade em aceitar algumas realidades na nossa vida, seja ela uma simples dificuldade de estacionar o carro numa vaga, ou de estabelecer uma brincadeira com nosso filho, nos faz ficar mais longe de uma potencial maneira de regenerar e aprender outros caminhos de aprendizado. E o oposto, quando encaramos essa dificuldade ou desafio tomando as ferramentas que temos, buscando referências e agregando nossas experiências, temos a incrível oportunidade de ressignificar, trazer leveza e descobrir partes de nós mesmos que nem sabíamos que existia. Permitir lidar com as mortes, seja de que natureza ela se apresente, em maior ou menor grau nos traz coragem de desbravar o desconhecido.

Contextualizando a experiência que estava refletindo para digerir e regenerar, ela veio quando eu tinha dez anos de idade e a morte chegou em casa e levou minha irmã, que tinha nove. Ela era linda, especial, companheira… Mas a vida na sua sabedoria achou que o melhor para ela e para nós era que ela se fosse embora desse planeta mais cedo. E tive tanto medo naquela época… Medo porque agora eu tinha um quarto só para mim, mas eu não queria mais dormir nele porque me sentia muito culpada de ter algum dia desejado isso. Medo porque na minha tristeza, não me sentia à vontade para mostrar para os meus pais que eu sofria, porque também via o sofrimento deles e tinha que mostrar que eu era forte… Culpa por ter sido ela e não eu. Mais ainda, por achar que se tivesse sido eu, minha mãe não teria sofrido tanto. Culpa por não ter sido uma irmã boa o suficiente, filha boa o suficiente, enfim todas as cobranças que a mente cria para achar culpados, pela dificuldade de aceitar o que é. Tudo isso que ficou fechado, lacrado dentro de mim, num caixote bem escondido. E não olhar para isso nunca me permitiu reconhecer que eu superei. O quão tudo isso me deixou forte, capaz, resiliente. O quão me ensinou a respeito do valor do tempo, na cura das feridas, o quanto me ensinou sobre superação, sobre valorizar a vida e as minhas relações. Sobre não me permitir que coisas pequenas estraguem meu dia. Sobre ter coragem e encarar o desconhecido… Principalmente, o quão isso me ensinou sobre ser mãe hoje. Quantos aprendizados… Poderiam ter vindo de outra forma? Tenho certeza que sim, mas acredito que se foi assim, tem uma sabedoria Maior da vida que sabia que isso era necessário.

Esses dias, eu vi um conceito de humildade que fez muito sentido para mim: humildade é aceitar as coisas como elas são… E isso não significa que não podemos nos mover para mudá-las. Nesse sentido é um pouco parecido com o conceito de liberdade. Liberdade é poder se expresssar e ser o que é… E aí reflito agora se a humildade de alguma forma não me dá a liberdade de agir com aquilo que aceitei da forma que achar mais adequado. Essa liberdade que nos possibilita essa autonomia mesmo que apenas em algum grau para decidir como vamos usar a experiência a nosso favor.

E mesmo quando conseguimos fazer isso, se ainda retornarmos a essas experiências como uma espécie de referência, podemos descobrir uma super ferramenta de autoconhecimento. Olhar e re-olhar a forma como lidamos com diversos desafios que passamos ao longo de nossa história de vida é uma grande oportunidade de entender o nosso “modus operandi” e também poder descobrir que há uma incrível paleta de possibilidades nesse modo de funcionar. Ele não é fixo como o de um eletrodoméstico… Ele flui e se molda a cada minuto da nossa vida! E essa é uma das belezas dessa experiência da vida! As infinitas possibilidades do ser! É o que nos permitimos quando somos mãe. Abrimos espaço no nosso corpo e coração para receber aquele ser que vem do jeito que ele é. Com humildade. E intencionamos que esse ser a que damos a luz saiba usar a liberdade.

Este texto foi escrito por Danila C.C. Fleury, Mãe da Clara  (4 anos), Farmacêutica, Servidora Pública, Investigadora Autônoma de Autoconhecimento e Brincar e participante do Zum Zum de Mães.
Integrante do Gestar.se
Facebook: @gestar.se
Instagram: @danilafleury

No texto que escrevi mês passado, contei um pouco sobre a reviravolta que os filhos fazem na nossa vida, e deixei algumas perguntas para você refletir se quer ou não ter mais de um filho (a).  Para você que leu e decidiu que sim, ou pra você que não leu, mas já está grávida de novo, espero que este texto possa te ajudar de alguma forma.

O ser humano, em geral, tende a criar muitas expectativas a respeito de tudo e de todos. Quando uma mulher fica grávida pela segunda vez, é natural que ela espere que a atual gestação seja como foi a primeira, ou pelo menos bem parecida, ou quem sabe mais tranquila e melhor. Por isso, algumas gestantes de segunda viagem, principalmente as que não planejaram conscientemente a gravidez, entram em pânico ao se descobrirem grávidas, ou não. Este sentimento é o reflexo das memórias que guardamos da primeira gravidez e também do primeiro pós-parto, e que são trazidas para o consciente no momento em que confirmamos o resultado positivo. Podemos sentir paz, se na primeira gestação foi tudo bem. Ou não, se foi uma gestação difícil, muitos enjoos, dores, desconfortos em geral… Não vou comentar aqui sobre os sentimentos que vêm a tona devido às memórias do pós-parto, guardo-os para outro momento.

Vou compartilhar com vocês o que aconteceu comigo, que é também semelhante ao que aconteceu com algumas mães que conheço e atendo.

A primeira gestação

Minha primeira gravidez foi bem tranquila, não tive enjoos, não vomitei… Eu havia parado de tomar o anticoncepcional há 4 meses, por isso, o atraso da menstruação me fez desconfiar que eu poderia estar grávida. Dito e feito, exame positivo!

Descoberta a gravidez, parece que uma “chavinha virou”. Eu só conseguia pensar nisso, o milagre da vida. E eu agradecia a Deus por estar experimentando este milagre. O tempo todo eu ficava imaginando o bebê crescendo dentro de mim. Comecei a ler sobre o assunto, acompanhava semana a semana o desenvolvimento do bebê, o meu ganho de peso, o crescimento da barriga. Também comecei a pensar sobre o parto, troquei de médico (busquei um que aceitasse minha decisão de parto natural), participei de roda de gestantes.

Durante toda a gestação não tive fome em excesso nem vontades estranhas. Pratiquei yoga (eu já praticava antes da gravidez, continuei até 36 semanas), melhorei minha alimentação, cuidei mais de mim, conectei-me  bastante com minha filha. Curti muito minha barriga e cada movimento no meu ventre. Conversava e cantava frequentemente com ela. Único desconforto que eu tive foi o sono… como eu tinha sono! Mas nos dias de folga eu aproveitava e dormia…ahhh como eu dormia! Acordava mais tarde e após o almoço ainda tirava aquele cochilinho esperto. Eu tinha tempo!

A partir do oitavo mês comecei a sentir o incomodo da barriga pesando. Foi ficando mais difícil encontrar uma posição para dormir, xixi era quase toda hora, as costas e a região do púbis doíam. Mas tudo dentro do esperado, já estava na reta final e logo eu iria ver o rostinho da minha filha, segura-la em meus braços, sentir o seu cheirinho.

Na 37ª semana meu tampão começou a sair e as contrações de treinamento começaram a ficar mais constantes. Com 38 semanas e 2 dias Laís nasceu. Tivemos um parto domiciliar, conforme nos preparamos e planejamos.

Segunda Gestação: As expectativas

Conforme já falei no texto A maternidade como oportunidade de autoconhecimento”, engravidei do Gael quando Laís tinha 1 ano e 6 meses. Assim que confirmei o teste positivo, os sentimentos que me invadiram no momento foram gratidão, por mais uma vez ter a oportunidade de experimentar em meu corpo o milagre de uma nova vida, e ao mesmo tempo medo, pelo pós-parto que me esperava. Eu não tive medo pela gravidez, mas pelo que viria depois. Também fiquei apreensiva com a reação que meu marido teria, pois não estava nos nossos planos uma segunda gravidez naquele momento, tínhamos resolvido adiar um pouco a chegada do segundo filho para focar em algumas questões profissionais. Para minha surpresa, ele me abraçou com um sorriso no rosto, enxugou minhas lágrimas e disse que se Deus tinha nos mandado este filho, então nós iriamos amar e cuidar, assim como amamos e cuidamos da Laís. Ouvir estas palavras foi relaxante.

Passado o momento do susto e do êxtase da descoberta (mais susto do que êxtase!) hora de parar e rever os planos. Eu tinha iniciado minha formação em Coaching fazia pouco tempo, e em paralelo tinha acabado de entrar para o ZumZum. Estes dois fatos estavam ajudando muito no meu processo de autoconhecimento, eu estava começando a entender várias questões do meu primeiro pós-parto e da relação com minha filha, assim também como da minha vida profissional. Tudo estava indo muito bem.

O plano naquele momento era seguir firme e forte no ZumZum, nos estudos do Coaching, e no trabalho no mundo corporativo (Para quem não sabe, eu sou Engenheira de Alimentos, e na época trabalhava como Supervisora de Produção de uma empresa de refrigerantes, a maior do ramo no mundo). Minha grande expectativa era aproveitar o tempo da gravidez e as folgas do trabalho para me dedicar à formação de Coaching, com o intuito de antes de o Gael nascer eu já estar com o diploma em mãos e, deste modo, fazer uma transição de carreira tranquila após o nascimento dele (#sóquenão). Eu só esqueci que, além de grávida, eu tinha uma filha pequena para cuidar, casa para organizar, comida para fazer…

Eu também esperava que a gravidez fluísse de maneira leve, e que o pós parto fosse diferente e mais fácil.  A expectativa era que tudo fosse mais ou menos como foi na gravidez da Laís. Apenas com relação à DPP (Data Provável do Parto) eu tinha uma expectativa diferente da que tive na primeira gestação. Eu sempre achei que a Laís fosse “atrasar” e nascer após 40 semanas, e como já disse, ela nasceu com 38 semanas e 2 dias. Em virtude disso, eu esperava que Gael fosse “adiantar”, me dar os mesmos sinais que a irmã (tampão saindo uma semana antes, pé inchando no dia anterior ao nascimento) e nascer antes mesmo das 38 semanas completas.

Segunda Gestação: Os desafios

Foram pequenos, simples e sutis. Olhando de fora, há quem diga que nem foram desafios. Na verdade, talvez este tenha sido o maior de todos os desafios, identificá-los e driblá-los.

Lembram quando eu disse que assim que descobri a minha primeira gravidez uma “chavinha virou”? Pois bem, na segunda eu não encontrava a tal “chavinha”. No início, várias vezes eu precisava parar e pensar: “Eu estou grávida.” Ou às vezes, quando eu começava a reclamar de sono e cansaço, eu era lembrada pelo meu marido: “Lógico, você esta grávida!”.  Como eu também não tive enjoos, levou certo tempo para me acostumar que havia uma vida crescendo dentro de mim. Acredito que a rotina corrida que eu já tinha colaborou com isso. Afinal, como já disse, era o trabalho fora de casa, os afazeres domésticos, a vida de mãe de um bebê que ainda mamava no peito (sim, Laís ainda era um bebê, não tinha nem 2 anos), os estudos…e além de tudo isso eu também estava grávida. Eram muitos papéis ao mesmo tempo, e o mais recente, o de gestante, ainda não estava tão incorporado. Quando eu me dava conta que eu não estava agindo e pensando como grávida, vinha a culpa…

Ahhhh, a culpa materna… aquela que a gente insiste em querer carregar. Eu me sentia culpada por não estar o tempo todo pensando no meu bebê, falando com ele, cantando para ele. É estranho, mas no início eu não me sentia grávida, e eu me culpava por isso. Foi necessário a barriga começar a crescer e eu sentir os movimentos do bebê no meu ventre para realmente ter a consciência que tinha uma vida se desenvolvendo dentro de mim. E ainda assim, muitas vezes eu me sentia em dívida com me bebê, pois na correria do dia eu pouco tinha interagido com ele.  A noite, depois que a pequena já estava dormindo e eu me deitava, era o momento que eu conversava com ele, pedia perdão e também me perdoava por estar me cobrando tanto.  Sim, eu precisava me perdoar, pois não fazia sentido me culpar por algo que muitas vezes eu não conseguia oferecer. Afinal de contas, eu tinha minha pequena que me demandava muito e que estava sentindo a chegada do irmão.

E falando nisso, este foi um dos desafios, preparar a Laís para o nascimento do irmão. No Texto “Como identificar o momento do desmame”, eu contei para vocês que quando fiquei grávida do Gael a Laís ainda mamava em Livre Demanda e eu não pretendia desmamar. Aos poucos fui reduzindo as mamadas para apenas o momento do soninho. No início foi um pouco desafiador, mas conseguimos. O desafio maior foi lidar com as explosões emocionais dela, que nada mais eram do que meu espelho. Eu andava estressada e descontente com o trabalho, cansada. Além disso, meu marido estava em um momento profissional delicado e também super estressado. Em resumo, estávamos com os nervos à flor da pele. E pra completar, um bebê a caminho indicando que em breve mamãe não seria mais só dela. Lógico que nossa pequena nos mostrava isso da maneira que ela conseguia, com gritos, choros, esperneios… Não foi fácil!

Sabem aquelas dores que eu comentei que comecei a sentir lá pelo sétimo/oitavo mês da gestação da Laís? Elas apareceram por volta do terceiro mês, e me acompanharam até o final da gestação. No começo até que foi um pouco mais tranquilo, como meu marido é osteopata, ele fazia algumas manipulações e as dores sumiam, mas após uma ou duas semanas apareciam de novo. Só que elas vinham com tudo. Quando eu descia escadas o osso do púbis doía demais! Nos últimos meses, o marido manipulava, a dor ia embora, dois dias depois voltava. Sério, eu me considero bem resistente para dor, porém sentia as vezes que não ia aguentar as costas e o púbis. Eu desejava que o Gael nascesse o quanto antes só para acabar com essas dores.

Assim como na primeira gravidez, eu tive muito sono. Todavia, eu não tinha como dormir e descansar da maneira que eu fiz antes. Laís ainda acordava bastante a noite para mamar, e nos dias da minha folga, ela queria brincar. Eu até conseguia tirar um cochilo com ela após o almoço algumas vezes, mas não era sempre. Por causa da formação que eu estava fazendo, qualquer tempinho que a Laís dormia eu queria aproveitar para estudar, assistir as aulas tanto do Coaching quanto do ZumZum. E aí o sono e o cansaço só acumulavam. Tinha dias que eu dormia na frente do computador estudando.

Fui começando a ficar ansiosa e estressada, pois eu não estava rendendo como gostaria de estar. E ao mesmo tempo, não estava curtindo minha gravidez e nem os últimos meses de ser mãe exclusiva da Laís. Eu estava tão preocupada com o futuro, pensando que eu precisava urgente terminar a formação, que deixava de viver o momento presente. E o mais engraçado é que uma das premissas fundamentais que aprendi com o Coaching e também com o ZumZum é estar presente, viver o presente. Por isso para mim este foi um grande desafio durante a gestação. Imaginem sem o Coaching e o ZumZum, com certeza teria sido pior!

Aprendizados

Apesar de saber que cada gravidez é única, portanto diferente, a maioria de nós tende a insistir em esperar que sejam iguais, ou ao menos parecidas. Eu, por já ter parido uma vez, julguei que tudo estava sob meu controle, quando na verdade eu não tinha controle de nada.

Gael, com todo seu amor, me chamou a olhar mais para dentro, para minhas emoções. É incrível como ele mexia na minha barriga muito mais que a Laís, me chamando a atenção quase que a todo o momento, como se estivesse falando comigo, me pedindo para estar presente. E assim ele me mostrou que muita coisa ainda estava fora do lugar. Mesmo praticando yoga, meditando, e com todo conhecimento do Coaching e do ZumZum, muitas vezes eu me vi perdida, com medos, inseguranças, fragilidades….e junto com tudo isso a vontade imensa de fazer diferente, de mudar, de ser uma mãe melhor, uma esposa melhor, uma mulher melhor!

Gael também me mostrou que era hora de parar, desacelerar. E como foi difícil enxergar esta necessidade… como foi difícil assumir que não era hora de focar na vida profissional e mudança de carreira. Eu precisava focar na minha gravidez, no meu bebê que estava em formação dentro de mim. Também precisava curtir meus últimos momentos de mãe exclusiva da minha filhota.

Só mesmo quase aos 45 minutos do segundo tempo consegui. Graças a Deus, a tempo! E ainda assim, até o final segui aprendendo.  Conforme comentei, eu esperava que Gael nascesse antes de 38 semanas, e ele nasceu com 39 e 3 dias sem me dar nenhum sinalzinho prévio de alerta. Controlar minha ansiedade e saber lidar com a espera foi um mega desafio e aprendizado.

O que quero trazer de reflexão com este texto é justamente isso, a importância de estar presente e de se livrar das expectativas. Eu sei que é bastante desafiador, mas que tal experimentar? Superar um desafio é libertador e nos deixa mais fortes e empoderadas para os próximos que virão.

Texto escrito por Amanda Balielo, Mãe da Laís e do Gael, Coach de Mães e participante da turma 4 do Zum Zum de Mães.

@amandabalielocoach 

Http://facebook.com/amandabalielocoach

Eu olhei para aqueles olhinhos atentos e brilhantes, de um jeito que só ele me faz olhar, e disse com o coração: “Você é a minha vida.” Sem espera, recebi a mensagem que eu tentava internalizar há anos com a clareza e simplicidade de uma criança, e um sorriso gostoso de acolhimento: “Mamãe, mas como eu sou a sua vida, a vida do papai, a vida da vovó, a vida de todo mundo?”

A Verdade encontrou a porta aberta

Como Coach em Saúde Holística e Nutrição Integrativa e, com todos os treinamentos, estudos e pesquisas, me certifiquei de que a ferramenta mais poderosa para processos de desenvolvimento pessoal são as perguntas, não quaisquer perguntas, mas aquelas que nos fazem refletir profundamente sobre um nível ainda não consciente, que trazem à tona sentimentos a desvendar, ou mesmo desvendam sentimentos e permitem aqueles momentos ‘AHA!’, em que nos descobrimos um pouquinho mais. Para isso acontecer, precisamos estar dispostos e confiar no processo.

Aquela pergunta do meu pequeno encontrou a pessoa certa, no lugar certo e no momento certo. Eu, enfim, estava aberta para receber essa verdade. Como eu poderia colocar sobre o meu filho de 3 anos a responsabilidade da minha vida? Mesmo que inconsciente, era o que eu estava fazendo.

Você me permite que eu lhe conte um pouquinho da nossa história?

Em um tempo não muito distante, mas muito diferente…

O pôr-do-sol era de uma beleza envolvente, o vento chegava forte anunciando uma noite inquieta e já começava a agitar aquele mar que se perdia no horizonte. Não importava a direção em que eu olhava, o mar se perdia no horizonte. O Sol, por sua vez, imponente e me desejando luz, tinha toda a minha atenção naqueles últimos minutos de céu claro. Eu estava sentada, imóvel, agradecendo por aquele momento e pedindo para que ele durasse mais. Quem me visse ali, ou melhor, quem visse aquela cena, como uma imagem congelada no tempo, diria que eu havia alcançado o sucesso e não podia desejar outra vida. Será?

O mais interessante é que eu fiz tudo certo para chegar até ali e pode ser que você se identifique com essa trajetória. Para resumir, desde que me entendo por gente (aliás, essa é uma expressão que cresci ouvindo e provavelmente dá outra história), cresci como uma aluna exemplar e uma filha tranquila e sorridente. Estudei a vida toda em escolas públicas e me destacava em notas e comportamento. Emendei na Universidade e, antes mesmo que acabasse, passei em um concurso para ter o emprego dos sonhos de todo brasileiro. Pronto. Eu havia trilhado o caminho do sucesso ensinado pela sociedade. Eu havia agradado tanta gente nesse caminho. E, não de repente, estava lá sentada, a poucos instantes de me concentrar naquele trabalho dos sonhos, pensando: “Que direito eu tenho de desejar outra vida? Por que não sou apenas grata por tudo que conquistei?”

Era um conflito interno muito forte que eu vivia, era doloroso, sintomático, tinha reflexos na minha saúde, na minha paz, na minha felicidade. A depressão já era bem conhecida, altos e baixos se tornaram comuns. Os questionamentos que eu me fazia se intensificavam, mas a confusão dentro de mim permanecia grande e eu escolhia ficar no lugar de costume, na zona de conforto. Percebe que essa que chamamos de zona de conforto pode não ser mesmo confortável? É, na verdade, onde os riscos já são conhecidos e os desafios não superam as nossas habilidades. É uma zona de apatia, tédio ou relaxamento.

Eu tinha lampejos de felicidade quando me conectava a algo que fazia minha alma sorrir, que me fazia sentir amor pela vida. Dançar, sonhar com uma vida mais leve, com a natureza presente para ser admirada e preservada, não explorada, escrever sentimentos, desenhar planos mirabolantes de fuga, eu fazia tudo isso, me libertava por instantes e, em seguida, guardava a minha liberdade em uma caixinha dos desejos, num cantinho escuro e escondido. Não passava pela minha cabeça que o conteúdo da caixinha eram peças do grande quebra-cabeça que eu tentava desvendar. Então, eu retornava para a vida que eu conhecia, a vida certa para uma pessoa bem sucedida, a vida que agrada quem olha e que eu não reconhecia como minha.

Tempo de despertar a consciência

Acredito que ocorrem alguns momentos em que se abre um portal de conexão com uma sabedoria maior, com um plano espiritual, com algo a que pertencemos, mas nem sempre temos consciência desse pertencimento. Lembro de sentir que era chegado o tempo de me tornar mãe, como se tivesse algo antes combinado. Engraçado escrever isso agora porque João e eu sempre fechamos um acordo nosso dizendo: “Combinado!”. E foi assim, eu acreditava que seria mãe até os 30, me tornei mãe aos 30, e esse portal divino estava aberto. Eu me permiti receber a luz da consciência, me permiti receber o presente de conexão com a vida em essência, bela e simples. A pureza do olhar do meu filho me fez compreender o amor. Eu percebi, então, que era responsável por duas vidas, a dele e a minha.

Meus 30 anos, um divisor de águas. Não havia mais tempo para depressão e, melhor, não havia mais motivo. Eu havia compreendido o sentido da minha existência. Assim eu acreditava. O João se tornou a minha vida, repleta de felicidade e amor. Por ele e por amor, eu tirei aquela minha caixinha do cantinho, comecei a questionar se aquilo tudo podia se encaixar nessa minha nova visão de mundo. Quanto mais eu mexia, mais eu percebia que eu sempre estive lá, apenas não havia ainda me encontrado. Cada dia, uma ou mais descobertas. Foi um tempo mágico, milagroso.

Afeiçoada aos estudos e pesquisas, uma prática de toda a vida, comecei a me dedicar à abertura de um novo caminho, que estivesse alinhado aos meus princípios e valores. Mais rápido do que pensava, estava dando grandes passos para a minha liberdade, um movimento de dentro para fora, um movimento pela vida. Como um dos maiores atos de amor próprio que vivi (hoje percebo isso), decidi deixar a carreira dos sonhos de outras pessoas e tornar os meus sonhos realidade. Mudei de estilo de vida, mudei de endereço, mudei de trabalho. Sem muito planejamento e metas definidas (algo que não recomendo e também é assunto para outra conversa), abandonei a minha zona de conforto.

Tempo de viver e deixar viver

Tudo estava fluindo melhor, o ar era mais leve. Os desafios eram crescentes e sempre mais libertadores. Educar o meu filho de acordo com o que eu acredito bom era e continua sendo o maior desafio. Não é fácil se libertar das amarras com que crescemos, mas é plenamente possível. Apesar de sentir que eu seguia com amor e verdade, algumas peças do meu quebra-cabeça faltavam e outras pareciam ter sido posicionadas erroneamente. Com o tempo, um sentimento antigo que eu não aceitava mais insistia em aparecer. Como aquele vazio da depressão poderia surgir de novo se eu já conhecia o sentido da minha vida?

Dia após dia, dificuldades e conquistas, pensei em desistir e, ao mesmo tempo, não poderia desistir da missão que eu reconhecia pra mim e se afirmava a cada passo. Quando você inicia um processo profundo de autoconhecimento, você começa a ver o que não via e não tem como (des)ver. Fingir que não vê é se dar um atestado de infelicidade. Eu não queria essa opção. Decidi, então, acreditar mais e entregar para o Universo porque a resposta viria.

Eu digo que a depressão causa cegueira porque o caminho fica enevoado e difícil de percorrer. Quando confiamos que há algo maior e nos conectamos a essa crença, podemos finalmente fechar os olhos e seguir o coração. O ciclo virtuoso da prosperidade e abundância começa a se manifestar. As respostas surgem com clareza. Foi assim que, ao libertar o meu sentir novamente, o pensar e o querer reencontraram o seu fluxo. Foi a segunda vez que, consciente, senti um amor que não conhecia, o amor por mim.

Vou recapitular e acrescentar! Eu me tornei mãe e percebi que era responsável por duas vidas, a do João e a minha, mas essa verdade foi assimilada em tempos diferentes e em níveis diferentes de consciência. Primeiro, conheci o amor puro e incondicional de uma criança, que amoleceu o meu coração e fez com que eu unificasse as nossas vidas para que a minha fizesse sentido. Esse amor preparou o terreno para a descoberta mais recente, o auto amor ou amor próprio, em construção. Agora, tenho uma percepção mais aguçada da responsabilidade sobre a minha vida, minhas escolhas, minhas palavras, meus pensamentos, sentimentos e ações.

Através do olhar de uma criança, aprendi a amar. Através do seu sorriso e de suas palavras, aprendi a viver e deixar viver.

“Mamãe, como eu sou a sua vida…?”

Isso não fez sentido para ele e não fazia mais sentido para mim. Meu filho faz parte da minha vida, mas eu não tenho o direito de fazer dele a minha vida. Hoje, enxergo a beleza de guiá-lo para que cresça livre e feliz, para que tenha tempo e espaço de descobrir e abraçar a sua bio-individualidade, para que viva com amor e verdade.

Eu não tenho o direito de responsabilizar outra pessoa, quem quer que seja, pela minha felicidade Hoje, sei que tenho muitas descobertas por fazer, estou no início da minha jornada de desenvolvimento pessoal, cada dia cultivo uma conquista, todo dia encontro o meu sucesso e coloco mais uma peça no quebra-cabeça da vida.

 

Este texto foi escrito por: Cibele Calderan, mãe do João de 3 anos, criadora do Espaço Vice Versa, movimento pela vida, e Consultora de Bem Estar dōTerra. Reconhece como sua arte, sua missão, semear a mensagem de conexão com a vida, que permite o educar alinhado à natureza do ser, com amor, respeito e liberdade, e promove o cultivo de uma cultura sustentável. Saúde Holística, Nutrição Integrativa e Permacultura para Mães e Famílias com crianças de até 7 anos.

Nas sombras que se aproximam, esgueiradas por entre as frestas abertas que me permitem enxergar, vejo nuvens densas, corram que lá vem vindo uma tempestade! Procuro os culpados para descarregar minha frustração e minha raiva, mas quando os encontro, são rostos tão conhecidos e até amáveis em sua maioria. Tempos difíceis esses para se amar e respeitar o próximo.

Porém não existem culpados pela minha raiva, tudo e todos os fatores externos a mim são apenas gatilhos para desperta-la, ela me pertence e hoje entendo e a aceito de bom grado, afinal é um sentimento humano.

A raiva é minha apenas, emerge das profundezas do meu eu até a superfície, vem nua despida dos moralismos históricos empurrados goela abaixo, vem sem os disfarces de costume, sem maquiagem e me encara em toda sua plenitude, ela é devastadora e assustadora demais. Me surpreendo por ela me ser tão intimamente desconhecida, afinal disseram-nos que ela é ruim, que devemos ser boazinhas, que não é certo senti-la, então mocinha a esconda, sorria e siga em frente. Ela me diz debochadamente que sempre esteve aqui, e agora que estamos face a face vejo toda sua força, sua rebeldia. Corajosamente à assumo, me permito senti-la com toda a sua potência e então eu grito alto, pego um travesseiro e abafo inesperados urros viscerais, a fera está acordada, por longos minutos soco com toda minha força o travesseiro, ela vai se alimentando, aos poucos se contentando, saciada por hora vai então diminuindo, vira uma lágrima e transborda em um lamento de impotência.

E me vem enfim a clareza, um lampejo da verdade, da minha verdade, eu continuo e preciso continuar em busca dos caminhos do amor, digo a minha raiva que posso senti-la, que vou tentar acolhê-la sempre quando ela vier, mas peço que ela não se iluda, não é ela que vai me guiar. É por tolerância e amor à minha busca, é onde me fortaleço e fortaleço minhas convicções, porque se eu agora simplesmente passar a desejar devastação, apenas para dizer ou provar que eu estava certa, se assim eu fizer, eu terei então mudado de lado, estarei então jogando o jogo do ódio e alimentando esse ciclo tenebroso implantado em nossa sociedade!

Me recuso a sucumbir ao ódio, à raiva e à revanche, entendo que as pessoas têm diferentes vivências que as levaram a percepções e escolhas diferentes das minhas, prefiro desejar que lá na frente estejamos todos juntos novamente envoltos pela mesma esperança de dias melhores. Continuo desejando igualdade, empatia e respeito para com às minorias, com as maiorias e com todos aqueles que têm por direito serem diferentes de mim e do que eu acredito.

Vou ensinar minha filha a ser tolerante, resistente, potente, senhora de si, livre de amarras, livre para os caminhos que o amor a levar… O meu maior legado para o mundo será mais uma consciência desperta, para isso eu estudo, penso, procuro nos ensinamentos do mestre dos mestres, mergulho no amor do criador, me conheço, me reconheço, me reviro do avesso, revelo com honestidade minhas fraquezas, trago luz às minhas sombras, leio, releio, repenso, pondero, perdoo e sigo na busca, abrindo as portas, olhando para frente, paro alto, para além dos véus que aos poucos e a duras penas vão sendo removidos da frente dos meus olhos.

 

Este texto foi escrito por: Vivian Pessoa, mãe da Ive de 2 anos e 8 meses e participante da turma 5 do Zum Zum de Mães.

 @viviancpessoa

 [email protected]

 

Depois de uma boa noite de sexo, sentei-me à mesa do café da manhã, como quem acaba de encarnar Buda.

Minha mente zen fez cócegas no meu autoboicote e em tudo que eu julgo difícil, complicado ou impossível.

Meu marido sentou-se à minha frente e me deu uma piscadela, como quem queria rir da nossa noite ou apenas continuar aquele gozo dia afora.

Tentamos comer sem pressa, ao som da Galinha Pintadinha e de vários esbarrões nas cadeiras, daquele menininho lindo correndo em volta da mesa.

Um grito tomou conta do ambiente. Um tombo, um mau jeito na perna do meu filho e um choro longo, desses de novela mexicana. Sentei-me delicadamente no chão, na intenção de mostrar o meu apoio por ele e fiz um gesto com os olhos, para demonstrar compaixão.

Não estava acreditando na minha tranquilidade, em momentos como esse como seria o meu comportamento? Correr para pegar o gelo, abanar, assoprar, beijar, gritar, assustá-lo ainda mais.

Tive a sensação de sair do meu próprio corpo para me observar. “Ei, você? Tomou alguma droga, chegou da aula de yoga, está em estado de transe com o corpo celestial da paz?”

É, não estava me reconhecendo, e obviamente o meu filho também não. Em poucos segundos ele parou de chorar e devolveu-me um olhar de cumplicidade. O silêncio parecia tomar conta do seu pensamento e prepara-lo novamente para a próxima brincadeira.

Lembrei-me do café na xícara, já gelado, mas não me importei, bebi com gosto, desejo de molhar os lábios. Se fosse outro dia, talvez reclamasse da temperatura e do gosto amargo.

Sim, a sensação de “good vibes” soava falso, mas eu sabia que não era.

Um súbito pensamento me ocorreu. O sexo, como fonte máxima de prazer, conexão e entrega teria esse poder de tirar os meus pés do chão?

Aliás, ouso indagar se qualquer caminho de entrega fiel e libertadora não teria esse mesmo efeito avassalador.

Não me chamem de herege, mas vou comparar o sexo com a religião.

Sou religiosa, mas jamais me encontrei em um estado de crença tão sublime a ponto de mudar a minha vida, mas sou testemunha de que algumas pessoas já passaram por essa situação.

Conheci um homem que morreria em seis meses, segundo a medicina, mas morreu apenas dez anos depois, simplesmente porque tinha muita fé, algo transcendental, que não se explica. Apenas se agradece, pois engrandece.

A meditação também gera essa transcendentalidade. É uma filosofia de vida, que quando praticada em alto nível coloca a pessoa em sintonia máxima da mente com o corpo humano.

Já ouvi dizer que os monges não fazem sexo, porque encontram essa plenitude máxima de paz interior quando estão meditando.

Sem maiores julgamentos às crenças e aos costumes religiosos ou meditativos, o fato é que ainda não consegui alcançar essa plenitude máxima com a meditação ou religião.

Oxalá, meu marido, que pode se dar bem nessa, caso eu passe a acreditar que preciso de sexo para ficar zen.

Brincadeiras à parte, esta reflexão serviu para me mostrar o caminho da entrega. Talvez eu não soubesse antes da maternidade o que era me despir sem medo de ser feliz.

E não é só isso, talvez me falte transar com a própria vida, valorizar mais meu tempo com o meu filho, amigos e família.

Transar no dicionário é também: “gostar de, deleitar-se com, apreciar”.

É isso, TRANSEMOS MAIS!

 

Esse texto foi escrito por Lígia Freitas, Mãe do João e Participante do Zum Zum de Mães.

@ligiafreitasescritora

 

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