Amamentação: um capítulo à parte!

Quem nunca sonhou em amamentar seu filho? Antes da gravidez eu já sabia da importância nutritiva do leite materno! Sempre ouvia o Dr. Lair Ribeiro repetindo taxativamente que o leite materno é o melhor alimento do mundo! Lembro-me bem de um vídeo em que ele conta que milionários moribundos compravam leites das mães, ainda na maternidade, para ganhar um tempo a mais de vida!

Como se preparar?!

Quando fiquei grávida esta era uma preocupação: o que eu poderia fazer para garantir que minha filha desfrutasse desse benefício?! Minha médica sempre me orientou e tranquilizou a respeito do tema! Parecia que não havia muito o que dar errado, era mais uma questão de persistência! Entretanto, alguns relatos de amigas e colegas me assustavam e deixavam certa dúvida no ar!

Saber que minha mãe me amamentou somente até os 4 meses também me deixava um tanto intrigada. Mas tudo parece encoberto por uma névoa misteriosa até que você possa adentrar o mundo da maternidade!

Aos poucos fui descobrindo coisas que nunca sonhei! Eu que sempre adorei chá de hortelã ou menta, deveria tomar cuidado, pois ele não favorecia a produção de leite! Eu que sempre fui fã de aromaterapia, deveria ficar atenta para usar os óleos essenciais certos! Basicamente só fiquei tranquila com o óleo essencial de lavanda!

Eu já era adepta da acupuntura, mas serei eternamente grata à médica Karla Arana que me acompanhou durante o período de pré-natal! ( Excelente profissional que Deus colocou em meu caminho!). Além de sempre colocar o ponto de acupuntura bebê-feliz, rs, ela sempre colocava agulhas para estimular meu corpo na produção de leite!

Nesta fase da gestação o top less é liberado e apoiado pelo maridão, rs. Claro, só se for dentro do apartamento na fresta de sol que bate pela manhã! Brincadeiras a parte, sol no peito foi o que mais me falaram para fazer para prepará-lo para a intrigante missão que lhe esperava!

Realidade Nua e Crua

É fato que eu quis deixar as coisas fluírem, mas ir para uma cesariana de emergência por conta de baixa no líquido amniótico me deixou bem desconfortável. Na verdade, acho que esta não é a palavra, me deixou em pânico mesmo! Foi algo muito abrupto para minha personalidade planejadora e detalhista!

Eu sentia que não queria, não estava pronta, mas a pessoa que eu mais confiava neste processo era minha médica. Se ela dizia que era necessário, eu não ia discutir! Amo e confio muito no trabalho desta profissional, mas hoje vejo como eu não soube me empoderar durante minha gravidez! Fazemos o melhor que podemos com as condições que temos e foi assim que aconteceu!

Apesar de estar numa maternidade bem conceituada de São Paulo eu tenho horror de lembrar do tempo que passei lá! Especialmente por conta das enfermeiras! Apesar de não receber muitas visitas (tudo o que eu queria era ficar bem quietinha!), eu simplesmente não tinha um minuto de paz. Quando a bebê dormia elas vinham me acordar para medir temperatura, pressão, num excesso de precaução que beirava a paranoia. Eu sentia que havia um medo de que houvesse algo de errado e que elas fossem as culpadas! Ou seja, o clima era de medo constante!

Sou muito mais que meu peito

Quando minha filha teve o primeiro episódio de hipoglicemia eu fiquei bastante assustada. E quando notei um clima de nervosismo no ar, entre as enfermeiras, eu fui ficando bastante preocupada! Aquela confiança que minha médica foi me ajudando a conquistar no pré-natal em relação à minha capacidade de amamentar, sumiu na primeira acusação que ouvi, dizendo que meu bico não prestava!

De repente eu não era uma mulher que exigia cuidados, era uma mulher que não conseguia amamentar sua cria, porque seu bico não era do jeito que deveria! Passar da gravidez para a condição de parturiente foi bem traumático para mim! Antes havia um cuidado e depois havia um clima hostil! Lembro da grosseria da enfermeira quando me levou para tomar banho, ela me falava num tom que parecia que eu estava fazendo “corpo mole”. Eu a apelidei internamente de enfermeira do Hitler, tal foi a sensação de horror que ela me despertava!

Não é segredo que há inúmeras violências que ocorrem com as mulheres durante o pós parto. Confesso que me choca cada vez que ouço histórias a respeito e jamais imaginei que passaria por isso. Antes eu achava que havia um certo exagero, um certo melindre, inclusive. Mas depois do que vivi, e sei que foi pouco perto de muitos relatos, redobraria minha atenção dentro de instituições hospitalares!

Será mesmo que a amamentação é estimulada?

As propagandas enfatizam a amamentação, mas na realidade há muitas formas de desencorajá-la de forma sutil! E foi assim que aconteceu comigo! A primeira delas, na minha opinião, é o complemento! Por qualquer motivo, aliás para retirar qualquer possível responsabilidade do hospital, eles querem iniciar com o complemento. Eu me opus fortemente, mas fiquei com medo da hipoglicemia e concordei. Foi aí que diminuiu o interesse de minha bebê pelo meu peito.

O segundo movimento foi desqualificar o bico do meu seio como quem avalia uma vaca leiteira! Ali minha auto-estima que estava abalada, desceu muitos graus abaixo de zero! Fragilizada e com medo eu aceitava qualquer alternativa que resolvesse o meu suposto problema. Foi então que a solução foi apresentada como um bico de silicone acoplado ao meu peito, que facilitaria a sucção para a minha bebê! Afinal, elas diziam que ela era muito preguiçosa para mamar! (A bebê acaba de nascer, está APRENDENDO e já é rotulada como preguiçosa!!!)

O terceiro movimento foi incentivar o uso da mamadeira para dar o complemento para minha bebê na UTI. Apesar do risco de engasgar, de molhá-la toda, de ser mais difícil para ela, eu optei pelo copinho (exigia MUITA calma e paciência). A minha sorte é que eu nunca fui atraída pelas propagandas da facilidade! E depois, descobri que esta decisão foi fundamental para que minha filha não se desinteressasse completamente do meu peito!

Precisamos de apoio

Após conseguir amamentar com o bico de silicone acoplado ao meu peito, eu ganhei alguma confiança. Entretanto, novamente ela não estava comigo, estava depositada num objeto externo! O bico necessitava ser esterilizado e sempre me dava uma profunda sensação de incompetência, de peito defeituoso, de vergonha!

Com o passar de alguns dias comecei a sentir uma dor terrível para amamentar. Lembro que tinha que amamentar a cada 2 horas e sofria muito antes, durante e depois. Nunca sofri tanto na minha vida! Dependia de mim o bem estar de minha filha e aquilo me causava uma dor lancinante. Tive fissuras que nunca cicatrizavam, não importava o que eu fizesse (pomada, sol, banho de luz…).

Diante daquele cenário decidi procurar uma profissional especialista em amamentação: Cinthia Calsinski . Ela foi um anjo na minha vida, eu estava traumatizada com enfermeiras e só de pensar em falar com uma delas sobre minha dor era assustador. Detesto quando as pessoas não acreditam no que eu estou sentindo, especialmente porque sou uma pessoa muito atenciosa comigo mesma, com meu corpo! Quando digo que dói, não é frescura, é porque DÓI MUITO!

Quando conversei com a Cinthia, enfermeira obstetra, senti tanta delicadeza e compreensão que imediatamente confiei no trabalho dela. Com sua ajuda preciosa eu consegui amamentar sem aquele apetrecho de silicone! Apesar do medo e da dor, fiquei feliz por CONSEGUIR amamentar minha filha! A partir dali ela me deu um imenso suporte através de mensagens pelo whatsapp e eu fui ganhando confiança, surgiu uma luz no fim do túnel!

O alívio de um diagnóstico

Minha filha nasceu praticamente na entrada do inverno e eu tenho uma sensibilidade muito grande ao frio. Eu escutei diferentes pessoas aconselharem a colocar compressa fria/gelada no peito, porque senão corria o risco do leite empedrar. Este era outro sofrimento, pois com exceção do sorvete, detesto coisas geladas, ainda mais no peito!

Quando comentei sobre isso, a Cinthia foi a primeira a me dizer que eu precisava escutar meu corpo antes de escutar qualquer outra pessoa! Se o calor me trazia conforto, então era calor o que eu precisava! Comecei a usar uma bolsa térmica na região da barriga ou das costas, meus músculos relaxavam e então eu só sentia a dor no seio! Este foi um processo que a Cinthia foi acompanhando muito atentamente, porque minha dor não se concentrava no bico, irradiava para o peito. Após o período natural de adaptação, ainda não tinha melhorado.

Apesar de fazer tudo o que a Cinthia tinha me ensinado para aliviar minha dor, cicatrizar minhas fissuras, o processo estava muito lento e eu começava a perder minhas esperanças novamente. A tentação de usar mamadeira com complemento era imensa, porque estava sofrendo muito física, emocional e psicologicamente.

Segundo a enfermeira, a única hipótese que justificaria minha dor seria candidíase mamária, mas não havia o menor sinal de sapinhos na boca da minha filha! A pediatra do Convênio me olhou com desconfiança e descartou qualquer possibilidade! A Cinthia me esclareceu que, na maioria das vezes, eram os sintomas da mãe que caracterizavam a doença. Apesar disso, eu estava relutante em dar qualquer medicação para minha filha sem o consentimento da pediatra! Neste sentido, a Cinthia não tinha muito mais o que me recomendar, começamos a pensar que pudesse ser algum trauma psicológico em relação à região nas mamas… E ela foi extremamente atenciosa e cuidadosa para investigar o que acontecia comigo.

O que não te destrói, te fortalece!

Eu não aguentava mais sofrer e ficava muito triste por socorrer ao complemento ocasionalmente, quando entrava em desespero. Então, chorando implorei ao meu marido que desse o copinho com o complemento para minha filha. Lembro que tivemos uma discussão extravasando emoções e ele me disse: isso não está funcionando, vamos admitir e usar a mamadeira!

Era muito trabalhoso dar o complemento no copinho, em pleno inverno, o leite derramava e era aquele trabalhão! Uma noite, quando vi meu marido chegando com o copinho e minha filha vibrando, reconhecendo o copinho, senti uma pontada no coração. Eu me senti muito triste, me senti incompetente, foi terrível!

Neste clima de desespero, minha amiga Marcela sugeriu que eu fosse a Casa Curumim para receber orientações sobre como amamentar! Eu tinha vergonha, porque sentia tanta dor que dependia do meu marido colocar a bebê no meu seio, eu não conseguia me “auto-agredir”. Venci o medo, a vergonha e fui até lá! Fui ACOLHIDA de uma forma muito amparadora e saí de lá imensamente feliz. Eu estava fazendo TUDO certo, como a Cinthia já havia orientado, confirmado e reconfirmado. Então, a profissional que me atendeu sugeriu o mesmo diagnóstico, especialmente porque uma das fissuras virou uma bolha horrível no bico do meu seio.

Com mais uma pessoa com o mesmo diagnóstico eu resolvi não dar mais ouvidos à pediatra ou à ginecologista (que nunca tinha visto um caso como o meu!). Mesmo sem minha filha apresentar os sintomas, eu iniciei o tratamento para candidíase mamária e com persistência mantive a amamentação para manter a produção de leite! Levou uns 10 a 15 dias para dizer que eu conseguia amamentar sem dor!

Aprendizado

Neste processo tão doloroso saí empoderada, respeitando muito mais minha individualidade, minha sensibilidade e minha intuição! Eu fui forte, determinada e persistente, apesar de tantos obstáculos. Mas compreendo as mães que desistem da amamentação! Apesar de parecer que a amamentação é incentivada, há muitos obstáculos, muita desinformação e MUITA falta de acolhimento! O que mais vemos, na verdade, é julgamento, inclusive de outras mães!

Sinto que precisamos criar uma rede de amor em torno das mães para que possamos protegê-las num momento tão delicado! Se você está se sentindo fragilizada, busque uma forma de acolher-se, dê a você o colo que precisa, sua criança interior agradece e lhe ajudará com seu bebê que também reclama sua atenção! Falaremos mais sobre isso no próximo artigo! Mas quero deixar a mensagem para que você silencie as vozes externas e suas vozes mentais que te sabotam! Dê espaço para o silêncio dentro de você, somente assim você será capaz de escutar o seu coração e decidir o que é melhor para VOCÊ! Gratidão pela leitura! Namastê!

 

ESTE TEXTO FOI ESCRITO POR: Gisele Mendonça, cientista social, mestre em sociologia, participante do Zum Zum de Mães e, principalmente, MÃE! Tem um blog chamado Conexão Profunda, visite www.conexaoprofunda.com.br e curta a página no facebook Conexão Profunda