Numa sociedade tão marcada pela tecnologia e racionalidade, quem anda ditando o jogo são as emoções! O medo, a tristeza, a raiva, a alegria vão se impondo de forma consciente ou, na maioria das vezes, inconsciente! E, quando temos filhos, temos também a oportunidade de fazer um mergulho profundo neste mar de emoções. Afinal, nossos filhos reestruturam nossa existência de forma irrevogavelmente avassaladora! Vale a pena ler também Maternidade: a intensidade de sentir.
A maternidade e também a paternidade trazem à tona muitos sentimentos confusos, muitas emoções que estavam trancadas à 7 chaves! Por isso, lidar com elas é fundamental para que possamos trabalhar com as emoções de nossos pequenos! Neste sentido, considero interessante abordar um pouco o conceito da inteligência emocional.
Eis aí uma habilidade essencial a ser desenvolvida! Desde que li o livro Inteligência Emocional de Daniel Goleman, fiquei fascinada pelo conceito e sua importância em minha vida pessoal e profissional, como educadora! No livro, o autor descreve cinco habilidades fundamentais para desenvolvermos a inteligência emocional:
1) Autoconciência: reconhecer o que sentimos e porquê sentimos;
2) Autogestão: como administramos nossas emoções estressantes para que não estraguem nosso dia! E como nos motivamos, alinhamos nossas emoções positivas com nossas ações e nossas paixões;
3) Empatia: compreender o que o outro está sentindo;
4) Habilidade Social: a arte de se relacionar, compreender e lidar com as próprias emoções e também com as emoções dos outros!
Desta forma, fica claro o caminho a ser percorrido para desenvolver ou melhorar nossa inteligência emocional. Assim, poderemos liderar nossos filhos para uma vida mais saudável consigo mesmo e com o mundo!
Segundo Goleman, a parte do cérebro que sustenta a inteligência emocional e social é a última a se desenvolver anatomicamente. Por isso, o autor ressalta a importância das experiências repetidas e como podemos ajudar nossas crianças tendo maior clareza do caminho a ser percorrido. Daniel Goleman – Inteligência Emocional
De fato, autoconhecimento é algo muito falado, mas pouco exercitado! Por isso, quero fazer um convite desafiador: escreva 10 qualidades suas segundo a SUA PRÓPRIA opinião! Agora escreva 10 defeitos! Em qual das listas você teve maior facilidade, qual delas veio à sua mente com maior rapidez?
Lembro-me de participar de uma dinâmica em que este exercício foi proposto e vi adultos se comportando como crianças querendo “colar”! A dificuldade de olhar para si mesmo era imensa e palpável! Conforme ressaltei no artigo anterior Pedidos deslocados: as consequências das necessidades não atendidas, dificilmente conseguiremos estar emocionalmente disponíveis para nossos filhos, se não pudermos olhar para nós mesmas!
Neste exercício contínuo de se autoconhecer, busque silenciar sua mente e ouvir seu coração! Do que você precisa? O que deseja? Procure cuidar-se e nutrir-se para que possa transbordar em se doar para seu filho, sua família e para o mundo! Desapegue do papel de mãe mártir e sofredora e redesenhe a mãe que você imagina feliz, satisfeita consigo e com seu papel!
Administrar meus próprios sentimentos é a tarefa mais incrível e desafiadora com a qual tenho me ocupado recentemente! Vale ressaltar que minha filha tem 2 anos e meio, então acredito que não preciso explicar muita coisa! Vejo que ela nega para se impor, me imita grande parte do tempo e eu gostaria de transmitir a ela a minha melhor versão.
Entretanto, como fazer isso quando “minha platéia” está colada em mim e me acompanha inclusive “na coxia”, isto é, fora do palco, rs!? Acho que a citação que Daniel Goleman escolheu para seu livro é excelente e propícia:
Qualquer um pode zangar-se, isso é fácil. Mas zangar-se com a pessoa certa, na medida certa, na hora certa, pelo motivo certo e da maneira certa não é fácil. Aristóteles, “Ética a Nicômaco”
Quando li o livro, percebi a importância de me autoconhecer e reconhecer minhas fragilidades emocionais para trabalhá-las! Desta forma, eu pensava que seria uma guerra interna: minhas qualidades versus os aspectos que eu precisava trabalhar. Por muito tempo vivi neste conflito interno: idealizando a pessoa que eu queria ser e buscando sufocar a que eu já era e via como “defeituosa”.
Contudo, ao longo de minha caminhada fui percebendo que decretar guerra interna é inútil, pois consome energia, tempo e amor-próprio! Então, fui percebendo a importância de abraçar e integrar minhas sombras! Afinal, como diz Jung: “Aquilo a que você resiste, persiste”. Após a maternidade, esta frase foi se explicitando cada vez mais na concretude da vida diária com uma criança, rs!
A capacidade de sentir empatia, de se colocar no lugar do outro e simpatizar com seus sentimentos é algo instintivo! No documentário A Revolução do Altruísmo, cientistas fazem experiências com macacos e também com bebês e descobrem esta habilidade desde muito cedo. A partir de nossos primeiros passos nesta jornada chamada vida, já somos capazes de nos simpatizar com o outro, suas preferências e necessidades! Ou seja, trazemos esta habilidade dentro de nós e acredito que a maternidade e paternidade seja um convite para desenvolvê-la e expandi-la ainda mais!
Sendo assim, para que sejamos capazes de nos reconectar com esta habilidade é preciso exercitar olhar o mundo sob a perspectiva do outro! Neste aspecto, recomendo assistir ao vídeo O Mundo Sob A Perspectiva da Criança. Com uma narrativa leve e bem humorada, Isabela Minatel nos mostra o distanciamento que temos do Universo de nossas crianças e a importância da empatia! Quantas vezes as crianças são ignoradas pelos adultos? Tratadas como “páginas em branco” ou como mini-adultos? Desconsideradas em suas necessidades?
Vamos exercitar a empatia com nossos pequenos! Vamos permitir que uma roupa suja seja uma descoberta de sabor ou um exercício de autonomia! Vamos ser mais leves e deixar que a criança experimente o mundo, utilizando todos os seus sentidos com paixão pela descoberta! Amo ver a forma como minha filha se relaciona com os legumes, se suja com a beterraba, “cozinha” com a casca da cebola… Menos plástico e mais vida, as crianças e o planeta agradecem!
A partir destes pressupostos: autoconsciência, autogestão e empatia, o relacionamento social acontece com muito mais fluidez! Quando estamos em harmonia conosco, somos capazes de nos relacionar muito melhor com os outros e com o ambiente! Neste ponto, quero ressaltar a ânsia que percebo em muitos pais para que seus filhos desempenhem papéis que eles próprios não conseguiram. Muitos pais depositam em seus filhos suas expectativas frustradas para que a criança seja: a bailarina, o jogador, o inteligente ou o esportista…
Vejo que, muitas vezes, caímos na armadilha de ficar fixados em nossa criança ferida e esquecemos de olhar VERDADEIRAMENTE para nossos filhos e deixar que sejam como são! Ansiosos por corresponder às expectativas externas, deixamos de olhar para nossos pequenos e perceber do que realmente precisam! Vale a pena se atentar para este universo dos rótulos: a tímida, o esperto, a popular… Leia também Rótulos para produtos, não para pessoas!!
Pensando nas crianças do nascimento aos 7 anos, posso afirmar que suas necessidades emocionais devem ser satisfeitas prioritariamente. Uma vez construída uma estrutura afetiva sólida, logo aparecerão os interesses intelectuais ou esportivos genuínos, que os pais atentos poderão ajudar a desenvolver. O interesse e a paciência necessários para olhar aquela criança em particular correspondem a uma maturidade do adulto que não projeta nos filhos seus próprios desejos, mas sim os libera de sua sombra, permitindo que aquela criança desenvolva sua missão na Terra como ser único e diferenciado. (Laura Gutman, A Maternidade e o encontro com a própria sombra, p.313)
O convite aqui é para que sejamos capazes de permitir aos nossos filhos serem AUTÊNTICOS em sua forma de se comportarem socialmente! Aliás, quem sabe aproveitamos o momento e exercitamos esta autenticidade também! “Só aquilo que somos realmente tem o poder de nos curar”. Carl Jung
Desde a gravidez tive a sensação de cair num gráfico de estatísticas! Neste figuravam: qual o ganho de peso; quantos centímetros neste mês; qual o padrão esperado? Conforme a gente vai ganhando mais confiança, percebemos que se trata de uma pessoa com escala única de desenvolvimento! Não é um número, não é uma estatística, é um ser humano com o SEU TEMPO de desenvolvimento!
Desde que me descobri grávida eu adotei a filosofia de CURTIR CADA MINUTO! Por isso, fui buscando SENTIR o ritmo de minha filha para começar a comer, a engatinhar, a andar, a falar… Eu procurei me blindar para as opiniões e comparações externas! Desta forma, eu nunca a pressionei e mantive algumas inevitáveis comparações apenas dentro de minha mente ou em conversas particulares com meu marido! Nós dois nos apoiamos no processo de OBSERVAR nossa filha se desenvolver!
No documentário A Educação Proibida, do qual ainda falarei muito a respeito, é citado o exemplo de um jardineiro que ansioso para ver as plantas crescerem todo dia as puxava, tentando esticá-las. O resultado não foi o que ele esperava: ou elas cresceram deformadas ou morreram!
Portanto, é preciso seguir o fluxo natural das coisas, respeitando o seu tempo próprio com sabedoria e EMPATIA! Esta sim é uma grande ferramenta para exercitarmos melhor nossa relação com nosso filho e dele com o mundo! Por isso, faço um último convite: resolva seus próprios traumas e frustrações! Leia Maternidade: uma oportunidade de curar sua criança interior! Liberte-se e permita-se observar e aprender com o processo ÚNICO de desenvolvimento de seu filho. Seja empático com ele e ensine-o a arte da empatia nas relações, nosso mundo ficará muito mais harmonioso desta forma!
Gratidão pela leitura! Namastê!
SOBRE A AUTORA
Gisele Mendonça, cientista social, mestre em sociologia e, principalmente, MÃE! Tem um blog chamado Conexão Profunda, visite www.conexaoprofunda.com.br e curta a página no facebook Conexão Profunda