“Pedidos deslocados” é um conceito fundamental para analisarmos nossas relações. Afinal, acredito que todos somos capazes de admitir que a comunicação é um dos principais desafios das relações humanas! O DIÁLOGO costuma ser sempre apontado como solução para os conflitos entre casais, entre pais e filhos e em todas as relações que estabelecemos!
E como dialogar com o outro se, por vezes, não dialogamos nem mesmo conosco? Será que sabemos MESMO nossos desejos, sentimentos e necessidades? Como comunicar ao outro coisas das quais não temos clareza?
Somos capazes de pedir o que realmente precisamos?
Assim, antes de falar de nossos filhos, eu proponho um desafio! Que tal: olhar internamente e perceber quantas necessidades estamos reprimindo? Quantos papéis estamos preocupadas em desempenhar e como nos esquecemos de nossas NECESSIDADES?!
Temos imensa dificuldade para falar de nossos sentimentos, emoções e, principalmente, de nossas necessidades! Afinal, estamos acostumadas a reprimir ou mesmo “deslocá-las” para comida, doces, compras etc. Neste nosso mundo tecnológico também as deslocamos para as redes sociais – Whats App, Facebook, Instagram – e tudo o que possa nos desviar de olhar para dentro!
A grande questão é que, apesar deste esforço, nossas necessidades não desaparecem! Na verdade, elas se transformam: em sintomas, em estresse, em explosões… Estamos tão fora da sintonia de nossas necessidades que, por vezes, perdemos até mesmo a conexão com elas! Para refletir um pouco mais leia: 2° Passo para ser feliz: EQUILIBRAR-SE! Assim, acabamos manifestando o que Laura Gutman denomina de “pedidos deslocados”:
“Quando os adultos não conseguem reconhecer com simplicidade e senso lógico uma necessidade pessoal, tampouco conseguem compreender a necessidade específica do outro, menos ainda se tiver sido formulada em um plano equivocado. Sem que percebam, pedem o que acreditam que será ouvido, e não aquilo de que realmente precisam. Eu denomino esse fenômeno tão frequente e usado por todos nós de pedido deslocado.” (A Maternidade e o encontro com a própria sombra, p. 205)
Desta forma, este conceito revela toda nossa dificuldade para acessar nossas necessidades verdadeiramente. Como não conseguimos acessá-las, também não conseguimos expressá-las para obter a plena satisfação. E, quando isso se refere ao outro, por exemplo ao filho, fica ainda mais complicado!
A importância do diálogo interno
Como observar nossos filhos ATENTAMENTE, quando não conseguimos escutar nem mesmo a nossa voz interna, que muitas vezes grita em forma de sintomas? Como estar disponível emocionalmente para nossos filhos, quando não conseguimos nem mesmo dar vazão às nossas necessidades emocionais básicas?!
Para isso, a solução é simples, mas não é fácil e se chama AUTOCONHECIMENTO! Tal como um músculo a ser trabalhado na academia, o autoconhecimento é algo que precisa ser exercitado. Isso requer uma prática diária de auto-observação e silenciamento da mente. E mais, a construção de um espaço interno, criado para curar as próprias feridas de nossa criança interior! Leia também Maternidade: uma oportunidade de curar sua criança interior!
Desta forma, cientes desta jornada interna, teremos melhores condições de observar os nossos filhos! E assim, APRENDER a ser “o exemplo digno de ser imitado”, como sempre frisa a querida Clarissa Yakiara! Somente conhecendo nossas emoções, nossas necessidades e a melhor forma de expressá-las e satisfazê-las, seremos capazes de liderar nossos filhos neste processo! E, principalmente, ouvi-los mais atenciosamente!

Necessidade X Vontade
Para trazer mais clareza para esta reflexão, vale a pena especificar a diferença entre necessidade e vontade! Estes conceitos parecem iguais, mas tem diferenças sutis e importantes! Segundo o dicionário Aurélio:
Necessidade: 1 – Falta do que é necessário. 2 – Obrigação imprescindível. 3 – Força maior; impossibilidade de deixar de agir ou de dizer.
Vontade: 1 – Faculdade comum ao homem e aos outros animais pela qual o espírito se inclina a uma ação. 2 – Desejo. 3 – Ato de se sentir impelido a. 4 – Ânimo, espírito. 5 – Capricho, fantasia, veleidade.
Neste sentido, recomendo ainda o vídeo do Paizinho, Vírgula: Necessidades e Vontades, Qual a Diferença? De forma muito didática ele diferencia os conceitos e nos convida para refletir sobre as necessidades emocionais que, muitas vezes, parecem vontades! Um exemplo é o pedido para dormir com os pais. Trata-se de algo que pode parecer um capricho, mas pode estar sendo motivado por uma necessidade emocional de se sentir seguro!
Pedidos Originais e Pedidos Deslocados
Segundo a teoria de Laura Gutman, os pedidos originais não atendidos podem se transformar em pedidos deslocados. Muitas vezes o que, aparentemente se manifesta como uma vontade, têm por trás algo muito mais profundo! É isso que precisamos aprender a identificar! Conforme exemplifica a autora, muitas vezes a criança pede um chocolate, mas, na verdade, quer atenção, disponibilidade: LAURA GUTMAN EN UN MINUTO – LIMITES Y PEDIDOS DESPLAZADOS
Ainda quero ler o livro Biografia Humana, mas encontrei um artigo que faz uma reflexão interessante a respeito da metodologia da Laura e os pedidos deslocados de nossos filhos. O trecho abaixo ressalta muito bem a importância de atentar para esta comunicação conosco e com nossos pequenos:
Ao nos questionarmos sobre o comportamento de nossos filhos, ao invés de interpretar cada coisa que fazem, querendo encontrar a origem se seus comportamentos, ao invés de encerrar nossos filhos em personagens como “o bonzinho” ou “o agitado”, pudéssemos olhar profunda e honestamente as coisas que sentimos e pelas quais estamos passando, nomeando para as crianças o que está acontecendo, como nos sentimos, ajudando-as a entender seus próprios sentimentos, então as vivências internas, as sensações, as percepções teriam um lugar real onde pudessem se manifestar, ajudando as crianças a encontrar reações coerentes com aquilo a que estão sentindo e não deslocadas dos fatos. (A criação consciente de filhos e a Biografia Humana)
Desta forma, fica claro que os pedidos deslocados representam, muitas vezes, uma forma da criança comunicar uma necessidade emocional! Pedidos que tantas vezes nos provocam inúmeras emoções como raiva, irritação e cansaço estão nos comunicando uma necessidade que, por vezes, estamos bem distantes de compreender!
Comunicação e Presença
Vale lembrar a frase mais marcante de Laura para mim “Ninguém pede o que não precisa!”, como citei no artigo Exterogestação: a importância de gestar do lado de fora! Entretanto, convém ressaltar que, nem sempre, este pedido exterioriza exatamente o que precisamos! Como esclarece Laura Gutman neste trecho de A Maternidade e o encontro com a própria sombra:
“Por exemplo: uma mulher precisa que o marido a abrace e lhe diga o quanto a ama; no entanto, em vez de explicitar sua necessidade afetiva, pede que vá trocar o bebê. Quando um desejo é manifestado por meio de outro desejo, surge o mal-entendido. Inconscientemente, a pessoa pede algo de que não precisa e, portanto, não obtém o que deseja, então, se sente incompreendida, desvalorizada e se irrita. No plano emocional, quando não sabemos ou não podemos explicar o que está acontecendo conosco, obviamente, nada nem ninguém pode nos satisfazer.” (p.205)
Ou seja, cabe a nós estabelecer uma comunicação direta e verdadeira com nossos filhos para permitir que estas necessidades emerjam. A grande questão é que isso só pode acontecer se antes estabelecermos esta comunicação internamente!
Acessar nossas emoções e expressá-las é um exercício cotidiano! Ensinar nossos filhos a lidarem com as próprias emoções e comunicá-las é uma arte! Esta missão requer muita OBSERVAÇÃO e muita disponibilidade emocional! Convém ressaltar, contudo, que oferecer a disponibilidade que as crianças necessitam também não é fácil, porque não aprendemos a estar presentes! Estamos sempre com a cabeça no passado ou no futuro! Não é à toa que o Programa Zum Zum foca tanto na importância do Foco e Presença! Leia também Presença: um desafio cotidiano!
Auto-educar-se para educar!
Como atuar de maneira mais consciente e saudável com as próprias emoções? Esta é uma jornada que iniciei com o Zum Zum de Mães! Apesar de estar trilhando o caminho do autoconhecimento há bons anos, não tinha me dado conta de como reprimo minhas emoções e como elas “explodem” muitas vezes de “modo invisível”!
Sempre escutei o discurso de que era preciso “Ser boazinha”, de que era feio sentir raiva, de que era preciso ser corajosa e enfrentar os meus medos! E eu aprendi a reter minhas emoções e muitas vezes me punir quando sentia coisas consideradas “negativas”! Somente a maternidade trouxe um mar profundo de emoções e contê-las não apareceu mais como uma opção! Desde então, venho aprendendo a me observar e tenho trabalhado a EXPRESSÃO dessas emoções sem tantos bloqueios e vergonhas!
Confesso que ainda é um grande desafio para mim lidar com minha raiva e meu medo de forma saudável! Minha tendência inicial é tentar reprimi-lo tanto em mim quanto em minha filha! Mas ler a Laura Gutman e participar do Zum Zum de mães foi me trazendo consciência da importância da entrega!
As emoções não são feias ou bonitas, são naturais e precisam ser liberadas para vivermos de forma mais saudável! Deste modo, seremos capazes de pedir o que precisamos e ensinaremos aos nossos filhos o caminho da realização de suas necessidades básicas e emocionais! Assim, eles poderão protagonizar sua própria história, se autorresponsabilizando por sua felicidade! No próximo artigo falaremos um pouco mais a respeito deste Universo das emoções, onde o conceito da Empatia é tão importante!
Gratidão pela leitura! Namastê!
SOBRE A AUTORA
Gisele Mendonça, cientista social, mestre em sociologia e, principalmente, MÃE! Tem um blog chamado Conexão Profunda, visite www.conexaoprofunda.com.br e curta a página no facebook Conexão Profunda
Em tempos como esses que estamos vivendo, faço o exercício desafiador de olhar ainda mais para dentro. Descubro então, a linha tênue que existe entre o cenário político e nossas emoções mal resolvidas.
Consigo perceber claramente que meus desafios diários comigo mesma, com os meus condicionamentos e padrões de controle que, refletem diretamente na minha maneira de maternar e consequentemente na minha saga contínua pela desconstrução pacífica desses mesmos padrões são, na (triste) realidade, o reflexo de um modelo fadado ao fracasso.
O mesmo desafio que sinto sobre minhas questões corriqueiras do dia a dia com meu filho de dois anos e oito meses, são na realidade os desafios do nosso cenário político que, de um lado manifesta claramente a obsessão pelo controle, que por sua vez, revela o autoritarismo acima de tudo e de todos, que não abre espaço para a troca e portanto impera o desejo de apenas uma das partes envolvidas.
Veja bem, a frase do “não podemos dar aquilo que não recebemos” é bastante coerente e verdadeira. Vivemos gerações e gerações dessa criação controladora e autoritária, sendo assim criamos seres humanos controladores e autoritários que por sua vez, desejam exercer controle e autoritarismo sobre outros seres humanos. A matemática é simples apesar de devastadora e, é justamente por isso que se faz necessário um olhar bastante cauteloso quando o assunto é criar nossos filhos com escuta ativa e de maneira amorosa visto que eles são a representação mais palpável do futuro da nação. É urgente exercitar o que não nos foi dado para que nossos filhos possam ser melhores versões, trocando o controle e autoritarismo pela cooperação, a colaboração, a escuta ativa, a autonomia e a liberdade e o respeito para ser quem se é.
A mudança precisa ser exercitada, como um músculo que pode doer após uma série de exercícios novos, e que ao final de um mês de exercício passa a ser natural. E não se engane pela minha metáfora, o desafio é pra sempre, é diário, minuto a minuto, segundo a segundo.

Hoje por exemplo foi assim aqui em casa… Olhava para meu filho, no meu pleno período pré/atual menstrual, e desejava ardentemente que ele me obedecesse, que me ouvisse e correspondesse aos meus ‘comandos’. Me frustrei com a (óbvia) recusa dele e, com a minha criança interior ferida, o ciclo já conhecido por mim se repetiu, me enraiveci, fugi do prumo, gritei, interferi, me culpei e por fim chorei de desespero. Era o brinquedo, o almoço, o sono, a fralda, o fio dental, a janela, o travesseiro e uma infinidade de pequeninas coisas que me faziam fugir da conexão com ele pelo simples fato de estar obcecada pelo controle… E eu poderia pensar “mas eu só queria que ele me ouvisse e se acalmasse” Ora! Que ironia não é mesmo? Como posso exigir de uma criança, ainda em pleno desenvolvimento (sobretudo neurológico), que me escute e se acalme se eu, a suposta adulta da relação, sou incapaz de fazê-lo e (talvez a parte bacana disso tudo) reconheço tal desafio?!

O fato é que o caminho ainda é longo e cheio de pedregulhos, olho então cuidadosamente para a minha obcessão pelo controle e para as reações agressivas e intolerantes em busca daquilo que elas omitem. Hoje sei que essa é a superfície, é o que está visível a olho nu, é o que eu vejo/percebo e os outros também, são muito provavelmente as manifestações de algo que não foi nomeado anteriormente e se cristalizou, ou ainda de alguma necessidade que está por trás desse meu comportamento inadequado, que de tão engessado obstrui a visão do que ele oculta. Essas reflexões acima, construídas tal qual um quebra-cabeça de um sem número de peças, me conduzem para o incrível fato que, as mesmas ferramentas que tento usar com meu filho de dois anos e oito meses também se aplicam à mim…rs Lembro que no auge da crise meu marido apareceu e sugeriu algumas alternativas (que fugiam obviamente do meu controle – afinal o controle é uma ilusão) e eu respondi de maneira impulsiva e agressiva. Ele, que me conhece há 13 anos, na mesma hora me perguntou se queria aplausos, e conscientemente eu disse “- Não, eu quero me acalmar mas não consigo”, depois eu desejei um abraço, mas também não fui capaz de pedir… A verdade é que isso tudo me parece um processo curativo real, onde vou me despindo aos poucos e me abraçando um tanto mais. Tem muito choro no meio disso tudo, muita culpa também, mas a parcela de resiliência que venho conquistando diuturnamente tem feito o processo todo valer a pena.
É nesse ponto que olho pra minha história e traço um paralelo com a história do nosso país… A diferença visível a olho nu aqui (e não me entenda mal, não sou nem melhor ou pior do que ninguém, esse é o meu processo), é que eu estou olhando para o meu medo de ser imperfeita, encarando de frente os meus padrões, deixando a minha mente tagarela (o meu ego) de lado e reconhecendo o modelo falido, solitário e ultrapassado do controle e do autoritarismo.
É como uma grande amiga me disse uma vez: “desconstruir é um ato de coragem!”, e ela está certa. Avante com coragem! Vamos juntas?
Este Texto foi escrito por: Iara Schmidt (participante do ZumZum 6)
Iara é mineira, e como boa sagitariana é uma viajante nata e buscadora de si. Mãe de um aquarianinho nascido em fevereiro de 2016 – fonte do puro amor e inspiração infinita – realizou da gestação ao puerpério ritos de passagem que transformaram – e continuam transformando – sua essência.
A Primavera que acontece ao nosso redor, acontece também dentro de nós, inspira o florescer da vida.
Antes do florescer, há de ter o recolhimento e acalento do Inverno, é necessário um preparo interno, é necessário o fortalecimento do corpo e da alma. Precisamos dormir para acordar, para viver com amor e verdade, sintonizando nosso pensar, nosso sentir e nosso querer.
Eu estava dormindo e não era um sono tranquilo. Era sim daqueles que me traziam lampejos de realidade e sustos. Em muitos momentos, eu não sabia se continuava mesmo dormindo ou se já havia acordado, o fato é que eu ainda não me sentia pronta para levantar e encarar o dia, encarar a vida. Então, eu decidia virar de lado e dormir mais um pouquinho.
E, assim, eu sonhava, me aventurava em pesadelos e acordava com o coração apertado, a respiração difícil e o olhar assustado, por algumas vezes fui capaz de encontrar a minha paz antes de voltar a dormir.
Essa noite pareceu longa e, ao mesmo tempo, curta demais porque me sentia cansada, um tanto pesada. Eu poderia ter aproveitado melhor sem interrupções, poderia ter dormido direto se não fosse minha inquietação, ou já que não dormia bem, poderia ter levantando durante a madrugada e feito algo produtivo. A sensação de que estava perdendo meu tempo também me atormentava. Mesmo assim, eu seguia dormindo, porque não me sentia pronta.
Veio a luz da manhã. Era Primavera. Esse era o meu momento de acordar, ainda que desafiador, eu o reconhecia como a hora do meu despertar. Me nutri daquela luz e de tudo que ela me proporcionava. Escolhi viver.
Hoje eu reconheço a importância do sono para a que a vida aconteça em sua plenitude. Também o sono da consciência é estruturante, dura o tempo adequado para que a capacidade do acordar se desenvolva, assim como as plantas externam a sua força e determinação através da beleza das flores.
Enquanto dormia, encontrei a minha verdade e a minha paz em momentos pontuais de dor e de contato profundo com a natureza, mas apenas escolhi a vida com consciência quando o meu menino de luz chegou. Por sincronicidade, já que feitos dos mesmos elementos somos eu, você e a natureza, a Primavera renova e reforça o convite de vida e, a cada ano, me permito aceitá-lo e honrá-lo. Neste período, sinto que todo o preparo do Inverno, do sono restaurador, faz brotar muitas cores, formas, cheiros e sabores, faz ideias criarem asas, faz projetos se tornarem reais, faz a vida florescer em amor e abundância.
Sentimentos de alegria, de mais energia e vitalidade, são comuns nessa estação. E não é à toa. O milagre da vida acontece em cada um de nós. Somos parte da natureza. Somos a própria natureza. Esses sentimentos simbolizam a tendência que temos de aceitar o convite de vida, porque o nosso corpo é muito inteligente, reconhece o que nos faz bem e está sempre em busca do equilíbrio, do seu estado natural de saúde, bem estar em paz.
A Primavera chama a nossa atenção, chama a nossa presença, em um mundo de tantas distrações como o nosso, em uma sociedade tão atribulada, com tantos barulhos externos e internos. Com frequência, nos distraímos do que pensamos, das nossas necessidades e desejos. E a Primavera vem, com seu jeito cativante, nos lembrar dessa nossa conexão com a natureza. Mesmo que não estejamos atentos, a conexão existe. Se nos sintonizamos à natureza e nos comprometemos em ser quem realmente somos, a vida floresce com mais leveza, com fluidez, na nossa casa, nos ambientes que atuamos, nos nossos relacionamentos, principalmente nos relacionamentos com os nossos filhos, que nos tem como exemplos de vida, nos observam a todo instante.
A vida se nutre da simplicidade e a conexão acontece pelo sentir. Com um exercício simples de respiração consciente, podemos sentir o ar percorrendo o nosso corpo e todos os benefícios que nos proporciona. A respiração ampla melhora a nossa qualidade de vida. Beber água e sentir o seu significado – purificação, nutrição, cura – potencializa a sua ação. Sentir o amor puro, quando temos a oportunidade encantadora de convivermos com seres de luz, nossas crianças, nossos filhos, que, quando pequenos, estão fortemente conectados à essência da vida, nos mostra o caminho certo a seguir. Que tal se cada pessoa escolhesse uma maneira de deixar a sua vida melhor todo dia e colocasse isso em prática? Pode ser uma forma diferente de pensar, um novo gesto, um novo olhar, algo simples e ao alcance hoje. Podemos nutrir a nossa vida com pequenos passos, a conquista de saúde e felicidade não está lá no fim da jornada, não é o pote de ouro no fim do arco-íris, está no próprio processo, a conquista é diária, o sucesso está em toda a extensão do arco-íris.
A Primavera chega acompanhada de luz que anuncia o florescer da alma, de chuvas que abençoam a terra, purificam nosso ser, despertam a vida e fazem germinar as sementes trazidas pelos ventos, de arco-íris que renova os sonhos, de fertilidade.
A Primavera da minha vida chegou com o meu menino de luz. Quando senti a sua existência em mim, me permiti a liberdade e me tornei responsável por ele e por mim. A pureza do seu olhar mostra a verdade que há nele e há em mim. O seu sorriso é o termômetro da leveza. O seu amor é a felicidade pura. Como anunciador da minha Primavera, João inspira a minha jornada de autoconhecimento, o meu caminho de conexão com a minha essência. Sinto o meu lugar de pertencimento. Educando e me auto-educando, busco diariamente sabedoria para guiá-lo de forma que nunca se desconecte, de forma que aproveite todas as suas primaveras com leveza e paz.
A vida só é vida se faz sentido, se faz parte de um todo, se tem um motivo para ser, se está conectada, com suas múltiplas funções, a outras vidas e outras formas. Cuidemos para que a vida cumpra a sua missão.
Vamos nos conectar cada vez mais ao movimento da vida, aos ritmos da natureza, sejam na floresta, nas ruas, no nosso lar, sejam os ritmos dos nossos pequenos, sejam os nossos ritmos internos. Esse movimento de expansão da natureza, de coragem de se expressar com bondade, delicadeza e beleza, existe também em nós. Quanto mais sintonizados com os ciclos da natureza, mais fluido se torna o viver.
O convite à vida instiga novas realizações, pede que juntemos toda a nossa bagagem física, mental, emocional e espiritual e nos lancemos ao novo. Se aceitamos o convite, nos agarramos à confiança de uma vida cada vez melhor, mais alinhada a princípios e valores, deixamos de alimentar nossos medos e saltamos, apesar deles. Permitir que a vida floresça com amor e verdade pode significar sair da zona de conforto, abandonar padrões ensinados pela sociedade, que não cabem mais nas novas escolhas, pode significar nadar contra a correnteza, ter julgamentos e críticas passando ao lado. Nesse caminho, a solidão pode se encostar e pedir para ficar, os desafios aparecem e podem intensificar questionamentos, dúvidas. Fora e dentro, existirão vozes que dizem ser loucura esse movimento e vozes que consideram ser coragem. Se seguirmos acreditando na capacidade de viver, na capacidade de florescer, ressignificando medos e desafios, o barulho externo começa a silenciar, e as vozes internas se harmonizam na frequência do amor.
Eu escolhi viver alinhada à minha verdade. Escolhi resgatar o melhor que há em mim. A decisão de florescer, o acordar da consciência traz medos, ansiedades, inseguranças, mas é libertador, é ter a certeza de que uma nova vida está disponível e é permitido (porque eu me permito) ser quem sou. Uma vez ouvi que precisamos escolher as dores que queremos em nossas vidas. Analisando com cuidado, é um ponto de vista que faz sentido. No meu caso, eu poderia escolher a dor que a minha acomodação me traria em não realizar meus sonhos, ou poderia escolher a dor de enfrentar o que viesse para conquistar a minha liberdade.
Somos criadores da nossa realidade, somos potencialmente capazes de transformar o mundo, começando pelo nosso mundo interno. Vamos cultivar a realidade que acreditamos, o mundo que queremos, vamos cultivar saúde e felicidade. Cada momento é uma oportunidade linda de fazer o bem e de espalhar o amor através de pensamentos, sentimentos e ações pequenas, mas poderosas e transformadoras. Conectar-se à natureza é acreditar na abundância, é compreender que o melhor acontecerá e, mais, surpreenderá positivamente. Quando surpreendidos, acreditamos mais, nos conectamos mais, e o Universo entende cada movimento. Está estabelecido o ciclo da realidade abundante.
É Primavera! É tempo de renovar as percepções do mundo, é tempo de expressar o ser. Que a nossa semente interna busque o Sol e floresça o amor. Que a Primavera seja exuberante de realizações e que os desafios nos enriqueçam.
O contrário do medo não é coragem, mas amor (Rudolf Steiner). Hoje eu tenho a resposta que cabe no meu coração. Não foi por coragem que floresci e mudei toda a minha vida, foi por amor.
Este texto foi escrito por Cibele Calderan, mãe do João de 3 anos, criadora do Espaço Vice Versa, movimento pela vida. Saúde Holística, Nutrição Integrativa e Permacultura para Mães e Famílias com crianças de até 7 anos.
Eu definitivamente me achava uma mãe moderninha e descolada, passeava pelas ruas do bairro com minha bebezinha no sling, diante de todos os tipos de olhares e palavras de reprovação. Ela tinha um colar de âmbar que quando usava despertava os mais horrorizados comentários e perguntas do tipo: “Mas para que serve isso? E isso adianta mesmo?” Sem falar nos alertas desesperados de senhoras que diziam que ela podia até morrer enforcada! A bolsa linda de corujinha que saímos da maternidade, já tinha sido aposentada e dado lugar a uma prática mochila colorida. Confesso que tinha um certo orgulho desse estilo, me sentia meio subversiva ou sei lá. Nesse contexto lá vinha eu e ela de volta de uma caminhada matinal.
Na portaria do prédio encontrei uma vizinha que tinha um menino lindo, apenas alguns dias mais novo que minha filha, nós sempre conversávamos. O menino tinha uma cabeleira linda castanha em nuances dourados, nesse dia comentei com a mãe dele algo do tipo: “Nossa que lindo está o cabelinho dele, só deve dar um trabalho danado enxaguar no banho né? Eu sofro com os poucos fios da minha filha”. Ela me lançou um olhar de incompreensão e respondeu: “Ué muito simples, só colocar embaixo do chuveiro, não dá trabalho nenhum, você não dá banho de chuveiro na sua filha? Nesse minuto minha marra de mãe prática e descolada escorreu poros afora, pensei em manter minha pose e mentir deslavadamente dizendo que sim, que eu dava banho de chuveiro, mas respondi com toda a sinceridade: “Não eu nunca dei banho de chuveiro nela” e ela respondeu: “Nossa, sério? Você devia experimentar, eles adoram, meu filho toma banho de chuveiro comigo desde o primeiro mês, ele estica as mãozinhas para a água e tenta segura-la é uma graça! É sem dúvida o momento mais especial do nosso dia”. Que lindo, pensei em voz alta, vou tentar hoje mesmo!

Peguei o elevador e lembrei de uma foto que a Bela Gil tinha recentemente postado, ela plena molhada no chuveiro com seu bebezinho fofo nos braços, com essa imagem na cabeça abri a porta do apartamento decidida e comuniquei ao meu marido: “vou dar um banho de chuveiro nela hoje” passei para o quarto como uma flecha e ele me acompanhou com os olhos, separarei uma roupa, peguei a toalha, tirei minha roupa, tirei a dela e fui nua e confiante para o banheiro com ela no colo. Meu marido levantou os olhos por cima do computador e perguntou se eu tinha certeza que seria uma boa ideia. Mas é claro que eu tinha certeza!
Abri o chuveiro e ela se agarrou fortemente em mim e eu disse calmamente: “tudo bem filha, vamos tomar um banho diferente e juntinhas hoje”. Quando entramos na água, ela simplesmente surtou, começou a chorar, parecia um gato tentando fugir da água e do meu colo. Insisti mais um pouco, peguei um pouquinho do sabonete e ensaboei sua barriguinha, tentei molha-la mais uma vez e ela gritou de um jeito que eu nunca tinha ouvido, um choro de pavor ecoava em meus ouvidos, ela começou a tremer, olhei para os olhos dela e pude ver o seu terror, pude ler sua mente e ela dizia: “você enlouqueceu, o que é isso? O que você está fazendo comigo? Estou com medo!” Ela se debatia ensaboada e escorregadia gritando de pavor, fiquei com medo dela cair do meu colo e me abaixei rápido, pensando que se ela caísse a queda seria menos alta, gritei pelo meu marido que abriu a porta do banheiro já com a toalha dela em posição de resgate. Quando ela foi para os braços dele se acalmou no mesmo segundo, ele a levou para o quarto enroladinha na toalha, voltou sem ela e com um balde na mão. Enquanto ele enchia o balde de água morna do chuveiro, disse : “Amor acho que não foi uma boa ideia, podemos tentar de novo quando ela for maiorzinha.”

A Libertação
Eu tomei meu banho, digerindo aquela verdade e me sentindo uma mãe horrível, os olhos de pavor da minha filha não saiam da minha mente, não sei quanto tempo fiquei ali embaixo do chuveiro, em contato com minha frustração de não ter tido meu momento especial e pleno com ela. Quando finalmente sai do banheiro ela já estava cheirosa, de banho tomado e sorrindo para mim, peguei ela do colo do pai e fui para o quarto amamenta-la, fechei a persiana e me sentei confortavelmente. Assim que ela pegou meu peito deu aquele suspiro de alivio, fiz um carinho na cabecinha dela e ela foi relaxando, fui sentindo o seu corpinho cada vez mais pesado e aconchegado sobre meus braços. Fui tomada por uma paz familiar e me deu um estalo, conclui: “Esse é o nosso momento mais especial do dia!”
Me dei conta de que meu momento não precisava ser igual ao de ninguém, percebi que nem tudo que eu achava legal ou “moderninho” daria certo com ela. Relembrei que ela era uma criança única, com suas particularidades e preferências e mesmo sendo tão pequena ela já me dizia quem ela era. Me senti no dever de ouvir e respeitar o que ela tentava me contar sobre ela, ainda de maneira tão primitiva. Fiquei lembrando de como ela gostava de banho de imersão na banheira, ela só chorou no banho da maternidade, desde os primeiros banhos em casa ela já adorava. Lembrei dos barulhinhos de alegria que ela fazia quando percebia que ia entrar na água e quando entrava fazia aquela bagunça com os pezinhos e as mãozinhas, ela ria e “conversava” com as ondinhas que se formavam ao seu redor, como se fossem velhas conhecidas. Eu já não estava mais frustrada, eu estava feliz por ela ter me ensinado um pouco mais sobre ela.
Ela adormeceu profundamente no meu colo, coloquei ela na cama entre barreiras de travesseiros e fui para sala. Eu e meu marido nos olhamos, eu estava mais calma e pude notar que ele estava claramente segurando o riso, inesperadamente eu comecei a rir e ele soltou enfim a gargalhada e rimos muito juntos. Achamos muita graça da cena que ele viu quando abriu repentinamente a porta e deu de cara comigo agachada, com a pobre criança ensaboada e em choque, tentando fugir a todo custo do meu colo. Quando contei que a minha expectativa era um momento tipo Bela Gil plena ai é que rimos mesmo, tentávamos rir baixo e controladamente para não acordá-la, mas ficava cada vez mais difícil e mais engraçado, rir com moderação nos fez gerar barulhos hilários e ai ríamos ainda mais e cada vez mais desmedidamente e livremente.
É claro que eu tinha consciência de quanto a tinha assustado e de maneira alguma no meu riso havia menosprezo por aquele olhar de pavor que ela me lançou, eu sabia o quanto tinha sido tensa aquela experiência para nós duas. Porém foi libertador rir de mim mesma naquela ocasião, porque me trouxe de volta uma leveza que andava faltando em tempos de neblina, típicos do puerpério. Eu andava me cobrando muito, cobrando perfeição e maestria nas situações novas e inusitadas tão comuns daquela fase. Ter arrumado aquela confusão desastrosa na hora do banho, me fez ver que tudo bem se eu errasse, mesmo errando ainda ficaria tudo bem. Reparei o quanto eu andava sendo cruel comigo mesma quando tentava me encaixar em um tipo específico de maternidade, ou quando começava a fazer coisas que outras mães que eu admirava faziam ou diziam, sem antes consultar os meus instintos. Notei quantas vezes eu me desconectei de mim mesma tentando alcançar padrões insanos e solitários que eu havia estipulado naqueles últimos meses.
Aquela risada foi o curativo para uma ferida que já estava ali há algum tempo, que eu em meio aos cuidados com minha pequena nem tinha reparado, uma ferida causada pelas repetidas frustrações que acumulei por não ser perfeita, pelos momentos que eu não dei conta sozinha, pelas vezes que precisei tão vulneravelmente do meu marido. Aquela risada foi um jeito doce e divertido de me libertar daquela cobrança implacável pelo inalcançável. Acho que naquele dia me libertei de todos os padrões, dos tipos e de todas as outras amarras que me traziam angustia nos finais de tarde e que eu não sabia explicar de onde vinha e porquê. E foi uma delícia me dar conta disso no meio de uma gargalhada compartilhada com ele, que mais uma vez estava lá por nós…
Este texto foi escrito por Vivian C. pessoa, mãe da Ive de 2 anos e 7 meses (que hoje toma banho de chuveiro, feliz e sem nenhum trauma ☺) e participante da turma 5 do Zum Zum de mães.
[email protected]
@viviancpessoa
Queridos papais e mamães, sou a Tânia, psicóloga, psicanalista, mãe da Milena e participante do Zum Zum. Conforme combinei com vocês este é o segundo texto sobre a prevenção primária dos problemas psicológicos. No texto do mês passado abordei o tema da prevenção na gestação, nascimento e primeiros dias de vida do recém-nascido. Hoje vamos dar continuidade até os dois anos. Para isso, irei recorrer a teoria do desenvolvimento emocional primitivo postulada pelo pediatra e psicanalista inglês Donald Winnicott. Toda a sua teoria se desenvolveu a partir de sua ampla prática clínica de atendimento de bebês, crianças e adolescentes.
Fase de dependência absoluta:
Winnicott nomeia de dependência absoluta a fase do desenvolvimento emocional do bebê até os 5, 6 meses de idade. Nesse momento, o bebê sente que ele e a mãe formam uma pessoa só, uma unidade sem diferenciação eu e não-eu. Três principais processos se desenvolvem nesta fase: Integração, personalização e adaptação à realidade. Esses processos maturacionais se desenvolvem através dos cuidados maternos: Holding, handling e apresentação dos objetos. Vou explicar separadamente cada um deles:
- Holding (suporte): Fornece apoio egóico ao bebê, inclui o segurar no colo, toda a rotina de cuidados em relação tanto as necessidades do corpo quanto as mais sutis, como estar envolvido pelo ritmo respiratório da mãe, de sentir o seu cheiro, as batidas do coração. Nesta fase é fundamental que a mãe se adapte ao ritmo do bebê, acompanhando suas mudanças tanto físicas quanto psíquicas, implementando uma adaptação ativa as suas necessidades. Isso leva à sensação de continuidade do ser e promove a integração psíquica. A mãe funciona como espelho para o bebê. Ele precisa se ver no olhar da mãe. Sabe aquele olhar apaixonado na qual nós mães olhamos para os nossos bebês? O bebê precisa dele para se estruturar. A integração faz parte do potencial herdado e é totalmente dependente do holding materno para se desenvolver. Todas as partículas e fragmentos de atividade e sensação que vão constituir o bebê, começam a congregar-se, ao mesmo tempo tem início o aparecimento de rudimentos de uma elaboração imaginativa sobre o seu corpo que também auxilia a integração. Falhas grosseiras e constantes podem gerar angústias profundas de aniquilamento, cair para sempre, se fazer em pedaços. Aqui pode ocorrer também, por falhas, uma pequena integração seguida de uma desintegração. A desintegração está presente fortemente nas doenças mentais do grupo das psicoses.
- Handling (manejo): Conjunto de manipulação e jogos que a mãe introduz no seu relacionamento com o bebê por ocasião do banho, troca de fraldas e dos cuidados com a higiene. O toque e o manuseio da pele são fatores importantes para a personalização, criando a imagem corporal do bebê e um sentimento de que existe um dentro e um fora delimitado pela pele. A personalização é o sentimento de que o psíquico reside no corpo. É dependente do handling materno. É através do toque, do lidar com o bebê satisfazendo suas necessidades de movimento e expressão corporal que a mãe possibilita ao bebê experenciar, a sentir sua psique habitando seu corpo. Falhas grosseiras e frequentes podem acarretar problemas psicossomáticos ou a despersonalização quando a psique perde o contato com o corpo.
- Apresentação de objetos: É o cuidado que facilita as relações entre as pessoas. A apresentação do mundo ao bebê deve ser feita por uma mãe sensível, concentrada na sua tarefa, com vivacidade, adaptada ao ritmo do bebê e sendo continuamente ela mesma. A mãe inicia se apresentando ao bebê e depois isto se estende à apresentação dos demais objetos. É muito importante que a criança sinta que é a relação com o outro que aplaca angustias e não objetos concretos como o bico. O bico pode ser usado, mas o colo precisa ser apresentado em primeiro lugar e ocupar lugar de destaque. Se a criança aprende que são os objetos que aplacam as angustias, no futuro pode-se desenvolver compulsões. A adaptação à realidade é dependente da apresentação dos objetos realizada pela mãe. No primeiro momento o bebê se relaciona com objetos subjetivos, isto é, ele tem a sensação que ele cria os objetos, como se tudo e todos fossem extensão dele. É somente se relacionando com objetos subjetivamente percebidos que o bebê pode vir a se relacionar com os objetos objetivamente percebidos. A adaptação da mãe deve ser de tal forma que o bebê sinta que ele criou aquilo que lhe era necessário. É o momento de ilusão: o bebê sente que criou aquilo que lhe foi oferecido, proporcionando assim experiências de onipotência. Ex: Ele chora e a mãe oferece o seio. Desta forma, nesta fase de desenvolvimento, o bebê acha que criou o seio que o alimenta. Está é uma experiência de onipotência necessária para o bom desenvolvimento do psiquismo e o seio nesse momento seria um objeto subjetivo.
Os três processos maturacionais: Integração, personalização e adaptação à realidade formam a base do bom desenvolvimento emocional. São consolidados por volta dos 6 meses, mas nunca completamente estabelecidos. Se fortalecem por toda a vida.
Mães, não fiquem preocupadas, parece muita coisa, parece difícil, mas segundo Winnicott esse é um trabalho que todas as mães conseguem fazer. Winnicott chama de mãe suficientemente boa, as mães comuns que são guiadas por seu instinto materno e estão conectadas com o bebê. A conexão é o mais importante. Vale a pena ressaltar que as mães tentem seguir os seus instintos e não ficar ouvindo muitos palpites como: a) seu filho vai ficar manhoso, não fica pegando o bebê no colo; b) para aprender a dormir tem que deixar chorando, depois ele acostuma. Sabem porque ele acostuma? Porque ele dorme de exaustão e entende que não adianta, por mais que ele chore ninguém vai aparecer para ajudá-lo a se acalmar. É um total desamparo. Nesta fase, não é uma boa ideia viajar e deixar o bebê sob os cuidados de terceiros. Aqui ele precisa especialmente dos principais cuidadores. Ainda não suporta tanto tempo longe da mãe. O bebê precisa ser dependente, precisa de amor, para adquirir confiança necessária para depois aos poucos ir se tornando independente. Gostaria de lembrar também que não é qualquer falha que desencadeia patologias, são falhas grosseiras e que se repetem aliadas aos fatores genéticos.
Fase de dependência relativa:
As repetidas experiências de ilusão experimentadas pelo bebê na fase anterior oferecem confiança necessária para que a mãe comece a “falhar” nesse momento. Na verdade, falhar aqui é acertar. Explicarei melhor: a mãe vai sentindo que o bebê já consegue esperar um pouco mais o peito ou a mamadeira, ele suporta a ausência materna por mais tempo e ela começa a não atendê-lo tão prontamente como antes. Com isso, cria-se uma área intermediária da experiência chamada espaço potencial. O espaço potencial é uma área entre a ilusão e a realidade. É aqui que se desenvolve o uso dos símbolos que representam ao mesmo tempo os fenômenos do mundo interno e do mundo externo. Desenvolve-se a criatividade que posteriormente, evolui para o brincar, o brincar compartilhado e para experiências culturais, artes, etc. No espaço potencial surgem os objetos transicionais. São objetos escolhidos pelo bebê como: fraldinha, cobertor, urso de pelúcia que eles utilizam para se acalmar e dormir. Geralmente são objetos que não podem nem ser lavados que eles acham ruim. Esses objetos não são nem puramente imaginação e nem puramente realidade. Ele existe na realidade, mas o significado dele é subjetivo é do espaço da criação, da imaginação do bebê. É um objeto que irá ajudar no processo de separação da mãe. O objeto representa a mãe, a relação mãe-bebê e por isso oferece um conforto. A mãe precisa dar um espaço para que o bebê consiga se diferenciar, se deparar com a realidade e estabelecer uma identidade pessoal. A mãe vai aumentando a porção de realidade que apresenta ao bebê, mas sempre preservando uma certa porção de ilusão, pois ela continua o atendendo em suas demandas, mas se permite falhar. Com a desilusão, ou seja, percebendo cada vez mais que ele não é o criador do mundo, pois a mãe não consegue atender todos os seus desejos, ele vai percebendo que a mãe é uma pessoa separada, o bebê começa a perceber os objetos objetivamente ao invés de subjetivamente. A natureza é sabia, pois nesse momento a atenção que estava quase que totalmente voltada para o bebê pode ser compartilhada com outras coisas e pessoas. O bebê já interage mais, daqui a pouco vai sentar, engatinhar, vai querer coisas que os cuidadores terão que negar principalmente pelo perigo que podem representar. Assim a realidade vai sendo apresentada de forma natural.
Algumas mães já me perguntaram: Tânia, meu filho não teve um objeto transicional. Isso é ruim? Nem todas as crianças tem um objeto transicional concreto. As vezes a função do objeto transicional é realizada através de sons produzidos pelo bebê, balbucios, maneirismos, etc. Outras mães comentaram: eu tentei introduzir um objeto transicional e não deu certo. Na verdade, é o bebê que escolhe o objeto e não os pais.
A fase de dependência relativa vai até os dois anos, dois anos e meio mais ou menos ao final dela é esperado que a criança se veja como uma pessoa inteira, possua um sentimento de ser, de ter uma identidade própria e está pronta para um relacionamento total. Falhas intensas, grosseiras e persistentes levam a ansiedade de separação intensa mesmo em pessoas adultas. Ex: Pessoas que sofrem muito na ausência da pessoa amada, construindo fantasias que se a pessoa não estiver perto vai esquece-la, deixará de amar, como se ela não confiasse nas construções que faz e que essas construções são seguras e continuam existindo mesmo na sua ausência. Pode haver também a cronificação do objeto transicional, na qual o objeto é sentido como o único capaz de aplacar as dores e angustias em detrimento das relações e isto pode levar ao aparecimento de compulsões. Quando ocorre um sentimento de perda muito grande nesta época, pode levar a comportamentos antissociais no futuro numa tentativa de recuperar o que foi perdido, como um pedido de socorro.
Uma outra aquisição importante é a capacidade de se preocupar, que se desenvolve entre os 6 meses e os dois anos e meio / três anos mais ou menos. Ao perceber o outro como separado, a criança passa a se preocupar com ele, com sua saúde e com seu humor. É importante ressaltar, que no processo de separação, para a criança conseguir se tornar uma pessoa inteira, ela precisará se opor. Comportamentos considerados inadequados aparecem: bater, não fazer o que é pedido, gritos, etc. Para Winnicott é importante que os pais sobrevivam a esses “ataques” sem retaliar. Isto é, que não ajam da mesma maneira com a criança ou tenham atitudes que a faça entender que perderá o amor dos pais com aquele comportamento. Não queremos que os nossos filhos aprendam que só serão amados quando fizerem o que os outros querem. Os limites e ensinamentos são importantes. Para auxiliar nisso, vocês podem ler o e-book da Clarissa ou assistir a aula sobre o Limite na medida certa que está excelente. Nesta etapa, é necessário oferecer espaço também para a reparação para que o sentimento de culpa não se torne intolerável.

Acho importante que nós mães saibamos um pouco sobre o desenvolvimento emocional dos bebês primeiramente para nos ajudar a nos conectar com nosso filho, sermos mais empáticas, sabermos pelo menos em parte o que está se passando com ele para ajudá-lo. Ter um filho nos faz também reviver muito da nossa própria história de quando fomos bebês desencadeando vivencias angustiantes que podem nos fazer desconectar com nosso filho ou mesmo repetir padrões de relacionamento na qual fomos criados. Sabendo um pouco sobre o desenvolvimento emocional, nos auxilia a perceber nossas dificuldades e procurar ajuda para resolve-las. Por exemplo: se sentimos uma indisponibilidade interna muito grande para o bebê com uma grande frequência principalmente na fase de dependência absoluta, se não sentimos que há um amor enorme se construindo, se ao longo do tempo, não nos apaixonamos por nosso bebê, tem algo impedindo, algo que precisa ser visto, trabalhado e superado.
Caso vocês percebam que esse começo da vida dos seus filhos ficou prejudicada por algum motivo, vocês podem voltar a se conectar com eles em primeiro lugar, e em sintonia tentar sentir o que ele precisa. Se notarem o surgimento de sintomas, podem procurar uma psicoterapia pais-bebê (até 3 anos) ou psicoterapia infantil (após 3 anos). Quanto mais cedo se busca ajuda, mais fácil as coisas se resolvem. No próximo mês falarei de alguns sintomas que merecem atenção na infância. Até a próxima!
Tânia Oliveira de Almeida Grassano
Psicóloga formada pela UFMG. CRP-04/19643
Psicanalista: Membro efetivo e docente na Sociedade Brasileira de Psicanalise de Minas Gerais – SBPMG.
Realiza atendimento em psicoterapia individual de crianças, adolescentes e adultos. Atua também com psicoterapia pais-bebê.
Os atendimentos são realizados em BH, próximo à praça da Liberdade.
Tel: (31) 30725974
[email protected]
Responder esta pergunta é algo bem pessoal. Ninguém é capaz de julgar quantos filhos formam uma família ideal. Um? Dois? Três? Quatro? Ou quem sabe nenhum? Cabe apenas ao casal tomar esta decisão.
Hoje, é cada vez mais comum encontrarmos famílias que optam por ter apenas um filho, ou nenhum. Muitas mulheres já planejam isso desde muito jovem, antes mesmo de se tornarem mães. Mas é verdade também que, grande parte delas, faz esta escolha depois que já tiveram seu primeiro filho.
As razões?
A que mais escuto por aí é: “Filho é muito caro e quero ter condições de dar uma vida boa para ele, a melhor escola, alimentação, saúde, as melhores roupas, os melhores brinquedos…”. Quando ouço algo desse tipo, me pergunto se realmente é isso que os pais pensam, ou se há algo implícito nesta resposta. Não que não seja verdade que filho é caro e que não seja importante se planejar financeiramente para ter filhos. Mas acredito que há algo escondido por detrás de respostas assim.
A verdade é que filho dá trabalho. Filho bagunça não só a casa, mas a vida da gente. E infelizmente a grande maioria de nós não se prepara para ser mãe ou pai, a gente imagina que quando o filho nasce a gente aprende tudo o que precisa instantaneamente. Acreditamos que é como nas novelas, nos comerciais de TV, nos filmes… o bebê bonitinho, dormindo, sorrindo… o casal feliz da vida, vida profissional e social a todo vapor. Só que não!
O bebê nasce e TUDO MUDA, TUDO!
Quando um bebê nasce, por mais “tranquilo” que ele seja, é como se um furacão tivesse passado pela família, tira tudo de lugar. Eu coloco aqui o tranquilo entre aspas, pois acredito que não existam bebês tranquilos ou nervosos. Como já comentei em outros textos, por estarem em fusão emocional com a mãe, bebês refletem aquilo que ela trás consigo, consciente ou inconscientemente. Em geral, o primeiro filho tende a ser mais “agitado”, pois a mãe geralmente está muito agitada diante de toda a mudança que está vivenciando.
Mudança na rotina diária
Para as mulheres que antes de ser mãe não tinham uma rotina bem definida, essa mudança não é tão significativa. Mas tem aquelas que são extremamente organizadas, que gostam de fazer tudo bem certinho e no horário. Por exemplo: Acordar, ficar um pouco na cama pensando/meditando, tomar um banho, tomar café, se exercitar, organizar a casa/trabalhar, almoçar, descansar uns minutinhos… enfim, tudo no horário. Quando se tem um bebê, para a grande maioria é praticamente impossível manter a rotina com horários pré estabelecidos, pelo menos até os 6 meses enquanto o bebê mama em livre demanda. Depois, aos poucos, a gente vai conseguindo se organizar com a agenda novamente. E para as mamães de primeira viagem, principalmente para quem não pode contar com ajuda, o impacto dessa mudança é forte. Muitas vezes a gente come comida gelada, fica o dia inteiro de pijama, faz xixi ou cocô com a cria no colo, consegue tomar um “banho de gato” minutos antes de se deitar… É um pouco louco a gente pensar sobre isso, mas é a realidade nua e crua. Quando a Laís era bebê, quantas vezes me senti super mal por não ter conseguido preparar uma refeição e ter que recorrer a marmita. Hoje, consigo priorizar as minhas atividades, procuro me manter consciente no momento, e agradeço pelo que já consegui fazer. No início o meu foco era naquilo que eu ainda precisava fazer. Quase pirei, mas me adaptei a mudança de rotina.
Mudança de identidade
Para mim, esta é a mudança mais significativa, tanto para o homem, como para a mulher, que por sua vez, começa a perceber de maneira bem sutil que sua identidade está mudando quando se descobre grávida. É quando o bebê nasce que a ficha cai realmente e ela se torna Mãe e o homem se torna Pai. Falando assim, parece tudo muito simples, mas só vivendo na pele para entender o peso dessa mudança. É estranho pensar que antes você era apenas filha, mulher, esposa, profissional. E agora você é além de tudo isso (e principalmente) Mãe. O mais engraçado é que a grande maioria das mulheres tem a imagem de mãe como sendo aquela mulher forte, guerreira, que tudo sabe, que tudo suporta. De repente a gente se torna mãe e tem que se tornar tudo isso junto, mas como?
Começa então um trabalho de desconstrução da mãe ideal para a mãe real. E aliado a isso, é necessário aceitar a nova identidade. Por mais que a gente insista que ainda é a mesma pessoa, aos poucos a gente vai percebendo que não tem como ser a mesma pessoa depois que se torna mãe.

Mudança na vida Profissional
Por mais que muitas mulheres digam que a vida profissional não será impactada com a chegada do bebê, acredito que isto seja raro, sobretudo nos primeiros anos após o nascimento (até uns 2 ou 3 anos). Afinal, qual é a mãe que consegue ficar 100% focada no trabalho com um bebê que ainda está em fusão emocional com ela? E mesmo nos casos em que a mãe trabalhe em casa, a disponibilidade para a vida profissional fica bastante comprometida.
Para as mães que trabalham fora, o fim da licença maternidade é geralmente muito doloroso. Algumas optam por se desligar do trabalho, outras gostariam de fazer o mesmo, mas por questões financeiras precisam voltar. Muitas descobrem com a maternidade, que o emprego ou a profissão atual não fazem mais sentido, e mudam radicalmente, se reinventam. Eu mesma estou em fase de reinvenção e mudança de carreira. Em breve vou escrever um texto só sobre isso para compartilhar com vocês.
Em muitos casos, o retorno ao trabalho implica em deixar o bebê em creches ou em escolas o dia inteiro. O período de separação é muito longo, e por isso este é um momento bastante delicado tanto para mãe e bebê, que até então estavam acostumados a ficarem o dia todo bem grudadinhos. A maioria dos bebês, que já estavam dormindo bem durante a noite, começa a acordar mais, pois é o modo que eles encontram para “aproveitarem” a presença da mãe. Além disso, alguns manifestam doenças, febres, deixando a mãe ainda mais preocupada e desfocada do trabalho.
Passada esta etapa inicial, a criança passa a se interessar mais pelo mundo que não seja a mãe. Nesta fase, para algumas mamães a vida profissional começa a voltar ao normal, mas para outras, ela nunca mais será a mesma.
Mudança na vida Social
Cinema com o marido ou com as amigas? Lembro que a última vez que fui ao cinema foi quando estava grávida da Laís, com uma amiga, pois na época Rafael estava viajando.
Barzinhos, baladas, festas, carnavais…? A última “balada forte” que fui, eu também estava grávida da Laís, foi um show de axé do grupo Timbalada.
Para as “mamães baladeiras” como eu, a vida social muda bastante. Algumas podem sentir muito essa mudança, mas para mim foi a mais tranquila. Acredito que por ser talvez a única mudança que já era esperada. Na verdade eu tinha comigo a crença que mãe não tem vida social. Apesar disso, cheguei a me aventurar em 2 festas de casamento quando Laís ainda não tinha nem 3 meses, e também fui em um barzinho que estava tocando pagode, em um sábado a tarde, quando ela tinha acabado de completar 4 meses. Nos casamentos até que foi bem tranquilo (ela dormiu quase o tempo todo), mas no pagode ela não curtiu muito o som e acabamos indo embora logo. Depois disso, comecei a me dar conta que, mesmo sendo eventos durante o dia, alguns não são apropriados para bebês e crianças e reforcei a crença que eu tinha que mãe não tem vida social.
Se eu sinto falta da vida de baladas? As vezes sinto saudades, vontade de ir em algum show, curtir um axé… Para quem não sabe, eu e meu marido nos conhecemos graças ao carnaval de Salvador. Apesar da saudade, não fico triste por não poder realizar os mesmos programas de antes, pois a felicidade e a alegria que os filhos hoje me proporcionam são maiores do que qualquer tipo de balada. Além disso, através de um processo de Coaching que participei, consegui ressignificar a antiga crença. Hoje, acredito que filhos não nos impedem de ter vida social, apenas a transformam. Meus programas hoje são outros: passeios em parques, festas de aniversários de criança, alguns restaurantes apropriados (por enquanto apenas no horário do almoço…rs), passeios em shoppings, sorveterias, almoços com amigos em casa, e outros tipos de atividades apropriadas para bebês e crianças.
Mudança no relacionamento conjugal
Há quem acredite que filho “segura” marido. Há quem acredite que o relacionamento do casal não será “remexido” com a chegada dos filhos. E existem os casais que têm filhos.
É praticamente impossível um casal que tenha tido filhos e que o relacionamento amoroso não tenha mudado. Não estou falando aqui apenas das relações sexuais, estas a gente já sabe que são bastante afetadas, sobretudo no início. De qualquer forma, é válido lembrar mais uma vez que a mulher está em fusão emocional com o bebê e toda sua energia está dedicada para atendê-lo, nutri-lo, cuida-lo. Não existe neste momento espaço e disposição para sexo e até os hormônios colaboram para isso. Mas, não é sobre isto que quero falar, e sim sobre a mudança na forma de se relacionarem. Homem e mulher já não são as mesmas pessoas, mudaram de identidade, agora são Pai e Mãe. Portanto é necessário que aprendam a se relacionar novamente com estas novas pessoas que surgiram. É um desafio!
Por isso, é crescente o número de divórcios após o nascimento dos filhos.
Na grande maioria das relações, pai e mãe estão tão perdidos com a nova identidade que não sabem mais como se relacionar. Há muita expectativa entre ambos, pouco diálogo. A mulher, geralmente exausta física e emocionalmente, acha que o homem não esta colaborando como deveria, se vitimiza, se frustra. O homem, na grande maioria das vezes, não sabe como ajudar. Alguns se ocupam de trocar fraldas, ao invés de apoiar a mulher emocionalmente. Não que o pai não deva trocar fraldas do bebê, claro que ele deve e pode fazer isso. No entanto, o ideal é que o pai tenha condições de dar todo o suporte para a mulher a fim de que ela possa maternar tranquilamente.
Além disso, antes do nascimento do primeiro filho, geralmente a mulher acaba por sustentar emocionalmente o homem. Quando chega o bebê, todo o apoio que ela dava ao marido é agora exclusividade do recém-nascido. O pai sente-se excluído, sem lugar.
Este é só o começo de um emaranhado de mudanças na vida do casal. Apesar de muitos conseguirem se reinventar e aprenderem a se relacionar novamente, infelizmente, inúmeros relacionamentos não se sustentam após a chegada dos filhos. Outros se fragilizam bastante, o casamento se mantém, porém não existe mais relação amorosa.
Aqui em casa passamos por vários perrengues, mas a vontade de permanecermos juntos em prol do nosso amor, dos nossos filhos, e da nossa família, falou mais alto. Seguimos em constante mudança, buscando nossa essência, com o objetivo de sermos os melhores pais que podemos ser. Temos nossas diferenças, discutimos, nos perdoamos e nos reconciliamos. Escolhemos amar.
É muita mudança que um simples bebê trás, né?
Mas na vida, tudo são fases. O bebê cresce, algumas demandas diminuem, e algumas coisas começam a voltar para algum lugar próximo do que era antes da chegada do filho…
A passagem do Furacão
Gosto de imaginar uma cidade que foi atingida por um furacão, e depois precisa se reestabelecer novamente. O tempo para reestabelecer é único para cada cidade e depende muito dos seus gestores, dos recursos disponíveis para investimento, e principalmente de ajuda externa de outras cidades/estados/países, outros governos. Algumas cidades se reerguem melhores do que antes, outras infelizmente não conseguem se reconstruir, mas nenhuma delas será a mesma.
Muitas das cidades se prepararam para a chegada deste fenômeno natural avassalador, e mesmo assim não saem ilesas. O fato é que, no momento em que se esta bem no olho no furacão, ninguém quer de novo viver aquela experiência. Mas depois, para as cidades que conseguiram se reerguer e se preparar novamente, quando o próximo furacão chegar, tudo vai ser diferente. Lógico que muita coisa vai sair do lugar de novo, estruturas serão abaladas, algumas coisas que não foram remexidas pelo primeiro furacão vão ser remexidas pelo segundo, ou pelo terceiro… Todavia, a cidade estará mais forte e mais consciente. Infelizmente, para as cidades que não se reestruturaram, que não aproveitaram as oportunidades de aprendizagem que o primeiro furacão trouxe, a chegada do segundo pode ser ainda mais avassaladora.
Mas graças a Deus não somos cidades, e nossos filhos não são furacões de verdade. Gosto apenas de usar essa metáfora para mostrar o porquê tantas famílias que antes desejavam ter mais de um filho, após o nascimento do primeiro desistem dos demais. Eu mesma, no auge do puerpério, cheguei a pensar na possibilidade de ser apenas “mãe de uma”. Porém, com o passar dos dias, fui aprendendo, me fortalecendo, me empoderando… fui em busca do autoconhecimento para ser a melhor mãe que eu poderia ser. Além disso, apesar de toda reviravolta que um filho trás consigo, é tanta coisa boa que vem embutida que muitas vezes nos esquecemos de olhar para “o estrago”. E logo veio a saudade da barriga, a saudade do recém-nascido… e junto com isso a vontade de deixar para o mundo pessoas melhores… e quando Laís tinha 1 ano e 6 meses eu engravidei do Gael, como já comentei com vocês no texto anterior.
Somos seres humanos, racionais. Temos a possibilidade de escolher aquilo que julgamos melhor para nossa vida, temos a chance de mudar de idéia quando queremos. Tudo bem se antes você queria ter três filhos e agora quer ter apenas um. Só você sabe a intensidade do furacão que passou pela sua cidade e o quão difícil foi ou está sendo para reconstruí-la. Entretanto, não se engane! Não conte “historinhas” para você mesma, dizendo que mudou de idéia por que filho é muito caro.
Eu também concordo que filho é muito caro. Mas mais do que caro, filho dá trabalho. Exige disponibilidade, autoeducação, mudança de prioridades, autoconhecimento. Filho mexe com aquilo que a gente nem sabia que tinha para ser mexido…e dói! Mas filho também é benção, é graça, é a esperança de um mundo melhor, é amor desmedido, é oportunidade de evolução pessoal. Filho é milagre, é vida!
E lógico, se um filho já é tudo isso, dois filhos é tudo dobrado (nem tão ao pé da letra assim). É exaustivo, principalmente se você não tem ajuda. É punk no começo lidar com as emoções do mais velho que sente que ficou de lado. Mas é lindo ver o amor de um pelo outro crescendo. Eu imaginava que seria muito mais desafiador. Confesso que já estou com vontade do terceiro. Ops, já passou! Brincadeiras a parte, esta é uma decisão que ainda não tomei. No momento sigo com a idéia de ser mãe de dois, mas daqui um tempo, quem sabe…
O Furacão já passou, e agora?
Agora você decide se quer ou não viver as aventuras de um novo furacão na sua vida. Não estou escrevendo este texto para dizer que você deve ter mais de um filho, nem que você deve ter apenas um. Como eu disse lá no começo, essa é uma escolha pessoal e delicada.
Ser mãe de um, de dois, de três, ou de quatro, é um desafio, mas é também uma benção.
Quero apenas que você pare, respire fundo e reflita de forma consciente sobre suas escolhas:
– O que fez você decidir ter apenas um filho?
– O que fez você decidir ter mais de um filho?
– O que é para você ser mãe?
– Como você se sente sendo mãe?
– Você, que é mãe apenas de um filho, consegue se imaginar tendo mais filhos? Como se sente?
Aproveito para deixar duas dicas para quem planeja ter mais de um filho:
1- Prepare-se, no real sentido da palavra. Leia, informe-se, estude, eduque-se, conheça-se, conecte-se consigo mesma e com seu filho… Liberte-se das expectativas! Cada gestação é única e diferente, cada parto é único e diferente, e cada filho é único e diferente. Vão existir as semelhanças entre eles, mas não espere que seja 100% igual.
2- Prepare seu filho. Converse com ele, explique o que está acontecendo, leia livros sobre irmãos, mostre fotos de quando estava grávida dele e de quando ele era um bebê…. Seja honesta e diga que a vida de vocês vai mudar, que vai ser desafiador, mas que vai ser gratificante também.
E independente da escolha que você fizer, que seja a melhor!
Texto escrito por Amanda Balielo, Mãe da Laís e do Gael, Coach de Mães e participante da turma 4 do Zum Zum de Mães.
@amandabalielocoach
Http://facebook.com/amandabalielocoach
Depois dos primeiros dias na maternidade, vem a aventura dos primeiros dias em casa. Nossa, que medo que dá de levar aquela coisa pititica para casa! Parece tão frágil, tão vulnerável e a gente se sente tão despreparada, tão desajeitada… Simplesmente porque parece que temos um pedaço do nosso coração batendo do lado de fora!
Quando observamos outros mamíferos percebemos o tamanho de nossa vulnerabilidade no reino animal! Os filhotes da girafa conseguem andar após 1 hora de seu nascimento, nossos primos macacos nascem e logo se penduram em sua mãe. Enquanto nós humanos sequer sustentamos nossa cabeça! Nós não nascemos prontos, precisamos ainda de um tempinho de desenvolvimento do lado de fora, é o que diz a teoria da exterogestação.
A gestação do lado de fora
Nosso bebê ainda precisa de um tempinho para se desenvolver fora da barriga da mãe. Afinal, ele ainda é extremamente dependente para sobreviver! Isto é o que diz a teoria da exterogestação, desenvolvida pelo antropólogo Ashley Montagu e difundida pelo pediatra Harvey Karp. Além dos 9 meses dentro da barriga da mãe, a gestação do lado de fora levaria pelo menos mais 3 meses para se completar.
Entretanto, existe um motivo biológico importante que justifica este aparente “despreparo” para o nascimento! Quando o bebê nasce o cérebro humano não está suficientemente desenvolvido para lidar com o mundo. Caso a natureza esperasse este tempo, a cabeça do feto seria grande demais para passar pelo canal vaginal.
Como sempre, podemos perceber a sabedoria da Mãe Natureza! Tudo tem seu tempo devido e o tempo dos bebês não respeita relógio e esquemas cartesianos! Trata-se de um tempo que está além de uma lógica racional! Como nos relata Laura Gutman no livro Maternidade e o encontro com a própria sombra: o resgate do relacionamento entre mães e filhos:
Para nos aproximarmos do universo do bebê é necessário usar o conhecimento intuitivo, e não o conhecimento racional, pois se trata de um ser regido por necessidades e leis que escapam às previsões mentais dos adultos. Esta aproximação intuitiva que aflora nas mães é muito desvalorizada socialmente. Por isso, as mulheres não respeitam os sentimentos óbvios que surgem pelo fenômeno de fusão emocional, que lhes permite ficar milimetricamente conectadas com as manifestações de seus bebês. (p.109)
Tempos de fusão
A ideia de que há uma fusão entre mãe e bebê chegou a mim de forma mais palatável através da Laura Gutman! Sempre tive medo de invadir o espaço da minha filha, de não respeitá-la enquanto indivíduo! Eu tinha medo de ser igual àquelas mães que agem como se o filho fosse uma extensão dos seus desejos, praticamente um boneco que elas manipulam da forma que desejam!
Exercitei por algum tempo este distanciamento com o objetivo de não me confundir com minha filha. Mas quando surgem os perrengues, o cansaço e toda a desordem emocional e hormonal do puerpério fica evidente este aspecto de fusão! A partir da leitura da Laura Gutman pude ressignificar o conceito de fusão e mesmo de simbiose numa perspectiva muito mais positiva nos primeiros anos do nascimento.
Segundo a autora, desde o nascimento até os 9 meses o bebê têm necessidades básicas que se assemelham àquelas que eram atendidas prontamente no ventre materno! São elas respectivamente: comunicação, contato, movimento e alimentação permanente.
Empatia com o “mundo dos bebês”
O choro dos bebês recém-nascidos refletem a profundidade de seu desconforto! Para amenizar isso é preciso tentar recriar alguns aspectos da vida intra-uterina. Vale a pena cuidar para que o mundo seja apresentado ao bebê de forma gradativa e tranquila!
Acredito que é preciso usar empatia para imaginar a enorme transição que é nascer! De que forma podemos fazer uma transição menos abrupta para este nosso mundo real? Tudo é novidade, trata-se de um mundo cheio de cores, sons, cheiros e uma explosão de sentidos! Antes estávamos aquecidos, apertados, alimentados… Agora estamos tendo nosso primeiro contato com o desconforto, com a necessidade, com a ausência… Por isso, o que mais acalma o bebê é a conhecida voz da mãe ou do pai, o colo, o aconchego!
Acredito que a maioria das mães perceberam o poder de sua voz, cheiro ou contato para acalmar seu filho! Digamos que nesta terra de ninguém, a mãe e o pai ou cuidadores mais próximos são os guias para esta longa jornada chamada vida! Eu amei e recomendo o documentário O Começo da Vida, cheio de sensibilidade nos coloca neste universo dos bebês!

Comunicação e Contato
Na lista descrita pela Laura Gutman comunicação e contato figuram como aspectos principais! Esta experiência é fundamental para desenvolver a sensação de segurança e confiança ao bebê! No entanto, percebo uma certa dureza em relação à forma como vemos nossas crianças!
Em Amamentação: um capítulo à parte comentei que com 24 horas de vida, minha filha foi taxada de “preguiçosa” na maternidade! Além disso, quando ficava com ela no colo eu ouvia: “Você vai deixá-la mal acostumada, hein!” Sobre isso recomendo o vídeo: Colo deixa os bebês mimados no Canal Paizinho, vírgula.
Facilmente percebemos uma série de frases que denotam uma mesquinhez de sentimentos! Como se carinho demais fosse prejudicial à saúde infantil! Como se você precisasse ensinar ao seu filho que ele não pode ter muito, que é preciso se adaptar à escassez… E quanto antes, melhor! Puxa, por que tanta rudeza com este serzinho recém chegado ao mundo!
Quanto melhor afinarmos esta comunicação e contato com muito toque, olho no olho, muito colo e principalmente PRESENÇA nos cuidados diários, melhor será a adaptação de nosso bebê!
Movimento e Alimentação Permanente
Acredito que já seja moda o uso de sling! E que coisa boa poder levar nosso bebê conosco grudadinho! Infelizmente, o sling foi o que eu menos usei depois que minha filha nasceu! Simplesmente não rolou! Eu não me adaptei bem, quando eu me acertei, ela não curtia! Enfim, foi algo que eu idealizei bastante e não rolou pra gente! E tudo bem! A ideia central é manter o contato constante com a mãe e também o movimento! O bebê vive imerso em ruído e movimento no ventre materno e trazer estas condições após o nascimento é muito importante!
Além de dar colo, muito colo, colo em abundância para minha filha, rs, eu adaptei a necessidade de movimento usando uma bola de pilates! Sempre que minha filha Giovanna chorava eu tentava suprir todas as necessidades básicas: fome, aconchego, fralda… e quando o choro persistia eu experimentava o som do útero e o balanço na bola de pilates. De forma suave, este balanço trazia a ela conforto, porque logo se acalmava! Vale lembrar que NÃO é para sacudir o bebê, menos ainda dar aqueles trancos! Isso pode gerar a Síndrome do bebê sacudido.
A alimentação permanente era que o bebê tinha a seu dispor no ventre materno! Portanto é muito nova a sensação de falta, de fome! Desde a maternidade eu escutei as enfermeiras me aconselhando a “Não deixar a bebê chupetar o peito!” Entretanto, só fui desmistificar este conceito na Casa Curumin, onde a orientadora me perguntou: “Como sua filha vai chupetar se nem sequer sabe o que é uma chupeta? O que ela pode estar fazendo é alimentando sua necessidade de colo e aconchego!” A partir daí aumentou ainda mais minha disponibilidade para dar o peito à minha pequena!

“Ninguém pede aquilo que não precisa!”
A impressão que eu tenho é que as pessoas têm muito medo do amor. Medo desta relação tão especial, deste vínculo que se estabelece entre mãe e bebê! Na verdade, minha intuição me diz que a criança ferida de cada um está gritando! E ela diz: “Ah não deram carinho para mim, por que vão dar amor assim ‘de graça’ para este novo cidadão do mundo?!” Vale a pena dar uma olhadinha no artigo anterior “Maternidade: uma oportunidade de curar sua criança interior!“.
A frase título “Ninguém pede aquilo que não precisa!” foi a frase que mais mexeu comigo no livro da Laura Gutman! Isto porque ampliou o meu olhar para muito além da maternidade! Repensei bastante sobre minha criança, a relação com meus pais, meu trabalho como educadora e a própria relação com a sociedade.
Como seria o mundo se os adultos olhassem de verdade para os pedidos das crianças! E, para os críticos da Laura, eu não estou falando de viver em função dos pedidos das crianças! Mas para olhar profundamente para a necessidade que está escondida atrás daquele pedido! Na maioria das vezes tudo que as crianças querem é nosso olhar atento e focado nelas! Para refletir sobre isso um vídeo excelente é o Quem você convidaria para o jantar?
Coragem: a voz que vem do coração
Não tenha medo de entrar em fusão emocional com seu bebê! Esta teoria da exterogestação, para mim, valida ainda mais esta necessidade de contato íntimo e profundo entre mãe e bebê! Permita-se vivenciar esta experiência como uma oportunidade muito rica de cura emocional! Agora somos adultas e podemos amparar a criança que fomos e o bebê que temos nos braços!
Criar um bebê real é também reviver o bebê que fomos. O que acontece quando as mães criam seus bebês guiadas por conselhos e receitas recebidas, deixando de atender suas sensações viscerais? Simplesmente, a sombra aparece em manifestações incômodas, como doenças, choro desmedido e protestos dignos de bebês que resolveram chamar a atenção. (Gutman, p. 111)
Considerando esta perspectiva da exterogestação e da fusão emocional, imagine a tragédia de metodologias que propõem ignorar o choro dos bêbes! Deixá-los no berço e ADESTRÁ-LOS para que parem de chorar! Qual a leitura do mundo que estes recém chegados têm, quando suas necessidades básicas não são atendidas nem mesmo por seus cuidadores mais próximos?
Acredito que esta falta de suprimento emocional básico explique um mundo tão cheio de ódio e intolerância! No próximo artigo discutiremos um pouco mais a respeito da consequência destas necessidades não atendidas e como elas se apresentam como “pedidos deslocados”, segundo Laura Gutman. Enquanto isso, deixo o convite para que se fundam com seus bebês e que se disponibilizem emocionalmente para seus filhos! Para inspirar lá vai a linda música de Chico Cesar:
E aí você surgiu na minha frente
E eu vi o espaço e o tempo em suspensão
Senti no ar a força diferente
De um momento eterno desde então
E aqui dentro de mim você demora
Já tornou-se parte mesmo do meu ser
E agora, em qualquer parte, a qualquer hora
Quando eu fecho os olhos, vejo só vocêE cada um de nós é um a sós
E uma só pessoa somos nós
Unos num canto, numa voz
O amor une os amantes em um ímã
E num enigma claro se traduz
Extremos se atraem, se aproximam
E se completam como sombra e luz
E assim viemos, nos assimilando
Nos assemelhando, a nos absorver
E agora, não tem onde, não tem quando
Quando eu fecho os olhos, vejo só você
E cada um de nós é um a sós
E uma só pessoa somos nós
Unos num canto, numa voz
Gratidão pela leitura! Namastê!
SOBRE A AUTORA
Gisele Mendonça, cientista social, mestre em sociologia, participante do Zum Zum de Mães e, principalmente, MÃE! Tem um blog chamado Conexão Profunda, visite www.conexaoprofunda.com.br e curta a página no facebook Conexão Profunda
Certa vez, um pai perguntou ao pediatra como conquistar o seu filho de apenas dois anos de idade.
O pediatra explicou-lhe sobre a importância de participar mais da rotina do filho: levá-lo na escola, ajuda-lo com a alimentação, com o banho e etc.
Pensei na dificuldade que o homem enfrenta na nossa sociedade para ser um pai presente, pois a ele sempre foi negado o direito de sentir, de se expressar, de se conectar com o próximo, de ninar um boneco, de se permitir.
Pensei, também, no fio invisível e magnético que aparece entre um adulto e uma criança, quando há uma relação de afeto, liberdade e criatividade envolvida.
Em outras palavras, quando o adulto se utiliza de uma comunicação lúdica para manter contato com a criança.
E ao falar desse assunto, não tem como não se lembrar do curta-metragem de animação espanhol, chamado Alike, dirigido por Daniel Martínez Lara e Rafael Cano Méndez.
A animação conta a história de um pai, que inserido na rotina pesada de trabalho de uma cidade grande, fecha os olhos para os anseios de criatividade do seu filho.
Ao percebê-lo infeliz, o pai oferece liberdade para o filho sonhar e criar. O filme termina em poucos minutos e nos deixa com um desejo indescritível de abraçarmos nossos filhos e abrirmos um novo canal de comunicação.
Precisamos enxergar as nossas crianças, dando-lhes asas para voarem, olhos para partirem e mãos para se apoiarem ao cair.
Uma criança que pula e dança sem parar pode não ter qualquer transtorno, mas simplesmente querer ser bailarina.
Um menino que não presta atenção na aula, mas somente na natureza lá fora, pode se tornar um grande fotógrafo da fauna silvestre.
Lembrei-me do circo, que encanta a todos, indistintamente.
Então porque não levamos o circo para dentro de nossas casas?
Provoquemos inovação, criatividade, superação de obstáculos e de frustação. Afinal, o que mais a vida irá exigir das nossas crianças no futuro?
Sobre aquele pai aflito no pediatra. Aguardei-o sentar ao meu lado, na sala de espera e disse-lhe: para conquistar o seu filho, torne-se um “pailhaço”. Jogue-se no chão, faça uma piada, provoque uma boa risada e não tenha medo de bancar o trapalhão. Depois você me conta se deu conexão!
Esse texto foi escrito por Lígia Freitas, Mãe do João e Participante do Zum Zum de Mães.
@ligiafreitasescritora
No último artigo sobre amamentação comentei que falaria desta criança que chora perto de você, mas que não é o seu bebê! É você! Demorei muito tempo para me dar conta disso e aproveito este espaço para compartilhar minha experiência pessoal. Não sou psicóloga, não sou coach de mães, não tenho milhões de cursos de formação! Mas tenho algo que nada disso substitui: minha intuição aguçada e minha experiência!
O valor da experiência e o desenvolvimento da intuição
Antes eu acreditava na importância de um currículo! Mas depois de trabalhar em algumas instituições percebi a realidade sobre aquela famosa frase: “As pessoas são contratadas pelo currículo e demitidas por comportamento!”. Um currículo exemplar nem sempre significa um bom profissional e vice-versa! Muito mais importante é a atenção e sensibilidade do profissional para perceber e investigar a realidade das coisas!
Quando me descobri grávida eu não quis investir em muita teoria como havia feito em outros momentos da minha vida! Preferi investir na minha capacidade de sentir e perceber as coisas! Eu já estava num processo terapêutico que me ajudava muito neste sentido! Eu fazia massagens, acupuntura, estava atenta aos benefícios da aromaterapia e fazia uso de florais! Tudo isso estava alicerçando um processo de mudança de paradigmas interno!
Eu, a pessoa que sempre valorizava o racional, estava me abrindo para SENTIR. Leia também Maternidade: A intensidade de sentir. E este processo se intensificou com a chegada efetiva da minha filha! Eu sentia uma tristeza, um desconforto, uma angústia que não tinham espaço dentro de mim! Eu queria resolver, fugir, sair dali, parar desesperadamente de sentir aquilo tudo!
Afinal, racionalmente estava tudo indo bem! Ela nasceu saudável, ficou um dia na UTI, mas já estava em casa. Eu estava com dificuldades no início da amamentação, leia também Amamentação: um capítulo a parte. Mas isso era algo temporário, acontecia com todas as mulheres… Entretanto, por mais que repetisse tudo isso para mim mesma, eu só queria um buraco para me esconder! E ainda tinha que receber visitas! Meu Deus, eu não dava conta nem de mim mesma, que dirá ouvir outras pessoas!
Em busca de conforto: o desespero do puerpério!
Mesmo buscando conversar muito com minha mãe e meu marido, parecia que eu estava num local inacessível! Eu me sentia imensamente sozinha, incompreendida e muito magoada com o mundo, com a vida, comigo mesma! Parecia que eu havia caído numa imensa armadilha da vida! Eu não dava conta das minhas lágrimas e ainda tinha o choro de uma linda bebê para cuidar!
Hoje, revendo os vídeos daquela época, eu vejo o imenso amor nas minhas palavras. Percebo que, apesar da confusão interna, eu consegui ser atenciosa e amorosa como eu queria! Mas nunca vou me esquecer da minha sensação interna de estilhaçamento! Quem era aquela mulher, com aquele corpo estranho, com aqueles sentimentos esquisitos?
O tempo mais frio sempre mexeu comigo, me deixando um pouco triste. Mas aquele outono / inverno foi especialmente difícil! Lembro, inclusive, que eu não queria sair do quarto, único local que parecia aquecido, protegido e adequado para que eu começasse a lamber minhas feridas! Diante de minha imensa dificuldade com a amamentação, uma amiga, a Marcela, me sugeriu que eu conversasse com minha bebê e contasse a ela o que estava acontecendo comigo!
Acho que estas foram as conversas mais difíceis de iniciar! Desde a gravidez eu não me sentia muito à vontade conversando com a bebê! Eu falava, mas não era algo que fosse natural, às vezes me parecia meio forçado. Neste momento, não foi diferente! Como é que eu iria explicar algo que eu mesma não entendia, nem conseguia nomear direito para aquela bebezinha tão frágil?!
Criança ferida: um novo processo de cura
Na minha terapia e em buscas paralelas eu vinha fazendo um trabalho de cura de minha criança interior. Vale a pena dar uma olhadinha no artigo Criança Interior no blog Conexão Profunda. Neste momento eu me vi mergulhada num mar de mágoas, dores e tristezas em que eu estava me afogando! Daí chegou até mim um curso online que muito me ajudou neste período, pois a recomendação principal eram fazer meditações e escrever cartas para limpar experiências negativas! Vale a pena conhecer o trabalho de Tatiane Guedes “Mas afinal, o que é a Criança Interior?”
Foi escrevendo e me entregando às meditações de encontro com minha criança, que fui me dando conta que minha criança chorava muito mais que minha bebê! Fui tendo acessos a lembranças que eu havia enterrado e fugido por muito tempo! Fui acessando emoções reprimidas que estavam precisando ser liberadas e que, certamente, minha bebê trouxe à tona!
Nesta fase eu ainda não havia lido Laura Gutman, estava tão mergulhada em mim que, por vezes, me sentia sem fôlego para a realidade! Ali tomei contato com muitos sentimentos de tristeza da minha infância, pude rever relacionamentos e percebê-los por uma outra perspectiva. Assim como no outono, as árvores vão perdendo as folhas eu fui me despindo de minhas couraças de proteção e encontrando minhas feridas bem abertas precisando de cuidados !
“A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou.
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou”. Fernando Pessoa

Só podemos CURAR o que podemos SENTIR
Esta frase: “Você só cura aquilo que pode sentir.” (Domingos Cunha) já anuncia que é um processo que dá trabalho! Sentir, algo que deveria ser tão natural, mas que é tão reprimido! O desespero que sentimos para fazer um bebê parar de chorar conta muito a respeito desta nossa dificuldade de SENTIR e permitir sentir!
Quando fui tentando parar de sentir o que eu achava que deveria sentir. Quando fui dando espaço para a tristeza que eu sentia se manifestar, quando fui conversando com minha filha e dizendo o que eu estava sentindo, eu fui elaborando minha tristeza. Desta forma, fui legitimando algo que minha criança interior gritava para me mostrar!
É preciso dar-se tempo, colo, conforto! É preciso silenciar as vozes externas e também as internas dos “eu deveria…” e permitir-se simplesmente SENTIR! Quando criamos este espaço verdadeiramente, começamos um processo de compreender o que tanto nos aterroriza, entristece e magoa! Somente criando um espaço interno de escuta é possível iniciar o processo de cura!
O bebê e a criança interna em Conexão
Uma coisa que eu pensava era que não podia dar voz à minha criança interior nesta fase tão sensível do puerpério. Era preciso ser adulta e cuidar da minha filha, não havia espaço para mais uma criança precisando de cuidados ali.
Entretanto, com o passar dos dias fui percebendo que se eu não olhasse com carinho e atenção para minha criança, não conseguiria ser a mãe atenciosa que eu desejava. Por isso, fui permitindo que minha criança expressasse ao máximo suas mágoas, expectativas e decepções e todas as feridas que rondavam meu universo infantil. Lembrei de cenas que eu jamais imaginava recordar, sentimentos, até a leitura das expressões dos adultos que, de alguma forma, me impactaram.
Vale ressaltar algo importante aqui: nem sempre foi o que aconteceu que feriu a criança, mas como ELA interpretou NAQUELE MOMENTO, sem muitos recursos emocionais. A criança com sua sensibilidade capta coisas que os adultos nem imaginam e, por vezes, ficam com uma cena bem recortada, ferindo seu coração. Quando criamos este espaço de escuta e cura, podemos RESSIGNIFICAR experiências e perceber que fazem parte de um contexto mais amplo de acontecimentos! Vale a pena ouvir o Podcast Tenda Materna #2: “A Nossa Criança Interior”
Outro ponto importante a ser destacado é que não podemos nos identificar com aquela criança ferida, tomando suas dores! Esta é uma tentação: se vitimizar e fazer acusações é fácil! Contudo, quando nos tornamos mães percebemos que, por vezes, as situações são mais complexas do que aparentavam anteriormente! Quando vivenciamos o papel de mães notamos que errar faz parte do processo de aprendizagem! E, por mais perfeitas que desejássemos ser, isso não seria possível e nem útil já que a vida é um processo de aprendizagem contínua!
“No momento em que uma criança nasce, a mãe também nasce. Ela nunca existiu antes. A mulher existia, mas a mãe, nunca. Uma mãe é algo absolutamente novo”. Osho
Assumindo desafios
Assim que nos tornamos mães e compreendemos os desafios deste papel, passamos a ter muito mais humildade e respeito para olhar a postura de nossas mães! E a partir desta posição de adulta, que abraçou sua criança interior, é possível olhar e cuidar profundamente do bebê no seu colo!
Este bebê precisa de um olhar atento e amoroso para suas necessidades! Ele precisa que você nomeie o mundo para ele – tanto o interno quanto o externo. Nos primeiros anos o bebê está muito fundido com sua mãe. Por isso, é fundamental que haja clareza e muito diálogo para que esta relação vá organizando as emoções, o mundo, as experiências…
Muitas vezes eu percebo algumas mães pressionadas a seguirem o mesmo modelo no qual foram criadas para que suas mães se sintam, de alguma forma, validadas. Entretanto, esta ainda é uma postura de nossa criança interior que sente a necessidade de obedecer os pais! Para refletir profundamente, recomendo dois vídeos da Psicóloga e Consteladora Sistêmica – Inês Rosangela: Criança Interior e Somos Adultos Realmente?
Articulação entre o mundo interno e o externo
Como sabiamente nos ensina Laura Gutman em seu livro O poder do Discurso Materno: introdução à metodologia de construção da biografia humana:
Assim, se estou criando filhos pequenos, tudo de que necessitam são pais que questionem a si mesmos da maneira mais honesta possível. Porque se observamos os mapas completos, se olhamos os cenários e, dentro deles, reconhecemos nossos automáticos, nossos personagens e nossos roteiros escritos, talvez possamos decidir não funcionar assim e experimentar outras maneiras mais criativas e ricas. E só então seremos capazes de olhar para nossos filhos com mais abertura e sem tantos preconceitos, ou seja, sem prejudicá-los antes de observá-los e acompanhá-los. Em vez de interpretar cada coisa que fazem e não nos agrada, em vez de trancá-lo em personagens que nos acalmam porque conseguimos localizá-los rapidamente… poderemos simplesmente nomear cuidadosamente aquilo que acontece com eles, dando-lhes todo o valor real disso que acontece. E também poderemos nomear com palavras simples o que acontece conosco, na totalidade de nosso complexo universo emocional. (p.55)
Portanto, é fundamental fortalecer-se internamente para assumir os desafios de se tornar mãe e pai! É preciso olhar nossas feridas e nos dispormos à SENTIR PARA CURAR! Acredito que somente deste modo seremos capazes de observar nossos filhos e captarmos SUAS necessidades emocionais!
O mundo atual, com seus desafios e informações, torna mais acessível a nossa evolução! Hoje temos muito mais conhecimento e isso pode e deve ser usado com sabedoria. Ou seja, sem perder a conexão que desenvolvemos com nossa intuição, especialmente quando nos abrimos para este olhar mais sensível que o mundo do bebê nos convida! No próximo artigo falaremos um pouco mais sobre este contato com o mundo do bebê, você já ouviu a respeito da exterogestação?
Gratidão pela leitura! Namastê!
SOBRE A AUTORA
Gisele Mendonça, cientista social, mestre em sociologia, participante do Zum Zum de Mães e, principalmente, MÃE! Tem um blog chamado Conexão Profunda, visite www.conexaoprofunda.com.br e curta a página no facebook Conexão Profunda
Os ensaios do dia a dia apontavam-no para uma portinha que se abria, rumo à primeira grande separação, a escola.
Criamos um clima de véspera, aparentemente saudável, na intenção de prepará-lo para a mudança.
Mas o bom diálogo se tornou vivência antecipada e ansiedade, com direito a vômito e à febre no primeiro dia de adaptação.
Apesar de tudo, ele quis ir e me ensinou sobre superação.
Chorou, ficou só um pouquinho, para ter vontade de voltar no dia seguinte. Assim aprendi a lição de que não precisamos chegar ao nosso limite.
Feito a expressão popular “o gato subiu no telhado” foram os demais dias de adaptação, tudo bem devagarinho, ao tempo dele.
A cada olhar cabisbaixo, as professoras se revezavam e olhavam-no nos olhos, como se quisessem tocar seu coração.
E se não resolvesse era o meu coração que aparecia, até que em pouco tempo as lágrimas que caíam ficaram escassas diante do novo mundo que se abria ao seu redor.
O cheiro da chuva, os animais soltos, o pique esconde, a areia que esfrega e afaga, a música, a ciranda, as mãos dadas com o amiguinho ao lado, o joelho ralado.
Um espaço para os sapatos. O quê? Meu filho vai pisar com seus pesinhos limpinhos no chão?
Não só pisou como se sentiu livre para brincar e se conectar com os seus desejos e emoções.
E foi assim, de camarote, que eu assisti a espontaneidade correr livre leve e solta pelo ar.
Em pouco tempo fui colocada na coxia desse lindo espetáculo, para me preparar para o grande dia.
E ele chegou, veio a galope, bateu à porta e me convidou para passear.
Olhei pelo vão da maçaneta e senti um clarão cegar meus olhos marejados da saudade que ainda estava por vir. Sim, era eu quem não estava pronta para partir.
Olhei ao longe, como quem fingia ter que se despedir de alguém para sair e avistei uma criança, rindo às gargalhadas.
Ah, era ele, o meu menino. A claridade penetrou em meus pensamentos, que me fizeram enxergar a felicidade fora de mim.
Não, ele não me viu, pensei e virei-me para ir embora. De repente, ele levantou os bracinhos e acenou em minha direção.
Com um tchau certeiro, mostrou-me que estava inteiro e que era chegada a hora de eu ser o personagem principal desta nova atuação.
Esse texto foi escrito por Lígia Freitas, Mãe do João e Participante do Zum Zum de Mães.
@ligiafreitasescritora
Eu sou uma pessoa agressiva. Isso não me define, mas o fato é que sou agressiva, em muitas situações e de várias formas. Não é fácil pra mim falar sobre isso, mas decidi tentar, porque esse lugar da escrita despretensiosa me cura de alguma forma. Antes de continuar, te peço gentilmente, não me julgue, acolha a minha história assim como estou tentando me acolher diariamente.
Pois bem, a realidade é que sou agressiva na fala, sou agressiva no toque. Quando a raiva já não cabe mais dentro de mim ela esbarra em quem está por perto. Eu grito, eu sou mal educada, eu sou ríspida, eu agrido verbalmente… Mas também, já agredi fisicamente, já apertei e deixei marcas e isso fez meu coração se despedaçar… Doeu tanto ver o reflexo da agressividade que me habita que não me perdoei ainda. Eu acredito que nada nesse mundo justifica uma agressão, e logo eu, sou agressiva. O problema é que eu não consigo prever, não consigo antecipar e na hora que vejo, já estou repetindo o padrão… É desafiador e muito frustrante e de uns tempos pra cá (desde os Divinos Dois anos do meu filho) tem sido doloroso demais…
Recentemente me dei conta que, aquilo que eu sempre ouvi a aeromoça dizer antes da decolagem sobre as máscaras de oxigênio, é a dica de ouro da vida! É urgente se cuidar para poder cuidar. Se eu não me nutrir de alguma forma, não estiver conectada comigo mesma, como poderei nutrir o outro e me conectar com o outro? A conta não fecha e já não vem fechando há algum tempo por aqui… O último episódio em que perdi o controle, não me lembro nem mais o motivo, mas a cena ainda revivo na minha memória… Perdi a razão, fui lá pro cérebro reptiliano, a emoção tomou conta e a adulta saiu de cena. Segurei com muita força os bracinhos frágeis do meu maior tesouro, daquele que me iniciou nessa infinita jornada de auto conhecimento e responsabilidade. Perdi o chão, perdi o controle, perdi a razão e a minha criança tomou conta e num flashback quase que instantâneo, me lembrei de uma cena recorrente da minha infância : minha professora da primeira série me chacoalhava. Num relance me lembrei que eu já era adulta, que aquilo não passava de uma lembrança. Me senti uma mãe-fraude e me senti muito desamparada e com muita muita muita raiva dessa professora. Me dei conta naquele momento de que eu precisava de ajuda, não dá mais pra sustentar essa agressividade.
Me dei conta ao decorrer dos dias, que eu preciso de um tempo pra mim, que eu preciso me cuidar para oferecer o melhor cuidado para meu filho e para quem me cerca. Ao escrever, o choro ainda vem, é fato, a raiva também, e fica uma tristeza por me sentir tão impotente diante de algo que já conheço e não consigo controlar apenas por saber que existe. No entanto, já consigo identificar qual o caminho preciso seguir em busca dessa cura, e isso para mim é um enorme passo!
Agradeço ao meu marido que, dentro de suas limitações, me acolhe, me aponta, me faz refletir e me incentiva, sem saber conscientemente, a me conhecer melhor e buscar meus caminhos de cura.
Agradeço infinitamente ao meu filho que, no auge da sua pureza, me ama como eu sou e esse amor ilumina as minhas maiores e temerosas sombras que por sua vez, também me conduzem ao caminho do auto conhecimento e da auto responsabilidade.
Por fim, agradeço ao ZumZum6 que me fez mergulhar ainda mais profundamente na minha alma, me possibilitando uma escuta acolhedora e amorosa para a minha história (que não é melhor nem pior do que a de ninguém, mas é a minha história).
E por último agradeço a você, que me lê, me sente e se conecta com essa minha história. Gratidão pela escuta, pelo acolhimento e pelo respeito com as minhas dores, minhas sombras e desafios, que fazem parte de mim, mas não definem que sou.
Ahow
Este Texto foi escrito por: Iara Schmidt (participante do ZumZum 6)
Iara é mineira, e como boa sagitariana é uma viajante nata e buscadora de si. Mãe de um aquarianinho nascido em fevereiro de 2016 – fonte do puro amor e inspiração infinita – realizou da gestação ao puerpério ritos de passagem que transformaram – e continuam transformando – sua essência.

Quando nós escutamos falar sobre vínculo e conexão muitas vezes queremos uma fórmula que sirva para todas as mães e para todos os filhos, não é mesmo?
E se tivesse essa fórmula talvez fosse bem mais fácil, já que só precisaríamos seguir o passo a passo, usando mais o nosso lado racional, a nossa mente.
Contudo, quando vamos para a vida real com uma, duas, três ou mais crianças, as coisas não são uma ciência exata, como gostaríamos que fosse, não é mesmo?
E é aí que mora a grande oportunidade…
Oportunidade de cada uma descobrir o seu jeito, através da observação deles e de nós mesmas… Através da entrega para essa relação, para conhecer os seus filhos e para se conhecer nesse processo.
E ainda de despertar a sua intuição para entender as necessidades do seu filho.
Foi nos primeiros meses de vida, quando minha filha ainda era tão pequena que descobri um grande segredo:
“_ Se você quiser ter vínculo e conexão com sua filha, vai precisar ter disponibilidade emocional para isso”. Assim eu pensei.
E, não posso negar que já havia estudado sobre o assunto, porque para mim não é algo natural falar sobre sentimentos, entender as emoções. Precisei fazer um movimento para conseguir praticar isso e sigo aprendendo.
Estar presente fisicamente não é a mesma coisa que estar presente emocionalmente.
Estar presente emocionalmente precisa ter um contato olho no olho, precisa se interessar pelo que o outro está dizendo de forma verbal ou não verbal. Até mesmo com os bebês conseguimos fazer isso, eles se comunicam conosco e sentem-se ainda mais necessitados por essa conexão.
Então comecei a trabalhar mais isso comigo mesma…
Quando minha filha ainda era bebê, procurei conversar muito.
Conversava sobre a rotina, sobre o que eu estava fazendo, se fosse trocar a fralda, por exemplo, já começava a falar antes que iria trocar a fralda e, durante, contava o que estava fazendo. Para que ela se sentisse mais calma sabendo o que iria acontecer e o que estava acontecendo.
Nessa fase de bebê que ainda não tem muita interação, eu também usava muito o toque, as massagens, ficar no colo, no sling e o próprio contato da amamentação. Isso auxiliava muito que ela se sentisse mais calma, principalmente porque até 3 meses e meio ela ainda tinha muitas cólicas.
Também comecei um movimento de falar sobre sentimentos. Mostrar que eu entendia o que ela estava sentindo. E conforme ela foi crescendo e desenvolvendo a linguagem, ensinei que reconhecesse seus próprios sentimentos e como ela pode fazer para se acalmar.
E às vezes falava sobre os meus sentimentos, sobre o que eu estava vivendo, mas deixando claro que aqueles sentimentos eram minha responsabilidade e não estavam relacionados com a minha filha, pois ela é um motivo de muita alegria. Também procuro não responsabilizar outras pessoas pelo que estou sentindo, principalmente quando converso com ela, para que ela não crie uma imagem negativa de outras pessoas, devido a algo que eu falei.
Apenas, busco falar como estou me sentindo e que estou olhando para aquela situação e procurando um jeito de melhorar.
Quando fazemos essa comunicação com os nossos filhos, também é importante deixar claro que você é o adulto da situação, que você consegue se cuidar. Para que a criança não gere uma crença de que precisa cuidar de você.
Comunicar-se verdadeiramente com os filhos é colocar em palavras aquilo que eles já estavam percebendo e muitas vezes sentindo também. Eles percebem e sentem o que está acontecendo, mas precisam de um adulto para auxiliá-los a traduzir de forma racional.
Quando minha filha tinha ainda 10 meses, tive uma experiência bem marcante com a “Comunicação Mãe e Filho”. Na época eu estava passando por uma situação de muita oscilação de humor, desequilíbrio emocional e havia começado o curso da Clarissa. Aprendi com ela e com a médica e psiquiatra Dra. Eleanor Luzes sobre a comunicação que liberta nossos filhos de sentir as nossas dores. Às vezes eles tomam para si essas dores, como se fossem deles, numa tentativa de trazer à tona para a consciência da Mãe ou do Pai aquilo que não está sendo visto.
E nessa época, mesmo eu estando presente 24 horas com minha filha eu estava passando por uma situação bem desafiante e, se quer entendia o que estava acontecendo comigo.

Comunicando com seu filho
Minha filha apresentava o seguinte comportamento, ela ainda não focava os olhos, ainda não olhava direto para os olhos das outras pessoas, não conseguia focar para olhar direto para objetos também.
E aquilo começou a me incomodar, principalmente porque eu já havia percebido que tinha relação com o que eu estava sentindo e vivendo.
Então usei a técnica de conversar no sono REM. Você sabe o que é sono REM?
Segundo o Instituto do Sono, o sono REM caracteriza-se pela atividade cerebral de baixa amplitude e mais rápida, por episódios de movimentos oculares rápidos e de relaxamento muscular máximo. É a fase onde ocorrem os sonhos. O sono não REM e o sono REM repetem-se a cada 70 a 110 minutos, com 4 a 6 ciclos por noite.
REM significa Rapid Eye Movement (“movimento rápido dos olhos”), sabe quando seu filho ou um adulto está dormindo e os olhos ficam se mexendo?
É aquele momento que você coloca seu filho para dormir depois de um bom tempo e ele está em um sono “mais pesado” e não acorda. Nessa fase a criança pode sorrir ou chorar dormindo e mesmo assim não acordar.
Então, em uma certa noite depois de colocá-la no berço, esperei um pouco até ter certeza que não iria acordar e comecei a falar sobre os meus sentimentos.
Falei que estava tomando consciência sobre o que estava acontecendo e que já estava cuidando disso, para que ela não mais precisasse dividir aquilo comigo no nosso processo de fusão emocional. Também aproveitei o momento para contar sobre o parto e sobre algumas situações que talvez tivessem deixado algum trauma. Pedi desculpas por algumas coisas também.
Depois dessa conversa que tivemos, no outro dia ela já estava focando mais o olhar! Naquela semana, gradativamente, ela passou a focar o olhar!
Foi uma experiência mesmo incrível e para mim ficou evidente o poder que tem essa comunicação.
Durante o dia eu já conversava sobre os sentimentos, mas falando de um jeito que uma criança entendesse. Já no sono REM, segundo a Dr. Eleanor, podemos falar como se fosse com um adulto.
Essa comunicação diária, estabelecer um diálogo, ouvir a criança, olhar nos olhos, se interessar pelo que elas querem nos dizer com palavras ou por linguagem não verbal, gera uma ligação forte entre pais e filhos.
Essa disponibilidade emocional de observar, sentir e acolher a criança é um investimento na relação familiar e, certamente, a longo prazo você perceberá cada vez mais os resultados da confiança que estabeleceram juntos.
Ainda, eu não poderia deixar de contar sobre a importância que vejo em brincar com minha filha. Nas brincadeiras conseguimos reforçar tudo isso que falei anteriormente, sobre o diálogo, ter empatia e gerar conexão.
E tem um ponto que considero fundamental: quando brincamos com os filhos eles enxergam em nós uma amiga.
A cada dia que passa, aprendo mais e mais… criar filhos não tem mesmo um manual, mas sinto que quando buscamos nos conhecer, entender a nós mesmas fica mais fácil para entender e conhecer também os nossos filhos.

Disponibilidade emocional
Ter disponibilidade emocional para algumas pessoas pode ser natural, mas para outras pode ser algo bem desafiador, pode ser que você tenha que criar um novo hábito.
Crescemos e nos desenvolvemos com base nos valores, nas nossas crenças, aquilo que recebemos e aprendemos. E é bem comum que na sua criação possa não ter tido um espaço para o diálogo e, talvez, até falar sobre sentimentos fosse visto como um sinal de fraqueza.
Contudo a vida é agora. A medida que eu reconheço e vou cultivando gratidão por tudo que aconteceu, da forma que aconteceu, honro minha história, minhas raízes e me fortaleço para ir além daquilo que recebi.
Somos quem somos por termos vivido exatamente o que vivemos.
Quanto mais pudermos cultivar essa gratidão, mais podemos olhar para trás com amorosidade e usar essa força de amor e gratidão para construir a história que queremos ter com os filhos e com o marido.
A vida em família é começar e recomeçar…
Ainda está em tempo de fortalecer esses laços, esse vínculo com seus filhos.
Imagine-se com 80 anos, como você vai querer contar a sua história? Como você vai querer contar a história da sua família?
Nossa família, nossos filhos são o principal legado que deixaremos nesse mundo. Nossos filhos são a continuidade da nossa história e dos nossos antepassados. São o principal caminho para construirmos a paz no mundo!
Essa paz que precisamos encontrar em nós primeiro e depois expandir para o mundo!
A vida em família tem seus desafios, mas também pode ter paz, alegria e amor. Desperte o seu olhar para tudo que tem de bom na sua vida hoje e construa uma vida melhor para você e sua família!
Com carinho,
Priscilla Soares.
Autora:
Esse texto foi escrito por: Priscilla Soares, Coach de Mães, participante do Zum Zum e autora do Blog http://www.maecomcarinho.com/
Auxilia a mãe a conciliar sua vida pessoal, familiar e profissional com mais equilíbrio e a melhorar seu relacionamento familiar.
Contato: [email protected]
« Página anterior —
Próxima página »