“Pailhaço”

Certa vez, um pai perguntou ao pediatra como conquistar o seu filho de apenas dois anos de idade.

O pediatra explicou-lhe sobre a importância de participar mais da rotina do filho: levá-lo na escola, ajuda-lo com a alimentação, com o banho e etc.

Pensei na dificuldade que o homem enfrenta na nossa sociedade para ser um pai presente, pois a ele sempre foi negado o direito de sentir, de se expressar, de se conectar com o próximo, de ninar um boneco, de se permitir.

Pensei, também, no fio invisível e magnético que aparece entre um adulto e uma criança, quando há uma relação de afeto, liberdade e criatividade envolvida.

Em outras palavras, quando o adulto se utiliza de uma comunicação lúdica para manter contato com a criança.

E ao falar desse assunto, não tem como não se lembrar do curta-metragem de animação espanhol, chamado Alike, dirigido por Daniel Martínez Lara e Rafael Cano Méndez.

A animação conta a história de um pai, que inserido na rotina pesada de trabalho de uma cidade grande, fecha os olhos para os anseios de criatividade do seu filho.

Ao percebê-lo infeliz, o pai oferece liberdade para o filho sonhar e criar. O filme termina em poucos minutos e nos deixa com um desejo indescritível de abraçarmos nossos filhos e abrirmos um novo canal de comunicação.

Precisamos enxergar as nossas crianças, dando-lhes asas para voarem, olhos para partirem e mãos para se apoiarem ao cair.

Uma criança que pula e dança sem parar pode não ter qualquer transtorno, mas simplesmente querer ser bailarina.

Um menino que não presta atenção na aula, mas somente na natureza lá fora, pode se tornar um grande fotógrafo da fauna silvestre.

Lembrei-me do circo, que encanta a todos, indistintamente.

Então porque não levamos o circo para dentro de nossas casas?

Provoquemos inovação, criatividade, superação de obstáculos e de frustação. Afinal, o que mais a vida irá exigir das nossas crianças no futuro?

Sobre aquele pai aflito no pediatra. Aguardei-o sentar ao meu lado, na sala de espera e disse-lhe: para conquistar o seu filho, torne-se um “pailhaço”. Jogue-se no chão, faça uma piada, provoque uma boa risada e não tenha medo de bancar o trapalhão. Depois você me conta se deu conexão!

Esse texto foi escrito por Lígia Freitas, Mãe do João e Participante do Zum Zum de Mães.

@ligiafreitasescritora