Responder esta pergunta é algo bem pessoal. Ninguém é capaz de julgar quantos filhos formam uma família ideal. Um? Dois? Três? Quatro? Ou quem sabe nenhum? Cabe apenas ao casal tomar esta decisão.
Hoje, é cada vez mais comum encontrarmos famílias que optam por ter apenas um filho, ou nenhum. Muitas mulheres já planejam isso desde muito jovem, antes mesmo de se tornarem mães. Mas é verdade também que, grande parte delas, faz esta escolha depois que já tiveram seu primeiro filho.
As razões?
A que mais escuto por aí é: “Filho é muito caro e quero ter condições de dar uma vida boa para ele, a melhor escola, alimentação, saúde, as melhores roupas, os melhores brinquedos…”. Quando ouço algo desse tipo, me pergunto se realmente é isso que os pais pensam, ou se há algo implícito nesta resposta. Não que não seja verdade que filho é caro e que não seja importante se planejar financeiramente para ter filhos. Mas acredito que há algo escondido por detrás de respostas assim.
A verdade é que filho dá trabalho. Filho bagunça não só a casa, mas a vida da gente. E infelizmente a grande maioria de nós não se prepara para ser mãe ou pai, a gente imagina que quando o filho nasce a gente aprende tudo o que precisa instantaneamente. Acreditamos que é como nas novelas, nos comerciais de TV, nos filmes… o bebê bonitinho, dormindo, sorrindo… o casal feliz da vida, vida profissional e social a todo vapor. Só que não!
Quando um bebê nasce, por mais “tranquilo” que ele seja, é como se um furacão tivesse passado pela família, tira tudo de lugar. Eu coloco aqui o tranquilo entre aspas, pois acredito que não existam bebês tranquilos ou nervosos. Como já comentei em outros textos, por estarem em fusão emocional com a mãe, bebês refletem aquilo que ela trás consigo, consciente ou inconscientemente. Em geral, o primeiro filho tende a ser mais “agitado”, pois a mãe geralmente está muito agitada diante de toda a mudança que está vivenciando.
Para as mulheres que antes de ser mãe não tinham uma rotina bem definida, essa mudança não é tão significativa. Mas tem aquelas que são extremamente organizadas, que gostam de fazer tudo bem certinho e no horário. Por exemplo: Acordar, ficar um pouco na cama pensando/meditando, tomar um banho, tomar café, se exercitar, organizar a casa/trabalhar, almoçar, descansar uns minutinhos… enfim, tudo no horário. Quando se tem um bebê, para a grande maioria é praticamente impossível manter a rotina com horários pré estabelecidos, pelo menos até os 6 meses enquanto o bebê mama em livre demanda. Depois, aos poucos, a gente vai conseguindo se organizar com a agenda novamente. E para as mamães de primeira viagem, principalmente para quem não pode contar com ajuda, o impacto dessa mudança é forte. Muitas vezes a gente come comida gelada, fica o dia inteiro de pijama, faz xixi ou cocô com a cria no colo, consegue tomar um “banho de gato” minutos antes de se deitar… É um pouco louco a gente pensar sobre isso, mas é a realidade nua e crua. Quando a Laís era bebê, quantas vezes me senti super mal por não ter conseguido preparar uma refeição e ter que recorrer a marmita. Hoje, consigo priorizar as minhas atividades, procuro me manter consciente no momento, e agradeço pelo que já consegui fazer. No início o meu foco era naquilo que eu ainda precisava fazer. Quase pirei, mas me adaptei a mudança de rotina.
Para mim, esta é a mudança mais significativa, tanto para o homem, como para a mulher, que por sua vez, começa a perceber de maneira bem sutil que sua identidade está mudando quando se descobre grávida. É quando o bebê nasce que a ficha cai realmente e ela se torna Mãe e o homem se torna Pai. Falando assim, parece tudo muito simples, mas só vivendo na pele para entender o peso dessa mudança. É estranho pensar que antes você era apenas filha, mulher, esposa, profissional. E agora você é além de tudo isso (e principalmente) Mãe. O mais engraçado é que a grande maioria das mulheres tem a imagem de mãe como sendo aquela mulher forte, guerreira, que tudo sabe, que tudo suporta. De repente a gente se torna mãe e tem que se tornar tudo isso junto, mas como?
Começa então um trabalho de desconstrução da mãe ideal para a mãe real. E aliado a isso, é necessário aceitar a nova identidade. Por mais que a gente insista que ainda é a mesma pessoa, aos poucos a gente vai percebendo que não tem como ser a mesma pessoa depois que se torna mãe.
Por mais que muitas mulheres digam que a vida profissional não será impactada com a chegada do bebê, acredito que isto seja raro, sobretudo nos primeiros anos após o nascimento (até uns 2 ou 3 anos). Afinal, qual é a mãe que consegue ficar 100% focada no trabalho com um bebê que ainda está em fusão emocional com ela? E mesmo nos casos em que a mãe trabalhe em casa, a disponibilidade para a vida profissional fica bastante comprometida.
Para as mães que trabalham fora, o fim da licença maternidade é geralmente muito doloroso. Algumas optam por se desligar do trabalho, outras gostariam de fazer o mesmo, mas por questões financeiras precisam voltar. Muitas descobrem com a maternidade, que o emprego ou a profissão atual não fazem mais sentido, e mudam radicalmente, se reinventam. Eu mesma estou em fase de reinvenção e mudança de carreira. Em breve vou escrever um texto só sobre isso para compartilhar com vocês.
Em muitos casos, o retorno ao trabalho implica em deixar o bebê em creches ou em escolas o dia inteiro. O período de separação é muito longo, e por isso este é um momento bastante delicado tanto para mãe e bebê, que até então estavam acostumados a ficarem o dia todo bem grudadinhos. A maioria dos bebês, que já estavam dormindo bem durante a noite, começa a acordar mais, pois é o modo que eles encontram para “aproveitarem” a presença da mãe. Além disso, alguns manifestam doenças, febres, deixando a mãe ainda mais preocupada e desfocada do trabalho.
Passada esta etapa inicial, a criança passa a se interessar mais pelo mundo que não seja a mãe. Nesta fase, para algumas mamães a vida profissional começa a voltar ao normal, mas para outras, ela nunca mais será a mesma.
Cinema com o marido ou com as amigas? Lembro que a última vez que fui ao cinema foi quando estava grávida da Laís, com uma amiga, pois na época Rafael estava viajando.
Barzinhos, baladas, festas, carnavais…? A última “balada forte” que fui, eu também estava grávida da Laís, foi um show de axé do grupo Timbalada.
Para as “mamães baladeiras” como eu, a vida social muda bastante. Algumas podem sentir muito essa mudança, mas para mim foi a mais tranquila. Acredito que por ser talvez a única mudança que já era esperada. Na verdade eu tinha comigo a crença que mãe não tem vida social. Apesar disso, cheguei a me aventurar em 2 festas de casamento quando Laís ainda não tinha nem 3 meses, e também fui em um barzinho que estava tocando pagode, em um sábado a tarde, quando ela tinha acabado de completar 4 meses. Nos casamentos até que foi bem tranquilo (ela dormiu quase o tempo todo), mas no pagode ela não curtiu muito o som e acabamos indo embora logo. Depois disso, comecei a me dar conta que, mesmo sendo eventos durante o dia, alguns não são apropriados para bebês e crianças e reforcei a crença que eu tinha que mãe não tem vida social.
Se eu sinto falta da vida de baladas? As vezes sinto saudades, vontade de ir em algum show, curtir um axé… Para quem não sabe, eu e meu marido nos conhecemos graças ao carnaval de Salvador. Apesar da saudade, não fico triste por não poder realizar os mesmos programas de antes, pois a felicidade e a alegria que os filhos hoje me proporcionam são maiores do que qualquer tipo de balada. Além disso, através de um processo de Coaching que participei, consegui ressignificar a antiga crença. Hoje, acredito que filhos não nos impedem de ter vida social, apenas a transformam. Meus programas hoje são outros: passeios em parques, festas de aniversários de criança, alguns restaurantes apropriados (por enquanto apenas no horário do almoço…rs), passeios em shoppings, sorveterias, almoços com amigos em casa, e outros tipos de atividades apropriadas para bebês e crianças.
Há quem acredite que filho “segura” marido. Há quem acredite que o relacionamento do casal não será “remexido” com a chegada dos filhos. E existem os casais que têm filhos.
É praticamente impossível um casal que tenha tido filhos e que o relacionamento amoroso não tenha mudado. Não estou falando aqui apenas das relações sexuais, estas a gente já sabe que são bastante afetadas, sobretudo no início. De qualquer forma, é válido lembrar mais uma vez que a mulher está em fusão emocional com o bebê e toda sua energia está dedicada para atendê-lo, nutri-lo, cuida-lo. Não existe neste momento espaço e disposição para sexo e até os hormônios colaboram para isso. Mas, não é sobre isto que quero falar, e sim sobre a mudança na forma de se relacionarem. Homem e mulher já não são as mesmas pessoas, mudaram de identidade, agora são Pai e Mãe. Portanto é necessário que aprendam a se relacionar novamente com estas novas pessoas que surgiram. É um desafio!
Por isso, é crescente o número de divórcios após o nascimento dos filhos.
Na grande maioria das relações, pai e mãe estão tão perdidos com a nova identidade que não sabem mais como se relacionar. Há muita expectativa entre ambos, pouco diálogo. A mulher, geralmente exausta física e emocionalmente, acha que o homem não esta colaborando como deveria, se vitimiza, se frustra. O homem, na grande maioria das vezes, não sabe como ajudar. Alguns se ocupam de trocar fraldas, ao invés de apoiar a mulher emocionalmente. Não que o pai não deva trocar fraldas do bebê, claro que ele deve e pode fazer isso. No entanto, o ideal é que o pai tenha condições de dar todo o suporte para a mulher a fim de que ela possa maternar tranquilamente.
Além disso, antes do nascimento do primeiro filho, geralmente a mulher acaba por sustentar emocionalmente o homem. Quando chega o bebê, todo o apoio que ela dava ao marido é agora exclusividade do recém-nascido. O pai sente-se excluído, sem lugar.
Este é só o começo de um emaranhado de mudanças na vida do casal. Apesar de muitos conseguirem se reinventar e aprenderem a se relacionar novamente, infelizmente, inúmeros relacionamentos não se sustentam após a chegada dos filhos. Outros se fragilizam bastante, o casamento se mantém, porém não existe mais relação amorosa.
Aqui em casa passamos por vários perrengues, mas a vontade de permanecermos juntos em prol do nosso amor, dos nossos filhos, e da nossa família, falou mais alto. Seguimos em constante mudança, buscando nossa essência, com o objetivo de sermos os melhores pais que podemos ser. Temos nossas diferenças, discutimos, nos perdoamos e nos reconciliamos. Escolhemos amar.
É muita mudança que um simples bebê trás, né?
Mas na vida, tudo são fases. O bebê cresce, algumas demandas diminuem, e algumas coisas começam a voltar para algum lugar próximo do que era antes da chegada do filho…
Gosto de imaginar uma cidade que foi atingida por um furacão, e depois precisa se reestabelecer novamente. O tempo para reestabelecer é único para cada cidade e depende muito dos seus gestores, dos recursos disponíveis para investimento, e principalmente de ajuda externa de outras cidades/estados/países, outros governos. Algumas cidades se reerguem melhores do que antes, outras infelizmente não conseguem se reconstruir, mas nenhuma delas será a mesma.
Muitas das cidades se prepararam para a chegada deste fenômeno natural avassalador, e mesmo assim não saem ilesas. O fato é que, no momento em que se esta bem no olho no furacão, ninguém quer de novo viver aquela experiência. Mas depois, para as cidades que conseguiram se reerguer e se preparar novamente, quando o próximo furacão chegar, tudo vai ser diferente. Lógico que muita coisa vai sair do lugar de novo, estruturas serão abaladas, algumas coisas que não foram remexidas pelo primeiro furacão vão ser remexidas pelo segundo, ou pelo terceiro… Todavia, a cidade estará mais forte e mais consciente. Infelizmente, para as cidades que não se reestruturaram, que não aproveitaram as oportunidades de aprendizagem que o primeiro furacão trouxe, a chegada do segundo pode ser ainda mais avassaladora.
Mas graças a Deus não somos cidades, e nossos filhos não são furacões de verdade. Gosto apenas de usar essa metáfora para mostrar o porquê tantas famílias que antes desejavam ter mais de um filho, após o nascimento do primeiro desistem dos demais. Eu mesma, no auge do puerpério, cheguei a pensar na possibilidade de ser apenas “mãe de uma”. Porém, com o passar dos dias, fui aprendendo, me fortalecendo, me empoderando… fui em busca do autoconhecimento para ser a melhor mãe que eu poderia ser. Além disso, apesar de toda reviravolta que um filho trás consigo, é tanta coisa boa que vem embutida que muitas vezes nos esquecemos de olhar para “o estrago”. E logo veio a saudade da barriga, a saudade do recém-nascido… e junto com isso a vontade de deixar para o mundo pessoas melhores… e quando Laís tinha 1 ano e 6 meses eu engravidei do Gael, como já comentei com vocês no texto anterior.
Somos seres humanos, racionais. Temos a possibilidade de escolher aquilo que julgamos melhor para nossa vida, temos a chance de mudar de idéia quando queremos. Tudo bem se antes você queria ter três filhos e agora quer ter apenas um. Só você sabe a intensidade do furacão que passou pela sua cidade e o quão difícil foi ou está sendo para reconstruí-la. Entretanto, não se engane! Não conte “historinhas” para você mesma, dizendo que mudou de idéia por que filho é muito caro.
Eu também concordo que filho é muito caro. Mas mais do que caro, filho dá trabalho. Exige disponibilidade, autoeducação, mudança de prioridades, autoconhecimento. Filho mexe com aquilo que a gente nem sabia que tinha para ser mexido…e dói! Mas filho também é benção, é graça, é a esperança de um mundo melhor, é amor desmedido, é oportunidade de evolução pessoal. Filho é milagre, é vida!
E lógico, se um filho já é tudo isso, dois filhos é tudo dobrado (nem tão ao pé da letra assim). É exaustivo, principalmente se você não tem ajuda. É punk no começo lidar com as emoções do mais velho que sente que ficou de lado. Mas é lindo ver o amor de um pelo outro crescendo. Eu imaginava que seria muito mais desafiador. Confesso que já estou com vontade do terceiro. Ops, já passou! Brincadeiras a parte, esta é uma decisão que ainda não tomei. No momento sigo com a idéia de ser mãe de dois, mas daqui um tempo, quem sabe…
Agora você decide se quer ou não viver as aventuras de um novo furacão na sua vida. Não estou escrevendo este texto para dizer que você deve ter mais de um filho, nem que você deve ter apenas um. Como eu disse lá no começo, essa é uma escolha pessoal e delicada.
Ser mãe de um, de dois, de três, ou de quatro, é um desafio, mas é também uma benção.
Quero apenas que você pare, respire fundo e reflita de forma consciente sobre suas escolhas:
– O que fez você decidir ter apenas um filho?
– O que fez você decidir ter mais de um filho?
– O que é para você ser mãe?
– Como você se sente sendo mãe?
– Você, que é mãe apenas de um filho, consegue se imaginar tendo mais filhos? Como se sente?
Aproveito para deixar duas dicas para quem planeja ter mais de um filho:
1- Prepare-se, no real sentido da palavra. Leia, informe-se, estude, eduque-se, conheça-se, conecte-se consigo mesma e com seu filho… Liberte-se das expectativas! Cada gestação é única e diferente, cada parto é único e diferente, e cada filho é único e diferente. Vão existir as semelhanças entre eles, mas não espere que seja 100% igual.
2- Prepare seu filho. Converse com ele, explique o que está acontecendo, leia livros sobre irmãos, mostre fotos de quando estava grávida dele e de quando ele era um bebê…. Seja honesta e diga que a vida de vocês vai mudar, que vai ser desafiador, mas que vai ser gratificante também.
E independente da escolha que você fizer, que seja a melhor!
Texto escrito por Amanda Balielo, Mãe da Laís e do Gael, Coach de Mães e participante da turma 4 do Zum Zum de Mães.
@amandabalielocoach
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