Estes dias tive um insight poderoso para o meu momento: confiar é não se desesperar quando as coisas saem diferente do planejado! Recentemente, tenho observado de perto minha necessidade de controle, minha raiva crescente quando as coisas fogem do planejado e, com crianças, isto sempre acontece! Ou seja, a gente dificilmente consegue sair na hora que queríamos, com a roupa que gostaríamos e, no fim, estamos sempre diferentes do que tínhamos imaginado e… Uau, quando finalmente conseguimos sair, agradecemos pelo feito!
No momento, minha filha tem três anos e simplesmente empaca em alguns pontos. Ou seja, às vezes ela cisma com a roupa, com o sapato, com a bolsa ou com o brinquedo que quer levar. Por vezes, parece uma necessidade de ser do contra. Contudo, em outros momentos parece uma miniatura minha nos meus momentos de insegurança, conferindo se peguei tudo, se posso melhorar algum aspecto… Ah, este meu perfeccionismo que tanto me atrapalha e que quando vejo refletido nela me irrita tanto. Aliás, quando vejo nela percebo o quanto me atrapalha viver e desfrutar os momentos com maior leveza!
E, quando o assunto é viagem, então! Nossa, eu viro uma máquina de planejar diferentes cenários e necessidades que precisam ser satisfeitas ou contempladas de algum modo!
Certa vez, escutei esta metáfora e ela nunca mais me saiu da mente porque inúmeras vezes me pego neste movimento! Isto é, ao invés de DESFRUTAR o pudim, me permitindo sentir todo sabor delicioso que me traz, eu observo o que está faltando, o que poderia estar melhor. Desta forma, estrago o momento, o pudim e me condeno a buscar uma idealização de perfeição que simplesmente não existe!
Vale ressaltar que esta característica minha já foi mapeada há tempos, mas percebo que há um vício sociocultural de procurar o que está errado. Por exemplo, quando você se olha no espelho o que suas vozes internas te dizem? Quais são mais fortes? Ou então, quando você arruma seu filho para uma festa ou um momento importante para você, o que pensa? Ah, por que ele quer usar duas peças estampadas? Nossa, já comprei um sapato mais novo, mas ele insiste em usar este surrado?!
De fato, temos vozes internas que nos insuflam olhar exatamente para o buraco do pudim. Afinal, vivemos numa sociedade do consumo que nos estimula constantemente a querer comprar algo para tapar este “buraco” do pudim. Desta forma, nos esquecemos que é o buraco que traz a forma do pudim e que ao invés de algo a ser preenchido, poderia ser algo a ser contemplado!
Neste sentido, é preciso reconhecer que o perfeccionismo é uma meta impossível e que, errar e lidar com o que falta, é tão importante quanto aprendermos a desfrutar o que já temos!
Nos últimos meses, me propus a refletir intensamente sobre suficiência e como ela reflete na minha vida e na vida que eu quero viver! Inclusive, fiz esta reflexão também sobre merecimento em muitos de meus artigos do Conexão Profunda. O resultado têm sido uma busca muito intensa de significado e propósito com reflexões muito potentes e curativas no sentido de perceber que é preciso construir novas sinapses (caminhos cerebrais).
Isto porque, nosso cérebro constrói caminhos para “facilitar nossos processos!” Mas, às vezes, estes caminhos nos fazem viver no automático em direções que não gostaríamos de estar seguindo. Por exemplo, esta tendência perfeccionista que me faz querer controlar as coisas, prever possíveis erros e planejar tudo antecipadamente.
Deste modo, reconheço que meu perfil garante trabalhos bem executados, uma dedicação com a qualidade do que eu entrego. Contudo, me demanda tempo, certo sofrimento por conta da ansiedade e me atrapalha DESFRUTAR das coisas com leveza. E a solução para isso é buscar a suficiência das coisas, dos momentos, da minha própria capacidade de fazer as coisas.
Inclusive, percebo que vivemos tão estressados e ansiosos tentando corresponder às expectativas, julgamentos e valores de escassez. Em outras palavras, quanto tempo passamos nos sacrificando pelo futuro ao invés de simplesmente desfrutarmos o presente em sua inteireza?
Desde que o universo materno começou a fazer parte do meu mundo, conheci a frase popular: “Quando nasce uma mãe, nasce uma culpa!” E, apesar de achar muito aprisionadora esta frase, por vezes me pego neste movimento de me sentir culpada, errada ou insuficiente!
Vale ressaltar que o controle, o planejamento e esta parte excessivamente mental sempre estiveram muito presentes na minha forma de lidar com o mundo. Entretanto, agora percebo mais profundamente como este vício mental, por vezes, me atrapalha encontrar satisfação com as escolhas que faço, com as decisões que tomo.
Por isso, acredito que na vida mais complexa com família, ter clareza do que realmente importa faz uma diferença enorme! Então, estou buscando refletir e observar que é possível construir novas sinapses, um caminho que passe pelo equilíbrio e pela suficiência. Desta forma, tenho aprendido que é preciso ceder e parar de buscar o ideal, mas ficar feliz com o feito. Ou seja, é preciso DESFRUTAR O CAMINHO ao invés de focar na meta, no ideal e perfeito (inexistentes).
“Caminhante, não há caminho, o caminho se faz ao caminhar”. Antonio Machado
Neste processo de encontrar a suficiência, percebi a necessidade de parar de brigar comigo mesma pela perfeição! Em algum ponto eu entendia que não buscar o perfeccionismo era fazer as coisas de forma desleixada. Contudo, o livro da Brené Brown A Coragem de Ser Imperfeito me trouxe outra perspectiva sobre o assunto:
Para alguns, o perfeccionismo pode surgir apenas quando estão se sentindo particularmente vulneráveis. Para outros, o perfeccionismo é compulsivo, crônico e debilitante – ele parece um vício.
Independentemente de nos encaixarmos num ou noutro tipo, se quisermos estar livres do perfeccionismo, precisamos fazer a longa travessia do “O que as pessoas vão pensar?” para o “Eu sou o bastante”. Essa jornada começa com resiliência à vergonha, amor-próprio e aceitação. Para assumir a verdade sobre quem somos, de onde viemos, em que acreditamos e sobre a natureza imperfeita de nossa vida, precisamos estar dispostos a pegar leve nas cobranças e apreciar a beleza de nossas falhas e imperfeições; precisamos ser mais amorosos e receptivos com nós mesmos e com os outros; e precisamos conversar conosco da mesma maneira com que conversamos com alguém que amamos. (p. 98)
De antemão, peço perdão pela longa citação, mas considerei importante e valiosa as palavras literais da autora! Nesta passagem existem inúmeros aspectos que estou refletindo e trabalhando em meus artigos. Todavia, aqui gostaria de registrar a importância de encontrar suficiência em nosso relacionamento conosco para transbordar isso para nossos filhos e para o nosso Universo.
Muitas vezes, eu me sinto num palco sem tempo para pausas e elas me fazem falta! Atualmente, sou mãe em tempo integral e estou sendo observada o tempo todo! Isto me faz não ter espaço para exercitar lados meus que eu sei que não são “exemplares” para minha filha! Ou seja, eu quero gritar, xingar, chutar a porta e chorar sem precisar dar satisfação quando estou passando pelo perrengue. Mas a situação que tenho no momento é pedalar para a bicicleta não cair e isto implica precisar lidar comigo e com minha filha ao mesmo tempo.
Por vezes, meu marido que está trabalhando em casa, me socorre. Em outros momentos, eu mesma preciso recolher os cacos de mim e explicar para minha filha coisas que nem eu mesma consigo entender sobre mim em alguns momentos!
Agora, ela já entendeu que às vezes eu só preciso chorar e ela sussurra na porta: “espira, mamãe!” Ou seja, respira, rs! Outras vezes que eu me descontrolo e grito, ela me diz: “Calma, eu te ajudo!” E, mais recentemente ela me olhou num destes momentos e me disse: “Você quer um abraço?” Nestas horas, o meu descontrole passa e eu nem entendo como entrei naquele estado.
Entretanto, também já vivi episódios dela perceber minha irritação e rir repetindo o comportamento que estava me irritando. Ah, como às vezes é difícil SER o que a gente quer VER no mundo, como diria o Gandhi!
Às vezes me lembro do filme “Efeito borboleta” e penso que mesmo se eu desenhasse o script do jeito que minha mente martela ser o melhor, minha vida não seria tão perfeita como eu idealizo! Ou seja, o pudim precisa do buraco no meio para ser pudim! Provavelmente, minha filha precisa presenciar alguns momentos de descontroles meus para se inspirar a lidar com as próprias emoções!
Vale ressaltar que nossa educação, nossa sociedade e cultura nos estimulou a jogar a “sujeira” para baixo do tapete e fingir que ela nunca aconteceu! Aliás, as redes sociais é onde mais percebo esta tendência! Agora, eu me pego num trabalho de olhar toda a “sujeira escondida ” dentro de mim para ir aprendendo com ela. Isto quer dizer, ir reconhecendo minhas sombras, me vulnerabilizando e desconstruindo pilares que já não fazem mais sentido na minha história!
“O melhor trabalho político, social e espiritual que podemos fazer é parar de projetar nossas sombras nos outros” Jung
Gratidão pela leitura! Namastê! _/\_
SOBRE A AUTORA
Este texto foi escrito por Gisele Mendonça, cientista social, mestre em sociologia, participante do Zum Zum de Mães e, principalmente, MÃE!
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