Recentemente, assisti ao filme Beleza Oculta com Will Smith, um ator que me inspira e sempre me traz reflexões valiosas! Super recomendo o filme para aqueles momentos em que a gente está exausta! Sabe aqueles momentos em que a filha fica doente, a gente fica doente e gostaríamos de pedir pra descer do mundo, rs?!
Pois bem, assisti ao filme num destes momentos desafiadores e a sessão de inalação nem foi necessária! Isto porque o filme é ótimo para desobstruir os canais lacrimais e respiratórios, rs! Brilhantemente, o filme faz uma reflexão sobre três aspectos centrais em nossa vida: a morte, o tempo e o amor! Convido você para refletir um pouco a respeito, claro, sem prejudicar quem pretende assistir ao filme. Tratarei de cada um destes aspectos sob minha perspectiva reflexiva!
De início, preciso confessar que evito filmes sobre a morte e dramas do gênero! Entretanto, no dia em que assisti ao filme eu percebi que estava precisando enfrentar meus medos. Desta forma, me propus a olhá-los de frente para viver com mais profundidade, com propósito… Neste ponto, confesso que o trailer do filme já me deixou emotiva. Afinal, trata da dor de um pai que perdeu sua filha e resolveu escrever cartas para o Universo.
A morte sempre me pareceu traiçoeira, pois pega a gente desprevenida e, de surpresa, muda tudo! Geralmente, é um risco que eu prefiro nem pensar. Entretanto, muitas vezes, a vejo como um obstáculo que me impede de viver plenamente! Às vezes, lembro da sensação de medo intenso, de algo acontecer e aquele serzinho tão especial parar de respirar. Nestes momentos fica visível a fragilidade da vida!
Por outro lado, ah, como a vida deixaria de ser especial se não tivéssemos o contraponto da morte! Esta foi a inspiração que senti com o filme, o grande clichê, mas que sempre vale ser repetido: “Estamos morrendo o tempo todo!” E a grande questão é: como fazemos cada segundo valer a pena?!
Esta reflexão me insuflou de energia e passei a ver as coisas numa outra perspectiva. Isto é, mais distanciada do cansaço, do medo, da dúvida e enxerguei o milagre da vida. Ah, que missão cansativa ser mãe, mas que presente e que milagre testemunhamos cotidianamente! Desde o desenvolvimento daquela sementinha até a etapa de formação de frases e argumentações, que nos tiram a paz em muitos momentos! Vale a pena não perder de vista a preciosidade da vida e, infelizmente, muitas vezes quem nos mostra isso é a morte.
Nesta nossa sociedade onde o tempo voa de uma forma inimaginável, sinto que tenho muita dificuldade de estar presente e desfrutá-lo como ele merece! Inclusive, posso compartilhar uma experiência recente que me fez refletir muito a respeito do tempo! Para comemorar o aniversário de minha filha decidimos fazer uma pequena viagem para “resetar” nosso sistema. Assim, fomos para Joanópolis, uma cidadezinha perto de São Paulo com lindas montanhas e muita muita muita calmaria!
O que fazemos com o tempo quando podemos olhá-lo com profundidade? No início, sentimos o desconforto de quem está num carro em alta velocidade e inesperadamente pisa no freio. Simplesmente, a hora não passava e eu sentia uma ansiedade de fazer e acontecer, uma ansiedade de me divertir e aproveitar! No entanto, tudo saiu diferente do que eu planejava: chuva num lugar em que a atração eram cachoeiras! Confesso, escolhemos um lugar com uma proposta minimalista exatamente porque queríamos conexão profunda com nós mesmos e com a natureza! Contudo, minha filha de três anos parecia ter outros planos, que divergiam totalmente do que eu havia idealizado!
De repente, me vi precisando lidar com a energia de uma criança e com a minha frustração por ter imaginado uma viagem totalmente diferente! Nesta oportunidade eu pude olhar profundamente para minha necessidade de controle, para o meu apego aos meus planos, metas e idealizações. E, independentemente de minha frustração, as vaquinhas continuavam se deslocando nas montanhas na linha do horizonte que eu enxergava ao longe.
Enquanto isso, minha filha queria mais e mais atenção, parecia um reservatório sem fim de energia e solicitações. O tempo dela era o Aqui e Agora para ser aproveitado intensamente! Na verdade, este é o único tempo que todos nós temos a despeito de quaisquer fantasias de futuro ou passado.
O amor está em tudo! É certo que, muitas vezes, não conseguimos ver ou ele se esconde, mas está lá quando nos dispomos a enxergá-lo! Sei que parece fácil falar isso quando não sei os desafios que você enfrenta! Mas acredito que recebemos vários convites cotidianos para olhar o copo meio cheio ou o copo meio vazio!
Este filme me lembrou de algo que eu sei, mas vez ou outra esqueço: a vida é um presente! Nossa família, nossos desafios são oportunidades incríveis de crescimento e aprendizado, é preciso olhar para elas como tal!
Um dos principais objetivos do meu passeio à Joanópolis era conhecer a Cachoeira dos Pretos, uma linda cachoeira acessível com crianças! Entretanto, lá eu não me senti como imaginava que me sentiria. Não sei explicar, mas não consegui a Conexão Profunda que eu esperava estabelecer. Ao invés disso, me sentei e chorei, chorei e chorei. Ali eu me permiti sentir toda a raiva que eu estava contendo, todo o medo que eu vinha escondendo e fiquei olhando o rio que a cachoeira formava contornando as pedras.
Aos poucos toda aquela emoção represada veio à tona e eu limpei minha alma chorando! Quando olhei para minha filha, ela estava curiosa olhando para mim. Então, conversei com meu marido e assumi a responsabilidade plenamente consciente das minhas emoções e frustrações, de todas as minhas idealizações e tentativas de controle.
A partir disso, simplesmente soltei e foi assim que vi minha filha aproveitando a natureza, a amplitude, os animais. Neste momento, em que aceitei o que era para ser, percebi a satisfação dela ao ter a nossa atenção completa para ela! Assim, notei que a simplicidade a fazia feliz e que a beleza e o amor estavam em aceitar o que É e simplesmente SER com o momento!
A beleza oculta está na sutileza dos gestos, dos momentos e dos sentimentos. Muitas vezes, sabemos que existe beleza, mas simplesmente a esquecemos entretidos com a pressa do dia-a-dia, a preocupação com as expectativas ou com aspectos práticos da vida! Quantas vezes olhamos para nossa vida com olhos de amor, de gratidão, admirando a preciosidade que temos ao nosso alcance?
Em muitos momentos, mesmo numa pequena viagem comemorativa, ainda temos dificuldade de soltar e deixar fluir. Assim, ficamos represando emoções, rígidas no controle, idealizando e querendo fazer a vida caber dentro de nossas expectativas! A beleza oculta da vida, PARA MIM, está exatamente na fluidez de aceitar que o que é simplesmente SEJA! Isto representa um de meus maiores desafios: ACEITAR! Simplesmente, contemplar e aceitar sem querer mudar, transformar ou controlar…
Ao contemplar a Cachoeira dos Pretos e observar tanta água fluindo eu entrei sim em Conexão Profunda, rs! Inclusive, foi muito mais profunda do que eu podia imaginar, porque me permitiu SENTIR toda emoção que eu estava tentando controlar. Nas minhas lágrimas tinha muita raiva pelas idealizações que faço e não consigo realizar, muita mágoa pela sensação de insuficiência e impotência diante da vida. Apesar de saber que o caminho não é pela mente, por vezes me pego ainda nesta trilha… Observar toda aquela beleza manifesta da cachoeira me permitiu transbordar as emoções que me inundavam e que, sem sucesso, eu tentava sufocar.
Ao escrever este artigo percebo que minha Conexão Profunda não pode ser romantizada e idealizada com uma sensação gostosinha de enraizamento e segurança. Em alguns momentos minha Conexão Profunda vai passar por caminhos tortuosos de dor, mágoa, raiva e tantas emoções que eu aprendi a conter para “ser uma boa menina!”
Tenho escolhido um caminho de cura de mim mesma através da maternidade, da observação de minha criança ferida e de inúmeros processos de autoconhecimento. Esta busca nem sempre mostrará uma estrada repleta de flores e é preciso parar de negar a existência do espinho. Na verdade, este foi o insight do filme: é preciso ver a beleza oculta do espinho.
Escolher caminhos diferentes implica pagar preços diferentes. Algumas vezes, pesa muito a decisão de não seguir a manada! Em diversos momentos, fico receosa sobre minhas decisões! Há sempre o medo de errar, de não ser perfeita como gostaria! E, claro, por mais que saibamos que não existe perfeição e que os erros são grandes aprendizados, queremos o melhor para nossos filhos! Sabe-se lá por que imaginamos que este “melhor” seja algo perfeito, idealizado, controlado, planejado e escalonado numa planilha de Excel!
Entretanto, a vida não cabe numa planilha! A maternidade esfrega isto na nossa cara o tempo todo e quanto mais resistimos e queremos controlar, maior é o sofrimento! Minha conclusão disso tudo é que preciso ler muito mais o que eu escrevo; sentir minhas emoções com muito mais liberdade e fluidez; soltar meus medos e necessidades de idealização e controle! E vale o mantra: entregar, confiar, aceitar e agradecer!
Gratidão pela leitura! Namastê! _/\_
SOBRE A AUTORA
Este texto foi escrito por Gisele Mendonça, cientista social, mestre em sociologia, participante do Zum Zum de Mães e, principalmente, MÃE! Tem um blog chamado Conexão Profunda, visite www.conexaoprofunda.com.br e curta a página no facebook Conexão Profunda e siga no instagram gm_conexaoprofunda