Vivemos tempos de crise: econômica, política, social, familiar… Aliás, crise é a palavra do momento. Todo mundo adora falar em crise! Mas adoro frases que enaltecem a importância das crises quando olhadas sob outro prisma:
“Em chinês, a palavra ‘crise’ tem dois caracteres. Um representa perigo e o outro oportunidade.” – John Kennedy
Quando olhamos sob a perspectiva da oportunidade abrimos o cenário do aprendizado contínuo, do desenvolvimento pessoal e do crescimento em níveis que jamais poderíamos supor anteriormente!
Acho que é unânime a ideia de que um filho muda tudo, absolutamente tudo! Eles mudam nossa ideia de mundo, de relacionamento, de família, de relações sociais E, principalmente, a nossa própria relação conosco! Negar isso é fechar os olhos ao óbvio, buscar anestesiar todas as feridas e se fechar à todos os sintomas de crise que a chegada de um filho promove! Dá para ser feito, mas costuma apresentar uma conta alta e cheia de juros no médio e longo prazo!
Bem, como já comentei em outros artigos eu tinha a falsa impressão que conseguia controlar as coisas. Eu sou o tipo de pessoa que gosta de prever, se organizar e se preparar para o que tiver que ser… Entretanto, a maternidade me reservou a crise, ou melhor, a oportunidade de ACEITAR o caos e aprender com ele!
Agora, vou definir CAOS para ficar mais fácil compreender: A casa bagunçada; minha agenda desorganizada; minhas prioridades devastadas; meu autocuidado comprometido; minha relação com meu marido congestionada de afazeres, cobranças, carências e medos… E eu perdida de mim mesma, cheia de afazeres e sem disponibilidade para outro compromisso que não fosse com minha filha!
Vale a pena iniciar este tópico com a famosa frase:
“Aquilo a que você resiste, persiste”. Carl Jung
Por um certo tempo eu tentei resistir! Mentalmente, eu elencava tudo o que eu queria e precisava fazer. Porém, no meio do dia já estava frustrada, porque minha energia tinha sido esgotada e nem sequer havia iniciado minha lista! Acho que frustração resume muito bem a minha relação com o cotidiano depois que minha filha nasceu!
Eu queria manter o corpo, a mente, as habilidades e tudo o que representava um certo sucesso da Gisele antes da maternidade! E o caos da minha vida me mostrava que não era possível! Na verdade, o caos esfregava na minha cara que a maternidade é um caminho sem volta e com muito menos glamour do que eu tinha imaginado! Leia também Identidade Feminina após a Maternidade
Foi neste cenário que me inscrevi no ZumZum de mães! E, assim, fui percebendo que a dificuldade para se reencontrar e se reorganizar, interna e externamente, não era privilégio meu! Consequentemente, esta consciência me fez perceber que eu não estava sozinha e que o eu sentia era “normal”. Na verdade, se tratava de uma enorme oportunidade para me conhecer e trabalhar tantas e tantas questões!
Nesta perspectiva, o principal foi me desconectar de toda a crítica que minha mente insistia em repetir! A partir disso, resolvi que simplesmente ACEITARIA o caos, ACEITARIA aquela bagunça e desorganização externa que refletiam, certamente, tudo o que estava dentro do meu íntimo!
Geralmente, quando ACEITAMOS tudo o que nos incomoda, somos capazes de desapegar do problema! Assim, ampliamos nossa visão para a solução das dificuldades, para a riqueza do aprendizado que elas nos trazem! Claro, sei muito bem que isso não é um processo simples, exige muita clareza e consciência!
O Zum Zum de mães me trouxe as ferramentas necessárias para eu começar a estruturar uma transformação interna! Desta forma, comecei a ver luz no fim do túnel, percebi que era possível retomar meu poder interno, mas ele seria diferente! Ou seja, diferente de minha necessidade de prever e controlar, agora dizia respeito à minha capacidade de ser flexível e aprender com as situações criadas ou apresentadas pela minha filha!
Sobretudo, era preciso sair da vitimização convidativa e ASSUMIR A MINHA RESPONSABILIDADE para LIDAR com o que quer que estivesse acontecendo! Vale ressaltar que RESPONSABILIDADE É DIFERENTE DE CULPA! A responsabilidade nos empodera enquanto a culpa nos enfraquece e reforça nossos medos nos prendendo num círculo vicioso destrutivo! Leia também Como dissolver a culpa e MERECER a felicidade!
Agora, ao invés de ficar obcecada pelo controle era preciso me vulnerabilizar e perceber onde é que estava o nó. Por muito tempo, fomos educadas a pensar que ser forte era negar necessidades emocionais básicas! Contudo, cada vez mais percebo que este tipo de “força” esmaece ao primeiro brado da vida! A força interna é conquistada a partir da consciência das próprias vulnerabilidades. Vale a pena assistir ao excelente vídeo TED O poder da Vulnerabilidade de Brené Brown.
Novamente, convém espantar o fantasma da vitimização! Afinal, o processo de vulnerabilização exige muita coragem e auto responsabilização para verificar onde é preciso curar!
“Assumir a nossa história pode ser difícil, mas não tão difícil como passarmos nossas vidas fugindo dela. Abraçar nossas vulnerabilidades é arriscado, mas não tão perigoso quanto desistir do amor e da pertença e da alegria – as experiências que nos tornam mais vulneráveis. Só quando formos corajosos o suficiente para explorar a escuridão vamos descobrir o poder infinito da nossa luz”. Brené Brown
No meu processo, fui tomando consciência de minha excessiva necessidade de controle, do meu medo da bagunça, da desordem… Claro, confesso que sou fã de programas e leituras que estimulam a organização! Mas a grande questão era o mal estar da situação e eu me sentindo como um cachorro correndo atrás do rabo! Pois bem, um dia parei de correr e resolvi olhar aquele ciclo com certo distanciamento e objetividade!
Um dos exercícios que mais gostei do Zum Zum foi o Mapa de Intenções Familiares! Esta ferramenta me situou da distância em que eu estava de onde queria chegar quando minha filha fosse adulta e pensasse sobre mim como mãe e sobre nosso lar! De forma muito simples e objetiva eu percebi que estava na contramão do caminho que desejava percorrer. Inclusive, acho que estava trilhando, inconscientemente, um caminho já conhecido pela minha própria criança! Leia também Maternidade: uma oportunidade de curar sua criança interior!
Convidei meu marido para fazer o Mapa e, desta forma, estruturamos o que eu gosto de chamar de Diretrizes Básicas! Ou seja, pontos nos quais eu posso flexibilizar, mas não devo me desviar! Foi assim que estruturei regras para a nossa rotina que me trouxeram mais segurança, tranquilidade e autonomia para maternar do meu jeito!
Iniciei 2019 cheia de planos para melhorar minha rotina! Confesso que já experimentei alguns arranjos e continuo fazendo ajustes e redesenhos em busca de melhorias. Entretanto, querida mãe desesperada, vale ressaltar: NÃO EXISTE FÓRMULA MÁGICA, NEM RECEITA DE BOLO! Há o que eu gosto de chamar de Diretrizes Básicas: princípios dos quais eu não abro mão, porque estão diretamente relacionados ao meu MAPA DE INTENÇÕES FAMILIARES!
Estas diretrizes básicas funcionam como minha bússola para não me perder no caminho dos meus objetivos, descritos no Mapa! Desta forma, eu sei onde quero chegar, sei o que preciso levar no caminho, mas permito à minha filha ir me mostrando as melhores formas e as melhores trilhas a serem percorridas! Assim, eu atendi em parte minha necessidade de prever e controlar, mas também me coloquei mais presente e entregue aos aprendizados da vida!
Sob este prisma eu estruturei algumas regras mais genéricas que contribuem para o meu bem estar, da minha casa e família. Por exemplo: refeições são feitas à mesa e sem eletrônicos! Deste modo, eu busco garantir a atenção na comida, no convívio em família e na tranquilidade da refeição! Muito raramente fazemos exceções, por exemplo em viagens, mas buscamos sempre voltar à diretriz que é a concentração e união da família na hora das refeições!
A rotina acredito que seja a parte mais desafiante para mim, porque tenho a tendência de me entediar facilmente! Entretanto, vejo a importância fundamental que criar uma constância de hábitos faz na minha vida e na vida da minha família! Então, busco associar a rotina à rituais que sejam significativos para mim!
Assim, no exemplo das refeições à mesa, eu construí o ritual de agradecer antes de comermos! Trata-se de algo simples: unimos nossas mãos e agradecemos pela comida e pela companhia! Às vezes, incluo uma vela; às vezes, dispenso o beijo da minha filha e às vezes, incluo o pedido de paciência extra para aquele dia, rs! Deste modo, percebo que trazemos muito mais presença e consciência para o momento que estamos desfrutando juntos! Para refletir um pouco mais, vale à pena assistir ao vídeo 4 Como Criar um Ambiente Seguro para o Desenvolvimento do Seu Fillho(a) que está dentro do Programa Limite na Medida Certa!
Volta e meia me vejo desafiada pela minha mente me dizendo que está tudo errado, que tudo deveria ser diferente, que eu tenho que… E, nestas horas, já conheço o discurso de autopunição e exigências de meu perfeccionismo! Então, olho para minha filha e observo como ela desfruta o momento sem ansiedade, sem crítica, sem autopunição, apenas PRESENTE! Por vezes, ela me convida a entrar na brincadeira dela e percebo quão especial é este momento! Logo, penso que faço o melhor que posso dentro das circunstâncias e consciência que tenho no momento e isso aquieta minha mente e alegra meu coração!
Gratidão pela leitura! Namastê!
SOBRE A AUTORA
Gisele Mendonça, cientista social, mestre em sociologia, participante do Zum Zum de Mães e, principalmente, MÃE! Tem um blog chamado Conexão Profunda, visite www.conexaoprofunda.com.br , curta a página no facebook Conexão Profunda e siga no instagram gm_conexaoprofunda