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Como você se sente quando seu filho começa a fazer pirraça?
Uma birra “daquelas” no meio da rua, do shopping, do supermercado, na hora de ir para a Escola…
Fica com vergonha?
Se sente frustrada, impotente?
Sente raiva, tristeza, irritação?
Muitas vezes me senti assim e confesso que as vezes ainda me sinto.
Sei bem o quanto estes conflitos emocionais que nossos filhos vivenciam “tem o poder” de acessar uma série de emoções dentro de nós.
E quando nos damos conta já atuamos de maneira agressiva com as crianças e perdemos totalmente o controle da situação. Depois disso só nos resta a culpa e o arrependimento por tratarmos nossos filhos de uma maneira que nem de longe é a que gostaríamos.
Transformar nossa maneira de atuar frente a uma pirraça não é uma tarefa nada fácil. Mas é possível, especialmente quando existe dentro de nós uma vontade real de fazermos diferente da maneira que aprendemos, um desejo de redesenhar a nossa maneira de ser e de educar nossos filhos.
Quando meu primeiro filho nasceu senti este chamado intenso, uma vontade de fazer diferente, de buscar novas possibilidades para questões antigas. Minha vontade era trilhar junto com meu pequeno um caminho mais autêntico, no qual o respeito e o amor pudessem ser a base que forma este chão firme para caminharmos.
E juntos ainda estamos trilhando este caminho, agora com mais um companheirinho (meu segundo filho) e a cada dia encontro mais possibilidades reias para lidar com as pirraças e com outros conflitos que vivenciamos.
Tenho que confessar que há alguns anos atrás eu sequer sabia que a pirraça era um conflito emocional. Pensava que o João queria me testar, que estava fazendo manhã, que estava cansado e precisava somente de descansar, que era egoísta e não sabia dividir e uma série de outros julgamentos que passam pela cabeça da maioria das mães, não é verdade?
Com o tempo fui descobrindo que o “buraco é mais em baixo”, que aquilo que ele estava vivendo era sim um conflito emocional e que faz parte de um processo muito importante do desenvolvimento infantil. E nós pais por não compreendermos isso, acreditamos que é pessoal, que nossos filhos estão fazendo para nos deixar com raiva e acabamos reagindo aquela situação. Gritamos, castigamos, recompensamos, chantageamos, agredimos, etc, fazemos qualquer coisa para que a criança volte ao seu “estado normal” o mais rápido o possível, sem se quer observar o que realmente está acontecendo com ela.
Por trás destes conflitos e comportamentos desafiadores de nossos filhos sempre há uma necessidade da criança que não está sendo atendida e a forma que ela tem de demonstrar isso muitas vezes é gritando, esperneando, chorando, batendo, etc.
No momento que decido parar, observar e compreender o que está acontecendo de fato com meu filho, posso escolher formas mais assertivas e respeitosas para lidar com estes momentos tão intensos.
Vou compartilhar com vocês os cinco passos para superar as pirraças que me apoiam a fazer escolhas mais conscientes na hora que observo que meu filho está fazendo uma pirraça (inspirados no trabalho da Rosa Jové):
Em linhas gerais isso significa que a criança por volta de 2 e 3 anos vive um processo de individuação, no qual ela começa a se perceber com um ser independente da sua mãe. E a maneira mais simples que ela encontra de nos dizer o que está acontecendo é negando as nossas escolhas. Ou seja, ela vai dizer NÃO para muitas das coisas que propusermos a ela.
Aquela criança que antes era extremamente dependente dos seus cuidadores, que cooperava e fazia o que era solicitado começa a mostrar que está crescendo, que deseja fazer escolhas diferentes, que quer experimentar o mundo por “si mesma”.
É importante entender que ela NÃO está te testando, te desafiando. Ela simplesmente está crescendo e experimentando como é ser autônoma e livre.
Permitir que a criança faça suas próprias escolhas é extremamente importante para sua auto estima e auto confiança.
No meu e-book Limite na Medida Certa explico com mais detalhes este processo de diferenciação.
Uma criança emocionalmente satisfeita, que tem suas necessidades básicas de amor, atenção, conexão e cuidados atendidas, não quer tantas coisas.
Querer coisas é um substituto de uma necessidade básica. Um ambiente caloroso (contato com o adulto que cuida, que está atento) previne a maior parte das dificuldades das crianças pequenas.
No momento que seu filho te pedir algo PARE e PENSE, antes de responder imediatamente. Pergunte-se se é perigoso ou nocivo o que a criança está fazendo / solicitando? O mais importante é zelar pela vida humana. Agora de acordo com minha experiência poucas coisas que as crianças fazem são realmente perigosas a ponto de colocar a vida delas em risco.
Quantas vezes gastamos nosso “pouco” tempo junto dos pequenos e o restinho de energia que nos sobra para ficar com eles, brigando para que eles usem as roupas que desejamos, ou para que comam a última colher do prato, ou para que entrem no banho naquele exato segundo? Muitas vezes uma roupa pode atentar contra o “bom gosto”, mas dificilmente atentará contra a vida da criança.
Nosso papel de pai e mãe é cuidar do ambiente no qual a criança vai se desenvolver, criar um espaço seguro e adequado para que nossos filhos possam se movimentar livremente. Quando eu cumpro meu papel com excelência, posso deixar que meu filho “faça o que quer”!
Por exemplo quando a criança pega uma faca e começa a fazer uma pirraça porque eu “tirei”o objeto de sua mão, é importante que eu reconheça que a responsabilidade muitas vezes é minha por deixar a faca ao alcance dela, ou não? O mesmo acontece com uma guloseima ou algo que não quero que ela coma.
Se assumo a responsabilidade de cuidar deste entorno, deste espaço que cerca e da limite para as crianças posso deixar que ela experimente “aquele mundo” com liberdade. Somos nós pais e mães que definimos as fronteiras, os limites, as regras, que vão guiar os caminhos de nossos filhos. Ali naquele espaço “previamente” preparado com amor, responsabilidade e levando em consideração as necessidades básicas da crianças eu posso permitir que ela se movimente com liberdade e faça o que quer.
O fato da criança se movimentar de maneira autônoma, livre e experimentar os resultados das suas ações sem a rejeição paterna, ou a intervenção constante dos mesmos, apoia o desenvolvimento de um ser confiante, forte e motivado a desvendar os mistérios da vida.
Observe quais são os momentos que seu filho faz mais pirraça. Essa é a chave para que você descubra o que é uma tentação para seu filho e como evita-la em seu dia a dia.
Geralmente crianças fazem pirraça em supermercados querendo doces e guloseimas ou quando estão “passeando” em shoppings ou na hora que interrompemos seu brincar para fazer alguma atividade rotineira como tomar banho, comer, dormir, não é verdade?
Agora te convido a refletir sobre os momentos que os conflitos acontecem com seu filho! Será que você tem alguma idéia de como transformar estes momentos desafiadores e conflitivos em espaços de mais tranquilidade e cooperação? Como poderia evitar boa parte das birras e pirraças?
Minha sugestão é que a partir da sua observação atenta destes momentos, você faça pequenas mudanças de hábitos e atitudes que terão grande impacto na vida familiar.
Por exemplo estabeleça uma rotina que atenda as necessidades de sono, alimentação e movimento do seu filho e respeite os horários com constância, mas sem rigidez. Se pergunte se é necessário levar a criança para o supermercado, shoppings, festas e outros ambientes com excesso de estímulos que são pouco indicados para crianças pequenas.
Estas e outras pequenas mudanças podem evitar grande parte das pirraças. Observe seu filhote e a rotina familiar e comece a fazer pequenas mudanças, sempre atenta ao que é uma “tentação” para seu pequeno!
Quantas vezes julgamos nosso filhos por suas atitudes? Que menina feia… Mas assim você está muito bobo… Que egoísta não quer emprestar seus brinquedos pro amigo… Assim você está chato… Menina bonita come tudo… Que menino mais mal educado, não quer beijar a vovó…
Já se perguntou qual o impacto de frases como essa na vida do seu filho? Tudo que a criança quer na vida é ser amada, especialmente por seus pais. Ela ama e confia plenamente em você!
Será que consegue imaginar o peso de uma frase como as que mencionei acima na vida deste pequeno ser que está construindo sua personalidade, que ainda não sabe muito bem quem é, como o mundo funciona, como as pessoas se relacionam?
Frases como estas podem marcar profundamente as crianças. Coloque-se no lugar do seu filho e tente observar o que você sentiria caso a pessoa que você mais ama falasse esse tipo de coisa para você!
Isso não significa que você não deve expressar o que pensa, ou que deve concordar com tudo que a criança faz. Você pode não estar de acordo com o que seu filho está fazendo, mas isso não significa que ele é melhor ou pior por se comportar assim. E como adulto você pode buscar maneiras mais assertivas de se fazer entender sem julgar seu filhote.
“-Meu amor a vovó chegou, vamos dar um beijinho nela?
– Não!
-Sabia que quando as pessoas vem em nossa casa elas se sentem muito feliz quando a gente recebe elas com um beijinho?
-Sabia!
-Então, vamos dar um beijinho na Vovó, ela está esperando!
-Não quero!
– Mamãe está percebendo que você não quer dar um beijinho nela (valido aqui o sentimento dele) e como podemos fazer então para que ela se sinta bem em nossa casa?
– Eu quero mostrar meus brinquedos para ela / ou Eu quero dar um beijo na mão dela / ou Quero dar um aperto de mão nela… (caso a criança não sugira nada você pode dar alternativas para ela!)”
É verdade!!! Chegará um dia que a criança terá uma linguagem mais clara e adequada para explicar o que deseja! E cabe a nós pais termos paciência e amor para acolhermos todo sentimento que vem das crianças durante as birras e pirraças, essa é a grande chave!!!