Quem nunca sonhou em amamentar seu filho? Antes da gravidez eu já sabia da importância nutritiva do leite materno! Sempre ouvia o Dr. Lair Ribeiro repetindo taxativamente que o leite materno é o melhor alimento do mundo! Lembro-me bem de um vídeo em que ele conta que milionários moribundos compravam leites das mães, ainda na maternidade, para ganhar um tempo a mais de vida!

Como se preparar?!

Quando fiquei grávida esta era uma preocupação: o que eu poderia fazer para garantir que minha filha desfrutasse desse benefício?! Minha médica sempre me orientou e tranquilizou a respeito do tema! Parecia que não havia muito o que dar errado, era mais uma questão de persistência! Entretanto, alguns relatos de amigas e colegas me assustavam e deixavam certa dúvida no ar!

Saber que minha mãe me amamentou somente até os 4 meses também me deixava um tanto intrigada. Mas tudo parece encoberto por uma névoa misteriosa até que você possa adentrar o mundo da maternidade!

Aos poucos fui descobrindo coisas que nunca sonhei! Eu que sempre adorei chá de hortelã ou menta, deveria tomar cuidado, pois ele não favorecia a produção de leite! Eu que sempre fui fã de aromaterapia, deveria ficar atenta para usar os óleos essenciais certos! Basicamente só fiquei tranquila com o óleo essencial de lavanda!

Eu já era adepta da acupuntura, mas serei eternamente grata à médica Karla Arana que me acompanhou durante o período de pré-natal! ( Excelente profissional que Deus colocou em meu caminho!). Além de sempre colocar o ponto de acupuntura bebê-feliz, rs, ela sempre colocava agulhas para estimular meu corpo na produção de leite!

Nesta fase da gestação o top less é liberado e apoiado pelo maridão, rs. Claro, só se for dentro do apartamento na fresta de sol que bate pela manhã! Brincadeiras a parte, sol no peito foi o que mais me falaram para fazer para prepará-lo para a intrigante missão que lhe esperava!

Realidade Nua e Crua

É fato que eu quis deixar as coisas fluírem, mas ir para uma cesariana de emergência por conta de baixa no líquido amniótico me deixou bem desconfortável. Na verdade, acho que esta não é a palavra, me deixou em pânico mesmo! Foi algo muito abrupto para minha personalidade planejadora e detalhista!

Eu sentia que não queria, não estava pronta, mas a pessoa que eu mais confiava neste processo era minha médica. Se ela dizia que era necessário, eu não ia discutir! Amo e confio muito no trabalho desta profissional, mas hoje vejo como eu não soube me empoderar durante minha gravidez! Fazemos o melhor que podemos com as condições que temos e foi assim que aconteceu!

Apesar de estar numa maternidade bem conceituada de São Paulo eu tenho horror de lembrar do tempo que passei lá! Especialmente por conta das enfermeiras! Apesar de não receber muitas visitas (tudo o que eu queria era ficar bem quietinha!), eu simplesmente não tinha um minuto de paz. Quando a bebê dormia elas vinham me acordar para medir temperatura, pressão, num excesso de precaução que beirava a paranoia. Eu sentia que havia um medo de que houvesse algo de errado e que elas fossem as culpadas! Ou seja, o clima era de medo constante!

Sou muito mais que meu peito

Quando minha filha teve o primeiro episódio de hipoglicemia eu fiquei bastante assustada. E quando notei um clima de nervosismo no ar, entre as enfermeiras, eu fui ficando bastante preocupada! Aquela confiança que minha médica foi me ajudando a conquistar no pré-natal em relação à minha capacidade de amamentar, sumiu na primeira acusação que ouvi, dizendo que meu bico não prestava!

De repente eu não era uma mulher que exigia cuidados, era uma mulher que não conseguia amamentar sua cria, porque seu bico não era do jeito que deveria! Passar da gravidez para a condição de parturiente foi bem traumático para mim! Antes havia um cuidado e depois havia um clima hostil! Lembro da grosseria da enfermeira quando me levou para tomar banho, ela me falava num tom que parecia que eu estava fazendo “corpo mole”. Eu a apelidei internamente de enfermeira do Hitler, tal foi a sensação de horror que ela me despertava!

Não é segredo que há inúmeras violências que ocorrem com as mulheres durante o pós parto. Confesso que me choca cada vez que ouço histórias a respeito e jamais imaginei que passaria por isso. Antes eu achava que havia um certo exagero, um certo melindre, inclusive. Mas depois do que vivi, e sei que foi pouco perto de muitos relatos, redobraria minha atenção dentro de instituições hospitalares!

Será mesmo que a amamentação é estimulada?

As propagandas enfatizam a amamentação, mas na realidade há muitas formas de desencorajá-la de forma sutil! E foi assim que aconteceu comigo! A primeira delas, na minha opinião, é o complemento! Por qualquer motivo, aliás para retirar qualquer possível responsabilidade do hospital, eles querem iniciar com o complemento. Eu me opus fortemente, mas fiquei com medo da hipoglicemia e concordei. Foi aí que diminuiu o interesse de minha bebê pelo meu peito.

O segundo movimento foi desqualificar o bico do meu seio como quem avalia uma vaca leiteira! Ali minha auto-estima que estava abalada, desceu muitos graus abaixo de zero! Fragilizada e com medo eu aceitava qualquer alternativa que resolvesse o meu suposto problema. Foi então que a solução foi apresentada como um bico de silicone acoplado ao meu peito, que facilitaria a sucção para a minha bebê! Afinal, elas diziam que ela era muito preguiçosa para mamar! (A bebê acaba de nascer, está APRENDENDO e já é rotulada como preguiçosa!!!)

O terceiro movimento foi incentivar o uso da mamadeira para dar o complemento para minha bebê na UTI. Apesar do risco de engasgar, de molhá-la toda, de ser mais difícil para ela, eu optei pelo copinho (exigia MUITA calma e paciência). A minha sorte é que eu nunca fui atraída pelas propagandas da facilidade! E depois, descobri que esta decisão foi fundamental para que minha filha não se desinteressasse completamente do meu peito!

Precisamos de apoio

Após conseguir amamentar com o bico de silicone acoplado ao meu peito, eu ganhei alguma confiança. Entretanto, novamente ela não estava comigo, estava depositada num objeto externo! O bico necessitava ser esterilizado e sempre me dava uma profunda sensação de incompetência, de peito defeituoso, de vergonha!

Com o passar de alguns dias comecei a sentir uma dor terrível para amamentar. Lembro que tinha que amamentar a cada 2 horas e sofria muito antes, durante e depois. Nunca sofri tanto na minha vida! Dependia de mim o bem estar de minha filha e aquilo me causava uma dor lancinante. Tive fissuras que nunca cicatrizavam, não importava o que eu fizesse (pomada, sol, banho de luz…).

Diante daquele cenário decidi procurar uma profissional especialista em amamentação: Cinthia Calsinski . Ela foi um anjo na minha vida, eu estava traumatizada com enfermeiras e só de pensar em falar com uma delas sobre minha dor era assustador. Detesto quando as pessoas não acreditam no que eu estou sentindo, especialmente porque sou uma pessoa muito atenciosa comigo mesma, com meu corpo! Quando digo que dói, não é frescura, é porque DÓI MUITO!

Quando conversei com a Cinthia, enfermeira obstetra, senti tanta delicadeza e compreensão que imediatamente confiei no trabalho dela. Com sua ajuda preciosa eu consegui amamentar sem aquele apetrecho de silicone! Apesar do medo e da dor, fiquei feliz por CONSEGUIR amamentar minha filha! A partir dali ela me deu um imenso suporte através de mensagens pelo whatsapp e eu fui ganhando confiança, surgiu uma luz no fim do túnel!

O alívio de um diagnóstico

Minha filha nasceu praticamente na entrada do inverno e eu tenho uma sensibilidade muito grande ao frio. Eu escutei diferentes pessoas aconselharem a colocar compressa fria/gelada no peito, porque senão corria o risco do leite empedrar. Este era outro sofrimento, pois com exceção do sorvete, detesto coisas geladas, ainda mais no peito!

Quando comentei sobre isso, a Cinthia foi a primeira a me dizer que eu precisava escutar meu corpo antes de escutar qualquer outra pessoa! Se o calor me trazia conforto, então era calor o que eu precisava! Comecei a usar uma bolsa térmica na região da barriga ou das costas, meus músculos relaxavam e então eu só sentia a dor no seio! Este foi um processo que a Cinthia foi acompanhando muito atentamente, porque minha dor não se concentrava no bico, irradiava para o peito. Após o período natural de adaptação, ainda não tinha melhorado.

Apesar de fazer tudo o que a Cinthia tinha me ensinado para aliviar minha dor, cicatrizar minhas fissuras, o processo estava muito lento e eu começava a perder minhas esperanças novamente. A tentação de usar mamadeira com complemento era imensa, porque estava sofrendo muito física, emocional e psicologicamente.

Segundo a enfermeira, a única hipótese que justificaria minha dor seria candidíase mamária, mas não havia o menor sinal de sapinhos na boca da minha filha! A pediatra do Convênio me olhou com desconfiança e descartou qualquer possibilidade! A Cinthia me esclareceu que, na maioria das vezes, eram os sintomas da mãe que caracterizavam a doença. Apesar disso, eu estava relutante em dar qualquer medicação para minha filha sem o consentimento da pediatra! Neste sentido, a Cinthia não tinha muito mais o que me recomendar, começamos a pensar que pudesse ser algum trauma psicológico em relação à região nas mamas… E ela foi extremamente atenciosa e cuidadosa para investigar o que acontecia comigo.

O que não te destrói, te fortalece!

Eu não aguentava mais sofrer e ficava muito triste por socorrer ao complemento ocasionalmente, quando entrava em desespero. Então, chorando implorei ao meu marido que desse o copinho com o complemento para minha filha. Lembro que tivemos uma discussão extravasando emoções e ele me disse: isso não está funcionando, vamos admitir e usar a mamadeira!

Era muito trabalhoso dar o complemento no copinho, em pleno inverno, o leite derramava e era aquele trabalhão! Uma noite, quando vi meu marido chegando com o copinho e minha filha vibrando, reconhecendo o copinho, senti uma pontada no coração. Eu me senti muito triste, me senti incompetente, foi terrível!

Neste clima de desespero, minha amiga Marcela sugeriu que eu fosse a Casa Curumim para receber orientações sobre como amamentar! Eu tinha vergonha, porque sentia tanta dor que dependia do meu marido colocar a bebê no meu seio, eu não conseguia me “auto-agredir”. Venci o medo, a vergonha e fui até lá! Fui ACOLHIDA de uma forma muito amparadora e saí de lá imensamente feliz. Eu estava fazendo TUDO certo, como a Cinthia já havia orientado, confirmado e reconfirmado. Então, a profissional que me atendeu sugeriu o mesmo diagnóstico, especialmente porque uma das fissuras virou uma bolha horrível no bico do meu seio.

Com mais uma pessoa com o mesmo diagnóstico eu resolvi não dar mais ouvidos à pediatra ou à ginecologista (que nunca tinha visto um caso como o meu!). Mesmo sem minha filha apresentar os sintomas, eu iniciei o tratamento para candidíase mamária e com persistência mantive a amamentação para manter a produção de leite! Levou uns 10 a 15 dias para dizer que eu conseguia amamentar sem dor!

Aprendizado

Neste processo tão doloroso saí empoderada, respeitando muito mais minha individualidade, minha sensibilidade e minha intuição! Eu fui forte, determinada e persistente, apesar de tantos obstáculos. Mas compreendo as mães que desistem da amamentação! Apesar de parecer que a amamentação é incentivada, há muitos obstáculos, muita desinformação e MUITA falta de acolhimento! O que mais vemos, na verdade, é julgamento, inclusive de outras mães!

Sinto que precisamos criar uma rede de amor em torno das mães para que possamos protegê-las num momento tão delicado! Se você está se sentindo fragilizada, busque uma forma de acolher-se, dê a você o colo que precisa, sua criança interior agradece e lhe ajudará com seu bebê que também reclama sua atenção! Falaremos mais sobre isso no próximo artigo! Mas quero deixar a mensagem para que você silencie as vozes externas e suas vozes mentais que te sabotam! Dê espaço para o silêncio dentro de você, somente assim você será capaz de escutar o seu coração e decidir o que é melhor para VOCÊ! Gratidão pela leitura! Namastê!

 

ESTE TEXTO FOI ESCRITO POR: Gisele Mendonça, cientista social, mestre em sociologia, participante do Zum Zum de Mães e, principalmente, MÃE! Tem um blog chamado Conexão Profunda, visite www.conexaoprofunda.com.br e curta a página no facebook Conexão Profunda

De 01 a 07 de agosto de 2018 aconteceu a Semana Mundial do Aleitamento Materno (SMAM). É uma semana de incentivo, informação e apoio à amamentação. Pra continuar no clima, resolvi escrever sobre o tema, o qual ainda gera muita polêmica, muitos julgamentos e muita falta de empatia.

Eu mesma já julguei.

Antes de ser mãe julgava a amamentação prolongada, achava horrível um bebê grande, com mais de um ano, mamando. Hoje, tenho consciência que este julgamento veio da minha criança ferida, que foi desmamada às pressas. Quando eu tinha apenas 6 meses minha mãe engravidou novamente, e a orientação que ela recebeu do seu médico foi desmamar. Ela fez o que de melhor podia ter feito, com a consciência que tinha naquele momento. Há 35 anos, era prática comum receber esta orientação. E hoje, infelizmente, também é. Mas graças a Deus existem alguns raros médicos que orientam a seguir com a amamentação durante a gravidez (o meu é um deles). Além disso, temos muito mais acesso à informação.

Quando estava grávida, julguei novamente. Depois de tudo que eu tinha lido, não fazia sentido para mim, uma mãe dizer que não tinha leite, ou que o leite era fraco. Para mim, essas mães é que eram fracas, afinal de contas, amamentar é fisiológico, não é mesmo? Até que Laís nasceu e eu entendi. Por vezes achei que não tinha leite suficiente, que meu leite era fraco, e que eu mesma era fraca. Por medo de minha filha estar passando fome, por quase dois meses complementei a amamentação com leite artificial. Chorei inúmeras vezes, me culpei… mas tive apoio, fui atrás de ajuda e de mais informação.  Hoje, quando vejo uma mãe que não conseguiu amamentar, ou mesmo que optou por não amamentar, consigo entender todas as dificuldades que a mesma deve ter passado, a falta de apoio e de informação. E indo um pouco mais a fundo, logo fica evidente que esta mãe também não foi amamentada.

Hoje, com toda informação que tenho, consigo olhar para trás e entender as reais causas pelo que passei. Tanto que a amamentação do meu segundo filho foi e tem sido extremamente mais fácil!

Mas não quero falar aqui sobre este fato. Talvez em outro momento, caso haja interesse, eu escreva a respeito dos desafios que vivi no início da amamentação, como superei, e o que aprendi.

Hoje, quero partilhar com vocês sobre uma experiência nada agradável que vivi, e que pra mim foi muito mais intensa e dolorosa, a “Perturbação da Amamentação”. Acredito que poucas de vocês já tenham ouvido sobre isso. Eu mesma nunca tinha ouvido falar, até que senti, não só na pele, mas no corpo todo, o desconforto que a tal perturbação trás.

Perturbação da Amamentação, o que é isso?

Como o próprio nome sugere, é um estado de desordem, desequilíbrio, confusão, durante o ato de amamentar.

É difícil descrever em palavras, é como se fosse uma rejeição do corpo à amamentação. Conscientemente a mãe quer amamentar, mas o corpo não. É uma sensação estranha, visceral, incontrolável. Pelo menos comigo foi assim. O que mais me deixava “perturbada” era não entender a razão pela qual eu sentia este desconforto apenas ao amamentar a Laís.  Com o Gael tudo fluía bem. Isto me destruía, pois eu sabia que era um momento que Laís estava precisando de mim. Eu não queria sentir nada daquilo, mas eu não tinha o controle… Tinha medo de fazê-la sofrer com o desmame, mas ao mesmo tempo eu a estava fazendo sofrer com minha irritação e agressividade. Os momentos de prazer se transformaram em momentos de terror e admitir isso era o mais doloroso. Hoje, consigo entender que não era nada particular com relação a minha filha, era só meu corpo me mostrando que algo diferente precisava ser feito.

Muitas mães passam pela perturbação e não sabem. Sofrem sozinhas com a culpa por tudo que estão sentindo.  Algumas sentem mais de leve, outras de forma mais intensa e chegam a ficar agressivas com seus filhos. Por isso, é importante entender os sintomas, buscar ajuda.

Estão mais propensas a sentirem os desconfortos da perturbação da amamentação as mães que:

– amamentam estando grávidas;

– amamentam em tandem (2 filhos com idades diferentes)

– praticam a amamentação prolongada.

Se você faz parte de algum destes grupos, fique atenta. Não hesite em pedir ajuda. Conversar com alguém que você confia faz toda diferença.

O corpo fala: os sinais da perturbação e o chamado ao desmame

Quando descobri que estava grávida do Gael, Laís tinha 1 ano e 7 meses e ainda mamava em livre demanda sempre que eu estava por perto. Mesmo com muito palpite alheio dizendo que eu deveria desmama-la, resolvi seguir com a amamentação. Eu amava amamentar, ela amava o tetê. Sempre quis que ela mamasse pelo menos até 2 anos, e até já me imaginava amamentando dois, conforme já partilhei com vocês no texto “A maternidade como oportunidade de autoconhecimento” . Além disso, tudo estava indo bem na gestação e amamentação, e não achava justo cortar este vínculo com a Laís neste momento. Para mim, eu precisava estar mais próxima e mais conectada com ela para poder prepara-la para a chegada do irmão. E assim seguimos…

Entretanto, comecei a sentir os seios mais sensíveis, um leve desconforto ao amamentar, um pouco de dor no bico. Graças a Deus nada muito intenso e preocupante. Meu obstetra já havia comentado que era normal os seios ficarem doloridos, que esta sensibilidade poderia passar ou se estender por toda  a gravidez, mas que não era impeditivo para continuar a amamentação. Apenas se houvesse algum sangramento, ou eu sentisse cólicas e contrações durante o aleitamento, o desmame seria recomendado.

Eu não queria desmamar, porém comecei a ficar incomodada com a quantidade de vezes que Laís mamava durante o dia. E na tentativa de encontrar uma solução que amenizasse este incomodo, me coloquei como observadora da situação. Percebi que muitas vezes não era ela quem pedia o tetê, era eu quem oferecia. E nas vezes que ela pedia, o que ela queria na verdade era se conectar comigo, era minha atenção, pois sabia que, a hora do tetê, era um momento exclusivo só nosso.

Diante desta constatação, passei a me policiar para não mais oferecer. Lógico que não foi tão simples assim, muitas vezes lá estava eu tirando o peito para fora sem ela solicitar. Nos momentos que eu percebia que ela vinha pedir pra mamar, eu oferecia o meu carinho, meu colo, meu amor… e aos poucos ela foi diminuindo as mamadas, até que ficamos apenas mamando para dormir, e as vezes ao acordar.

No dia após ela completar 2 anos, foi a primeira vez que ela dormiu a noite sem tomar tetê. Nem sei explicar a sensação. Felicidade misturada com uma angústia, abandono.  Percebi que eu ainda precisava trabalhar muito minha mente para efetivamente poder desmamar.

Com 2 anos e quase 2 meses, pela primeira vez eu dormi duas noites longe da minha pequena. Fui participar de um congresso de Coaching e minha mãe veio ficar em casa com Laís. Eu estava desesperada pensando como ela ia dormir sem o tetê…e ela dormiu. Quando retornei da viagem, retomamos nossa rotina de tetê para dormir.

Era já o último mês da gestação, o desconforto passou a aumentar, mas ainda tolerável. Todavia, após o nascimento do Gael, a perturbação veio com tudo.  Eu já esperava que provavelmente a Laís iria sentir a chegada do irmão e solicitar mais tete do que o habitual. De fato isto aconteceu e graças a Deus foi menos do que eu imaginava. Mas a perturbação estava lá, crescendo, me tirando do eixo… e eu nem sabia que ela existia.

Eu deitava para amamentar a Laís, a abraçava…mas logo vinha o desconforto, o incomodo, a vontade de parar, de tirar ela do meu peito…Cinco minutos pareciam uma eternidade. Meu peito doía, e doía por dentro, por não querer sentir o que eu estava sentindo. Eu amava Laís, queria amamenta-la, mas ao mesmo tempo não queria. Me irritava, me perturbava. E por várias vezes gritei com ela, segurei forte em seu bracinho, a fiz chorar. E depois era eu quem ficava em prantos, pois não conseguia entender o que estava acontecendo. Eu, que condenava a violência e agressividade, por várias vezes fui violenta e agressiva com minha pequena.

Eu não queria pensar em desmame, pois a Laís mamava poucas vezes ao dia (a noite para dormir, quando acordava de madrugada, de manhã as vezes ao acordar, e para a soneca da tarde), e as vezes em 2 minutos no peito ela já dormia. Não parecia justo com ela, sabe? Mas por outro lado, se a mamada durasse mais que cinco minutos, eu começava a sentir aquele monte de coisas ruins que eu não queria sentir, começava a ficar agressiva. Me questionei: Eu estava sendo justa comigo? E até que ponto a amamentação estava sendo positiva para a Laís, considerando que várias vezes eu começava a brigar com ela? A solução seria desmamar. Mas algo dentro de mim me incomodava e eu não conseguia tomar esta decisão.

Compartilhei esta angustia com uma grande amiga que conheci no Mama Bee, a Luciana, que faz parte da maravilhosa rede de apoio do ZumZum. A Lu me fez várias perguntas que me ajudaram a refletir e me apresentou alguns textos sobre amamentação prolongada e desmame, em um dos quais falava sobre a Perturbação da Amamentação. Foi então que entendi o que estava acontecendo comigo. Era meu corpo dando sinal que estava na hora de desmamar…por mim, por Laís e por Gael.

Curar-se para desmamar

Não foi fácil tomar a decisão do desmame. Precisei de ajuda (terapia) para enxergar que o fato de eu deixar de amamentar a Laís não significava que eu a amava menos. Precisei mais uma vez curar minha criança interior.

Muito ouvimos dizer que, para o desmame acontecer tranquilamente, não basta só a criança estar preparada. Eu sabia que Laís estava pronta, ela já não mamava todos os dias. A grande dificuldade, na maioria das vezes, é a falta de preparo da mãe. No meu caso, eu não estava pronta.

Entende-se aqui, como falta de preparo da mãe, a necessidade de cura. Assim como para amamentar, para desmamar também precisamos estar preparadas, curadas, inteiras… Mais uma vez a maternidade nos convidando a olhar para dentro.

Com a terapia, consegui perceber que estava querendo compensar com a Laís a pouca amamentação que eu tive. Além disso, inconscientemente, estava querendo mostrar para minha mãe que era possível ela ter mantido a minha amamentação mesmo estando grávida. É uma loucura a gente a gente se dá conta disso…coisas que aparentemente para mim estavam bem resolvidas. Doeu quando trouxe para o consciente esta constatação, ao mesmo tempo, foi libertador. Conforme já comentei, minha mãe fez o que de melhor ela poderia ter feito com as informações e consciência que ela tinha naquele momento. Por isso honro, respeito e sou grata a cada gesto dela.

O Desmame

Tomada a decisão do desmame, coloquei em prática três ações que foram fundamentais para que de fato o processo ocorresse de forma tranquila e gentil.

– Todas as noites, durante o sono REM da Laís, eu falava para ela: “Filha, você é muito amada e querida. Você já mamou o suficiente, o bastante. O Tetê agora é do seu irmão.”

– Durante o dia, conversava com ela que o leitinho agora era do irmão, que ela já tinha mamado bastante, que ela sempre mamou muito, que ela teve o privilégio de ter o tete só para quando nasceu. Falava também que ela estava crescendo e que agora não precisava mais de tete, pois ela já comia de tudo e tomava leitinho no copo de manhã. E além disso, quando ela quisesse um carinho ou um colinho da mamãe era só pedir que eu estaria disponível.

– Sempre que eu me lembrava, várias vezes ao dia, fazia Ho’oponopono pedindo para o Divino Criador limpar em mim todas as memórias referentes à minha amamentação e ao meu desmame que eu compartilhava com minha filha. (Que ferramenta! Tenho feito e os resultados tem sido maravilhosos e transformadores em várias áreas da minha vida!)

Foram aproximadamente 3 meses, desde que coloquei em prática essas três ações diariamente, até que o desmame ocorreu. Neste período, tiramos a soneca da tarde, e deste modo, a noite o sono chegava rapidinho. Algumas vezes, enquanto eu fazia o Gael dormir, meu marido deitava com Laís e contava histórias para ela, até que ela adormecia sem o tetê. Outras vezes, ela resistia e ficava me esperando, mas quando eu chegava, com 5 minutos de tetê já dormia. Fazíamos alguns combinados: mamar até eu contar até 10, ou eu colocava 5 minutos no cronômetro e quando apitava ela tinha que parar. No começo, quando eu percebia que ia demorar mais para ela dormir, eu aumentava o tempo no cronômetro sem ela perceber, ou contava bem devagar, tudo conforme o meu limite. Quando chegava a hora de terminar, ela pedia para ficar com a mão no meu peito, e ficava fazendo carinho até adormecer.  E eu chorava em silêncio, olhando-a dormir…chorava de gratidão, por ela estar sendo um canal de cura na minha vida.

Dormir sem o tetê já estava sendo mais fácil. Sempre que ela dormia sem o peito, no dia seguinte eu a lembrava e mostrava como ela era capaz de dormir sem, fazia com que ela se sentisse orgulhosa por ter conseguido.

Mas as madrugadas ainda eram desafiadoras. Laís, desde aproximadamente 2 anos, já dormia a noite inteira, mas com a chegada do irmão, voltou a acordar de madrugada uma ou duas vezes. E nestas acordadas não tinha jeito, ela queria o tetê. Foi o mais difícil! Muitas vezes coincidia com as acordadas e mamadas do Gael e aí era aquele chororô em plena madrugada.  Eu e meu marido estávamos mais vulneráveis também, com sono, por isso era muito fácil sair do centro, perder o controle, brigar… Foram noites intensas, longas. Mas continuei firme no propósito do desmame, sem negar o tetê quando ela solicitava.

Aos poucos, as acordadas de madrugada foram diminuindo, mas ainda assim, quando ocorriam, só o peito para conseguir com que ela voltasse a dormir. Na semana que ela iria completar 2 anos e 7 meses, ela dormiu 3 dias seguidos sem tetê, mas acordou uma vez todas as madrugadas. Na terceira madrugada, porém, eu já estava praticamente com o peito de fora, quando ela me surpreendeu e pediu que eu contasse uma história. Guardei rapidamente o peito, iniciei uma história, a abracei, e logo ela adormeceu. Desde então, nunca mais pediu o tetê.

O Aprendizado

Para mim esta experiência foi fantástica. Confesso que teve momentos que achei que não ia conseguir desmamar Laís de uma maneira tranquila e gentil. Não esperava que ela simplesmente fosse parar. Após aquela madrugada que ela me pediu para contar história, ainda achei que viriam outras madrugadas e ela voltaria a pedir pelo tetê, mas nunca mais pediu. Hoje, ela as vezes chega perto do meu peito, pede pra fazer carinho, mas não pede para mamar. Eu já perguntei algumas vezes se ela queria mamar de novo, ela sempre diz que não, faz careta, sorri e diz que o tetê agora é do irmão, que ela já mamou bastante quando era bebê e agora não quer mais. Acredito que seja um sinal positivo que o desmame ocorreu na hora certa.

Incrível como o fato de eu conseguir nomear o que estava acontecendo e de decidir pelo desmame trouxe leveza e paz. Durante os 3 meses que segui diariamente com as três ações que já citei, passamos por momentos desafiadores da perturbação, porém de uma maneira mais tranquila e consciente. Eis um grande aprendizado para todas as questões da nossa vida, entender o momento pelo qual estamos passando e decidir. Para mim, tomar decisões sempre foi algo muito difícil, medo de optar pelo errado, medo de decepcionar e magoar as pessoas que amo. A maternidade tem me ensinado que decidir é fundamental para quem quer uma vida com mais sentido. Não dá para ficar em cima do muro e “deixar a vida me levar”. Quando tomamos uma decisão, sabemos o que tem que ser feito, e aí é só ir lá e fazer. Tudo fica mais simples.

Nem toda perturbação implica em desmame

Para finalizar, quero deixar claro que nem todas as mães que passam pela perturbação precisam necessariamente desmamar. Muitas vezes, o simples fato de reduzir as mamadas já alivia, ou mesmo elimina a perturbação.

Há de se entender todo o contexto pelo qual a mãe esta passando, entender sua história, suas limitações, suas vontades… só assim é possível tomar uma decisão entre continuar ou não a amamentação.  E neste momento, toda ajuda é bem vinda. Processos de Coaching e Terapia auxiliam bastante nesta tomada de decisão.  No meu caso, eu optei pelo desmame.

Tenho orgulho da história de amamentação que Laís e eu vivemos. Espero que ela também se sinta orgulhosa. Agora, sigo escrevendo a história de amamentação com o Gael.

 

Texto escrito por Amanda Balielo, Mãe da Laís e do Gael, Coach de Mães e participante da turma 4 do Zum Zum de Mães.

@amandabalielocoach 

Http://facebook.com/amandabalielocoach

Ele acabou de dormir. Depois de longas duas horas de tentativa, ele cedeu ao sono e adormeceu em menos de um minuto. E eu? Vivi duas longas horas tentando lidar com os mais diversos sentimentos, tentando domar e fazer as pazes com a minha própria criança interior. Nesse exato momento sinto-me um fracasso, na verdade um misto de frustração com fracasso e talvez um pouco de vergonha e culpa. A cabeça pesada por uma gripe que me pegou e também pelo choro derramado, vivido, sentido, extravasado… aliás, as lágrimas ainda molham meu rosto.

Sinto como se fosse agora, o aperto no peito e na garganta, a fila que as lágrimas faze(ia)m na tentativa de não se derramarem. Inútil, elas desce(ia)m como uma enxurrada, sem aviso prévio, simplesmente escorre(ia)m sem que eu consiga(uisse) contê-las. A memória das vozes que ecoam pelas minhas células, me faz ouvir claramente: “mas já está chorando?!” ou “é muito difícil conversar com você, você sempre chora” ou ainda “deixa pra lá, conversaremos quando você conseguir parar de chorar“.

Pois é, sempre fui chorona, manteiga derretida como dizem por aí sobre pessoas sensíveis, ou simplesmente uma pessoa muito sensível (recentemente descobri através da Ariana Schlösser que existem estudos sobre esse estado aflorado de sensibilidade e me confortei em saber). Certa vez, também, na minha primeira leitura de mapa astral me senti contemplada pela história de Alcione, tenho olhos de Alcione e choro limpa (entendedores, entenderão). E foi assim, depois de me tornar mãe, fui/estou (constantemente) descobrindo um pouco mais sobre mim, sobre essa essência que ainda guarda memórias celulares de uma certa inadequação e, junto com essa sensação, o grande desafio de ouvir, acolher e respeitar o choro do meu filho…

Quanta contradição, não é mesmo? Como é possível eu me sentir desafiada em acolher o choro do meu filho sendo que o que eu mais preciso é que também acolham o meu choro?! Bingo! Mais uma vez aquela história de não poder oferecer aquilo que não recebemos”, e por isso é um desafio!

Mas voltando às duas longas horas que vivi – antes do meu filho, de dois anos e cinco meses, adormecer no horário previsto para a soneca da tarde dele –  tive um verdadeiro duelo interno. Lutava contra todas as vozes que me diziam “esse menino está te afrontando”, “esse menino te deve obediência”, “onde já se viu, bater em você?!”, “não é possível que esse menino não vai dormir”, “você tem que dar limite pra ele”, etc etc etc… E eu poderia continuar listando todas as vozes que ecoavam dentro da minha cabeça flutuante de uma pessoa gripada. Por outro lado, eu ouvia também ecoar “você é a adulta da relação, ele é apenas uma criança tentando fugir do sono”, “respira fundo”, “recita o ho’oponopono”, “extravasa a raiva sem assustar”, “respira fundo outra vez”, “caminha rápido”, “pula”, “pára”, “respira”… E por aí vai o cabo de guerra entre, as dores da minha criança interior e a minha adulta consciente e auto responsável. Numa dessas me vi bufando, soltando fumaça pelo nariz e segurando-o com força para ele não me chutar (olha a minha raiva manifestada pelo comportamento dele aqui 🤦), perguntei se ele precisava ficar sozinho, ele disse que sim e eu agradeci internamente antes que eu pudesse perder o duelo para a minha criança interior ferida. Fui ao banheiro enquanto ele permaneceu no quarto me chamando. Respirei fundo, joguei uma água no rosto e quando me senti mais calma saí do banheiro e me deparei com a seguinte cena: silêncio, ele na cama e todo o papel higiênico de um rolo espalhado na cama enquanto ele fazia bolinhas. Eu quis surtar, confesso, mas me lembrei “é apenas papel higiênico”, “você é a adulta da relação”. Então, deixei ele brincar, tentei fazer um combinado, ele aceitou, eu o ajudei, mas eu olhei no relógio e me dei conta do tempo que estávamos ali e isso me deixou louca por dentro (explico: a soneca tardia, o pai não estaria de noite conosco, eu teria que lidar com qualquer imprevisto sozinha – ou seja ansiedade por antecipação). Ele dizia estar com fome (mas tem feito isso há algumas semanas sempre que o assunto é dormir, então já fico desconfiada), ofereci o que tinha na mochila, ele disse que sim mas não quis comer, chamou pelo pai, tentou abrir a porta e eu fechei trazendo-o de de volta pra cama sem nenhum pingo de delicadeza, tentou outra vez e eu fui perdendo o controle da adulta consciente e auto responsável…

Respirei fundo. Peguei ele no colo e disse “agora vamos descansar“, consegui aos poucos acalmar (aqui vale dizer que eu já tinha tentado de tudo um pouco, ele não quis ouvir as histórias que eu tinha pra contar, não deu ouvidos às minhas explicações lúdicas sobre os sentimentos, enfim, ele simplesmente se recusava a dormir). Ele pediu pra mamar, sentei e ofertei, nesse meio tempo… o pai abriu a porta com um prato cheio de manga, ele sentou e comeu quase tudo (Alerta! culpa materna de ter desconfiado), pediu pra mamar, mamou, fechou os olhos, pediu pra deitar e adormeceu. Fim da história. Só que não…

E não, essa história não é um pedido de ajuda de “como fazer o meu filho dormir”, ela está mais para um desabafo, ela é, na realidade, o retrato da minha busca incessante de maternar de maneira afetuosa, consciente e auto responsável, é um lembrete para eu eu acolher minha criança interior desamparada e inadequada, é um chamado para reforçar o quanto é urgente dar espaço para os sentimentos que nos causam desconforto existirem, virem mas também (e pelamor da Deusa) partirem. Essa experiência-relato me ajuda a entrar em contato com as minhas próprias sombras e iluminá-las, me faz real, me aproxima de cada mãe e mulher que busca a auto responsabilidade como caminho de expansão da consciência, me possibilita diminuir as distâncias que ainda existem entre minha versão adulta e minha versão criança e assim criar um vínculo amoroso, reelaborar as memórias de dor, integrar e me libertar.

As lágrimas se foram, abriram espaço para uma respiração ritmada e consciente. Sinto-me aliviada e as sensações de fracasso, frustração, culpa e vergonha deram lugar para uma sensação de pertencimento, resiliência, auto avaliação e auto cuidado. Sei que esse não foi o primeiro e muito menos o último desafiodessa longa jornada materna, mas nessa batalha, me sinto vitoriosa por me permitir rasgar-me e olhar com consciência e auto responsabilidade para aquilo que à olho nú, nossos olhos não vêem.

Este Texto foi escrito por: Iara Schmidt (participante do ZumZum 6)
Iara é mineira, e como boa sagitariana é uma viajante nata e buscadora de si. Mãe de um aquarianinho nascido em fevereiro de 2016 – fonte do puro amor e inspiração infinita – realizou da gestação ao puerpério ritos de passagem que transformaram – e continuam transformando – sua essência.

Queridas mamães, sou a Tânia, psicóloga, psicanalista, mãe da Milena e participante do Zum Zum, estou de volta para falar de um tema que eu julgo ser muito importante e relativamente pouco comentado. Pretendo escrever sobre a prevenção primária de problemas emocionais e doenças psiquiátricas. Vou abordar a importância da vida intrauterina, o nascimento, os cuidados emocionais com o recém-nascido e como podemos contribuir para o desenvolvimento emocional saudável dos nossos filhos. No próximo mês escreverei sobre o desenvolvimento emocional do recém-nascido até a “adolescência dos bebês” aos dois anos de idade. Esse texto e o próximo juntos darão uma visão muito boa a respeito da prevenção primária e o nosso papel como mães nesse processo.

Para a eclosão de uma doença psiquiátrica é necessário haver uma pré-disposição genética e fatores ambientais que contribuam para o seu desenvolvimento. Com relação ao fator genético, não temos o que fazer, mas temos como possibilitar um ambiente propício a construção da saúde. Como? Vou explicar separadamente, em cada fase do desenvolvimento.

Vida intrauterina:

Pesquisadores de diversas partes do mundo se dedicaram ao estudo do feto na barriga da mãe e fizeram descobertas incríveis. Uma destas descobertas é que o feto possui uma vida mental. O bebê antes mesmo de nascer é um ser inteligente, sensível, apresenta traços de personalidade. Ele tem uma vida afetiva e emocional, nesse momento, ligada as suas experiencias com a mãe, que já possui uma comunicação tanto emocional como fisiológica com seu bebê. Todas as experiencias que passamos ficam registradas na nossa memória celular. Esses registros ficam impressos e guardados de forma inconsciente ainda sem uma representação mental. Para um melhor entendimento darei um exemplo de uma pessoa que atendi alguns anos atrás. Ela esteve dentro da barriga de sua mãe com o seu irmão gêmeo. Ela nasceu pequena, franzina, mas saudável. Seu irmão nasceu grande, robusto, mas não sobreviveu. O que ficou inscrito dentro dela e guiou sua vida por muito tempo de forma inconsciente foi que ela tinha que viver com pouco. O irmão se alimentava mais, era maior, ficava com a maior parte dos nutrientes e morreu. Ser muito grande (em todos os sentidos) e ter muitas coisas era muito perigoso. Assim, tinha que se contentar com muito pouco para sobreviver. Só com a psicoterapia já na vida adulta ela conseguiu tomar consciência, elaborar e nomear essas vivencias para conseguir viver de forma diferente.

Segundo, Marie Claire Busnel, grande pesquisadora francesa, o estresse materno afeta diretamente o feto. O estresse é entendido aqui como o efeito de uma agressão física, psíquica ou emocional. O termo agressão diz respeito a tudo que é capaz de provocar sofrimento, que tire a mulher da homeostase. Alguns exemplos são: perda de um ente querido, doença nela ou na família, abandono pelo marido, ser agredida verbal ou fisicamente, passar por um susto muito grande, etc. Se a mãe está em sofrimento, o feto é atingido.  Os diferentes tipos de estresse que podem afetar o bebê são: os transmitidos pela sua fisiologia, isto é, a variação do seu ritmo cardíaco, da pressão arterial, da respiração, dos efeitos hormonais, da comunicação que são produzidos por uma agressão. Há o estresse produzido também pelo efeito de drogas, álcool e cigarro e o estresse físico, quando a mulher é submetida a violência física, excesso de calor, infecções, depressão, desnutrição, muito barulho, etc. Os efeitos do estresse no feto afetam tanto a nível psíquico quanto na saúde física. Há estudos que indicam que uma mãe exposta a muito barulho durante a gravidez pode afetar o desenvolvimento da área auditiva do bebê. Bebês cujas mães passaram por períodos longos de estresse durante a gravidez, apresentam com maior frequência, problemas de imunidade baixa, recorrendo mais vezes a serviços de emergência.

Nesse contexto vocês podem me perguntar: mas Tânia, não podemos ter controle de tudo que possa nos estressar na gravidez. Podemos evitar lugares barulhentos, nos cuidar de forma global, e o que não depende da nossa vontade?  Quanto a isso tenho boas notícias! Segundo esta mesma pesquisadora: “o apoio psicológico e fisiológico dado a mãe que está passando por uma situação de sofrimento, melhora muito a situação psico-fisiológica do bebê.” (Busnel). Assim, se você está grávida e passando por um período de turbulência muito forte, é importante buscar ajuda: um colinho gostoso dos amigos e familiares, os grupos de troca de experiências para grávidas, uma psicoterapia, ajuda médica, etc. Na medida que vamos conseguindo lidar com os eventos que nos estressam no sentido de elabora-los, isto também vai ficando mais fácil para o bebê. O mais importante é que não percamos a conexão com o nosso filho. Podemos conversar com ele, explicar o que está acontecendo e acolhe-lo mesmo dentro da barriga.

Uma outra descoberta importante foi que existe uma continuidade referente a aspectos da personalidade do bebê dentro e fora da barriga. Alessandra Piontelli, psicanalista italiana, observou através do ultrasson, fetos a partir do terceiro mês de vida uma vez por semana. Observou-os também após o nascimento com maior frequência no primeiro ano de vida e menor frequência até os 5 anos. Ela publicou essas observações no seu livro intitulado “Do feto a Criança”. Ela conta a história de Pina. Pina era um bebê muito ativo dentro da barriga de sua mãe. Em um ultrasson realizado por volta da vigésima semana de gestação, observou-se Pina depois de chutar e se movimentar bastante, aproximar a mão na placenta e começar a manipula-la, puxando-a em sua direção. Nesse momento, o ultrassonogravista intervém dizendo: Cuidado Pina! Pare com isso! É perigoso o que você está fazendo. Pode descolar a placenta. Alguns dias depois, a mãe começa a apresentar um grave sangramento. Os médicos decidem mantê-la em repouso e receitam altas doses de medicamentos. Havia a possibilidade de um abordo iminente. A partir disso Pina perde a vivacidade e para de se movimentar. Se enfia num canto do útero e fica encolhida em posição transversal, imóvel. O parto teve que ser por cesariana devido a posição que ela estava. Foi muito difícil retira-la. Quando Pina estava com mais ou menos 2 meses, Piontelli via uma bebê com olhar muito vivo e curioso. Gosta de explorar o mundo em sua volta, no entanto, parece muito assustada. Fica insegura no colo, como se estivesse sempre temendo cair. E apresenta problemas com a alimentação. A mãe associa esse evento com as drogas que precisou ingerir após a iminência do aborto e que Pina deve ter se sentido envenenada. Aos 3 anos tem muito medo do mar, tem pesadelos. Através de um desenho demostra que sabia que quase fora levada por uma correnteza. Isso tudo nos mostra que o psiquismo começa a se formar muito cedo. O normal e saudável é que haja um desenvolvimento continuo. Quando ocorre algo que quebra essa continuidade também deixa marcas. A iminência do aborto deixou marcas em Pina e provavelmente em sua mãe. Com o conhecimento que temos hoje, talvez o sofrimento de Pina tivesse sido amenizado se o profissional de saúde tivesse acolhido a mãe no momento da iminência de aborto, se tivesse conversado com Pina sobre o que havia ocorrido, sobre quais as medidas estavam sendo tomadas e que ela poderia ficar tranquila, pois ainda estava protegida na barriga da mamãe. Quando a mãe percebesse que ela estava insegura no colo ou sem querer comer poderia dizer que ela passou um momento de muito medo dentro da barriga da mamãe, achou que seria levada por uma correnteza, foi necessário alguns medicamentos para que ela e a mamãe ficassem bem e o medicamento deve ter dado um gostinho meio ruim lá dentro, ela podia ter se sentido mal, mas ficou tudo bem e agora ela estava segura no colinho da mamãe e podia mamar um leitinho gostoso que não faria nenhum mal à ela.

Nascimento:

O nascimento é um momento muito importante. É uma etapa da vida humana. Uma passagem da vida uterina para a vida pós-natal. Primeira separação vivenciada por nós. Para Myriam Szerjer o trauma pode ocorrer de acordo com as condições em que o nascimento ocorra. Para essa autora no parto normal a criança avisa quando está preparada para nascer, há uma passagem da vida intrauterina para a vida pós-natal. As contrações fazem uma espécie de massagem na criança e permitem a maturação final de seu sistema respiratório. Na cesariana programada a criança é retirada, nada a prepara para a rápida transição para a via aérea e constitui para essa autora uma violência que só deve ser realizada se houver extrema necessidade. Caso seja necessário fazer uma cesariana, converse com o seu bebê, diga a ele que ele vai passar de dentro da barriga para os seus braços. E que o médico irá retira-lo. Depois converse novamente, que ele nasceu e está super saudável em seus braços. No momento logo após ao nascimento é adequado que o bebê não se separe da mãe, que fique em contato pele a pele com ela, que possa mamar na primeira hora do nascimento. Isso cria um continuo entre a vida intrauterina e a pós-natal. O contato pele a pele, a voz, o calor, o cheiro, as batidas do coração materno, a voz do pai, o silêncio, a penumbra, dão ao bebê um sentimento de segurança, de continuidade. Converse com o seu médico, inclua no seu plano de parto o desejo de que seu bebê não saia de perto de você, a menos que corra algum risco. Diga que você quer dar o primeiro banho no quarto. Prepare seu companheiro para reivindicar que tudo isso seja atendido no momento do nascimento.

Vida pós-natal:

Quando dá tudo certo no parto, o bebê nasce bem, sem nenhuma necessidade de cuidados médicos, é maravilhoso. E quando nem tudo sai do jeito que gostaríamos? Aí é um sofrimento para pais e bebês. Quando os bebês precisam ser submetidos a procedimentos invasivos, ser separados dos pais, o que podemos fazer para tentar minimizar os danos? Se tivermos chance podemos conversar com o bebê antes, acolhe-lo, explicar o que está acontecendo. Por exemplo: meu amor, a Dra vai ter que te levar para fazer uma pequena cirurgia, a mamãe não vai poder ir, mas vai estar aqui com o pensamento em você o tempo todo, rezando para ficar tudo bem. Assim que eu puder irei te ver. Pode ter alguma situação que não dê tempo de conversar, mas assim que você ver a criança novamente pode fazê-lo. Enquanto isso, tente sensibilizar algum médico ou enfermeira que tenha acesso ao local que o bebê estiver para conversar, explicar e acolher mesmo que seja somente com a voz e com o olhar. Infelizmente, nem todos os profissionais que lidam com bebês são capazes de percebe-lo como um todo, com corpo e psiquismo. Geralmente, só cuidam do corpo. Lute para ficar perto do seu filho o maior tempo possível. Olhe seu filho nos olhos, não perca a conexão, toque nele sempre que conseguir. Se seu filho nascer prematuro peça para fazer o método canguru. O olhar apaixonado da mãe, sua voz e o contato corporal é tão importante quanto o leite que alimenta e com certeza faz milagres acontecerem. Esteja o máximo possível ao lado dele, converse, explique….com certeza isso vai ajuda-lo e muito.

Você pode me perguntar: Tânia passei por tudo isso e não fiz o que você sugeriu, e agora? Se você notar algum comportamento no seu filho que te remeta ao que vocês vivenciaram no passado ainda vale a pena conversar. Pode usar o exemplo que dei quando descrevi a Pina logo acima. Pode contar uma história sobre o que aconteceu usando até outros personagens, mas com sentimentos semelhantes e com o bom desfecho, enfatizando a segurança e o apoio. Mas se o seu filho apresentar um sintoma mais grave e persistente, o ideal é procurar uma psicoterapia pais – bebê (zero a 3 anos) ou psicoterapia infantil (a partir de 3 anos).

Espero que eu possa ter contribuído de alguma forma. Junte-se a nós na luta pela humanização dos cuidados com o bebê. Compartilhe essa idéia.

Até mês que vem!

Este texto foi escrito por: Tânia Grassano, psicóloga, psicanalista, mãe da Milena e participante do Zum Zum.

Contatos: (31) 30725974 / [email protected]

Não quero que minha filha baixe seus olhos diante dos meus e me chame de senhora, não quero que sinta que não há espaço para ela me questionar, não quero que ela me obedeça cegamente por medo ou por se sentir intimidada, não quero que ela passe por cima das suas necessidades para me agradar, não quero que ela entenda nossa relação como uma espécie de militarismo familiar, onde existem patentes e hierarquias, não quero que ela ache que não é aceita ou amada quando comete erros, pois entendo que com base na nossa relação é que ela vai construir todas as outras relações ao longo de sua vida.

Quero que ela me olhe nos olhos e me explique o que se passa, quero quem sabe que ela me convença a mudar de ideia (e porque não?), quero que ela me chame de mãe, amiga, parceira. Quero que ela saiba que em nossa casa existe uma democracia e que todos têm o mesmo direito de serem ouvidos e respeitados, o que nos difere é que eu apenas cheguei antes e experimentei mais coisas da vida, por isso quero que ela atenda a um pedido meu, por confiar no meu julgamento e que seja sempre assim enquanto ela ainda não tiver discernimento em alguma situação. Quero que ela entenda que alguns comportamentos não são e não serão aceitos, mas ela sempre, sempre será aceita. Quero que ela compreenda que é normal e que ela pode sim sentir raiva, medo, frustração, euforia, tristeza, e todos os outros milhões de sentimentos humanos, quero ser capaz de ajudá-la a nomear e a lidar com eles sem machucar ou desrespeitar os outros ou ela mesma.

Não acho que seja possível construir esse tipo de relação com gritos, castigos, ameaças, trocas e tapas… Mas como não utilizar esses métodos tão convencionais e tão aceitos dentro da nossa sociedade, sem nos tornarmos pais permissivos? Existem alguns caminhos, eu escolhi um lindo e árduo chamado Disciplina Positiva (DP), tem sido tão intenso para mim desde que descobri sobre esse método de educação. A DP equilibra a liberdade com ordem, as escolhas com limites, a firmeza com gentileza. À primeira vista me parecia uma utopia, mas há pouco tempo fiz um curso online e conheci algumas das ferramentas práticas desse método.

É um caminho lindo porquê preza empatia e o respeito pelas crianças e suas necessidades, mas é árdua porque requer uma série de desconstruções internas, nos convida a rever comportamentos que estão arraigados em nossas entranhas, requer o desapego as nossas crenças sobre o que somos e sobre como o mundo é, requer uma reforma íntima e pessoal… E no meu caso requer ainda um autocontrole em relação a minha ansiedade, porque definitivamente é um caminho a longo prazo. Uma das coisas mais valiosas que aprendi é que por traz de todo “mal comportamento” existe uma necessidade não atendida, e que o “mal comportamento” é apenas uma tentativa desastrosa da criança se sentir aceita e importante. Só isso já fez toda diferença para mim, pois me fez olhar com outros olhos os desafios de comportamento que minha filha vem apresentando.

Terrible Two” terrível mesmo é essa palavra que escolheram para definir essa fase!  

Esse conceito tem sido fundamental aqui em casa, minha filha está atravessando aquela fase conhecida como “terrible two”, mas sou uma das que não concorda com esse termo, apesar de ser uma fase desafiadora e de estar sendo muito difícil, existe uma beleza por traz do que está acontecendo ali na superfície. Estar atravessando essa fase significa que ela está começando a se dar conta dos seus sentimentos, começando a ser ver como um indivíduo único, começando a vivenciar sua independência, começando a olhar e reconhecer a si mesma por dentro, e se isso não é incrível de se ver e de se acompanhar no desenvolvimento de uma criança, eu já não sei o que mais pode ser!  E nesse caos interno de sentimentos, que ela não sabe ainda lidar ou explicar, acabam acontecendo os ataques de fúria, os choros incontroláveis, as crises por “pequenos” impasses e os nãos para tudo (fralda, roupa, comida, etc….). Tem sido uma ótima oportunidade de praticar tudo que aprendi na teoria, mas confesso que a pratica é bem mais difícil do que eu gostaria de admitir.

Tenho tentado me colocar no lugar dela, entendendo que ela acabou de chegar nesse mundo, se frustra e se chateia com suas limitações o tempo todo, ainda comete muitos erros em tentativas desesperadas de se sentir pertencente a esse mundo. Me pergunto como eu gostaria que as pessoas que eu mais amo e confio no mundo me conduzissem em uma fase como essa, será que eu gostaria que gritassem comigo na frente de outras pessoas e dissessem que eu faço tudo errado? Que meus sentimentos não são importantes ou adequados? Ou pior, que achassem meus erros imperdoáveis e meus sentimentos inaceitáveis, a ponto de me agredirem fisicamente ou verbalmente? Claro que nem eu nem ninguém gostaria de ser tratado assim, o que nos leva a crer que uma criança merece ser tratada dessa maneira? O que nos leva a acreditar que ensinamos algum valor através da violência? São perguntas poderosas que devemos fazer a nós mesmos…

Não gostaria de sentir que está sendo terrível para alguém a convivência comigo, gostaria que me olhassem nos olhos e me dissessem que sou compreendida, que meus sentimentos são reconhecidos e validados, que me oferecessem ajuda e opções para lidar com minhas emoções de maneira adequada. Que me explicassem onde e porque eu errei e que me encorajassem a pensar em um jeito de solucionar o problema que eu possa ter causado. Que me abraçassem e me oferecessem acolhimento, que entendessem que os momentos de descontrole são os que eu mais preciso de amor. Gostaria que me ajudassem a entender o mundo a minha volta, que captassem aquilo que ainda não sei explicar com minhas próprias palavras, mesmo me esforçando tanto.

Estou em constante treinamento…

Mesmo convicta de qual é o meu caminho, mesmo não existindo a menor possibilidade de voltar atrás, por vezes me sinto desanimada, é tão mais fácil e imediato resolver no grito, é tão mais fácil me aproveitar da ingenuidade e da falta de experiência dela e ameaça-la para que ela me atenda ou me obedeça prontamente.  Na ansiedade em resolver rapidamente algum desafio de comportamento dela, as vezes me pego repetindo velhos padrões e esqueço que é um trabalho continuo e a longo prazo, confesso que as vezes faço tudo em desacordo com o que estou aqui escrevendo para vocês, admito que não é fácil, preciso ainda de muito treinamento….

Nesses momentos de desanimo, procuro me lembrar dos momentos especiais que esse caminho já me proporcionou. Lembro em especial de um dia que fui busca-la na escola, tirei da mochila um pacotinho de biscoito de polvilho e dei na mãozinha dela, só restavam umas 3 ou 4 unidades, de repente ela começou a gritar e chorar enlouquecidamente, “só” porque um dos biscoitos tinha caído no chão, enfurecida ela jogou longe os biscoitos restantes, começou a se mexer tão vigorosamente no carrinho que quase o derrubou, gritando a plenos pulmões que queria sair. As pessoas na rua começaram a me olhar, eu nem liguei, nesse dia eu estava especialmente inspirada e determinada, primeiro me acalmei e pensei: – Esse biscoito era muito importante para ela, não tinha nenhuma importância para mim, mas era valioso para ela, eu não precisava saber o porquê, ela ainda não saberia me explicar, eu só precisava entender e aceitar que para ela era muito importante.

Parei o carrinho e peguei ela no colo, ela se debatendo com força, por um momento achei que ela cairia do meu colo, mas com a voz calma disse no ouvido dela: – Eu sei filha, eu te entendo você está com raiva e chateada, aquele biscoito era importante para você, mas agora eles caíram no chão não dá mais para comer né? Podemos comprar outro pacote ali na frente naquela padaria, o que acha? Você se sentiria melhor? E ela gritava: – Não, não, eu quero aquele, eu quero aquele! Eu repetia tudo de novo:  – Eu sei filha, eu te entendo…. e ela continuava gritando que não, porem cada vez se debatendo menos, e eu repetindo tudo, nem sei dizer quantas vezes repeti a mesma coisa, e ela ia cada vez relutando menos, até que parou totalmente de se debater, aceitou enfim o meu colo e meu abraçou bem forte, colocou a cabeça no meu ombro e chorou, chorou um choro dolorido que nunca imaginei que uma criança da idade dela fosse capaz de expressar, era um choro controlado com lagrimas pesadas e sofridas.

Ficamos alguns minutos abraçadas, conectadas de verdade, percebi que aquele biscoito não foi o real motivo pelo seu descontrole, talvez a frustração de o ter derrubado com suas mãozinhas ainda pequenas e pouco habilidosas, ou quem sabe um stress acumulado ao longo do dia, prontinho para ser despejado em quem ela mais confia e ama no mundo, podia ainda ser simplesmente saudades do aconchego da nosso Lar ou do toque do meu corpo. Mas isso já não importava, ela tinha conseguido reconhecer e expressar primeiro sua raiva e depois sua tristeza e enquanto ela chorava eu dizia: – Tudo bem filha, mamãe está aqui, pode chorar, pode chorar… Então ela foi parando, parando e algo ainda mais inusitado aconteceu, ela pegou meu rosto olhou para mim e disse: – Ive já está calma, desculpe mamãe, e eu respondi extremamente emocionada: – Tudo bem minha filha, vamos agora jogar os biscoitos no lixo, mamãe sabe bem como é, acontece da mamãe se sentir assim as vezes também.

Fomos para casa, ela estava bem mais calma, fui explicando que ela não devia ter jogado os biscoitos restantes no chão, primeiro porque suja a rua e segundo porque o biscoito fica muito sujo e faz mal para a barriguinha comer coisas sujas e que por isso ela acabou ficando sem nenhum biscoito para comer. Sugeri de passarmos na padaria e comprarmos mais um pacote (como eu havia oferecido antes), mas ela acabou preferindo umas bananas que viu no hortifrúti vizinho a padaria (adorei ela ter feito essa escolha mais saudável ☺).

Naquele dia fui dormir feliz e confiante, lembrei de uma frase de um filosofo Persa chamado Rumi, que diz:  “Para além das ideias de certo e errado existe um campo e é lá que eu me encontrarei com você” e naquele dia eu me encontrei com a minha filha nesse campo. Ainda é difícil para mim chegar até lá, as vezes ela fica sozinha me esperando, mas tenho consciência que estou em constante treinamento, acredito que a cada dia vai ficar mais fácil e mais espontâneo me encontrar com ela lá, tenho esperança que é nesse campo que vamos construir nossa história e a nossa relação.

Este texto foi escrito por: Vivian Pessoa, mãe da Ive de 2 anos e 5 meses e participante da turma 5 do Zum Zum de Mães.

Instagram: @viviancpessoa

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Em tempos em que nossa comunicação e linguagem se tornaram tão rápidas e instantâneas, com a possibilidade de se interagir com facilidade com tantas pessoas por meio das redes sociais, trago aqui hoje uma reflexão a respeito do poder evocativo das palavras, do simbolismo que elas subliminarmente trazem e palpites de como nossas crianças integram essas palavras.

Minha filha está naquela fase de aprendizado da linguagem oral e é parte desse processo conhecer as palavras e repeti-las, tentando trazer significado e o simbolismo que vai ajudá-la a elaborar esse processo de linguagem. Nas minhas observações desse processo, pude notar como a palavra tem um poder forte no imaginário da criança. Ela evoca uma estrutura e sobre esta algo começa a ser construído e sedimentado. E nessas construções vamos moldando, como uma argila, a percepção de mundo da criança. Como se ela delineasse e construísse seu próprio universo e visão de mundo, sua percepção de realidade. E nesse sentido, observo a relevância do cuidado e do carinho na escolha e uso das expressões e gestualidades cotidianas. A criança observa de um campo muito aberto, de um lugar de muita clareza e atenção, com uma avidez pelo aprendizado, e nem sempre temos clareza do quão elas captam e assimilam esse campo de nós a todo instante.

Trazendo para esse contexto a nossa relação e a da criança com a brincadeira, observo como para a criança a brincadeira é quase como respirar… O brincar é como ela experimenta o mundo… E nesses momentos me questiono o que realmente quero dizer quando às vezes me pego repetindo a expressão: “Isso não é brincadeira, não estou brincando”, ou algo do tipo “agora é sério”. E também até que ponto o peso dessas frases, que já estão tão totalmente enraizadas no nosso corpo, tão bem amalgamadas com a argila do tempo, nos faça levar uma vida com uma seriedade que beira a rigidez, trazendo estresse e frustração. É como se tivesse aprendido em alguma época da minha vida, talvez na transição da infância para a adolescência, que a brincadeira é algo errado, “infantil”, coisa de criança. E que para levar a vida a sério, com responsabilidade, não houvesse espaço para brincadeiras. Pesquisando o significado que hoje culturalmente atribuímos à brincadeira de passatempo, diversão sem sentido, agir com falta de responsabilidade, observo o quanto está distante do seu sentido original, etimológico, de encantamento. E como esse significado original foi ao longo do tempo sendo esquecido…

Por muitos anos, a brincadeira tem sido vinculada à falta de responsabilidade ou a algum contexto de que isso não é “a realidade” ou não é importante. Mas olhando para a importância do contexto do brincar e sem querer entrar no mérito de pesquisas e estudos, de como isso é importante para a formação e para a significação da infância, as memórias mais alegres de qualquer pessoa a respeito de sua infância quase sempre inclui algum tipo de brincadeira. Olhando esses aspectos, me pergunto, será que ao classificarmos a brincadeira no rol de coisas não sérias ou irresponsáveis estamos sendo leais com algo que numa parte de nossa vida nos trouxe tanto aprendizado?

Mas aprendemos que “a vida não é brincadeira”! Será que não poderia ser? Pelo menos um pouco mais? E se olharmos para a vida cotidiana como uma sucessão de experiências com maior ou menor sentido, que algumas vezes tentamos entender com o racional, outras vezes nos debatemos, e outras simplesmente vivemos, respiramos até esperar passar. Cada dia em que acordamos, é uma experiência a ser vivenciada, assimilada, amalgamada. Se nos permitimos olhar um pouco para trás e tentar encontrar algum significado naquelas situações que rotulamos como “ruins”, perceberemos que de alguma forma isso nos trouxe novas consciências e novas formas de experimentar. E a intenção com que plantamos essas experiências diz muito sobre como elas serão assimiladas, como um brincar livre, leve, e revigorante ou com uma rigidez, correria e frustração.

Seria possível, quem sabe, brincar e ao mesmo tempo ter seriedade na vida? Brincar, no seu sentido original, de leveza, de encantamento, e não na perspectiva que se acabou catalogando na nossa história de sociedade de que brincadeira é zombaria ou passatempo. Essa mesma perspectiva que acaba nos tornando pessoas sérias, frustradas com a vida, esperando sempre pelo fim de semana, feriado, férias; ou seja, como se estivéssemos sempre “em aula esperando pela hora do recreio”. Ansiamos pela copa, pelo carnaval, pelas festividades de fim de ano, simplesmente porque ansiamos por brincar… Por estar leve, por não ter que ser tão sério, mas não necessariamente deixar de ter responsabilidade. Levar a vida nessa angústia da espera quase sempre traz muito peso e ansiedade. E, enquanto isso, continuamos repetindo para os nossos filhos “Isso não é brincadeira”.

Observando o contexto atual tecnológico em que vivemos, um dos grandes desafios que percebo é o simples estar presente. São tantas informações e estímulos a todo o tempo, acesso e disponibilidade de internet a todo o tempo, o que é maravilhoso, mas noto uma ansiedade em estarmos atentos a tudo que acaba muitas vezes nos impedindo de estar presente. Em sua etimologia de origem latina, o brincar vem de brinco, laço, vínculo. E o que é o estado de presença, senão simplesmente estar conectada a esse momento do agora?

Como seria então virar essa chave e viver a rotina diária com a perspectiva da brincadeira? Como trazer esse encantamento, essa magia, esse ”vincire”, vínculo com o momento presente, nos permitindo simplesmente estar nesse aqui e agora e experimentar o quer que esteja acontecendo? Seja uma alegria, uma brincadeira, um sorriso do nosso filhote ou uma birra, apenas estando presente e experienciando, sem tantos julgamentos de certo e errado, sem justificações.

É a pergunta que me faço todos os dias… E cada dia ela tem uma resposta diferente…Uma oportunidade para resgatar uma parte fundamental da brincadeira que joguei no fundo do armário por achar que era “errado” usar: a imaginação. Essa mesma imaginação que me faz agora escrever esse texto; que auxilia a inventar um cardápio improvisado no almoço, que faz criar brincadeiras dentro do avião. Mas é um desafio porque no processo de crescimento a gente também aprende que “Não se pode viver no mundo da imaginação”, mas ao mesmo tempo somos solicitados a ter habilidades criativas e a inovar a todo instante. Então, que tenhamos muita imaginação e leveza da brincadeira para saber encontrar um caminho entre essas dualidades da vida.

Alguns dias esse caminho vem por meio de uma música, outros por meio de um abraço, outros ainda simplesmente pelo silêncio. Cada dia traz o seu tom, a sua vibração, seu clima… Cada dia torna-se único… Com infinitas possibilidades de novos caminhos e experimentação. E com as crianças isso se torna uma experiência ímpar, porque as crianças amam curtir essas possibilidades. E mais importante, mais do que qualquer brinquedo, ou mesmo brincadeira, as crianças amam a presença, no aqui e agora. E quem não ama?

Este texto foi escrito por Danila C.C. Fleury, Mãe da Clara  (4 anos), Farmacêutica, Servidora Pública, Investigadora Autônoma de Autoconhecimento e Brincar e participante do Zum Zum de Mães.
Integrante do Gestar.se
Facebook: @gestar.se
Instagram: @danilafleury

“No parque, a mãe grita com a Filha:

– Feche as pernas para brincar.

-Mãe, mas eu estou vestindo calças!

-Não importa, comporte-se como uma menina.

 

Em casa, a esposa senta no sofá e o marido diz:

-O que você está fazendo nesse celular?

-Nada, estou apenas descansando um pouquinho.

– Você disse que tinha tanta coisa para fazer!

 

No trabalho, a operadora de telemarketing diz ao chefe:

-Pensei que seria promovida, por merecimento.

-Por acaso você me enviou relatórios de desempenho, demonstrou opções de incremento financeiro ou marcou reunião?

–Não, achei que poderia incomodá-lo.

 

Eis um recorte do cenário brasileiro. No ar ainda paira a opressão do feminino, feito um pássaro sombreiro.

Achar culpados, esse não é o intento. O tempo se encarrega de encontrar as armadilhas dos nossos moinhos de vento.

É que profundas são as raízes e mordaças da nossa alma de mulher ao relento.

Deixar de ser tabu, talvez seja o primeiro passo. E aceitarmos os rastros da nossa história para darmos um novo enlaço.

Era uma aristocracia rural, escravista e patriarcal.

O homem como chefe da família, mandava na comunidade, na cidade, no país. A mulher como propriedade do marido era uma serviçal da casa e dos filhos, travestida de dona da casa.  Não tinha voz, não tinha anseio, seus direitos eram ditados por um sobrenome alheio.

Prazer no sexo? Quiçá às prostitutas, astuto era o marido, que tinha direito de estuprar a esposa e satisfazer sua libido na rua.

A domesticação começava desde cedo, para evitar qualquer desassossego.  Aos meninos: bola, carrinho, grama, rua

(liberdade), às meninas: boneca, panela, vassoura, casa (prisão).

Isso explica nossa vida nesta panela de pressão. É sentimento que borbulha e respira repressão.

Eis o desemboco de uma encruzilhada. Um pouco do que explica nossa cilada.

Por isso os homens estão sempre em busca do poder, na família, nas finanças, na empresa, na política. Daí vem o “sonho” das mulheres em casa-mento (e o desespero dos homens em casa-mento). Daí vem o medo que as mulheres têm dos homens, daí vem os limites ao comportamento feminino (roupa, gesto, jeito, visual, nome).

Daí vem a nossa síndrome da Gata Borralheira. Descansar no sofá de casa? Não, não, arrume o que fazer, lave louças, limpe o chão, arrume a cama. Sinta-se ocupada e, por vezes, culpada se resolver cuidar de você.

Vamos sacudir nossa árvore genealógica para que caiam somente os bons frutos? Tenhamos gratidão por nossos antepassados, sim eles fizeram o melhor que puderam. Mas não fiquemos grudados ao passado, sem levar em conta o mal dos pecados de não deixarem um ser humano ter a própria respiração.

Somos mutantes, seres em constante evolução. Aquilo que aprisiona as mulheres de uma sala, mais tarde aprisionará as mulheres de uma nação.

Crianças, Freedom!!!

Abram as janelas e deixem o sol entrar. Brinquem de bola, boneca, carrinho, vassoura. Isso é riqueza de recursos, vivência, descoberta, liberdade de criação.

Tornem-se adultos perspicazes, com inteligência emocional e recursos inventivos.

Meninos brinquem de família. Meninas brinquem de bola. Brinquem do que quiserem.  Depois a vida afunila e aquele que vence não é o mais forte, o mais abastado. Vence na vida aquele que entende a descida, mas consegue transitar por todos os lados, sem machucar os pés descalços.

Mulheres sejam demasiadamente humanas!

Não sejam objetos ou santas, aceitem a força que do seu peito emana. Abram essas asas presas há anos, soltem suas amarras pelos quatro cantos.

Homens sejam companheiros, amantes, parceiros, de vocês só pedimos mãos que nos afagam por inteiro.

Saibam que o nosso coração é feito um sino de Belém. Seu badalar só toca direitinho quando os nossos pés flutuam pelo trilho, livremente sem tocarem no chão.

Então, vamos juntos sonhar?

Veja! Aquela mãe no parque.

Parece que ela está dizendo alguma coisa:

-Vá, minha filha, jogue-se e brinque como uma criança.”

 

Esse texto foi escrito por Lígia Freitas, Mãe do João e Participante do Zum Zum de Mães.

@ligiafreitasescritora

Ilustração: @camisgray

Logo que ficou sabendo que estava grávida se pôs a ler todos os livros sobre desenvolvimento.

Assim que os primeiros sinais da mudança do corpo começaram a aparecer ela estava atenta a todo aquele acontecimento.

Logo nos primeiros exames a mãezinha já queria saber se o seu filho estava pronto para se desenvolver.

A mãe já amava demais, já amava toda aquela situação e todas aquelas novidades.

Todo o enxoval foi pensado e tudo de melhor lhe foi comprado.

O Filho tão desejado, tão amado e tão esperado já havia anunciado a sua chegada.

Logo nos primeiros dias os cuidados eram exagerados.

Os medos e as dúvidas sempre eram amenizados com todo o amor que lhe era dado.

A mãe que amava demais não admitia erros e fazia questão de cuidar de seu filho em tempo integral. Ninguém seria capaz de fazer igual.

Nos primeiros meses tudo era muito limpo e devidamente vistoriado, pois o filho tão esperado não podia ser malcuidado.

Quando se chegou a hora de explorar, a mãe que amava demais não conseguia deixar ele caminhar. Tudo era perigoso.

Aos poucos, a criança tão curiosa se tornou a criança medrosa.

Ao invés de andar, correr e pular, a criança esperava que o olhar de aprovação da mãe lhe deixasse voar.

A mãe que amava demais entendia que precisava permitir ao filho explorar, mas o medo e o amor não lhe deixavam experimentar.

O tempo exigiu que o filho fosse para a escola se alfabetizar, mas o filho não sabia se comportar. O mundo sempre lhe foi mostrado como um lugar muito perigoso e ele não sabia se integrar.

Muitos diziam o quanto ele necessitava voar, mas a mãe que amava demais tinha medo do filho lhe abandonar.

Aos poucos o mundo lhe cobrou muitas atitudes e liberdade para o filho crescer, mas o filho não sabia como proceder.

A mãe, sem saber o que fazer, brigou com todos e aos poucos se fechou. Contra o mundo ela lutou e o desenvolvimento do filho ela atrapalhou.

A mãe nunca entendeu o que estava provocando, porque a única coisa que ela fez foi amar. Na sua mente ela fez tudo o que julgou certo, mas o seu medo lhe impediu de ver além do seu universo.

Quantas vezes somos inundados pelo nosso amor e inundamos os nossos filhos com esse amor também, mas o quanto esse amor pode ser prisioneiro quando não enxergamos além do amor.

Hoje a minha reflexão é sobre o quanto temos que colocar um limite entre o nosso mundo, as nossas expectativas. Entender que o nosso filho tem o seu caminho a ser trilhado e que tem o direito de escolher como ele será.

Muitas mães na ânsia de fazer sempre o melhor para o filho, podem cair no erro da superproteção ou não levar em consideração a opinião dos filhos.

Se você se pegou aí nessas armadilhas do amor, pare e volte um pouquinho atrás, olhe em volta e deixe que seu filho participe das decisões da vida também. Só assim você estará buscando educar um ser mais integro e fortalecendo o seu crescimento.

Bjs e até a próxima

Deborah Garcia

Mãe da Liz e do Pedro, Psicóloga e Coach Familiar.

www.conexão.psc.br

Intagram: @deborahgarciapsi

Foi depois que me tornei mãe que a busca pelo autoconhecimento veio com força total. Muitas questões vieram a tona no meu pós parto e eu precisava trazer luz para minha sombra. Iniciei um processo de Coaching, o qual me ajudou a enxergar fora da caixa. Me apaixonei tanto pelo processo que resolvi me capacitar e estudar para também ser Coach.

Dos vários assuntos abordados na formação, me chamava sempre a atenção os temas relacionados à mente humana, sobretudo quando se tratava do nosso obscuro inconsciente. Aprendi que cerca de 95% de toda nossa atividade cerebral é comandada pelo nosso inconsciente, e apenas 5% pelo consciente. Fiquei intrigada com esta afirmação. Considerando que nossa mente é responsável por criar a realidade em que vivemos e pelo que somos, e se 95% dela trabalha de forma inconsciente, há de se ter cuidado. Esta é uma das razões pela qual ultimamente existem tantos estudos para desvendar os mistérios da mente humana, sobretudo no que diz respeito ao inconsciente.

Diferenças entre Consciente, Subconsciente e Inconsciente

Para ficar mais claro, trago para vocês de forma bem simples e resumida, a diferença entre Mente Consciente, Mente Subconsciente e Mente Inconsciente.

Mente Consciente:

É a parte do cérebro que pensa. É a mente desperta, acordada, que observa e coordena todas as nossas ações. É capaz de comparar, julgar e identificar se algo é bom ou ruim. Quando uma pessoa sente uma dor e sabe onde é essa dor, essa pessoa é consciente da existência da dor.

Mente subconsciente.

É a parte do cérebro que é responsável pelas nossas crenças, sejam elas fortalecedoras ou não. Se uma mãe acredita que não será capaz de nutrir seu bebê,  pois não tem leite suficiente ou o mesmo é fraco, então ela tem algo relacionado a amamentação armazenado em seu subconsciente que a faz pensar deste modo.

Costumo dizer que o subconsciente é um acervo das nossas memórias que para serem acessadas precisam de um esforço a mais. Sabe quando você esta querendo lembrar o nome de um livro super interessante que você leu sobre o sono dos bebês e você não consegue? Você se esforça, se lembra de trechos do livro, mas nada do nome. E de repente, minutos ou horas depois, quando você nem pensava mais sobre o assunto, você se lembra.

Mente Inconsciente.

É a parte do cérebro responsável pelos sentimentos. Essa parte domina o corpo e é por esse motivo que faz a pessoa fazer algumas coisas que muitas vezes não queria fazer. Sabe quando seu filho esta num momento de descontrole emocional, e mesmo você não querendo, de repente se vê gritando ou falando “coisas horríveis”? É seu inconsciente em ação.

Quando uma mãe vai trocar a fralda de seu bebê, por exemplo, o faz de forma inconsciente, pois não fica pensando o tempo todo o que tem que fazer. Por isso é possível trocar a fralda ao mesmo tempo que se canta uma música para entretê-lo.

A ação do Inconsciente na minha vida.

Eu sempre desejei ser mãe. Gostava e gosto muito de bebes e crianças. Quando jovem, sempre pensei em ter três filhos, acredito que pelo fato de eu ter dois irmãos. Todavia, meu marido desde o inicio falava que queria um só. Decidimos então que teríamos dois. Quando eu estava grávida da minha primeira filha, a Laís, eu já pensava e comunicava para as pessoas que após dois anos eu estaria grávida de novo.  Eu imaginava uma diferença de idade entre um filho e outro de cerca 2 a 2 anos e meio. Comentava inclusive que ia amamentar os dois ao mesmo tempo.

Laís nasceu, e com ela veio o puerpério, uma reviravolta. Mesmo eu desejando tanto ser mãe, não tinha consciência de tamanha mudança e transformação que a maternidade proporciona na vida de uma mulher. Infelizmente muitas não estão preparadas, não têm apoio, não buscam ajuda, e em meio ao caos, desistem de ter mais um filho.

Meu marido, que desde antes só queria um filho, sempre que estávamos em algum momento desafiador do pós parto, me instigava a “fecharmos a fábrica”. Confesso que muitas vezes cheguei a pensar nessa possibilidade, mas não me enxergava sendo mãe apenas de um. Então resolvemos que iríamos esperar um pouco mais para ter o segundo, talvez 3 ou 4 anos ao invés de 2.   Assim seguimos, mas não nos prevenimos adequadamente.

Voltei a menstruar após 1 ano e 3 meses do nascimento da Laís, exatamente no dia 01/01/2016. Lembro que fiquei feliz e pensei: “já estou pronta para engravidar de novo, e o período é o ideal para a diferença de idade que eu desejo”. Mas ao mesmo tempo este pensamento foi substituído por: “Agora não é hora de engravidar, há algumas questões profissionais que precisam ser resolvidas, tenho que me cuidar”. Como a vida sexual não estava assim tão ativa, reflexo ainda da adaptação da maternidade, eu estava seguindo a boa e velha tebelinha e não tendo relações nos possíveis dias férteis (foi seguindo a tabelinha que engravidei da Laís, mas fazendo o contrário).

Mas mesmo meu consciente dizendo NÃO, o meu inconsciente dizia SIM. Eu via outras mulheres grávidas e com crianças pequenas, e ficava me imaginando na mesma situação. Eu sentia saudade da minha barriga de grávida. E quando alguém me perguntava a respeito de ter mais filhos, eu respondia que queria mais um, falava da diferença de 2 anos que eu desejava e concluía dizendo que por algumas questões pessoais e profissionais eu tinha resolvido esperar mais um pouco. Só me esqueci de dar este recado para o meu inconsciente e por isso meu corpo estava todo preparado para engravidar. No terceiro mês após a menstruação ter voltado, tendo feito sexo esporadicamente e em datas que possivelmente eu não estava fértil, ENGRAVIDEI. (Quando engravidei da Laís foi um intensivão de 2 meses no período fértil).

Foi a partir desta constatação que eu realmente pude comprovar que nossa mente é fantástica e poderosa. Lógico que na hora que descobri a gravidez isso nem passou pela minha cabeça. Foi necessário algum tempo para eu digerir essa nova mudança e entender que mesmo eu não tendo planejado conscientemente esta gravidez, estava tudo muito bem planejado inconscientemente.

Este é apenas um exemplo real da ação do inconsciente na minha vida.

A Sombra e o Inconsciente

Quando me tornei mãe, assim como grande parte das recém mães, comecei a ler muito sobre maternidade com o objetivo de me tornar uma mãe melhor. Dentre as diversas páginas nas internet e livros, encontrei a BeeFamily e A Maternidade e o Encontro com a Própria Sombra – Laura Gutman, respectivamente. Ambos foram um divisor de águas na minha maternidade. São fonte de inspiração que me motivam a seguir em busca do autoconhecimento para assim trazer luz para minhas sombras e  ser a melhor mãe que posso ser.

Mas o que é essa tal sombra? Segundo a autora, “Este termo, usado e difundido por Carl Jung, tenta ser mais abrangente do que o termo “inconsciente”, defendido por Sigmund Freud. Refere-se às partes desconhecidas de nossa psique e, também, àquelas de nosso mundo espiritual que são desconhecidas.”

Podemos considerar que parte desta sombra encontra-se bem escondida no nosso inconsciente. São memórias do que vivemos, desde nossa concepção até aproximadamente nossos 20 anos, mas principalmente na primeira infância (0 a 3 anos). Medo, abandono, abuso, violência, desamor, insegurança… são alguns exemplos do que muitos de nós experimentamos, mas não lembramos, pois “engavetamos” todas essas “memórias ruins” no inconsciente. E então desenvolvemos um tipo de uma capa protetora, uma máscara, e seguimos firmes e fortes sem nos dar conta do que realmente nos aconteceu, de quem realmente somos. Até que nasce um bebê.

Um convite para olhar para dentro

Quando nasce um bebê, recebemos um dos convites mais importantes da nossa vida, olhar para dentro.

O ser humano em geral, só consegue ser plenamente feliz quando aceita e honra sua história, quando se conhece de verdade. Infelizmente, nem todos têm consciência disto e se vão deste plano sem saber quem são. Outros chegam nesta consciência já em idade avançada, e tudo bem, nunca é tarde para buscar o autoconhecimento, ser feliz.  Mas nós, mães, costumo dizer que somos privilegiadas, pois recebemos da vida o convite para o autoconhecimento. E melhor ainda, da vida que geramos, de nossos filhos.

É fato que, não é tão simples assim reconhecer este convite, ainda mais sozinha. É muito mais fácil e cômodo cair na mesmice de dizer que:

“Depois que meu filho nasceu …

…minha vida virou um caos.”

…meu casamento está indo de mal a pior.”

…meu marido não me entende.”

…eu não tenho mais tempo para nada.”

…eu não tenho mais vida social.”

…eu deveria estar mais feliz, mas não estou.”

…as vezes tenho vontade de sumir.”

…qualquer coisa me estressa.”

Ou ainda, costumamos rotular nossas crianças como: chorona, birrenta, nervosa, agitada, desobediente, teimosa, mimada, centralizadora…e não faltam rótulos, não faltam reclamações.  O que falta mesmo, na grande maioria das vezes, é coragem para buscar ajuda, enxergar e aceitar este convite tão precioso. Eu mesma demorei mais de um ano para entender. Precisei ler muito, passar por um processo de Coaching e pelo ZumZum. Só então me dei conta que, devido ao estado de fusão emocional mãe e bebê, o que minha filha estava expressando com sua inquietação, dificuldade para dormir, choros, algumas vezes febre, era na verdade o que estava dentro de mim.

E assim, o olhar para dentro ficou mais fácil. Não que tenha sido fácil, pelo contrário, foi e é doloroso. O processo de autoconhecimento geralmente dói, pois insistimos em carregar a máscara que criamos de nós mesmas. E quanto mais a gente resiste em ser quem realmente somos, em aceitar nossa história, em trazer luz para a sombra, mais difícil é. Por isso, infelizmente, muitas mães optam, mesmo que inconscientemente, por recusarem este maravilhoso convite ao mergulho nas profundezas do seu ser.

-E você, já aceitou seu convite?

-Consegue perceber nas ações e expressões do seu filho, as suas sombras?

-Como tem sido para você a experiência da maternidade?

-Você é plenamente feliz?

-Quem realmente é você?

 

Texto escrito por Amanda Balielo, Mãe da Laís e do Gael, Coach de Mães e participante da turma 4 do Zum Zum de Mães.

@amandabalielocoach 

Http://facebook.com/amandabalielocoach

 

Queridas mães, é com imensa alegria que escrevo esse texto para vocês. Gostaria de agradecer a Clarissa por essa oportunidade e por ter criado esse espaço maravilhoso de trocas, aprendizado, apoio e autoconhecimento. Meu nome é Tânia, sou psicóloga, psicanalista e mãe da Milena que fará 3 anos em agosto.

Escolhi falar desse tema por ser muito recorrente no meu consultório. O nascimento de um bebê trás muitos impactos no casal e em geral as mães reclamam muito da falta de envolvimento do companheiro nos cuidados com o bebê e de como elas se sentem sozinhas e sobrecarregadas.

Quando uma mulher engravida, além das mudanças biológicas e corporais, também ocorrem mudanças psicológicas que nos ajudam a nos apropriar desta nova função que é a maternidade. Psicologicamente falando, na gravidez passamos pela fase de transparência psíquica (Monique Bydlowski) que reativa a criança que fomos um dia. Com isso, ficamos mais abertas a lidar com os nossos conflitos infantis, principalmente ligados ao cuidado ou ao não cuidado que recebemos, em especial, de nossas mães. Ficamos preocupadas em como seremos como mães, em não reproduzir certos comportamentos familiares que nos fizeram sofrer. A natureza é sabia, primeiro precisamos cuidar de nós mesmas para depois conseguir cuidar do outro. Tudo isso é importante para conseguirmos entrar na fase de preocupação materna primária (Winnicott) que ocorre no final da gestação e nos primeiros meses de vida do bebê. Nesta fase o bebê é o centro de tudo, nossa mente e corpo ficam quase que totalmente voltados para ele. Desenvolvemos um estado de sintonia fina com o bebê que nos propicia atende-lo prontamente nas suas necessidades. Tudo isso ocorre na mulher de uma maneira visceral, muito intensa. Nós somos convocadas com uma força enorme a exercer esse papel. É a grande minoria das mulheres que movidas por grandes conflitos internos não elaborados, grandes privações afetivas e sociais ou mesmo patologias psiquiátricas não aceitam esse chamado. Com o homem as coisas ocorrem um pouco diferente. Eles não vivem a paternidade no próprio corpo, a intensidade do momento é bem diferente e por isso, muitas vezes essa construção é mais demorada e em alguns casos não acontece. 

Como podemos ajudar nesta construção fortalecendo a união familiar?

Na decisão de ter um filho:  

Podemos começar todo esse processo desde a ideia inicial de ter um filho. O marido está implicado nesta decisão? Ele também tem esse desejo? No meu caso, demorou um tempo para que eu e meu marido estivéssemos certos que queríamos ter um filho. Foram muitas conversas que aos poucos foram amadurecendo esse desejo em nós. Imaginávamos como seria e isso alimentava o nosso desejo, mesmo sabendo que seria tudo diferente do que pensávamos e que teríamos que mudar nossa vida, nossa rotina para acolher um bebê.

E quando o bebê não foi planejado? Nesse caso, o casal terá que lidar com isso, mas em grande parte destes casos percebemos que alguma parte desta mulher e deste homem quis ter um filho, mesmo que de forma pouco consciente, pois permitiram que a gravidez ocorresse. Tive um cliente jovem ainda terminando a faculdade, na qual a namorada ficou gravida. No primeiro momento foi um impacto enorme, chorou, achou que sua vida havia acabado. Depois, passou a curtir a gravidez e depois que o filho nasceu criou um vinculo muito forte, fazia de tudo e foi se tornando um pai amoroso, presente e participativo.

Na gestação:

A gestação também é um momento importante para incluirmos o marido nas consultas médicas, ultrassons, preparativos para a chegada do bebê. É importante deixar o marido interagir com o bebê dentro da barriga e estimular isso. Em nossa cultura, em geral, as pessoas e especialmente as mães conversam com os bebês e falam por eles, uma vez que ainda não conseguem falar. Isso é fundamental tanto para o bebê ser incluído no mundo simbólico quanto para os próprios pais, pois oferece uma concretude para existência desse bebê. Ele existe e já faz parte da família. Para o pai que não vive a gravidez corporalmente é muito importante para ir dando forma a sua paternidade. São falas simples como: Olha o papai chegou, eu escutei a voz dele e já estou querendo falar oi. Vem cá papai falar comigo. Sabemos que a partir da vigésima semana de gestação, o bebê já escuta bem os sons e que tem preferência pelos sons graves, como a voz do pai. Muitas vezes, eles reagem se mexendo. Intuitivamente percebemos isso e incluímos o pai nesse processo. Durante a gestação algumas mulheres também optam em fazer cursos sobre cuidados com o bebê, amamentação, etc. Seria fantástico se os pais participassem juntos, mas quando isto não for possível, é bacana que possamos passar o que aprendemos a eles.

No parto:

No parto, a inclusão do pai também é muito importante independentemente do tipo de parto que irá acontecer. O pai sempre terá um papel importante tanto de apoio emocional para a mãe quanto para acolher o bebê nesse primeiro momento de sua vida.

Na volta para casa da maternidade:

Agora vem a parte mais difícil: a volta para casa da maternidade. Entre 70 e 90% das mulheres passam pelo fenômeno denominado Baby Blues. Ocorre entre o terceiro e quarto dia após o nascimento do bebê. A mulher entra num estado de muita fragilidade e sensibilidade. É muito comum que a mulher chore por uma mistura de sentimentos e hormônios. É um estado de reconhecimento mútuo do bebê e da mãe. Psicologicamente falando, há nesse momento uma reatualização dos lutos e das separações não simbolizadas ao longo da vida da mulher. Especialmente nessa fase, a presença amorosa do parceiro é muito reconfortante, assim como a presença acolhedora da mãe da mãe. As parturientes precisam ser cuidadas e acolhidas. Ter a informação que a parturiente pode passar por essa fase é interessante, para que ela e a família possam reconhece-la e se assustar menos com o turbilhão de sentimentos que podem surgir, facilitando o cuidado materno nesse momento. Passar por esse fenômeno é normal e não necessita de ajuda especializada, diferente dos quadros de depressão pós-parto e psicose pós-parto que muitas vezes impedem que a mãe exerça o cuidado com o bebê.

No dia a dia com o bebê:

Passadas as primeiras grandes emoções, entramos no dia a dia com o bebê. Aquele pequeno ser que necessita da gente para absolutamente tudo, 24 horas por dia. Em geral é nessa fase que iniciam os maiores conflitos no casal. O principal motivo é que as mulheres se sentem cansadas e sobrecarregadas e os homens se sentem cobrados e criticados. É claro que todo o histórico anterior terá um impacto positivo ou negativo nessa fase. Os homens que já vinham participando desde o início terão uma tendência a serem mais participativos nos cuidados com o bebê, mas mesmo assim, pode não ser da forma que a mulher espera. Então, como podemos fazer para essa fase ficar mais leve?

Quando o bebê nasce, nós mães somos as pessoas mais intimas e importantes na vida dele. Ele já nos conhece como ninguém. Esteve dentro de nós, escutou as batidas do nosso coração, nossa voz, sentiu muitos dos nossos sentimentos e depois que nasce ainda sente que ele e a mãe são uma pessoa só. E nós mães por toda natureza na qual já me referi acima somos as pessoas mais aptas a nos conectar com ele para que possamos atender as suas necessidades tanto físicas quanto emocionais e psicológicas. Dessa maneira, também somos nós a introduzir uma terceira pessoa a esta relação. Já ouvi de algumas mães: Mas Tânia, isto é muito pesado. Como assim também somos responsáveis por introduzir o pai na relação com os filhos? Claro que não somos 100% responsáveis, eles também têm a parcela deles, mas o que eu quero dizer é que podemos facilitar ou dificultar essa relação. Por exemplo: se acharmos que o pai não sabe cuidar do bebê, que é desajeitado, que não leva jeito para trocar a fralda e se temos receio de que o pai dê um banho, teremos a tendência de fazer tudo sozinha.  Para camuflar isso, as vezes sem perceber, usamos o pai apenas para: preparar o banho, trazer as coisas que a gente está precisando, etc. Se o pai fica apenas como auxiliar, trazendo coisas, preparando outras, ele perde o mais importante que é a relação, a conexão com o filho. É muito comum fazermos isso sem perceber. Se conseguirmos dosar isto melhor, possibilitamos um contato mais agradável e não transformamos o pai num auxiliar.

Facilitamos o contato e a conexão do pai com o bebê e a união familiar quando em primeiro lugar somos claras, pedimos o que queremos sem a expectativa de que o outro vai adivinhar que precisamos de ajuda. Quando temos essa expectativa invariavelmente iremos nos frustrar e ficar com raiva. Podemos deixar que o pai exerça tarefas diretamente com o bebê e aceitar que ele vai fazer do jeito dele. Podemos ensinar sim alguma coisa desde que seja sem críticas. Devemos evitar a frase: pode deixar, você não sabe fazer nada mesmo ou olha o que você está fazendo, não é assim… Estas falas são muito comuns e afastam o pai da relação. Eles já têm que lidar com o sentimento de exclusão próprios da ocasião, pois é a mãe a pessoa mais importante para o bebê e o bebê também para a mãe. A nossa atitude é de fundamental importância para a harmonia e conexão familiar. Nós mães muitas vezes não falamos pelo bebê uma vez que ele ainda não sabe falar? Então podemos fazer assim: Papai eu prefiro que troque a minha fralda assim. Gosto de ficar no colo de frente para eu olhar para todo mundo. Oba papai chegou, estou com saudade do colinho dele. Papai me coloca para arrotar agora, eu já acabei de mamar. É claro que não vamos falar o tempo todo pelo bebê com o pai, e quando falarmos diretamente com ele podemos falar com tranquilidade, com clareza e também com carinho, para que todos sintam o quanto são importantes naquela família. Escuto frequentemente, os pais se queixando de que as mulheres não falam o que querem e depois cobram como se tivesse falado. É importante lembrar que o que é obvio para nós, pode não ser obvio para o outro. O casal deverá suportar ficar em segundo plano nesse momento, priorizando o bebê, mas mãe e pai podem se unir ainda mais em prol do maior projeto de suas vidas que é criar um filho. Nesta fase ter uma rede de apoio também é muito importante, ter avós que ajudem, algum familiar ou mesmo uma funcionária de confiança, faz com que a rotina inicial fique mais leve para todos. E na medida que o bebê for crescendo as vezes é possível fazer um passeio com o marido e deixa-lo aos cuidados da vovó. E se o seu filho já não é mais um bebê e você continua com os mesmos problemas, também é possível aplicar o que estou explicando aqui. Deixe os dois sozinhos brincando, permita e incentive que o pai leve na pracinha sozinho que eles desenvolvam as atividades deles.  A grande maioria dos pais responde positivamente a estas iniciativas.

Espero que tenham gostado do texto e que ele possa ajudar de alguma forma. Pretendo escrever nos próximos meses sobre o surgimento do psiquismo e o desenvolvimento emocional desde o feto até a criança e como podemos ajudar para um desenvolvimento emocional saudável. Deixe sua dúvida, seu comentário que terei prazer em conversar com você.

 

Este Texto foi escrito por:  Tânia Oliveira de Almeida Grassano, Psicóloga formada pela UFMG. CRP-04/19643

Psicanalista: Membro efetivo e docente na Sociedade Brasileira de Psicanalise de Minas Gerais – SBPMG.

Realiza atendimento em psicoterapia individual de crianças, adolescentes e adultos. Atua também com psicoterapia pais-bebê.

Os atendimentos são realizados em BH, próximo à praça da Liberdade.

Contatos: (31) 30725974 / [email protected]

O Julgamento

Era uma tarde de sexta feira, sai um pouco mais cedo do trabalho, precisava comprar umas roupas para o inverno que acabara de chegar. Entrei em uma loja, experimentei as peças, decidi o que levaria e fui para o caixa. Percebi que ia demorar, pois duas vendedoras estavam trocando a fita da máquina do cartão, olhei para o relógio, meu tempo era cronometrado, ainda precisava pegar minha filha na escola, mas já que não tinha outro jeito comecei então a prestar atenção na conversa das duas moças. Uma delas estava contando que viveu dos 5 aos 13 anos em um colégio interno junto com a irmã, contou ainda que só iam para casa nos finais de semana há cada 15 dias, fiquei alguns segundos em silêncio e um pouco chocada, olhei para ela com mais atenção, como que procurando alguma coisa, algum traço, ainda que no olhar, que refletisse tamanho abandono.

Não resisti e me intrometi na conversa, perguntei se ela não sentia falta de casa, ela disse que no início sim, que havia sido muito sofrido e solitário, mas que depois se acostumou. Acho que ela percebeu o meu olhar atônito e falou resignada que foi o melhor colégio em que já havia estudado, que os professores eram muito bons e que haviam feito muitos amigos.

A outra vendedora falou algo do tipo: “nunca faria isso com minha filha” e percebi que era exatamente aquilo que eu estava pensando, a moça porém defendeu prontamente sua mãe, dizendo que ela não teve outra escolha, ela era sozinha com duas filhas e essa foi a única maneira de conciliar a maternidade com o seu trabalho, que era o único sustento da família. Mas ainda assim, na intimidade dos meus pensamentos eu julguei ferozmente aquela mãe, só conseguia pensar no abandono que aquela moça havia sofrido em tão terna idade. Perguntei como era a relação com a mãe atualmente, ela me respondeu que não tinham uma relação muito próxima e com sinceridade me contou que se tornou uma pessoa muito carente de afeto, mas que ao mesmo tempo tinha uma enorme dificuldade em criar vínculos com as pessoas, inclusive com a própria mãe.

A empatia

Sai da loja levando minha sacola, meus pensamentos e um monte de sentimentos desordenados, de indignação principalmente, fui andando apressada em direção ao metrô, o coração apertado e um nó na garganta eu só conseguia pensar na moça da loja e em sua irmã, duas crianças pequenas abandonadas em um colégio interno….

Mas aos poucos minha consciência foi me chamando a razão e comecei a tentar exercitar a verdadeira  empatia, fui tentando me colocar no lugar daquela mãe de uma maneira muito verdadeira, fui tentando imaginar que caminhos a teriam levado até a porta daquele colégio e quanta dor e culpa aquela decisão deve ter custado até hoje.

Comecei a visualizar uma mulher diferente da megera do meu primeiro pensamento, comecei a vê-la como uma mulher sozinha, perdida e exausta. Provavelmente devia estar sendo cobrada ao extremo no trabalho, mas ia aceitando, consumindo  seu tempo e correspondendo de forma impecável, quem sabe ela tinha em vista uma promoção que poderia melhorar a vida e o futuro de suas meninas. Pensei na possível amargura que a devorava por dentro, pelo fato de ter sido abandonada pelo pai de suas filhas, ou talvez tenha sido uma morte precoce e inesperada que tenha levado para sempre o amor de sua vida, de todo modo imaginei a saudade que ela devia sentir da época que sua família estava inteira, senti sua solidão no silêncio de uma casa vazia e arrumada, pensei em todas as noites quando ela finalmente desabava em sua cama fria, possivelmente era somente ali que se permitia chorar… Como fui injusta com aquela mulher, poderia ter sido eu, poderia ter sido comigo em um outro tempo, em um outro cenário, em outras circunstâncias.

 

A minha culpa

Quando dei por mim já estava na estação que deveria descer, fui caminhando pela rua ainda emersa em meus pensamentos. Chegando perto da escola da minha filha, fui dragada para um passado não muito distante dali, comecei a reviver então os meus caminhos, aqueles que me levaram até a porta daquela escola pela primeira vez, carregando nos braços uma bebê com ainda 6 meses e meio.

Lembro da sensação de que o tempo havia passado rápido de mais, os meses da minha licença teimavam em começar e terminar em uma velocidade que eu não fui capaz de acompanhar, quando dei por mim estava sentada na secretaria matriculando minha filha. Dias depois, prestes a voltar ao trabalho o coração estava estrangulado e cheio de culpa, não sabia se havíamos nos preparado para aquele dia!

Queria dizer para minha filha, de algum modo que ela entendesse, que não havia outro jeito, eu simplesmente precisava voltar ao trabalho, não somente por amar minha profissão, mas nossa realidade financeira naquele momento não me permitia outra opção! Queria explicar que entendia que era cedo demais para nós duas e que não era uma troca, nem abandono, nem falta de amor ou vontade. Queria poder parar o tempo ou começar tudo de novo, ir de volta para o momento em que entramos em casa pela primeira vez com nosso pacotinho nos braços, completamente confusos e arrebatados de amor.

No primeiro dia em que ela ficou na escola sem mim, após o período de adaptação, a saudade que eu senti foi devastadora e irracional, só haviam alguns minutos que eu a havia deixado lá, tentava me convencer de que o que eu sentia não fazia sentido, mas o meu corpo me falava a verdade, do meu peito vazava leite, nos meus braços um imenso vazio e no meu colo só ausência.

Rezei baixinho para que ela não estivesse sentindo minha falta do mesmo jeito que eu estava sentindo a dela, pedi a Deus que fizesse florescer amor pelas suas novas tias e que ela cativasse seus corações, para que em seu novo e precoce caminho ela continuasse cercada de amor, mesmo quando inevitavelmente estivesse longe dos meus olhos…

Já de volta ao presente, na porta da escola, escutei a vozinha da minha pequena dizendo: “é a mamãe é a minha mamãe ” ela veio correndo e pulou no meu pescoço, como sempre faz todos os dias.  Esse é sem duvida o melhor momento do meu dia, depois de mais de nove horas longe dela, chega finalmente o momento do nosso abraço, meu corpo todo se prepara, meu espírito se entrelaça com o dela e eu sou preenchida pela felicidade mais verdadeira e pura que já pude experimentar. 

Somos muitas, Somos tantas….

No caminho de volta para casa, pensei novamente na moça da loja e em como deviam ser os reencontros após os 15 dias longe da mãe, desejei de coração que esses momentos tenham sido mágicos, como o meu acabara de ser, senti uma enorme gratidão por poder passar todas as noites com a minha filha, por poder compartilhar a cama e dormir de mãos dadas com ela, sentindo seu cheirinho e seu calor, me emocionei e algumas lágrimas começaram a cair pelo meu rosto. Mas logo em seguida senti medo de ser julgada pelas minhas decisões, assim como eu tinha acabado de fazer com uma outra mãe. Ainda no caminho de casa, uma mulher passou por mim na rua, reparou minhas lágrimas e disse: “foi só um dia difícil, eu sei bem como é, estou indo buscar o meu na escola” apesar daquele não ser exatamente o motivo pelo qual eu estava chorando, me senti acolhida por aquele comentário, senti que eu não estava sozinha, somos muitas, somos tantas, estamos em todos os lugares, pelos quatro cantos do mundo…

Quando cheguei em casa chorei ainda mais, já nem sabia mais por que eu estava chorando, se era por mim mesma e o peso da minha escolha, se era pela minha filha que desde de pequenina tem que ficar tanto tempo longe casa, se era pela moça da loja e a ferida emocional que o abandono causou a criança que ela foi um dia, se era pela mãe dela e todo esse tempo convivendo com a solidão e a culpa.  Acho que na verdade chorei por todas nós que decidimos seguir com as nossas carreiras apesar de tudo. Chorei também por aquelas que decidiram desistir de suas profissões, ainda que por um tempo, decidiram renunciar aos seus sonhos e aos seus projetos. Sinto tanto por ainda termos que fazer escolhas tão difíceis, por ainda ser tão difícil sustentar essas escolhas e sinto mais ainda por saber que independente de quais sejam, seremos sempre duramente julgadas.

Antes de dormir fiz uma prece, pedi por um mundo como mais empatia e respeito,  onde nós voltássemos a acreditar que não fomos feitas para julgarmos ou competirmos entre nós, pedi que nos lembrássemos da nossa essência e de quão natural e poderoso é quando estamos juntas, nos apoiando e aprendendo com nossas diferenças, que nos lembrássemos o quão potente somos quando colaboramos para o crescimento e a mudança que queremos ver mundo. Pedi desculpas aquela mãe pelo meu pré-julgamento e pedi que ainda houvesse tempo de cura, de perdão e de amor para todas nós…

Esse texto foi escrito por: Vivian Pessoa, mãe da Ive de 2 anos e 4 meses  e participei da turma 5 do Zum Zum de Mães.

@viviancpessoa

 

Minha filha já tinha mais de um ano de idade quando eu li o seguinte trecho da obra da Laura Gutman “A maternidade e o encontro com a própria sombra”: “Prevalece, também, a intenção de evitar a dor, embora ‘dor’ seja diferente de ‘sofrimento’. O sofrimento é padecido quando a mulher se sente só, desprotegida, desamparada, humilhada ou acha que não está fazendo o correto. Quando se está em posição dorsal (deitada), com soro (que não permite que se levante da maca nem se vire), ouvindo as pulsações do bebê amplificadas e tentando adivinhar o que significa a expressão do obstetra ou da parteira depois de cada toque.” Eu simplesmente fechei o livro, chorei e demorei um tempo pra voltar novamente naquela página…

Considero que minha gravidez foi ótima: atividade física cinco vezes por semana, nada de enjoos, nada de intercorrências, esperando a hora da minha filha. Desde o primeiro instante, eu decidida: parto normal.
Havia só um detalhe: assim que descobri que estava grávida, com 6 semanas de gestação, tive que me mudar de cidade, deixando para trás o meu médico de confiança, defensor do parto normal. Chegando ao meu destino eu me consultei com alguns médicos e a minha primeira pergunta era: qual a sua experiência com partos normais? Encontrei um profissional em que confiei e continuei meu pré-natal, linda e contente.
Mil e duzentos quilômetros depois da minha cidade e exatamente 40 semanas mais tarde (bem na DPP), a Olívia deu o primeiro sinal: lá vem a minha bebê!!!
As contrações iam se intensificando e eu calma, muito tranquila: fiquei em casa, tomei um longo banho, tirei o esmalte das unhas… Até meu marido quis se embelezar: ‘Dá tempo de fazer a barba, amor’… ‘Claro! Está tudo sob controle.’. Até aqui eu sentia só dor, nada de sofrimento.
Cheguei no hospital com 7 dedos de dilatação e já pensei ‘Que boa notícia. Estou indo muito bem’. As contrações aumentando, muita dor e eu forte: logo fui encaminhada para a sala de parto normal.
Foi quando as coisas começaram a parecer diferentes da minha expectativa: na minha frente aquela maca ginecológica. Não tinha nada a ver com os episódios do Boas Vindas.
Poucos minutos depois estava lá eu deitada naquela posição dorsal, com um caninho nas costas e pernas pra cima. Eu estava me sentindo mesmo de cabeça pra baixo, com a neném entalada na minha garganta. A minha dor era tanta que eu não conseguia reagir a nada: naquela hora eu só pensava em fazer força na hora que ela tivesse que sair. 
Já se iam 7 horas de trabalho de parto,  9 dedos de dilatação, eu lá de ponta-cabeça com uma dor de matar, porque parece que a anestesia só fez atrapalhar minhas contrações, a dor que eu sentia era incrível.
De tempos em tempos, o batimento cardíaco da minha filha era escutado por meio de um aparelho manual que parecia um cone de linha de costura… nesta época tecnológica em que existe aplicativo de celular que permite ouvir os sons do bebê, era nisto que eu tinha que confiar.
Até que, depois de uma escuta na barriga, foi minha vez de ouvir a sentença final: “Acabou o seu sonho do parto normal.” Esta frase ainda ecoando na minha cabeça. Eu nem sei o que pensei na hora, provavelmente foi: salvem a minha filha. 
Correria e eu ouvindo: ‘Vamos transferi-la para uma sala de cesárea.’ e a resposta da enfermeira: ‘Não tem sala’. Foi tudo lá mesmo: depois de 7 minutos, sangue espirrado na parede e eu sem reação ela já tinha nascido… fora da minha barriga e do meu alcance, eu só disse para o meu marido: “só veja se ela está bem”.
E ela estava ótima!
Eu não lembro o que eu pensei naquela hora sobre a minha situação… depois que ela nasceu eu só queria chegar perto dela, ver se estava tudo bem. Parei de pensar em mim. Aquele tinha sido o meu parto normal. Muita coisa aconteceu naquele dia, mas isso fica pra outro momento!
Eu sentia, sinto sempre sentirei gratidão pelo nascimento da minha filha. Só que alguma coisa tinha acontecido comigo ali naquela sala, eu não sabia o que era, mas eu não era mais a mesma. Claro, eu era mãe. Mas ainda tinha algo a mais.
Somente depois de ter lido aquele trecho que escrevi acima pude perceber o que o parto foi na minha vida: um momento de impotência, humilhação. 
Eu me sentindo culpada e fraca. Como eu não pude fazer nada naquela hora? Eu simplesmente não podia. Eu me sentia engessada. 
Depois de muito tempo percebi que aquela dor do parto tinha se transformado em um longo sofrimento: por muito tempo eu me senti incapaz de cuidar da minha filha, parecia desorientada, perdida. Minha mãe morando comigo desde o nascimento até ela completar 3 anos. Eram duas que precisavam de colo.
Justo eu que tinha lido vários livros, visto muitos vídeos e falava para todas as gestantes dos benefícios do parto normal, tinha que escutar: ‘Nossa, depois de tanta dor ainda fez cesárea! Deveria ter marcado logo!’ Eu só engolindo. Eu tinha vergonha de mim.
Quem sou eu para analisar ou questionar a conduta dos médicos naquele momento. Não tenho tal técnica e nem coragem: a minha filha é perfeita e saudável. Mas posso analisar a minha conduta, o meu aprendizado.
Nunca me preparei para um plano B. Minha gravidez foi de flores e borboletinhas e não pensava que o parto seria diferente: na minha a cabeça eu seria protagonista de um episódio de programa de televisão. É o famoso meme: expectativa X realidade. Eu não tinha preparado para uma realidade de sofrimento. Eu imaginava a dor do parto, não o sofrimento da humilhação.
Apesar de ter lido, relido e aprendido sobre o parto normal, eu cometi um erro: eu não tinha as pessoas corretas ao meu lado. Ao meu ver, se tem uma verdade nesta vida é que você não vai parir sozinha: que profissional estará ao seu lado? Um médico, uma parteira, uma doula? Essa pessoa tem realmente experiência em parto normal?
Helloooo Suzete: você mora em um país continental onde 57% dos partos são cesáreas (Revista UNICEF n.39, p.9, Março/18)! Muita gente (inclusive eu) difunde, defende e incentiva o parto normal, mas esta é uma realidade na sua vida? Na minha não era! Não era! E eu não tinha me preparado para isto.
Por fim, aprendi que olhar para o meu sofrimento me faz crescer como mulher e como mãe. Escrever este texto, contar a história, falar com as futuras mães me faz entender as consequências do meu pós-parto, explica muita coisa. Por muito tempo eu fiquei com engasgada com tudo, sem entender. Quando eu pude falar, ter contato com outras pessoas que também sofreram, eu percebi que não estou sozinha. Enquanto eu falo eu aprendo a aceitar a realidade, tal como ela é.
Neste ponto, é importante a rede de apoio (mesmo que virtual no Zumzum), a dupla de escuta, ter contato com outras mães: as crises, os problemas, as tristezas não são iguais, mas são bem parecidas e desabafar faz muito bem!
Hoje estou grávida novamente, de 16 semanas: tenho uma gravidez inteira e um parto pela frente. Tudo que eu passei serviu de aprendizado. Hoje, olhando para meu sofrimento, ergo a cabeça e digo: estou aqui para o que der e vier.
Este TEXTO foi escrito por: Suzete Pereira Gonçalves, Mãe da Olívia, de 4 anos e 8 meses e grávida de 16 semanas. Advogada em São Paulo e participante do Zum Zum de Mães!
Instragram: @suzetegoncalves
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