Eu já escrevi para vocês sobre a escolha de ter ou não mais que um filho (Mais de um filho, ter ou não ter). Já contei também do meu antigo desejo de ser mãe de três, mas que no momento o marido e eu havíamos decidido “fechar a fábrica” no segundo (A maternidade como oportunidade para o autoconhecimento), afinal, como diz uma querida amiga, já tenho um exemplar de cada (uma menina e um menino).
Eu estava tão decidida conscientemente a este respeito, que assim que Gael nasceu doei todas as minhas roupas de grávida e conforme ele foi crescendo fui doando tudo que já não lhe servia mais, diferente do que fiz com Laís. Quando Gael tinha cerca de sete ou oito meses, meu marido voltou de uma imersão de Coaching que estava participando em um final de semana e me disse que nos exercícios de visualização do futuro que fez ele sempre via nossa família com três filhos. Na hora reagi: “Está louco? Nem brinca com uma coisa dessas.” Mas no fundo, eu fiquei feliz em pensar na possibilidade de me ver grávida de novo, de parir, de ter mais um filho. Sabe quando parece que uma sementinha que estava dentro do saquinho é plantada em um vaso e ela percebe que a partir de então ela pode desabrochar? Nem toda semente que é plantada de fato se torna uma planta, mas há uma possibilidade. Foi mais ou menos isso que senti. Não que eu necessariamente teria mais um filho, mas a possibilidade me trouxe uma grande felicidade para o meu coração.
Eu nunca escondi de ninguém o desejo de ter mais um filho, todavia, queria esperar mais tempo dessa vez, daqui uns três ou quatro anos quem sabe, eu pensava. Ao mesmo tempo, eu sabia que se fosse esperar todo esse tempo ia acabar desistindo. Aquela história de não querer revirar tudo de novo quando as coisas já estão se encaixando. Assim, eu estava conformada com a idéia de continuar só com um exemplar de cada.
Por vezes, quando via alguma grávida, ou bebê recém-nascido, ou alguma família com três filhos ou mais, eu achava lindo! E, novamente, o sentimento de ter mais um filho me invadia. Outras vezes, ao rever fotos das minhas gestações e dos partos, eu pensava: “Será que não vou ter a oportunidade de estar grávida e parir novamente?”. Todavia, o diálogo interno começava: “Deixa de ser doida e se aquieta com dois, já está bom. Dois é o suficiente, você só tem duas pernas e dois braços para dar colo, um para cada. Se vier mais um, como você vai fazer? Como vai dar conta? Como vai administrar mais um filho?”. E assim eu ia procurando calar o desejo que desde sempre esteve comigo.
Uma semana após Gael completar um ano, voltei a menstruar. Uauuuuu, meu corpo estava pronto novamente. Agora mais do que nunca era preciso cuidado. As relações sexuais eram todas protegidas, e com dois filhos pequenos, eram também pouco frequentes. Mas um belo dia, após quase uma quarentena (ou mais) sem sexo, não achamos a “abençoada camisinha”. Pelas minhas contas o período fértil já tinha passado, sendo assim, deixamos a proteção de lado. Pronto, estava feito!
No mês seguinte a menstruação não veio. Senti um frio na barriga, mas minha mente tagarela entrou em ação tentando me tranquilizar:
“Fica tranquila, seu ciclo não é regulado, logo a menstruação chega.”
“Algumas mulheres demoram para voltar a ter o ciclo normal após o parto.”
“Após o parto da Laís a menstruação veio só depois de um ano e três meses, então pode ser que logo ela chegue.”
Pensei em fazer um teste de farmácia, mas eu estava sem coragem. Sonhei que tinha feito um e que o resultado era positivo: “Ah, foi só um sonho!” – minha mente dizia.
E assim eu ia fugindo da realidade.
No segundo mês, de novo ela não veio. E agora?
“Ah, mas não estou sentindo nenhum enjoo.”
“Este sono que as vezes sinto é porque tenho dormido pouco devido a rotina intensa das últimas semanas.”
Eu continuava fugindo.
Até que em um domingo percebi que uma calça jeans já não estava tão folgada como antes. A noite, antes de ir dormir, subi na balança que tenho no banheiro e estava um pouco esquecida no último mês. Quase 2,5kg a mais. Chamei Rafael e disse: “Nossa, preciso voltar a cuidar da minha alimentação, tenho comido em excesso, olha como engordei?”.
Ele olhou para mim e disse: Você esta grávida!
Meu corpo inteiro estremeceu! Como assim grávida? Eu não podia estar grávida! Não agora! Eu estava com vários planos e projetos para este ano, e neles não estava incluído estar grávida. Resisti. Ainda não queria acreditar.
Naquela noite quase não dormi.
Na segunda feira Rafael foi trabalhar logo cedo, e na volta para o almoço me trouxe duas caixinhas de teste de farmácia. Eu estava resistente, não queria fazer, talvez porque eu já soubesse da resposta. Eu queria ver apenas um risquinho no marcador, mas nem sabia qual era a sensação de ver apenas um risquinho, os dois testes que fiz foram positivos de cara, eu já sabia que este também ia ser, só não queria ver.
E realmente foi. Na verdade eu fiz o xixi, coloquei o marcador e pedi para o Rafael ir avaliar. Ele, sem entender direito, disse que estava negativo, pois os risquinhos eram de intensidades diferentes. Mal sabia ele que a intensidade da cor não importa. Bastam dois risquinhos para que o resultado seja positivo.
Chorei, chorei, chorei e chorei mais um pouco.
E agora?
Um turbilhão de coisas vieram à minha mente. Coisas negativas que eu não queria que viessem, mas não consegui evitar. Agradeci a Deus pela oportunidade de mais uma vez gerar a vida, porém os pensamentos negativos não iam embora.
Minha mente tagarela não conseguia silenciar um segundo:
“Como pude ter sido tão irresponsável?”
“E todos os planos que eu tinha pra 2019, como vou fazer?”
“Como Laís e Gael vão lidar com a chegada de um bebê? Ahhh, e Gael é ainda tão novinho…”
“Como Rafael vai lidar com mais um filho? Como vai ficar nossa relação?”
“Já é tão desafiador ser mãe de dois em alguns momentos, imagine de três? Como eu vou dar conta?”
“O que as pessoas irão pensar? (Este foi de fato o pensamento mais medíocre de todos. Percebi o quanto ainda tenho que desconstruir com relação a necessidade de ter minhas atitudes aprovadas pelos outros.)”
Enfim, neste primeiro momento tive muito medo. Chorei e chorei!
E chorei pelo fato de estar chorando, pois sabia que o bebê que estava em meu ventre estava sentindo tudo aquilo e eu não queria que ele sentisse. Sabia que todo o tempo que ele já estava lá dentro e eu o negando tinham impactos na sua formação… ele não merecia esta carga. Por outro lado, eu não conseguia controlar. Precisava colocar para fora de uma vez por todas o turbilhão de sentimentos confusos que estavam em meu ser. Eu chorei.
Rafael me acolheu!
Em meio ao meu desespero, Rafael usou suas habilidades de Coach e começou a me questionar várias coisas do tipo, o que eu estava sentindo, por que eu acreditava que estava sentindo aquilo, quais meus medos e inseguranças. Eu estava reativa, não queria pensar em nada do que ele estava falando, só queria ficar no papel de vítima coitadinha que não se cuidou e agora teria que lidar com mais um bebê. Eu só pensava nos planos que eu teria que adiar e no medo de não dar conta. Entretanto, Rafael me deu uns bons chacoalhões. Ele me fez refletir que ter três filhos sempre foi um grande desejo do meu coração, e que se eu fosse esperar mais tempo para engravidar talvez eu desistisse. Também me lembrou do quanto eu amo estar grávida, e do quanto eu devo ser grata pelo meu corpo estar saudável e fértil. Ele me fez imaginar o quanto será gostoso ter uma casa cheia de filhos, e me fez enxergar que a chegada deste bebê tem um propósito muito importante, considerando que foi uma única relação sem camisinha. Deus deve ter falado, é agora ou nunca! Enfim, era pra ser! E era pra ser agora, neste momento. Os demais planos podem ser adiados, mas a chegada deste bebê, que já chegou chegando e nos mostrando que não temos o controle de tudo, não.
Eu, que acredito tanto em Deus, que confio e que procuro estar sempre aberta para as manifestações divinas na minha vida, neste momento estava totalmente cética. Mas aos poucos Rafael conseguiu me trazer para o eixo novamente, abraçou-me, acolheu-me e abriu-me os olhos para aquilo que eu acredito e defendo. Quando estamos abertos à ação divina em nossas vidas, devemos repetir o mantra: Entrego, confio, aceito, agradeço!
Apesar de já estar mais calma, naquela noite eu ainda tive um sono agitado. Por vezes ainda não acreditava que estava grávida, e só para ter mais certeza, fiz o outro teste assim que acordei no dia seguinte, que confirmou o que já era certo.
Pensei em tudo que Rafael tinha me falado no dia anterior. Olhei para dentro, busquei meus valores, minhas crenças, minhas forças. Repeti para mim mesma mais uma vez o mantra: Entrego, confio, aceito, agradeço!
Senti que precisava ter uma conversa íntima comigo mesma, com Deus, e com o bebê. Precisava “colocar os pingos nos is”, entender melhor meus sentimentos, pedir perdão.
Fui para o Jardim Botânico com meu tapetinho de yoga. Sentei-me em posição de meditação com as mãos no ventre, olhei para o céu e a natureza ao meu redor, tudo tão lindo, cheio de vida, de abundância, em perfeita sintonia. Em silêncio chorei! Busquei entender cada sentimento, e comecei a conversar com Deus. Pedi perdão pela minha falta de confiança. Entreguei a Ele meu ser, minha gestação, meu bebê. Agradeci pela confiança d’Ele para comigo, pois mais uma vez eu fui escolhida para ser o canal através do qual uma alma vem ao mundo para cumprir sua missão. Mais uma vez eu vou ter a grande oportunidade de experimentar o milagre da vida acontecendo em meu ventre. Mais uma vez eu vou poder entrar em contato com minhas sombras e evoluir. Mais uma vez eu vou ter a graça de experimentar o amor mais puro, de ensinar e aprender… Agradeci pelo meu corpo perfeito, pela minha fertilidade.
Em seguida, iniciei o diálogo com meu bebê. Pedi perdão pelos meus medos e inseguranças, pela falta de aceitação da gravidez, pelos julgamentos e pelo sentimento de culpa. Disse que sentia muito por ter compartilhado todos estes sentimentos negativos com ele, pois ele não merecia. Agradeci por ele ter me escolhido como mãe, apesar de todas as minhas imperfeições. E disse também que desde já eu o amava muito, e que ele será muito bem vindo, amado, e querido em nossa família. Chorei, mas desta vez um choro de alívio misturado com felicidade.
E depois de sentir a alma mais leve, aproveitei e pratiquei um pouco de yoga com a consciência que dentro do meu corpo habita um ser em desenvolvimento que precisa de todo meu amor e cuidado.
No momento em que escrevo este texto já estou com 14 semanas de gestação, e por vezes ainda esqueço que estou grávida. Não sinto enjoos e nenhum outro desconforto, sigo meu dia normalmente, na deliciosa e louca rotina de ser mãe de dois. Em breve a barriga vai começar a crescer e sei que virão outros desafios. Algumas vezes me pego pensando no que pode vir de mais desafiador, mas quando me dou conta já mando estes pensamentos embora e foco na alegria que é ser mãe.
Laís e Gael estão numa fase super gostosa de irmãos, brincam juntos, se abraçam, se beijam, cuidam um do outro. É encantador! Lógico que existem os momentos de rivalidade, e são bem intensos, mas são bem poucos se comparados aos momentos de parceria. Ver o amor entre os dois tranquiliza meu coração quando penso na chegada do novo integrante da família.
Laís, a princípio, não aceitou a gravidez. Disse que só queria o Gael de irmão, que estava bom a família do jeito que estava e não precisava crescer. Nem preciso dizer que, de alguma forma, ela estava colocando para fora aquilo que era meu, a minha resistência em aceitar. Fui conversando com ela, explicando os meus sentimentos, e agora está tudo ok, exceto a expectativa por parte dela para ser uma menina!
Gael ainda não consegue se expressar de forma clara, mas com certeza já percebeu que tem algo de novo acontecendo. Tenho o percebido mais apegado. Também conversei e tenho conversado com ele, explicando o que está acontecendo e o que irá acontecer. Ainda sigo amamentando, mas não ofereço mais o tetê. Quando ele pede, dependendo do momento eu dou, ou mudo o foco para outra atividade. Por enquanto seguimos assim!
Diferente das duas primeiras gestações, desta vez não estou mais na loucura do mundo coorporativo. Tenho minha liberdade e faço meus horários de trabalho conforme minha necessidade. Além disso, conto com uma pessoa em casa para me ajudar com os afazeres domésticos e com as crianças quando preciso, o que me tira um grande fardo das costas. Isto será um diferencial extremamente positivo nesta gravidez.
Minha relação com Rafael está numa fase muito boa, de evolução e aprendizado. Já passamos por alguns momentos de altos e baixos, e a vinda deste bebê com certeza foi para nos colocar mais para o alto, e assim tem sido.
Conforme já aprendi, cada gestação é única. Sigo desta vez mais leve, sem expectativas. Sinto-me mais preparada tanto física quanto emocionalmente. Estou em um momento maravilhoso da minha vida. Sou só gratidão!
Apesar do susto inicial, estamos muito felizes por aqui.
Eu acredito que a maternidade tem o grande poder de transformar o mundo. Por isso, para mim, cada filho é uma oportunidade que tenho de deixar para o mundo alguém que pode fazer a diferença de um modo positivo e amoroso. Todavia, para que isso aconteça, eu sou a responsável por ser para este filho a melhor mãe que posso ser. Dar a ele todo meu amor e educa-lo através do amor. É fácil? Lógico que não! Ainda mais com três filhos para amar e cuidar… A jornada é longa e desafiadora, mas estou disposta a encarar este desafio com unhas e dentes. Ser o que eu nasci para ser e educar meus filhos com este propósito.
Ao contrário do que muitos pregam por ai, que querem deixar um mundo melhor para os filhos, eu acredito que só é possível existir um mundo melhor quando deixarmos para o mundo filhos melhores! E já que eu tenho pressa, fiz logo três filhos para colaborar mais! Rs. Brincadeiras a parte, também acredito que ser mãe de três será para mim uma grande experiência, inclusive do ponto de vista profissional, visto que poderei viver na prática o que as mamães de três que atendo também vivem. Deste modo, fica mais fácil colaborar com algumas questões específicas.
Assim, sigo minha jornada na busca incessante por ser a melhor mãe e a melhor Coach de gestantes e mães que posso ser, de forma equilibrada e consciente, repetindo o mantra: Entrego, confio, aceito, agradeço.
Texto escrito por Amanda Balielo, Mãe da Laís e do Gael, Coach de Mães e participante da turma 4 do Zum Zum de Mães.
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