Recentemente estava passando em frente a um apartamento e ouvi a fatídica frase: “Você quer apanhar?” Obviamente, pensei: “Hum, momento crítico à vista!” Claro, seria fácil julgar aquela mãe, mas é óbvio que ela estava no momento: falta de controle! E, TODOS que lidamos com crianças conhecemos bem este momento!
De alguma forma as crianças são seres capazes de nos colocar em contato profundo com nossas dificuldades emocionais! Por vezes, ficamos perdidas nestes momentos de descontrole, ao invés de sairmos fortalecidas e empoderadas com eles!
Vamos refletir mais sobre isso?!
Em diversos momentos a reflexão sobre a importância de lidar com as nossas emoções vêm à tona! E, como é complicado desconstruir nossa cultura de repressão e medo e nos reconstruirmos em novas bases para trabalharmos com nossos filhos! Este processo é uma grande jornada de busca, cura e profundo autoconhecimento!
No dia-a-dia quando nos deparamos com os desafios reais da vida, por vezes, agimos como se nossas emoções nos atrapalhassem! Sabe aquele momento em que você gostaria de fazer qualquer coisa menos chorar na frente dos colegas de trabalho? Ou aquela discussão com o marido em que você perde a cabeça e se comporta como uma criança birrenta que quer as coisas do seu jeito?! Ou mesmo aquela discussão sobre política em que você se exalta e não entende como a pessoa pode pensar tão diferente de você! Todas estas situações podem ser momentos de grande aprendizado ou de profundo descontrole!
Cada vez mais percebo o quanto este treinamento é importante: simplesmente ouvir e liberar minhas emoções! Isto porque, todas as vezes em que procuro contê-las, inevitavelmente, elas acabam explodindo em algum lugar “inadequado!” Claro, controlar isso é algo quase impossível. Mas, tenho aprendido que quanto mais espaço eu dou para estas emoções – que me são tão desconfortáveis -, melhor eu lido com elas e menos cenas de descontrole me acontecem!
Assim, tenho buscado vivenciar o que Jung dizia e eu sempre repito para mim mesma: “Tudo o que resiste, persiste!”
Convém confessar que eu sou extremamente mental e tenho um mundo de situações idealizadas na minha mente. A maternidade me trouxe este aprendizado de que é preciso fluir com a vida! Como se o convite fosse: “Vamos Gisele, vamos abandonar tanta rigidez, tanto controle, se jogue mais na vida, garota!” E, confesso, apesar de ter resistido bastante, disfarçado que topava o convite, fiquei tentando manipular tudo com minha mente, rs! E, qual o resultado disso? Estafa, cansaço mental e energético!
O convite é claro: Vem fluir! E, tenho mostrado para a vida que estou tentando aprender, apesar do medo que ainda me atrapalha bastante! Neste ponto, minha filha é uma fonte inesgotável de aprendizados, especialmente nesta fase dos 3 anos! Afinal, a frase que ela mais diz é: “Eu quero!” E, tristemente me peguei dizendo a ela para parar de querer um pouco, porque eu não aguentava mais tantos quereres!
Assim que disse isso, senti uma tristeza enorme, porque eu sabia que o impacto de dizer algo do tipo poderia ser grande! Neste momento, senti que estava “sabotando” o poder do querer em minha filha! E isso é valioso demais! Então, pedi a ela que me desculpasse e disse que ela poderia querer à vontade! Mas nem sempre eu poderia atender seus quereres e nem sempre as coisas sairiam do jeito que ela desejava! Claro, sei que sua compreensão do que eu disse deve ter sido muito limitada, mas me fez tão bem respeitar a vontade do querer dela! Inúmeras vezes eu me sinto na obrigação de atender aos pedidos dela e em tantos momentos me sinto exaurida, desnutrida mesmo!
O respeito é um dos elementos mais importantes de um relacionamento, na minha opinião! A partir do respeito construímos confiança, admiração, cumplicidade e o amor surge natural e inevitável! Deste modo, ao respeitar a força do querer de minha filha, percebi o quanto estava desrespeitando a força do MEU querer em tantos momentos!
Nesta idade dos 3 anos ela se sente absoluta no mundo e tudo o que ela quer precisa ser do jeito dela e agora! Este é o aprendizado dela: descobrir como construir e mediar os quereres dela no mundo! Já o meu papel enquanto adulta e responsável por ela é apresentar limites, regras e “os outros” com diferentes quereres!
Assim, quando aprendo a respeitar meus momentos, minhas emoções e meus quereres, ensino minha filha através do exemplo. Neste sentido, percebo que fico muito mais equilibrada para lidar com os desafiadores momentos de choro, de se jogar no chão e contestar o que é incontestável! Ou seja, quando estou nutrida por mim mesma emocionalmente eu SUSTENTO a observação dos processos emocionais da minha filha. Deste modo, eu não uso o argumento de que estou cansada, não me vitimizo com a situação… Na verdade, eu observo tranquilamente o temporal se formar e espero a chuva passar com a tranquilidade de quem sabe que o sol virá e não tem pressa!
Na construção de meus processos percebo fortemente a importância da nutrição emocional de mim mesma! Isto porque, a desnutrição se apresenta como falta de clareza mental, bagunça, descontrole emocional, desespero e desmotivação. Deste modo, acredito que nem seja preciso descrever mais, porque TODAS nós conhecemos bem este lugar!
Nossos pequenos são grandes espelhos de nosso estado emocional e minha filha já refletiu bastante a impaciência durante o cansaço. Nestes momentos, sempre penso: “por que ela não se entrega e dorme de uma vez?” Depois, paro e penso estarrecida: “Por que eu sempre quero assistir um filme, ver redes sociais ao invés de simplesmente dormir e descansar?!” Como temos necessidade de nos anestesiar, ao invés de oferecer ao nosso corpo o que realmente precisamos!?
Atualmente, tenho vivenciado um processo profundo de cura e observação de muitas emoções dolorosas. E percebo como é fácil se perder neste caminho! Às vezes ficamos vitimizados nos perguntando: “Por que precisei passar por tal coisa?!”; “Às vezes ficamos com raiva, porque sabemos que a solução não é culpar e se vitimizar. Mas sim aceitar e aprender e não sabemos COMO fazer isso! E, neste processo, percebo como fujo ou luto com minhas emoções quando o caminho é SENTI-LAS! Ou seja, permitir que elas tenham um espaço dentro de mim para se manifestarem!
Certa vez, vi o psicólogo Leo Fraiman usar esta expressão: “colo com molas” e achei ótima! As pessoas, geralmente, têm dificuldades em acolher as emoções! Diariamente, somos inundados por uma suposta e sufocante “perfeição”, através de propagandas ou estereótipos de sucesso. Assim, construímos a imagem de que força é esconder nossas emoções.
Neste sentido, recomendo fortemente o documentário The Mask You Live in que trabalha de forma brilhante os estereótipos de homens de sucesso de nossa sociedade. Este documentário ilustra a forma como os meninos têm sido educados e de que modo isso se reflete na sociedade atual em que tantos falam sobre paz, mas cultivam a violência! Mais do que trabalhar apenas o estereótipo masculino, o documentário ilustra como os meninos são ensinados a enxergar as meninas, alimentando a distância entre os sexos e a dificuldade nos relacionamentos.
Por isso, acredito que é preciso aprender a dar “colo com molas” para nós mesmas quando perdemos o controle, mas estamos fazendo o melhor que podemos! Isto significa nos acolher quando saem palavras que não gostaríamos de dizer! E mais importante que nos “punir” com o chicotinho da mãe ruim, é tomar consciência do que queremos a partir de agora!
O processo de tomada de consciência é uma jornada única e particular. No entanto, este “colo”, acolhimento é fundamental para que tenhamos força para seguir no caminho de nos impulsionar com “a mola” da autocompaixão. E esta autocompaixão é exercitada quando ao invés de julgarmos os outros, aprendemos a identificar as armadilhas que nós também caímos durante nossa jornada! Que tenhamos mais amorosidade durante este processo de aprendizagem contínua chamado vida e este exercício prático de amor chamado maternidade!
Gratidão pela leitura! Namastê! _/\_
SOBRE A AUTORA
Este texto foi escrito por Gisele Mendonça, cientista social, mestre em sociologia, participante do Zum Zum de Mães e, principalmente, MÃE!
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