: Mães do Zum Zum
Sou uma das mediadoras de um grupo virtual de puérperas (um desejo de estar entre mulheres que pulsava desde que me tornei mãe e que coloquei em prática ao lado de outras mulheres que também são mães e que admiro muito), e hoje, ao ler um monte de mensagens que estavam atrasadas, tive vontade de escrever algumas coisas que me vieram à tona ao ler/sentir os relatos e desabafos tão próprios da maternidade…
Me antecipo aqui dizendo que são reflexões que refletem muito o que eu tenho pensado e aprofundado sobre e com os meus processos na maternidade e que senti no coração de dividir aqui com vocês… Se porventura o que eu disser não fizer sentido para você, tá tudo certo… E se fizer, deixe as palavras decantarem por aí ❤
Meu desejo é poder dar um abraço em todas as mães e puérperas e dizer com amorosidade e honestidade que, a maternidade está muito além de ter um bebê lindo nos nossos braços…
O lado B da maternidade nos traz para uma expansão de consciência que nunca haviam nos alertado. Entramos em contato com feridas da alma e lutamos contra padrões que se perpetuam sem que pensemos, nem por um segundo sequer, sobre a insistência deles existirem e persistirem…em nós e/ou na sociedade.
Nos deparamos não só com o choro do bebê mas com a nossa incapacidade de assistir a esse choro, pois na lógica da vida, não podemos oferecer aquilo que não recebemos e, como também não souberam nos ouvir chorar, não suportamos ouvir o choro do nosso bebê, afinal o nosso próprio choro ainda está entalado.
Nos deparamos com nossa fortaleza na mesma proporção da nossa fragilidade – na verdade a linha é bastante tênue – e nesse vaivém, ao nos olharmos no espelho não nos reconhecemos. É verdade que não é fácil, mas acho pouco provável que alguém nos tenha dito isso, mas também não nos disseram o quão desafiador seria, e aqui estamos…
Nos sentimos exaustas por precisarmos de ajuda e não saber como nos expressar de forma clara e amorosa – pois também não nos foi ensinado. As “novas abordagens” para criarmos nossos filhos existem aos montes e ainda assim nos sentimos perdidas… A privação do sono, o marido, a mãe, a sogra, os irmãos, os cunhados, os estranhos, os livros, os blogs, os instagrammers… Todos querem e/ou parecem ter razão sobre o que é melhor para nós, mães, e também para nossos filhos.
A maternidade e esse encontro com o nosso lado B (ou com as nossas sombras como diria Laura Gutman), nos coloca frente a frente com questões muito mais profundas (as verdadeiras causas) desses “sintomas” ou incômodos que nos são apresentados desde o primeiro encontro com o bebê. Quando nos permitimos ser tocadas intensamente por esse encontro, nesse mergulho profundo, damos início a uma jornada sem fim de descobertas.
É um caminho sem volta, onde já não há mais espaço para nos vitimizarmos diante das nossas próprias vidas e nem das nossas próprias escolhas. Onde já não há mais espaço para olhar para o bebê e esquecer que ele é o nosso reflexo mais puro e cristalino, de tudo aquilo que precisamos trabalhar em nós mesmas. Onde é urgente nos acolher, olhar para as tais feridas da alma com amorosidade, e calar as vozes “ocultas” dos demais mas sobretudo as nossas próprias ladainhas e tagarelices mentais, para ouvir o que somente o coração é capaz de revelar.
Acredito verdadeiramente que, só seremos capazes de curar nossas feridas se nos silenciarmos, se entrarmos em contato com aquilo que nos incomoda – e se nos incomoda é porque nos identificamos com o que quer que seja – e encararmos de frente. E me arrisco a dizer (depois de ter ouvido certa vez a Clarissa Yakiara dizer) que AceitAcão é palavra de ordem, afinal, com esse verbo embutido em si mesma, ela nos permite agir e nos movimentarmos em direção às mudanças que desejamos verdadeiramente. E quando mudamos, tudo o que está à nossa volta, também muda… Mas isso já é papo pra outro texto.
Então, que possamos nos permitir o mergulho, o encontro, as lágrimas que lavam e também levam aquilo que já não nos faz mais sentido, a vulnerabilidade de sermos imperfeitas e ao mesmo tempo a potência e libertação de podermos ser inteiras, ao nosso modo. Que a resiliência e a aceitação nos conduzam à auto responsabilidade, devolvendo para nós o poder de mudar a rota da nossa travessia que, apesar de desafiadora pode ser linda e leve!
E parafraseando mais uma vez a Clarissa, vamos juntas e de mãos dadas, nos apoiando, porque juntas vamos mais longe e mais felizes também!
Este Texto foi escrito por: Iara Schmidt (participante do ZumZum 6)
Iara é mineira, e como boa sagitariana é uma viajante nata e buscadora de si. Mãe de um aquarianinho nascido em fevereiro de 2016 – fonte do puro amor e inspiração infinita – realizou da gestação ao puerpério ritos de passagem que transformaram – e continuam transformando – sua essência.