Como uma Separação Conjugal pode se Tornar uma Grande Oportunidade…

Há oito anos atrás eu e meu marido nos separamos… Este foi um momento muito importante da minha história de vida, na qual eu me vi com 26 anos, sem a presença dele ao meu lado e com uma criança de 1 ano e meio em meus braços para cuidar.

Durante este processo me deparei com questões muito dolorosas e que para além da dor, pude descobrir um caminho de reencontro comigo mesma e com meu filho, que por muitas vezes esteve ali do meu lado, mas completamente abandonado.

Vou te contar um pouco desta história para que você entenda como fui me reconectando comigo mesma e com o meu pequeno João…

… lembro-me como se fosse hoje, daquela primeira semana (pós separação) que entrei em contato com um turbilhão de emoções, que nunca havia experimentado antes com tamanha intensidade. Ora sentia uma raiva profunda que vinha das minhas entranhas, ora sentia um medo desesperador de estar só, por vezes era tomada por uma tristeza e uma dor que chegava a me faltar ar…

Quando entro nestes processos emocionais intensos tenho a sensação que me faltam palavras para nomear e descrever a potência que nasce do sentir.

A PERGUNTA que mudou TUDO:

Algo bastante positivo, que estava acontecendo neste momento de minha separação e que me trouxe amparo e acolhimento, foi que eu estava participando de um processo terapêutico grupal. Logo que me separei tivemos um encontro e contei aos meus companheiros o que havia acontecido. A facilitadora do grupo, com toda sua sensibilidade e assertividade, me fez a seguinte pergunta:

“Clarissa querida, observe onde internamente seu aspecto masculino interno se rompeu com o feminino?”

 

 

Esta pergunta mudou tudo… foi um ponto de virada na minha maneira de perceber o que estava acontecendo! Ela reverberou forte em meu Ser e ainda segue reverberando, um tipo de pergunta existencial, como um grande Koan que em diversos momentos de minha vida vou recebendo pequenas pistas para desvenda-lo e aproximar este masculino e feminino que habitam meu mundo interno.  

A partir do encontro com “A Pergunta” comecei lentamente a me ver naquele processo, até então eu só enxergava meu ex e o responsabilizava pelo que estava vivendo. E a pergunta da minha terapeuta me permitiu olhar para mim mesma e perceber como eu estava co-criando aquela situação em minha vida. Ela me aproximou da minha responsabilidade naquele processo. Eu comecei a responder pelo que a vida estava me apresentando e fui me movimentado e desidentificando do papel de vítima, de mulher abandonada pelo marido que se apaixonou por outra, de mãe solteira que estava só para criar seu filho…

AUTORRESPONSABILIDADE

Neste processo de “dar-me conta”, percebi o quanto eu estava repetindo padrões familiares, estava insatisfeita comigo mesma, me sentia extremamente inquieta e incomodada quando estava sozinha, ou somente eu e o João, sentia uma carência profunda e sobretudo muita raiva da liberdade dos homens… Percebi também o quanto estava focada na vida dos outros, me comparava com outras mulheres e outros homens, responsabilizava meu ex marido, meu filho, meus pais, o governo, o sistema, pelo meu sofrimento, enfim vivia uma perturbação interna que me gerava muita angústia. Reconhecer cada um destes aspectos me fez perceber como de alguma maneira eu estava contribuindo para o cenário do relacionamento que eu estava vivendo com meu esposo, que culminou em nossa separação.

Outro ponto muito importante neste processo foi que me recordei de uma escolha que fiz, ”bem inconsciente” diga-se de passagem: eu escolhi ser mãe! E ali, debaixo do meu nariz, tinha uma criança respirando junto comigo e absorvendo toda esta confusão interna que transbordava do meu ser e invadia nossa casa. Durante este período de caos João estava “abandonado”, não havia espaço para inclui-lo em minha vida. Não conseguia me conectar e estar verdadeiramente disponível para meu filho, minha mente não estava ali com ele, tampouco meu coração.  E quando percebi isso fui me conectando com uma grande força de vontade de transformar minha confusão interna, eu olhava pro João tão pequeno, tão inocente e tão intenso e cada vez mais percebia que as respostas que eu buscava não estavam lá fora… Era hora de me manter ali junto do meu filho e de mim mesma! 

Por mais doloroso que seja este processo de autorresponsabilidade, ele é imprescindível e com o passar do tempo extremamente fortalecedor, pois somente quando assumo o que é meu, tenho como atuar e transformar a minha maneira de perceber e interagir com a realidade. E naquele momento mais decidida do que nunca, mergulhei em meu mundo interno e aos poucos, com muito apoio, terapia trás terapia, curso de crescimento pessoal, leituras, relações, encontros, experiências e muita vida borbulhando aqui dentro fui me redescobrindo e ajustando meu foco para o que era essencial naquele momento.

Quando Escutei a Voz do Meu Filho…

E quanto mais eu me conectava comigo mesma, mais eu conseguia me conectar com o meu filho e com suas necessidades mais legítimas. Cada vez que eu conseguia escutar e integrar o que pulsava em meu ser, meus ouvidos se limpavam e eu começa a escutar a voz do meu filho que talvez nunca tivesse sido escutada com tanta clareza anteriormente.

Todo ser humano nasce conectado com suas necessidades básicas. O bebê humano desde o momento do seu nascimento está intimamente conectado com suas necessidades legitimas. E quando alguma delas não está sendo atendida, ele vai nos mostrar. Como? Usando o recurso que recebeu para isso, o choro. Simples assim: o bebê confia em seus instintos, ele segue seu desenho natural, confia em si mesmo e em seu entorno, e quando algo não está bem ele chora, pede ajuda!

O que acontece é que muitas vezes, como no momento da minha separação, nós, pais e mães, não estamos emocionalmente disponíveis para escutar os pedidos de nossos filhos. Nossa desordem emocional é tão grande e consome tanto nossa energia que não conseguimos, ver, escutar e sentir nossos filhos. E muitas vezes, começamos a julgar, interpretar e negar os pedidos dos pequenos.

E negamos estes pedidos não porque somos pessoas ruins ou porque não amamos nossos filhos, simplesmente o que acontece é que a chegada deste novo ser em nossa vida e a relação extremamente íntima e profunda que vivenciamos com esta criança,  acessa aspectos sombrios do nosso mundo interno que nem sempre sabemos como lidar. E os ruídos que esta sombra traz podem ser tão intensos que nos impedem de escutarmos a voz e os pedidos sutis de nossos bebês!

No meu caso, perceber que eu não estava escutando os pedidos do meu filho me fez reassumir este compromisso comigo mesma, responsabilizar-me pelo que a vida estava me apresentando. Como se eu despertasse de um sonho, no qual acreditava que viriam me resgatar, no qual estava passivamente esperando que os outros fizessem por mim algo que eu mesma poderia fazer.

Ao olhar para meu filho ali abandonado, senti um chamado para recolher meus pedaços, pois sabia que somente assim eu poderia inspirá-lo e liberá-lo de toda esta confusão que criei para nossa vida. Deixei que o amor devocional que aquele pequeno ser tinha por mim me nutrisse e me fortalecesse para me recompor e renascer. 

Os elementos necessários para o DESPERTAR…

E pouco a pouco, como uma pequena semente que estava adormecida debaixo da terra, fui despertando, dia após dia, minhas raízes desciam e agarravam firmemente a terra e ao mesmo tempo sentia uma outra força que me impulsionava para além da terra rumo ao Sol. Nesta jornada percebo que o João foi meu Sol, pois eu permiti que sua luz me despertasse do sono profundo e me guiasse rumo a novas possibilidades.

Além do João recebi muita água boa e fresca que nutriram minha semente, por meio dos apoios terapêuticos que tive e que me ajudaram a limpar meu campo emocional e reorganiza-lo. E além da água, havia uma terra firme e muito acolhedora que me sustentou e me deu a estrutura necessária para criar raízes firmes e profundas. Essa terra era composta por uma rede de apoio que incluía minha família, minhas amigas, as mães e pais da pracinha que frequentava com o João todas as manhãs e tantas outras pessoas que me apoiaram nesta jornada!

E para você ter uma idéia da potência deste movimento, em pouco mais de 6 meses da data que me separei eu estava em Los Angeles, ministrando um curso de crescimento pessoal. Este e vários outros frutos só foram possíveis porque tudo aconteceu como tinha que ser. Hoje, oito anos depois, olho para trás me sinto tão agradecida ao Universo que com sua sabedoria magistral cuidou de cada detalhe.

E para terminar este texto, que além de compartilhar um pouco da minha história pessoal tem como intuito principal inspirar a outras mulheres, sobretudo as que estão vivendo momentos desafiadores, quero deixar esta frase que li outro dia num livro do Joan Garriga: “Para o bem ou para o mal, grandes perdas em um nível são grandes ganhos no plano do espírito, ou ao contrário, o que parece ser um grande ganho em um nível são grandes perdas em nossa alma”.