Sou uma das mediadoras de um grupo virtual de puérperas (um desejo de estar entre mulheres que pulsava desde que me tornei mãe e que coloquei em prática ao lado de outras mulheres que também são mães e que admiro muito), e hoje, ao ler um monte de mensagens que estavam atrasadas, tive vontade de escrever algumas coisas que me vieram à tona ao ler/sentir os relatos e desabafos tão próprios da maternidade…
Me antecipo  aqui dizendo que são reflexões que refletem muito o que eu tenho pensado e aprofundado sobre e com os meus processos na maternidade e que senti no coração de dividir aqui com vocês… Se porventura o que eu disser não fizer sentido para você, tá tudo certo… E se fizer, deixe as palavras decantarem por aí ❤
Meu desejo é poder dar um abraço em todas as mães e puérperas e dizer com amorosidade e honestidade que, a maternidade está muito além de ter um bebê lindo nos nossos braços…
O lado B da maternidade nos traz para uma expansão de consciência que nunca haviam nos alertado. Entramos em contato com feridas da alma e lutamos contra padrões que se perpetuam sem que pensemos, nem por um segundo sequer, sobre a insistência deles existirem e persistirem…em nós e/ou na sociedade.
Nos deparamos não só com o choro do bebê mas com a nossa incapacidade de assistir a esse choro, pois na lógica da vida, não podemos oferecer aquilo que não recebemos e, como também não souberam nos ouvir chorar, não suportamos ouvir o choro do nosso bebê, afinal o nosso próprio choro ainda está entalado.

Nos deparamos com nossa fortaleza na mesma proporção da nossa fragilidade – na verdade a linha é bastante tênue – e nesse vaivém, ao nos olharmos no espelho não nos reconhecemos. É verdade que não é fácil, mas acho pouco provável que alguém nos tenha dito isso, mas também não nos disseram o quão desafiador seria, e aqui estamos…
Nos sentimos exaustas por precisarmos de ajuda e não saber como nos expressar de forma clara e amorosa – pois também não nos foi ensinado. As “novas abordagens” para criarmos nossos filhos existem aos montes e ainda assim nos sentimos perdidas… A privação do sono, o marido, a mãe, a sogra, os irmãos, os cunhados, os estranhos, os livros, os blogs, os instagrammers… Todos querem e/ou parecem ter razão sobre o que é melhor para nós, mães, e também para nossos filhos.
A maternidade e esse encontro com o nosso lado B (ou com as nossas sombras como diria Laura Gutman), nos coloca frente a frente com questões muito mais profundas (as verdadeiras causas) desses “sintomas” ou incômodos que nos são apresentados desde o primeiro encontro com o bebê. Quando nos permitimos ser tocadas intensamente por esse encontro, nesse mergulho profundo, damos início a uma jornada sem fim de descobertas.
É um caminho sem volta, onde já não há mais espaço para nos vitimizarmos diante das nossas próprias vidas e nem das nossas próprias escolhas. Onde já não há mais espaço para olhar para o bebê e esquecer que ele é o nosso reflexo mais puro e cristalino, de tudo aquilo que precisamos trabalhar em nós mesmas. Onde é urgente nos acolher, olhar para as tais feridas da alma com amorosidade, e calar as vozes “ocultas” dos demais mas sobretudo as nossas próprias ladainhas e tagarelices mentais, para ouvir o que somente o coração é capaz de revelar.
Acredito verdadeiramente que, só seremos capazes de curar nossas feridas se nos silenciarmos, se entrarmos em contato com aquilo que nos incomoda – e se nos incomoda é porque nos identificamos com o que quer que seja – e encararmos de frente. E me arrisco a dizer (depois de ter ouvido certa vez a Clarissa Yakiara dizer) que AceitAcão é palavra de ordem, afinal, com esse verbo embutido em si mesma, ela nos permite agir e nos movimentarmos em direção às mudanças que desejamos verdadeiramente. E quando mudamos, tudo o que está à nossa volta, também muda… Mas isso já é papo pra outro texto.
Então, que possamos nos permitir o mergulho, o encontro, as lágrimas que lavam e também levam aquilo que já não nos faz mais sentido, a vulnerabilidade de sermos imperfeitas e ao mesmo tempo a potência e libertação de podermos ser inteiras, ao nosso modo. Que a resiliência e a aceitação nos conduzam à auto responsabilidade, devolvendo para nós o poder de mudar a rota da nossa travessia que, apesar de desafiadora pode ser linda e leve!
E parafraseando mais uma vez a Clarissa, vamos juntas e de mãos dadas, nos apoiando, porque juntas vamos mais longe e mais felizes também!
Este Texto foi escrito por: Iara Schmidt (participante do ZumZum 6)
Iara é mineira, e como boa sagitariana é uma viajante nata e buscadora de si. Mãe de um aquarianinho nascido em fevereiro de 2016 – fonte do puro amor e inspiração infinita – realizou da gestação ao puerpério ritos de passagem que transformaram – e continuam transformando – sua essência.
 
Quando falamos em identidade é preciso especificar do que estamos tratando! Por isso, sempre recorro ao bom e velho dicionário. No caso, a definição que mais se aplica é: Circunstância de um indivíduo ser aquele que diz ser ou aquele que outrem presume que ele seja”. (dicionário do Aurélio: https://dicionariodoaurelio.com/identidade).

Neste ponto já temos uma questão que sempre me intrigou: ser como penso que sou ou como os outros esperam que eu seja?!

Identidade Feminina

O papel da mulher, por muito tempo, foi considerado o de casar, ter filhos e cuidar da casa. Esta era a imagem das mulheres de antigamente, da minha avó, da minha mãe… As mulheres da minha família adotaram um padrão tradicional de comportamento. Ou seja, foram o que se esperava delas! Entretanto, sinto na fala da minha mãe, tia e várias outras mulheres, uma certa revolta, uma raiva mal reprimida deste destino! Parece mais uma sina do que um destino escolhido por elas.

Desta forma, isso era tudo o que minha mãe não desejava para mim! Lembro bem das frases: “você precisa estudar para ser uma mulher independente, autônoma com seu próprio dinheiro, senhora do seu destino!”

Por muito tempo eu fiquei perseguindo este objetivo: ser a mulher que minha mãe esperava que eu fosse! Eu sentia que ela havia feito sacrifícios, havia abdicado de sua própria vida para que eu pudesse ser melhor e mais feliz que ela, de alguma forma!

Por algum tempo busquei na carreira acadêmica esta realização. Mas fui sentindo uma profunda solidão e desconexão com outras coisas que eu desejava. Então comecei a dar aulas, me aproximei afetivamente de pessoas, de crianças e a vida foi me levando por outros caminhos. A mulher independente e poderosa, que minha mãe sonhava, foi se transformando numa pessoa mais voltada para o autoconhecimento, autodesenvolvimento.

Eu fui me desligando aos poucos desta identidade que designaram para mim e fui construindo minha própria identidade feminina.

O “romance” da gestação

Há muitas cobranças para que a mulher tenha filhos, para que seja desta ou daquela forma! Mas eu decidi me abrir à possibilidade de gerar um filho de forma muito espontânea, intuitiva, quase inocente! Eu cismava que teria dificuldades para engravidar, e fiquei pasma quando soube da gravidez com 8 semanas! Só acreditei com o ultrasson!

Durante a gestação parece que as pessoas esperavam que eu estivesse num comercial de margarina… Eu tinha que estar sorridente, calma, sentindo coisas boas para não passar nada de ruim para a bebê! E como se faz isso? Eu SENTIA MUITA coisa! Dificuldades de adaptação, medo do futuro, desconforto com o presente… Sem contar meu cenário profissional que andava caótico por algumas questões à parte!

Ali percebi “na pele” que a vida tinha uma engrenagem que eu desconhecia e que girava independente da minha vontade ou estado de espírito! Meu corpo tinha novas necessidades e aceitar isso foi um processo que foi ganhando consistência. Quando consegui me adaptar, a gestação já estava acabando e era hora de pensar na chegada da bebê, algo que eu nem conseguia pensar!

A crise do puerpério

Pasmem, mas eu nunca tinha sequer ouvido falar em puerpério, nem baby blues! Eu tinha em minha memória a famosa e temida “depressão pós-parto”. Lembro das mulheres da minha família mencionando o assunto bastante preocupadas. Então, tudo o que eu temia era a depressão! Como dar vazão à imensa tristeza que eu sentia e não ser taxada de deprimida?! Por que eu estava tão triste se tinha a coisinha mais preciosa do mundo nos meus braços?

Ali descobri que meu mundo estava estilhaçado! Eu não conseguia entender meu corpo, minha mente, meus sentimentos… Estava TUDO absolutamente fora do lugar! Era como se um furacão tivesse passado por mim e eu não reconhecesse nada nem por dentro nem por fora! Nestes momentos, o único lugar que eu encontrava algum conforto era embaixo do chuveiro. Mas logo eu escutava um choro e precisava reassumir o papel que esperavam de mim: a mãe amorosa!

Eu senti que me perdi de mim, do mundo, das pessoas… Estava tudo estranho e havia muita responsabilidade sobre meus ombros, muitas expectativas, muita cobrança! Talvez, na verdade, com certeza a maior cobrança do mundo era a minha!

Lembro do pavor que eu tinha de ir na consulta com a pediatra! Ela fazia umas caras, eu me sentia a pessoa mais desajeitada do mundo para trocar minha bebê na frente dela! Tudo o que eu esperava era um ok, uma validação, mas era uma pediatra de convênio bem econômica com as palavras! Outro capítulo à parte é o lance da amamentação, este vale um post exclusivo! Mas eu lembro do pânico que tinha de que a bebê quisesse mamar quando eu estivesse em público.

Maternidade: a intensidade de sentir

Escrevi um post no meu blog Conexão Profunda com este título, porque ele sintetiza o que descobri na minha maternidade. Certamente iniciei uma jornada de profunda consciência da minha capacidade e intensidade para sentir! Depois de um período de estranhamento de mim mesma e daquele serzinho tão puro em meus braços, fui me apropriando de minha capacidade de SENTIR!

Acredito que àquela tristeza imensa que eu senti no puerpério foi a tristeza que eu senti durante toda a minha vida. Nossa cultura não nos educou para sentir, mas para esconder, fingir que… A maternidade que eu vivo não me permite usar máscaras! Ela me exige muita coragem para olhar minhas feridas de perto!

Quando conseguimos silenciar as milhares de vozes à nossa volta, conseguimos dar espaço para escutar nossa voz interna. Temos uma Sabedoria Interna, que é aguçada com a maternidade! No entanto, estamos tão preocupadas em corresponder à identidade que esperam de nós ou àquela que a gente mesmo fantasia, que não conseguimos abrir espaço. É preciso silêncio e conexão profunda para acessar essa Sabedoria!

A descoberta da Fênix

Não é exagero dizer que vivemos um certo luto no puerpério! Estamos enterrando uma mulher e a partir destas cinzas uma nova mulher está sendo gerada! Vejo muitas mulheres desesperadas para voltar a ser quem eram antes da maternidade: seja com o corpo, cabelo, pele, trabalho… Tenho a sensação de que a vontade é dizer: Tive filho, MAS sou a mesma de antes! Não, não somos! E nunca mais seremos! Demorei muito para aceitar isso, mas quando aceitei foi libertador!

Os filhos nos permitem um contato com a impermanência das coisas, algo que vivemos negando! Nós não somos, nós estamos! Viver agarrada à uma identidade é uma forma de perder a experiência mágica de fluir com a vida! O que pode ser mais mágico e poderoso que o desenvolvimento de um novo ser humano? Na observação de cada fase, cada conquista, vejo a magia da vida, o poder de Deus, Universo ou seja lá o nome que você queira dar… Trazer um novo ser humano ao mundo é uma imensa responsabilidade, mas também uma oportunidade para reavaliar o que realmente é importante em nossa vida!

Acredito que seja válido lembrar das coisas que sempre gostei de fazer para me sentir bem: tomar chá, andar à cavalo, tomar banho de mar e cachoeira, fazer trilha… Isso me coloca em conexão profunda comigo mesma porque faz parte da minha Essência! Mas é preciso lembrar que minha maternidade me trouxe novos cenários, novas prioridades e um talento especial de amar, que jamais acessei em outros tempos.

Como a Fênix renasce das cinzas: convido a todas à se apropriarem de Sua Essência (a identidade que sempre tiveram de si mesmas) e integrarem com a mãe que estão hoje! 

Assuma seu poder

Estamos sempre fazendo o melhor que podemos com as condições que temos! Ame a mulher que você está agora! Assuma sua responsabilidade sobre esta mulher!

Certamente você nota muitas coisas que quer mudar… Mas que tal começar reconhecendo o que você gosta nesta mulher que você vê no espelho? Olhe para si mesma com mais carinho, compaixão e compreensão! Dê a si mesma o colo que precisa, o apoio e o conselho que deseja! Silencie as vozes externas e mande seu crítico julgador interno ficar calado, dê espaço interno para sua voz amorosa!

Assuma a sua responsabilidade por suas escolhas! E saiba que é a partir delas que todo o resto vai se desenvolvendo! Aos poucos, mas de maneira firme e consistente vá tomando mais e mais consciência!

Independente de qualquer identidade ou papel que definam para você, o importante é que VOCÊ protagonize sua própria vida! Não permita que os outros digam quem você deve ser, ESCOLHA tornar-se a pessoa que você acredita que veio para ser! 

Para Inspirar

Para inspirar deixo para reflexão um trecho do livro Mulheres Visíveis, Mães invisíveis de Laura Gutman:

“Vivemos em uma época especial talvez porque – em plena crise de identidade social – cabe às mulheres segurar as rédeas do pensamento global, dos movimentos espirituais e da ação criativa. Somos nós que teremos de assumir a recente revalorização da energia feminina integrada. Espero que sejamos capazes de abandonar o autoritarismo desgastado e as ideias preconcebidas do passado e consigamos pular no vazio, mesmo sem saber o que nos espera do outro lado.

Abandonar os preconceitos, parar de repetir as mesmas frases que temos ouvido exaustivamente, nos atrever a pensar em liberdade – cada uma a sua maneira e com o compromisso emocional de procurar a si mesma de acordo com a realidade interior – é, exatamente, o que nos permitirá chegar a conclusões, a acertos, a propostas e a desafios diferentes. E assim, talvez, elevar o pensamento em prol das relações amorosas, esperando conquistar um maior conforto nos intercâmbios pessoais”. (p.9)

Que saibamos aproveitar este espaço para nos inspirar, apropriar de nossas conquistas e estar mais cientes sobre nossos desafios! Gratidão pela leitura! Namastê!

SOBRE A AUTORA

Este texto foi escrito por Gisele Mendonça, cientista social, mestre em sociologia, participante do Zum Zum de Mães e, principalmente, MÃE! Tem um blog chamado Conexão Profunda, visite www.conexaoprofunda.com.br e curta a página no facebook Conexão Profunda

Chega de chorar, o que está acontecendo?

Assim começou nossa conversa, em tom estridente, naquela noite fatídica, em que o meu filho não queria dormir no seu quarto.

Eu não sabia quem estava pior. Eu, uma mãe desprovida de autocontrole para aceitar o choro incessante do seu filho ou ele, uma criança normal, de apenas dois anos de idade, que não conseguia reconhecer e nomear seus sentimentos.

O choro foi aumentando à medida que fui me irritando e como última alternativa eu gritei um basta, mas para mim mesma.

Uma voz sussurrou em meus ouvidos:

“Pense em como foi o seu dia. Ouça esse choro em forma de lamento. Acredite, algo ele está lhe dizendo”.

Meu dia foi normal, Voz do Além.  Talvez um pouco agitado e só. Tudo bem, tudo bem, voltemos no tempo.

Trimmm!! Ouvi o barulho do despertador e acordei apressada, coloquei um vestido rodado e um sapato de salto alto, fiz a maquiagem, tomei meu café e como de costume sentei-me no sofá para esperar que o meu filho acordasse.

Porém naquela manhã, eu não podia esperar mais do que cinco minutos e acabei saindo de casa sem me despedir dele.

Voltei apenas no cair da noite, novamente algo diferente, pois jamais passo um dia inteiro longe dele.

É, a tal Voz do Além estava certa, meu dia foi mesmo inusitado e aquele choro tinha nome e sobrenome: saudade da mamãe.

A correria foi tamanha que tomou conta da mente e se esqueceu da alma. Agora é o meu corpo que pede calma.

Deitei-o em meu ombro e comecei a fazer carinho na sua cabeça.

Olho no olho, coração com coração, lágrima com lágrima, perdão com perdão.

Ele adormeceu em instantes, antes mesmo de eu tomar a minha decisão-quarto dele ou meu.

Na verdade, ele decidiu por mim, já que estava em meus braços. Levantei-me e guardei minhas regras e teorias numa gaveta empoeirada lá do porão.

Levei-o para o meu quarto e no meio do caminho encontrei as respostas. Percebi que a força de uma mãe não está nas palavras, mas no eterno caminhar de mãos dadas e que o compromisso é muito mais emocional do que obrigacional.

Deitei-o na minha cama e senti necessidade de falar, imaginando que ele não fosse escutar:

-Filho, a mamãe também estava morrendo de saudade de você, então durma hoje bem aqui do meu lado!

E ao som de um ahhhh ele me respondeu aliviado, como quem ouvia música para seus ouvidos.

Esse texto foi escrito por Lígia Freitas, Mãe do João e Participante do Zum Zum de Mães.

@ligiafreitasescritora

Olá!  Hoje eu quero falar com você sobre um tema bastante presente no nosso dia a dia com nossos filhos: a autonomia!

Grande parte das mães que atendo, verbaliza o desejo de que o filho seja independente, que aprenda a “se virar”, que saiba se defender. Na prática, o lidar com o crescimento e desenvolvimento do filho e consequentemente o seu alçar de voos, se mostra muito mais complexo e bastante controverso. Não raro, tenho observado uma cultura do medo, uma proteção excessiva, que por vezes, me causa desconforto: crianças presas em seus apartamentos; escolas, que não permitem que seus alunos, nem ao menos, no momento de “recreio”, possam correr, brincarem, expressarem-se livremente.

Nosso discurso, por vezes, se distancia muito da prática: anunciamos que queremos filhos críticos, comunicativos, afetivos e capazes de gerir suas vidas, quando adultos, mas os mantemos distante de nossa convivência no dia-a-dia; buscamos poupá-los das pequenas frustrações, que podem ter, por exemplo, quando perdem num jogo de regras, no picar uma fruta.  Não percebemos, que dessa forma, também evitamos todo o aprendizado que o lidar com esses desafios podem ajudar a construir.

De maneira sutil, muitas vezes, vamos evitando que nossos filhos percebam que feridas podem ser curadas; que erros são humanos e podem ser reparados; que a organização dos brinquedos e do seu quarto, além de ser importante para o cuidado e a participação no espaço familiar, pode ser o início do  perceber-se capaz de assumir responsabilidades.

E por que fazemos o que fazemos?

Exauridos pelo trabalho, encarcerados em nossas próprias preocupações, quando é que olhamos nos olhos, ouvimos com o coração, conversamos, orientamos ou brincamos com nossos pequenos?

Quando é que estamos inteiros e nos permitimos estarmos presentes, sentindo prazer na companhia de nossos filhos?

Quando é que nos sentimos preparados para apoiá-los a desenvolver suas potencialidades e lidar com suas fragilidades?

Que somos seres da contradição, que nos pegamos muitas vezes sentindo, pensando e agindo de formas totalmente dissonantes, não é novidade. Aí reside nossa humanidade!

E a maternidade, é sem dúvida, uma das experiências grandiosas, que nos coloca diante dessas contradições, de nossos próprios “monstros”, nossos medos e “nós” mais intensos.

E, exatamente, com esses desafios, com esses “entraves internos”, que a maternidade nos apresenta, eu acredito que venha a possibilidade de nos questionarmos, de quebrarmos padrões que reproduzimos de forma mecânica, muitas vezes.

A maternidade ao nos confrontar, nos “cospir verdades à cara”, nos traz inquietações e aponta para aquilo que não faz sentido  conosco mesmas e nas relações que vamos construindo.  Ao nos deixarmos nos conduzir “por essas águas nem sempre mansas” podemos encontrar o que realmente desejamos para a educação de nossos filhos e buscarmos compreender o quanto estamos em concordância em nosso sentir e agir.

“A diferença entre o remédio e o veneno está na dose!”

Não é isso que ouvimos tantas vezes em nossas famílias?! Pois é, a minha vivência pessoal e troca com outras mães validaram essa frase para mim!

Por isso, eu tenho compreendido cada vez mais que, a disponibilidade para olharmos para nossas dores internas, para compreendermos a maneira como exercitamos nossa própria autonomia e o modo como vamos construindo nosso espaço de convivência, as regras em nossas casas, com nossos pequenos será uma importante bússola para nos orientar nesse caminho do limite de forma amorosa. No encontro da “nossa dose” entre apresentar possibilidades e o cuidar! Entre o proteger e o superproteger! Entre o reprimir e o permitir experimentar o mundo!”

A nossa auto-observação, o mergulho em nossas vivências  poderá nos trazer clareza acerca de nossas relações com nossos filhos e sobre como essas ações nos aproxima ou não daquilo que desejamos para o desenvolvimento da independência de nossos filhos.

Uma vivência curativa

Há algum tempo, meu filho, então, com seis anos, foi com os colegas da escola, ao seu primeiro acampamento: três dias fora de casa! A despeito dos dias que antecederam terem sido recheados de conversas, treino ao banho, organização dos próprios pertences (…) um misto de alegria, orgulho, receio e insegurança se fez presente em nosso contexto familiar naqueles dias.

Ainda por essa ocasião, várias mães, colegas que têm filhos da mesma idade, me disseram que não “teriam coragem” de deixar seus filhos experimentarem essa aventura! Sentia nessas falas pitadas de reprovação, insegurança misturadas à certa inveja e até solidariedade. Como mexe conosco “a saída da cria de nosso domínio!” Confesso que chorei, à noite! Que desejei receber um telefonema pedindo para buscá-lo! E, me alegrei, também, ao vê-lo espontâneo e sorridente nas fotos que recebi!

A experiência, sem dúvida, me trouxe transformações verdadeiras, permitindo-me olhar para minha condição de mãe de um garotinho arriscando-se em seu primeiro “voo solo”. Tive a possibilidade de perceber o quanto ele tinha se desenvolvido e como suas necessidades eram de poder ampliar sua conexão com outras pessoas.

Assim, me permiti pensar e sentir a respeito da autonomia, nos modos como a independência interna vai sendo constituída. Pude revisitar as minhas primeiras saídas sem meus pais, o medo sentido,  a insegurança frente ao novo e a sensação incrível de liberdade, do “eu dou conta!”.

“Linha à Pipa”

A experiência com meu filho me fez pensar na alegoria do aprender a “dar linha à pipa”. Sim, as coloridas, alegres e aventureiras pipas nos ensinam muito: se as deixamos muito soltas ou não cuidarmos de suas linhas, podem desaparecer na imensidão azul…por outro lado, se não nos arriscarmos a dar-lhes linha, se tivermos medo de perdê-las, sequer vamos arriscar soltá-las; não vivenciaremos a festa intensa que podem fazer lá em cima!

Os voos que nos são permitidos ou negados, na infância; o incentivo que recebemos ou não; a confiança que aos poucos nos vai sendo depositada, certamente é parte edificante do como nos vemos, de nossa segurança interna, do quanto nos permitimos tentar, ousar, lidar com o erro…

Ao olharmos para nossos pés, para a caminhada que percorremos através de nossa história temos a oportunidade de nos conhecermos, de percebermos nossas forças e nossas possibilidades, bem como, os desafios que fomos capazes de enfrentar. Assim, entendo que podemos olhar, também, para a nossa contribuição, o nosso modo de apoiar os “voos” de nossos filhos.

Entendo que não se trata de nos olharmos com dedos acusatórios, caso nos vejamos muito distantes do que desejamos para a independência dos filhos.  Podemos escolher, sim, olhar para os passos que podemos dar na direção que sonhamos; nos permitindo sentir, experimentar e aprender na caminhada lado a lado com nossos pequenos.

A partir dessa nossa conversa, eu gostaria de te perguntar: 

Quanto você tem se permitido arriscar em busca de seus sonhos? Quais lembranças você tem sobre seus primeiros passos “fora do alcance dos olhares de seus pais?” De que forma isso pode interferir no modo como você lida com a independência do seu filho?

Ao olhar pra seu interior e se permitir esses questionamentos, eu acredito que você poderá encontrar muitas das respostas ao modo como encara o desenvolvimento de seu filho, às pequenas frustrações que ele enfrenta; os voos que realiza e às conquistas que alcança!

 

Texto de autoria de Andréia L. Rafael Quintelia – Psicóloga, coach de mães e participante do Zum Zum de Mães. Se você quer conhecer melhor meu trabalho, me acompanhe no Instagram: @andreiaquinteliacoach ou no Facebook: Tecendo Vínculos. Você pode, também, entrar em contato, através do cel (11) 971823324.

 Sobre as Dores

        Meu primeiro puerpério foi doído. Foi maravilhoso, lindo, lindo! Mas doeu demais. Lembro de me sentir tão frágil, de chorar intermináveis lágrimas com meu bebê no colo.Lembro de gente me tirando ele dos braços, dizendo que ele chorava de calor (e eu sabia que não era de calor). Lembro de ficar paralisada, sem reação, fragilizada….enquanto me tiravam ele do colo sem minha autorização, pra tentarem resolver um choro que só eu podia resolver.

       Lembro de um dia estar amamentando e chorando baixinho no quarto, pra família lá fora não escutar. Chorava em silêncio, até que olhei para o meu bebezinho. Ele tinha feito dois meses. Me olhava quietinho, os olhinhos vidrados em mim…. até que uma lágrima escorreu desses olhinhos, o rosto dele imóvel. Nessa hora, senti a primeira força do puerpério. Basta! Levantei decidida. Chamei meu marido: “- vamos embora agora”. Peguei a malinha do bebê e fui arrumando minhas coisas. Ele não perguntou nada, tamanha era a minha certeza. Levantou-se e pois se arrumar as coisas.

        Meu marido é um homem maravilhoso, mas lembro de nunca ter sentido tamanha solidão.

Quem está cuidando de você?

Uma vez uma tia avó me telefonoupara dar os parabéns pelo bebê. E aquele papo básico de resposta pronta: Como está o bebê? Tá dormindo? Mama bem? Etc, etc…  Eu já estava até acostumada a perguntarem só do bebê, até que ela me disse: ” – E você, filha? Quem é que está cuidando de você?” Silêncio. Meus olhos encheram d’água. Eu não sabia que precisava de cuidados. Como assim? Sou eu quem cuida… Desliguei o telefone e chorei loucamente. Eu precisava de cuidados! Eu precisava desesperadamente de cuidados. Mas não havia ninguém disponível….

       É uma dor que pega a gente desprevenida. Lembro de não saber porque doía, mas que todas as esferas do meu ser ardiam como feridas se abrindo, cada hora em um lugar. “Seu filho bebê anjo! Todo bonzinho! Dorme a noite toda. Não entendo porque você está tão mal….você deveria agradecer por esse bebê.” E você se sente toda errada porque tem um bebê anjo no colo e sente vontade de chorar o tempo todo. Não é que eu não agradecia…. agradecia TODOS os dias. E por isso mesmo estava perdida nesse sentimento. Eu tinha no colo o bebê que havia pedido a Deus, um companheiro que me amava, um canto nosso…. Eu não tinha o direito de me sentir assim. Ao menos era o que eu pensava. E me culpava por minha própria dor.
       Chorava sozinha. Meu marido dormindo na sala, vendo tv noites e noites. Ele trabalhava demais. Mas eu tinha raiva porque precisava de um abraço. Eu só queria um abraço. Eu só queria um colo nas vezes em que sentava na cama o mais longe possível da janela, com medo de fazer uma bobagem. E o abraço não vinha. “Como ele pode dormir? Como ele pode ficar fazendo graça com bebê se eu estou assim? Como ele pode fingir que nada acontece comigo? Como ele pode não me abraçar se sabe que estou chorando no quarto por horas?” Esses sentimentos todos eram insuportáveis e acabei me desconectando deles. Era a única coisa que eu podia fazer. E com isso, também me afastei um pouco do meu marido. Sempre fomos um casal cheio de amor. Mas as certezas se apagavam em meu coração.

A força transformadora da verdade…

       Depois de uns 4 anos, engravidei de novo. Amei estar grávida, ambos queríamos muito um outro bebê. Mas estávamos num momento ruim de casal, brigando o tempo todo. Fiquei pensando por muitos dias que não queria passar nada daquela solidão de novo. E de alguma forma, eu o culpava por isso. Como poderia fazer para ele não me abandonar de novo? Não podia força-lo. Cada um tem seus próprios sentimentos e se ele não quisesse me acolher, não haveria nada que eu pudesse fazer. Fiquei remoendo isso um bom tempo, até que o medo ficou insuportável. Tomei coragem e falei com ele. Foi muito difícil, mas fui ganhando força com minha própria verdade. E contei tudo. E disse que nunca mais queria passar por aquilo de novo. Se eu passasse por aquilo de novo, não sei se conseguiria ficar conectada a ele. Eu não queria fazer nenhum tipo de chantagem emocional, na verdade estava apavorada.

       Mas cresci aprendendo que a gente não deve se expor tanto num relacionamento. Aprendi que quando a gente se põe frágil, o mundo passa por cima, os homens não te valorizam, as pessoas se cansam de você. Então fiquei esperando que ele revidasse. Ou pior, muito pior, que ele me rejeitasse. Mas ele nem se defendeu. Ficou quieto, bem quieto. Depois de alguns segundos, me disse: “eu só fico triste que você não confiou em mim para falar isso antes e ficou sentindo isso o tempo todo. Não vai ser igual dessa vez, mas fala! Você precisa falar as coisas.” E me abraçou.

       Curioso como a gente, às vezes, imagina que os outros têm obrigação de saber o que se passa conosco. Ou que são responsáveis pelo que a gente sente. Algo dentro de mim o culpava pela minha dor. Foi muito bom perceber a força que tem você simplesmente falar o que sente. Ao tomar coragem de falar, me senti forte para aceitar que ele me rejeitasse. E ele se sentiu agradecido por eu abrir esse canal. Ele teve espaço pra contar como foi com ele. Eu estava tão imersa em minha dor que não consegui vislumbrar a dor dele. A verdade é que nem eu sabia bem o que estava sentindo, e ao colocar pra fora, fui ganhando clareza. Percebi que essa solidão já estava transformada. E percebi o quanto pra ele também foi solidão e dor. O quanto a criança dele também gritou em silêncio e eu não ouvi.

       Quantas vezes me calei, me enchendo de raiva porque ele dormia na sala enquanto eu chorava. E dentro da cabecinha da minha criança ferida, eu estava sendo ignorada. De novo, meus sentimentos não eram importantes. Mas ele não sabia que eu estava chorando, ele não sabia de quase nada! Eu não falava. E ele estava no processo dele mesmo, trabalhando exaustivamente, e batalhando pra vencer sua própria dor. Apagava em frente a tv para manter sua própria sanidade. Cantarolava após uma discussão para se acalmar e poder manter um clima bom na casa, e não pra afrontar meus sentimentos..

O primeiro puerpério doeu absurdamente e eu agradeço por essa dor. E agradeço por ter tido coragem. Eu tive um bebê anjo, que quase não chorava e dormia das 7 às 7. Eu sempre sabia o que fazer para acalmar e fortalecer esse bebê. Hoje eu tenho um bebê bem mais desafiador, tudo está bem mais difícil no dia a dia. Muitas vezes me sinto perdida, não sabendo o que é melhor para esse bebê. Mas não me sinto só com minhas dores. Pude dividi-las com quem mais importava, e juntos achamos caminhos para lidar com isso. Por muitas vezes, ainda tenho que deixar bem claro que eu não quero uma solução. Não quero um conselho. Não quero uma opinião. Tenho que deixar claro que eu só quero um abraço. Um abraço que dure mais de 20 segundos. Um abraço para eu poder me soltar ali. Ou um colo, um ninho, um travesseiro nos braços dele.

         Por que isso ainda não é óbvio para ele e meu erro foi achar que era, ou que ele deveria adivinhar. Gostaria muito que ele sempre adivinhasse e hoje ele percebe muito mais quando as coisas começam a sair dos eixos dentro de mim. Mas a verdade é que quem está dentro da gente é só a gente mesmo e só a gente pode botar para fora. Demorei 5 anos para descobrir isso, começar a curar meu relacionamento e essa criança ferida que gritou tanto. Então, agradeço de novo por essas dores. Elas me devolveram o amor por meu companheiro, um amor muito mais inteiro.
         Como as dores do puerpério são transformadoras! Às vezes acho que nada nesse mundo tem tanto poder quanto as dores de um puerpério. Ainda que ele dure 5 anos…

Este texto foi escrito Chantal Tambara, mãe de dois, dentista e participante da turma 6 do Zum Zum de Mães.

Queridas mamães, é a primeira vez que escrevo para vocês e gostaria de compartilhar o motivo que me levou a conhecer a Escola de Pais Bee Family e como isso foi impactante na minha vida.

Mudança de rotina

Logo após ter minha primeira e única filha, a Maria Luíza, que atualmente está com quatro anos, pensei que enlouqueceria nos primeiros três meses. Eu queria manter a amamentação e, como ela chorava muito e era magrinha, tive muitas dúvidas se o meu leite a estava nutrindo adequadamente.

Apesar das dificuldades, mantive a amamentação até os três anos e meio da minha filha. Acredito que, após o término da licença maternidade, continuar amamentando era uma forma de manter o vínculo, já que trabalho o dia todo e a minha pequena permanece período integral na creche.

Enfim, acredito que o término da amamentação foi mais difícil para mim do que para a Maria Luíza.

O fato é que, durante o primeiro ano de amamentação, engordei muito. Eu acordava várias vezes durante a noite e, creio que, para combater o cansaço, comia  várias vezes por dia e tomava muito café, independentemente do horário.

Assim, dormia pouco, me alimentava mal e ainda tentava estudar em casa após um dia inteiro de trabalho e após a Maria Luíza dormir. Enfim, essa rotina me deixou estressada e irritada.

Tomada de Consciência e necessidade de mudança

Procurei ser mais produtiva, já que não é possível aumentar as horas do dia e, durante minhas buscas por orientação sobre o assunto, li o maravilhoso livro “Produtividade para quem quer tempo”, de Gerônimo Theml. Nele, há uma recomendação interessante de escrever uma espécie de diário, em que devo listar todas as prioridades para o dia seguinte, informar o que eu aprendi com as experiências do dia e, por fim, listar três coisas para agradecer.

Colocando em prática esse ensinamento do livro, os dias foram passando e notei, ao reler referido diário, um arrependimento que sempre aparecia, principalmente nos dias em que eu estava mais cansada: falta de paciência com a minha filha, irritação com suas birras. Assim, a elaboração de tal diário me deixou consciente de que eu deveria fazer algo para mudar essa situação. Já não bastava constatar o problema, que me deixava imensamente triste. Eu já tinha clareza do problema e precisava buscar uma solução.

Escola de Pais Bee Family

Com esse objetivo na mente, chamou-me a atenção um vídeo da Clarissa Yakiara no facebook sobre a abertura de uma nova turma para o curso Zum Zum de Mães: “um programa diferenciado e acolhedor para mães que desejam falar abertamente sobre limites, raiva, falta de paciência…”.

A Clarissa me passou muita paz, segurança e, principalmente, o equilíbrio que eu tanto buscava. Eu queria ser aquela mãe calma, centrada e linda do vídeo. Aposto que muitas de vocês também desejam isso, não é?!

Não tive dúvidas. Era a minha oportunidade de melhorar essa parte da minha vida, que tanto me angustiava.

Comecei a assistir as aulas, fiz os exercícios e o que guardei de mais valioso foi a necessidade de “estar presente”, consciente, e de ser melhor a cada dia, procurando ser um exemplo para minha filha.

É claro que muitas vezes saio da rotina e acabo cansada, caindo na mesma armadilha e perco a paciência, no entanto, é mais fácil agora recuperar o centro, ficar presente novamente, enxergar de fora o meu comportamento e “ajustar as velas”.

Ser feliz para criarmos filhos felizes

O fato de procurar ser uma pessoa mais realizada para ser uma mãe melhor, me levou a buscar evoluir em outras áreas da vida.

Assim, incluí a rotina de praticar atividade física no meu dia-a-dia, dormir as cerca das sete horas diárias que necessito para me sentir bem disposta e me alimentar melhor.

A rotina que é tão importante para as crianças e inclui essas três atividades fundamentais (sono, alimentação saudável e atividade física), também é importante para nós adultos, para que haja equilíbrio e energia necessários para enfrentarmos o dia e sermos mais produtivos.

Sei que, assim como eu, você se cobra muito, procurando ser perfeita em tudo. No entanto, não somos perfeitas. O que precisamos é nos aperfeiçoar e procurar melhorar um pouquinho a cada dia. Quem já não ouviu aquela frase: “feito é melhor do que perfeito”?

É bem isso. Antigamente eu me torturava pensando: não nasci para isso, não nasci para aquilo. Não levo jeito para ser mãe. Não tenho habilidade para tal coisa. Com o tempo e a disposição adquirir hábitos saudáveis, percebi que precisamos tentar, errar e fazer melhor da próxima vez. Os erros não são mais do que oportunidades de aprender e prosseguir até atingirmos nossos objetivos.

Nascemos com facilidade para a aquisição de certas habilidades, no entanto, as dificuldades em determinadas áreas da vida não podem nos impedir de tentar, treinar e melhorar.

Somos exemplos para nossos filhos

Somos um exemplo para nossas crianças. Assim, a prática de bons hábitos em nossa rotina é percebida e internalizada por nossos filhos.

É muito fofo ver a minha filha me imitando fazendo exercícios, sendo extremamente carinhosa com as próprias bonecas.

Por outro lado, ela fica tão insuportável quanto eu quando está com sono, cansada. Quero mudar esse comportamento nela. Então, devo mudar esse meu comportamento também, pois percebi que essa atitude da minha filha apenas reflete o meu  próprio comportamento.

Desejo que minha Maria Luíza se sinta segura e amada em nossa casa, que adquira valores como honestidade e respeito. Desejo que ela possua motivação para correr atrás dos próprios sonhos e, nas dificuldades, seja resiliente. Assim, devo ser um exemplo de tudo isso para ela.

As intenções acima ficaram evidentes após um exercício proposto numa das aulas do curso Zum Zum de Mães. Tal exercício proporcionou a clareza que eu e meu marido precisávamos na condução da educação da Maria Luíza.

Agradeço à Clarissa Yakiara que, por meio do Zum zum de Mães, me ajudou a ser uma pessoa mais consciente, olhar para mim, procurar suprir minhas próprias necessidades e ir atrás da minha felicidade e realização, para ser uma mãe inspiradora para minha filha.

Giulianna P. Barbosa, mãe da Maria Luiza (4 anos) e participante do Zum Zum de Mães.

Uma pergunta

Nasce uma mãe, nasce uma culpa. Ninguém discute. Há dois anos, no entanto, descobri um outro parto. Nasce um irmão, nasce uma pergunta: Ele tem ciúmes?

Meu filho mais velho já estava com 8 anos quando a irmã nasceu. Sempre achei intrigante essa curiosidade quase mórbida das pessoas sobre ciúme entre irmãos. E mais intrigante ainda é perguntar em terceira pessoa (ELE tem ciúmes?), ignorando a presença da criança ali, como se ela fosse invisível. 

Na primeira vez que ouvimos esse questionamento, os olhos do Miguel me fitaram curioso, ele também, pela resposta. Respondi com um sorriso à la Monalisa, fiz minhas considerações e mais tarde conversei com ele sobre isso. Hoje, quando alguém pergunta, nossos olhos se dizem: “Lá vem a pergunta do tempo”. Sabe as perguntas do tempo? Quando você entra em um táxi e um será-que-vai-chover surge com naturalidade?!

Formulando a resposta

Você pode estar como os curiosos olhos do Miguel, caçando a resposta para minha pergunta. Afinal, o que ela responde?

Quando eu estava grávida, pesquisei bastante sobre ciúme entre irmãos. Estava a procura de uma fórmula mágica de harmonia do lar! Mesmo não sendo mãe de primeira viagem, minha insegurança diante da novidade me jogou direto para esse espaço ilusório de que alguém me passaria o pó mágico para resolver qualquer problema, entre qualquer pessoa em qualquer ocasião.

Em uma dessas pesquisas, uma pessoa usou uma metáfora que foi muito esclarecedora:

“Imagina você que, numa sociedade monogâmica, seu marido chega em casa com uma nova mulher. E diga para você que você precisa amá-la e respeitá-la imediatamente. Você vê todos os dias o tempo que você passava com seu marido dividido entre você e essa nova mulher.”

Nesse dia, eu dei um clique! Por que eu deveria supor que meu filho precisava amar e respeitar imediatamente a irmã? E aceitar tranquilamente que o tempo dele seria redividido? É claro que a gente é levado a ter empatia por um bebê. Mas vamos voltar a usar nossa imaginação:

“Maria está no saguão do aeroporto e avista uma pessoa com um bebê! Ela passa e troca com ele sorrisos em alguns gu-gu-da-dás. Quando Maria descobre que a mãe e o bebê estão no mesmo voo que o seu, o primeiro pensamento de Maria pode ser ‘tomara que não chore’, ou ‘tomara que durma’ ou qualquer coisa do tipo para que não a incomode.”

Guardadas as devidas proporções, não há como negar que haverá uma nova divisão de tempo e espaço com a chegada de um irmão e que foi para mim importante chegar a um ponto revelador: o amor é construção.

Uma resposta

Naquela primeira vez que aqueles olhos de jabuticaba do meu filho me fitaram querendo saber a resposta, eu dei uma respirada profunda. E falei com uma voz firme e gentil: o amor é construção.

A pessoa me olhou com cara de que eu estava doida! Ela esperava um sim ou não e eu nem um talvez falei! Esperei o espanto passar um pouco e continuei: A gente não ama ninguém imediatamente… esse amor à primeira vista só existe em contos de fadas. O amor entre eles está sendo construído pouco a pouco, dia a dia. Senti Miguel aliviado.

E isso também tirou de mim um peso. Entender que tudo é um processo. Nomear os sentimentos envolvidos sem julgamentos ou valores morais ajuda a deixar o caminho para essa construção do amor mais leve e sadia.

Porque a pergunta ele tem ciúmes vem cheinha de julgamentos, afinal, ciúme, assim como a raiva, não é um sentimento muito bem visto na sociedade.

O entendimento de que o amor entre meus filhos, Miguel e Gabriela, vai se construindo, como algo em movimento constante, com altos e baixos, criou um espaço para que ele verbalizasse o que se passava em seu mundo interno. Não que isso tenha sido o meu pó mágico exterminador de problemas, mas humanizou a nossa relação. Tirou tudo do automatismo e nos colocou como pessoas, conectadas com as situações presentes e com os desafios de cada um.

Outras respostas

Muitas vezes não conseguimos, nós adultos até, elaborar o que estamos sentindo. Somos tomados por raivas, histeria, tristeza e temos dificuldades em compreender esses sentimentos. O espaço que se formou ali, na resposta à pergunta,  se ampliou ao ponto de Miguel conseguir um dia elaborar o que sentia. Chegou no pé do meu ouvido e disse: – Mamãe, eu amo a minha irmã, mas eu não estou gostando da vida que a gente está levando!

Meu mundo parou por alguns extensos segundos. Claro que ele poderia não estar gostando. A Gabi chorava dia e noite sem parar com muitas cólicas, refluxos e suspeita de alergia à proteína do leite da vaca. Eu tinha parado de comer muitas coisas para não ter que parar de amamentar.

Meu ímpeto era dizer: Como você pode falar isso??? Mas agradeci o fato de ele me contar o que estava sentindo  e perguntei o que estava incomodando. 

Conversamos sobre como estava sendo difícil para todos, mas que provavelmente, em breve essa fase passaria. Peguei fotos e comecei a lembrar sobre quando ele também era bebê.

É claro que o espaço que criamos para sermos sinceros em relação ao nosso sentimento não nos impediu de agir de modo impetuoso algumas vezes. Eu tenho um objetivo no meu modo de maternar que é possibilitar que meus filhos sejam autênticos em relação a si mesmos. Desejo que não se escondam por meio de comportamentos que só irão gerar elogios.  Quero encorajá-los a ser quem eles realmente são. Claro que isso não é fácil, por ainda estamos quebrando o paradigma de que para ser aceito e amado preciso ser somente agradável.

E vou te contar! Como é difícil! Mas é totalmente necessário! Agora me vem a imagem da Clarissa, aqui do Bee Family, falando sobre caminhar na direção da consciência plena. Um caminho meio pantanoso no começo, que vai melhorando. É preciso confiar no processo. Confiar e agradecer.

Não é só o amor entre irmãos que está sendo construído. O amor entre filho/filha e mãe/pai também está, diariamente. Mas agora a gente já pode se olhar e rir da pergunta-padrão que fazem quando sabem que são irmãos.

Este texto foi escrito por: Ana Paula Nogueira, mãe do Miguel e da Gabriela, Participante da Turma 6 do Zum Zum de Mães.

Contato: [email protected]  

Já reparou que tem uma idéia comum que paira sobre a cabeça da maioria dos pais e mães, principalmente os que se tornaram pais a pouco tempo?

“Mãe tem que saber de tudo….”

Antigamente esse era um conceito muito mais enraizado, hoje o contexto está mudando e muitas mulheres já se permitem pedir ajuda e relevam o conceito de que elas têm que saber de tudo. Alguns pais já compartilham a responsabilidade de criar um filho, falam o que pensam e participam ativamente da vida da criança. Mas como tudo isso ainda é muito recente e embrionário percebo que algumas famílias ainda sofrem com essas ideologias.

Como mãe, sofri muito quando meu primeiro filho nasceu. E por desconhecimento da prática e de aspectos importantes do desenvolvimento de um bebê, também fiz muitas coisas que hoje me arrependo. E o pior foi que sofri calada por muito tempo, pois carregava comigo a idéia de que “quando se vira mãe, deve saber de tudo”.

Fato é que a maternidade me trouxe uma alegria imensa, mas ao mesmo tempo senti um medo tão grande, quase do mesmo tamanho da alegria que senti ao ver meu filho em minha frente.

Até hoje é motivo de risada entre eu e meu marido, quando lembramos a sensação que nos deu quando a enfermeira nos disse que estávamos de alta e que podíamos ir embora com o nosso filho recém-nascido.

Naquele momento a gente pensou: como assim? Ir embora? Não vou saber cuidar? O que tem que fazer daqui para frente? Que horas troca fralda? Como dá de mamar? Vocês são loucos de deixar a gente ir embora com esse bebê?

Me lembro que o meu sentimento dentro do hospital era de querer ir embora dali, queria minha casa, minhas coisas, minha vida de volta, mas no momento que recebi alta, o desespero bateu forte e a minha sensação era de incompetência, de medo, de completo desconhecimento do que tinha que ser feito.

O fato é que durante minha gravidez, escutei muitos palpites, conselhos e histórias sobre o que deu e não deu certo para outras pessoas. E lá fui eu para a maternidade com a bagagem cheia e tentando colocar em prática tudo que ouvi durante a gestação.

Só que a única coisa que não me dei conta, é que estava tentando antecipar e me prevenir do que estava por vir. E como muitas coisas nessa vida, o idealizado nem sempre está de acordo com a realidade. Nem sempre temos controle sobre o que vai acontecer.

Sabe aquela frase que diz que quando nasce um bebê, nasce também uma mãe? Pois para mim foi a mais pura verdade. Antes de ter o meu filho nos braços, tudo era expectativa e só depois entendi que com o treino, a vivência, é que a construção da relação se daria de maneira efetiva e real. E muito do que pensei antes, teria que testar e colocar em prática para me certificar que aquilo seria possível ou não na nossa construção.

Você não entra em campo antes de ter o bebê nos seus braços, é a convivência que irá fazer a construção dessa relação. Uma mãe pode ter dez filhos e ter uma experiência e um tipo de vinculo diferente com cada um deles. A relação se dá na convivência, no dia a dia, no meio do caminho.

Então se você se identificou com o que estou te contando, também está aí se cobrando em ser a mãe ideal, está tentando seguir os conselhos, os palpites e em atender as expectativas das pessoas ou do mundo a sua volta, repense, avalie e veja se realmente isso faz sentido para você.

Quero dividir com você um fato que aconteceu comigo e que exemplifica bem o quanto essa pressão social pode falar mais alto e abafar os nossos verdadeiros sentimento, a nossa voz do coração.

Saí da maternidade com todas aquelas sensações que já descrevi acima e fui achando que o bebê era aquilo que foi na maternidade, chorava só para mamar, trocava fralda duas ou três vezes, dormia a maior parte do tempo e era só colocar no berço que eu iria descansar um pouco.  Só que não…

Cheguei em casa, tiramos um monte de fotos, os avós em casa e eu doida para dormir. Ah sim, isso é outra coisa que ninguém te fala. Que na maternidade você não dorme, pois é um entra e sai de gente que só quem passa, sabe.

Enfim, coloquei o Pedro no berço, cobri e sai pronta para ir tomar um banho e dormir.

O que aconteceu?

UáááááááááááááááááááUUUÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁ

Pedro começou a chorar e não parou mais. Fiz tudo o que podia, dei o peito mil vezes, troquei fralda, dei banho, cobri, descobri, enfim… Havia chegado em casa meio dia, e isso já era umas 11 horas da noite e o bebê chorando. Nesta hora minha mãe saca um conselho do tipo: ele deve estar com dor, deve ser cólica! Com três dias de vida???

Ok. Já tinha tentado de tudo e nada dele dormir. Ué, porque não funcionava na minha casa????

Nesta hora, mesmo desconfiada da tal cólica, me deixei levar pela ideia e dei três gotas de TILENOL para o bebê e no cansaço deixei ele dormir aninhado nos meus braços. Dormimos juntos na cama, quentinhos e por um bom tempo.

Hoje quando analiso a situação, com base em tudo o que eu li e experienciei depois, sei que aquilo era normal. Meu filho só estava com tanto medo quanto eu, ele só queria se sentir seguro e ainda estava vivendo a crise da separação. Era só deixar ele por perto, que tudo ia passar. Então, hoje digo para todas as mães, o seu melhor conselho é ouvir você, é ouvir o seu coração.

Esqueça a mãe ideal, ela não existe. O que existe é a Mãe real, aquela que está inteira, com suas certezas, seus medos e que vive essa construção, errando e acertando no caminho. Essa somos todas nós!

Este texto foi escrito por: Deborah Garcia – Psicóloga, Arteterapeuta e Coach familiar.

Entre os intensos aprendizados da maternidade, gostaria de compartilhar um pouco a respeito da arte da aceitação e da paciência que respeita os ciclos. E uma ferramenta que me auxiliou muito para isso foi o brincar.

A espera como mães começa no momento em que dizemos sim. Mesmo que esse sim tenha acontecido de maneira não consciente. Algumas vezes, há a espera ansiosa pela concepção, a espera da gestação, parto, amamentação, introdução à alimentação, aos primeiros movimentos e assim a todos os grandes aprendizados que chegam com isso. E junto com a paciência da espera, vem a aceitação.

Aceitação de que essa vida que chegou tem seu próprio ritmo, tem suas preferências, tem o tempo certo para cada aprendizado. Não exigimos de um pequeno recém-nascido que já saia andando e falando. Temos a sabedoria interna dos ciclos para nos dizer que há um tempo certo para isso. Assim como para todas essas grandes etapas da parentalidade. E também outros ciclos da vida…

E em toda essa grande mudança que vem com o nascimento dos nossos filhos, com todas as confusões, cansaço, noites insones, algo dentro de nós nos tranquiliza e uma voz nos diz que tudo passa. “São só os primeiros meses”, “São os primeiros três anos”; “É o primeiro setênio”, mas sabemos que mesmo que dure uma década e meia, em algum momento sentaremos e teremos a sensação de missão cumprida. Ou pelo menos almejamos isso.

Mas e quando a mãe natureza nos presenteia com peculiaridades que mudam as noções do inconsciente coletivo a respeito da duração dos ciclos? A criança tão esperada é tão independente que resolve antes de nascer que ela determinará o tempo para tudo, que ela terá um ritmo próprio, que simplesmente não seguirá os protocolos estabelecidos e que ela será diferente. Alguns, para nomear porque vivemos num mundo onde tudo precisa ser titulado, as chamam de crianças “especiais”. Particularmente, não concordo plenamente porque tenho a concepção que todas as crianças têm a sua “especialidade” muito própria e nós, pais, temos sempre a aprender bastante com cada uma delas. Crianças são diferentes entre si, assim como o somos, também, mães e pais e cada ser humano na sua individualidade.

Recebemos aqui esse grande presente. Nossa filhota chegou com essa peculiaridade e tudo é no tempo dela. Desde concepção, parto, amamentação, primeiros passos e palavras, sempre contrariando expectativas e os ciclos convencionais.  Ela apresentou um atraso de desenvolvimento devido a uma alteração genética. Nós tivemos que aprender muito a respirar, acalmar, diminuir a pressa e caminhar cada vez mais devagar. E a grande ferramenta que encontramos para isso foi o brincar.

Brincar, em sua etimologia, de origem latina, vem de vincunlum, que quer dizer laço, algema, encantar. Daí vem a palavra brinco, de enfeitar, e então o verbo brincar.

Encantar… Experienciar… Vivenciar…

Como a sua origem, o brincar vincula, pressupõe certa “intimidade”, um “estar à vontade”. O brincar inclui, nos faz sentir pertencentes, nos faz sentir parte.

Voltando ao diagnóstico de nossa filha, assim que conseguimos entender do ponto de vista médico a causa do “atraso de desenvolvimento” da nossa filha, num primeiro momento entramos com intervenções necessárias para estímulo. Mas acabou nos deixando estressados, ansiosos e cansados. Toda ajuda terapêutica foi maravilhosa, mas me percebi entrando num lugar de que tenho de estimular para que ela supere esse atraso. Tem que estimular para ela se adequar, tem que estimular, estimular, estimular… E percebi que ela não tinha tempo para simplesmente brincar.

E aí me dei conta do quão fiz isso o tempo todo em minha vida. Sempre querendo aprender algo, fazer um novo, um novo curso, brinquedo, carro, trabalho, porque aí me sentiria incluída. Uma memória de dor por alguns fatos da minha experiência de criança que agora estava vindo à tona junto dessa situação com minha filha. Ela me mostrou o quanto eu sempre busquei me adequar nas expectativas de pessoas com quem convivia. E isso me fez crescer muito como ser humano, mas chegou um momento em que isso já bastava. Agora eu já sei caminhar por mim mesma. E tinha uma filhota para tentar ensinar um pouco disso também.

Então decidimos buscar um pouco mais de autonomia nos permitindo que ela nos mostrasse alguns caminhos mais fluidos para o seu desenvolvimento, permitindo conectar com coisas que ela gostava. Por exemplo, ela ama natureza, música e animais, então encontramos na expressão musical com pequenos instrumentos, no canto e na equoterapia incríveis aliados para facilitar esse processo. E também no brincar na natureza em jardins, parques ou em algum lugar de natureza. Ela fica horas simplesmente brincando com pedras, folhas, flores no nosso jardim do prédio ou quando vamos ao parque ou lugares como sítios. E principalmente esse estar na natureza, simplesmente atenta para o que acontece, que Clara me trouxe, me fez resgatar muito de mim mesma. Simplesmente respirar nesses momentos, aceitar a situação do jeito que é. Em alguns momentos, posso buscar o que posso fazer para lidar com isso, e também ajudá-la da melhor forma, mas em outros, posso simplesmente estar, respirar.

Sim! O sim que dissemos para a maternidade, é o sim para a VIDA. Sim, a vida simplesmente é. Sim, é possível brincar, é possível experienciar sem medo de errar. Aceitar a vida, estou aprendendo a apreciar o caminho por ele mesmo, sem a expectativa da chegada.

Sim, os ciclos são fundamentais, mas algumas vezes pode ser que eles durem um pouco mais ou menos e é lindo aprender que é possível brincar e se encantar com isso. Brincar no sentido de vincular, aceitar o momento presente e absorver o melhor dele. Cada momento nos traz um grande aprendizado. E brincar também é se permitir viver sem grandes expectativas e simplesmente se encantar com cada pequena etapa atingida. Sem a necessidade que muitas vezes me impus de será que está certo ou está errado.

A brincadeira nos traz de volta a um lugar que eu chamaria de ponto de partida, como naqueles jogos de infância. O ponto de partida é o ponto zero. Aquele lugar em que não esperamos nada, apenas estamos ali, presentes no corpo. Observando o ambiente e as sensações. Sem julgamentos. Sem rotular como certo ou errado. Apenas permitindo SER.

E é esse lugar da brincadeira, do ponto de partida, em que me coloco presente e disponível para o que é necessário naquele momento, que sinto que é meu lugar como mãe. Quando me libero de tudo o que acho que deveria fazer, ou de como deveria ser, esvazio a mente e simplesmente me coloco disponível no corpo e no presente. Esses são os momentos mais mágicos da minha experiência materna. São os momentos mais encantadores.

O brincar como experiência nos traz essa sabedoria de aceitar que está tudo certo, hoje, nesse exato momento. Se minha filha ainda não fala, mas deveria falar, se o equilíbrio não é tão perfeito, se o crescimento não está dentro da curva, a perspectiva do brincar me permite olhar para isso sem culpa, como um aprendizado, aceitar as limitações mas ao mesmo tempo atentar para o que pode ser diferente, para as ferramentas que posso acessar para auxiliá-la, como essa experiência pode ser conduzida de maneira diferente, com leveza, sem o peso do certo e do errado. Esse mesmo brincar libera a ansiedade porque outros já estão muito mais desenvolvidos na mesma idade do que ela, ajuda a aceitar o tempo, confiar na sabedoria da vida que nos trouxe essa experiência permitindo, ao mesmo tempo, buscar alternativas para novas experimentações. Sem cobranças.

E quando falo em tirar o peso do certo e errado, não é no sentido de abrir mão dos nossos valores, ideais e sonhos. Mas sim no sentido de trazer o brincar como uma espécie de óculos que nos ampliará perspectivas e aprofundará nosso aprendizado naquele assunto que estamos precisando.

A brincadeira precisa do vínculo para acontecer. É necessário um lugar de confiança, de cuidado, de aconchego. Brincar nos permite testar diferentes maneiras de se viver, de se relacionar, de se expressar. O brincar nos permite aprofundar, conhecer melhor, ir ao encontro das nossas raízes. É o espaço de experimentação que nos permite simplesmente mudar os planos quando chove o dia inteiro nas férias e nos vemos entre a opção de ficar chateados porque não podemos passear ou encontrar uma maneira divertida de ficar dentro do quarto do hotel. E nesses encontros inusitados proporcionados pelo brincar, em grande parte das vezes, acabam se tornando aqueles momentos memoráveis, que nos lembramos com muita alegria no coração. Com o brincar com elementos da natureza, folhas, areia, barro, água, retomamos e revivemos toda uma história de desenvolvimento que se encontra escrita no nosso DNA. Histórias que estão no inconsciente coletivo, nos mitos de todas as tradições, nos contos de fada…

No meu contexto com minha filha, resgatar meu brincar me permitiu ser criança novamente e me tornar inteira. Tinha muita dureza e seriedade pelas situações que fui passando pela vida e interiorizando que eu tinha de ser forte, enfrentar, lutar. E com certeza essa postura me trouxe muito crescimento e capacidade de superação. Mas minha filha me ensinou que também é possível ser forte com a leveza do brincar.

Assim, fui aprendendo a soltar, a aceitar as desafiadoras noites em claro, os cuidados, a falta de tempo comigo mesma e aceitando a leveza do momento presente, aprendendo a respirar fundo e simplesmente brincar, jogar bonecas para cima, brincar de bola.

E também a brincar comigo mesma, dançar, cantar, pular ou simplesmente parar, voltando a me conectar com meus sonhos, com meus valores, a ter mais leveza quando perco a paciência. E essa mesma leveza me ajuda a perder a paciência cada vez menos.

O brincar, que pela experimentação, deixa de trazer o peso do jeito certo que as coisas têm de ser, mas simplesmente fluir com as coisas do jeito que são. O brincar que permitiu que eu aprofundasse meu vinculo com minha filha, e também com outras pessoas. E essa não seria uma profunda busca do ser humano? Por criar vínculos? Ou simplesmente por brincar?

Este texto foi escrito por Danila C.C. Fleury, Mãe da Clara (4 anos), Farmacêutica, Servidora Pública, Investigadora Autônoma de Autoconhecimento e Brincar. Participante do Zum Zum de Mães.
Integrante do Gestar.se
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Depois do nascimento da minha filha, comecei a pensar e sentir sobre situações que aconteceram comigo na infância.

E houve dentro de mim um período de luto da vida que eu tinha antes, para a vida nova de Mãe em tempo integral que eu escolhi.

Em um certo momento, essas lembranças ficaram mais intensas e eu chorei algumas dores que não pude chorar quando era criança. Eu acessei e liberei alguns medos e uma agressividade que  até então eram desconhecidos.

Descobri que tudo aquilo fazia parte de mim e já estava ali há muito tempo. A Maternidade chegou e trouxe à tona o que estava encoberto.

Precisei fazer uma escolha difícil: encarar “aquela nova eu” com suas imperfeições ou fechar os olhos e fingir que nada estava acontecendo. Adivinha o que eu escolhi?

Escolhi o caminho “aparentemente mais difícil”.

Sabe, depois de alguns anos vivendo a superfície de mim mesma, percebi que não adianta esperar que as emoções e sentimentos desapareçam, pois a vida acaba encontrando um jeito para fazer você olhar novamente.

Ainda, a minha falta de aceitação e acolhimento comigo mesma, atrapalhava a conexão com minha filha. Então, percebi que eu não podia mais seguir aquele padrão, que eu não podia agir com minha filha da mesma forma que recebi, porque algumas coisas deixaram marcas e eu ressenti no pós-parto.

Algumas marcas me fizeram ter aquele comportamento de não aceitação das minhas imperfeições, falta de amor comigo mesma, dificuldade de me expressar, falar dos meus sentimentos e não me permitir chorar. Criei uma ideia errada sobre o que é ser forte.

Você que está lendo, pode ter se reconhecido… eu sei… tem muita gente aí parecida comigo….

Construindo a Mãe que eu quero ser

Então, decidi ensinar algumas coisas novas que trarão um avanço para minha família: ensinar que precisamos ter mais paciência com nós mesmos, mais aceitação; que chorar não é sinônimo de fraqueza; que falar sobre os sentimentos faz bem; que não precisamos nos cobrar tanto. Que o diálogo na família é importante e nos une; e que carinho, amor e afeto precisam ser expressados com palavras e também com atitudes.

Assim, para que eu pudesse dar um novo rumo na minha família, precisei reconhecer mais que meus pais fizeram o melhor que podiam. E que eu só estava podendo ver mais além porque recebi muito amor e bons valores. Eles receberam muito menos do que eu e deram o seu melhor para cuidar da nossa família.

Então, procurei mais informações para me auxiliar a enxergar por novos ângulos, já que eu não tinha aquilo que decidi ensinar. Encontrei algumas formas que me auxiliaram no processo de autoeducação, inclusive o Zum Zum de Mães da Clarissa.

Afinal, se eu quero ensinar algo para minha filha, eu preciso dar o exemplo primeiro, crianças aprendem muito com o exemplo dos pais. Aprendem com a coerência entre o que dizemos e fazemos no dia a dia.

Um grande obstáculo que eu tinha era lidar com minhas próprias emoções que ainda estavam no padrão automático e quando surgia um comportamento da minha filha que atingia um ponto de dor meu, me incomodava muito e eu tentava fugir da situação. Só que não fugia…eram só os meus pensamentos…

Quando minha filha chorava, despertava em mim um sentimento de agressividade e de querer que ela se calasse logo… era um padrão que eu reproduzia.

Como eu não tive espaço para chorar, tive que aprender a calar o meu choro. E quando ela chorava, despertava esse comportamento que aprendi.

Só que às vezes, essa minha busca por querer ser uma mãe melhor pesava. Eu estava me adaptando a uma nova realidade e fazia uma dieta muito rígida, porque minha filha tinha alergia a proteína do leite.

Eram muitas coisas para se adaptar de uma só vez. E comecei a perceber que eu podia organizar melhor minha vida para ter mais leveza, para não ficar tão sobrecarregada e aproveitar mais a minha filha. Percebi que eu precisava fazer esse processo de reeducação dos meus comportamentos, mas também desfrutar da vida com mais alegria, calma e tranquilidade.

Nessa mesma época também surgiu um desejo de auxiliar outras mães que assim como eu querem fazer o melhor por suas famílias! E foi aí que surgiu o meu projeto Mãe com Carinho.

Consegui organizar algumas coisas e resolvi buscar uma forma mais direta para auxiliar outras mães. Então, encontrei o método de Coaching Parental e me joguei de cabeça nele…

Com o estudo desse curso foi que consegui equilibrar mais minha vida e ter leveza e alegria na Maternidade.

Faça as pazes com a ‘Melhor’ Mãe que está em você.

Estudando e vivenciando essa transformação, percebi que muitos dos pesos na minha vida era eu mesma que colocava e, por isso me sentia muito sobrecarregada, sem paciência e estressada.

Aprendi a administrar melhor o meu tempo estabelecendo prioridades e guiando minha rotina por elas. Antes, parecia que tudo era prioridade, as tarefas da casa, os cuidados com minha filha, minhas atividades no trabalho. Como eu não estabelecia as prioridades e não tinha clareza do que era essencial para minha rotina, sentia um cansaço mental e físico, tentando fazer tudo e no final do dia, ainda pensando no que faltava fazer.

Além do cansaço, essa falta de prioridade causava muita ansiedade. Eu ficava pensando que sempre tinha mais para fazer e não conseguia viver um dia após o outro.

Quando finalmente consegui definir essas prioridades, minha mente foi se acalmando e ficou mais fácil pensar apenas nas tarefas do dia.

Ainda, precisei me libertar de algumas crenças limitantes que atrapalhavam a minha vida. Essas crenças faziam com que eu me sobrecarregasse sem necessidade e causavam insegurança na forma como eu estava conduzindo minha vida e a criação da minha filha.

Através do meu Autoconhecimento pude sentir mais segurança na minha própria forma de educar. Conhecendo os meus valores, minhas forças e habilidades. E assim, também fui capaz de me valorizar mais e ser menos crítica comigo mesma.

Os valores são formados na nossa infância e juventude, recebemos dos nossos pais ou cuidadores e do ambiente no qual convivemos em comunidade.

Quando conheci melhor os meus valores, ficou mais fácil orientar a criação e educação da minha filha por eles. Passei a ter clareza do que eu quero ensinar e também do que o meu marido quer ensinar e assim, encontramos um alinhamento melhor.

Depois de encontrar os valores dos pais, ambos entram em consenso sobre quais valores querem passar para os filhos. Esse conhecimento é realmente encantador, pois os pais ganham mais segurança e confiança na sua forma de educar. Passam a orientar os filhos através dos seus próprios valores, que são diferentes para cada família.

Aprendi a lidar melhor com a culpa, com o estresse e a insegurança. E também, a lidar melhor com as cobranças internas que eu fazia com frequência. E foi assim, através do meu autoconhecimento que pude fazer as pazes com a Melhor Mãe que eu posso ser. 

Minha filha também me auxiliou muito nesse processo e seguimos nos desenvolvendo. Ela conhecendo o mundo, descobrindo, absorvendo e eu me redescobrindo, me encontrando, me tornando uma pessoa melhor. Eu ensino, mas também aprendo muito com ela!

Observo minha filha e aprendo muito. Nossos filhos nos imitam direitinho, não é mesmo? Imitam o jeito de falar, o jeito de agir, as palavras… ah, e isso revela muito sobre nós mesmas! Me vejo ali refletida, como se fosse um espelho! Um espelho que mostra as minhas virtudes, mas também revela as minhas falhas. E aproveito essa oportunidade para me aperfeiçoar, com calma, porque temos tempo.

Ainda, entendi que por mais que eu me esforce para acertar na criação da minha filha, inevitavelmente vou errar e tudo bem! Será mais uma oportunidade de construir nossa relação e para ela perceber que seus pais são só pessoas querendo acertar. Uma oportunidade também de dar o exemplo, pedindo desculpas quando percebo minhas falhas. Sinto que esse exemplo também é bem valioso!

Quando os pais decidem dar mais um passo além do que receberam, todo aquele sistema familiar cresce. Com calma, cada família pode dar os passos possíveis dentro da sua realidade de vida.

Cada um de nós faz o melhor que pode com a consciência que tem até aquele momento. E precisamos lembrar disso, para não permitir que a culpa atrapalhe nossa vida, gerando angústia ou estresse. Seja mais paciente com você mesma, você merece!

Fazer as pazes com a Melhor Mãe que existe em você é aceitar-se imperfeita e acolher-se mesmo assim! É construir uma boa relação com seus filhos, mas também construir uma boa relação com você mesma! É lembrar que nutrir-se de amor, carinho, calma, paz e harmonia é essencial para o seu bem-estar e o da sua família. É dar lugar para a Mãe possível, que faz o melhor que pode com o que tem. É viver uma maternidade consciente com mais leveza e alegria!

Te desejo uma maternidade alegre e real!

Com Carinho,

Priscilla Soares

Coach de Mães

*** Sobre a Autora:

Priscilla Soares é Coach de Mães e autora do Blog http://www.maecomcarinho.com/. Auxilia a mãe a conciliar sua vida pessoal, familiar e profissional com mais Equilíbrio e a melhorar seu relacionamento familiar. Contato: [email protected]

A maioria de nós, quando estamos grávidas pela primeira vez, pouco nos preparamos para o puerpério. Na verdade, estamos tão empolgadas com a gravidez, temos tanta coisa pra pensar, planejar e organizar (pré natal, tipo de parto, enxoval, quartinho do bebê, nome…) que, quando paramos para pensar como será nossa vida após a chegada do bebê, só conseguimos imaginar que tudo será lindo, colorido e feliz!

Mesmo que tenhamos lido algo a respeito do “terrível pós parto”, ou que alguma recém mãe tenha tentado nos alertar sobre, poucas de nós demos ouvidos, ou apenas ouvimos aquilo que nos convinha. E ainda, quando alguma mãe partilha conosco sua experiência, quantas de nós pensamos: “Nossa, que exagero!” ou “Que mãe ingrata!”. De fato, é necessário viver o puerpério. Pelo menos comigo foi assim!

Expectativa e Realidade

Na minha primeira gravidez optei por ter um parto natural domiciliar. E para isso, me preparei, cuidei da alimentação, pratiquei yoga, participei de rodas de gestante, li muito sobre gravidez e parto e li um pouco sobre amamentação e cuidados com bebês. Para mim, (não sei se li em algum lugar ou se foi fruto da minha imaginação, acredito que tenha sido a segunda opção) bebês que nascem  em casa são mais “calmos, comportados e dormem bem”. Sonho de toda mãe…

É incrível, quando você está com um recém nascido no colo, a pergunta que mais te fazem é: “Ele é calminho? Dorme bem?”. Eu também já fiz estas perguntas.  Hoje, no meu segundo puerpério, entendo que a realidade por trás desta pergunta é uma mãe aflita querendo encontrar uma outra mãe com a qual possa partilhar a mesma dor, apenas para não se sentir sozinha. Mães com bebês que dormem a noite inteira não fazem este tipo de pergunta. E, como bem sabemos, são raros os bebês que dormem a noite inteira…

E Laís nasceu. Parto natural, em casa, rodeada de amor. Comparando –a com outros bebês, (ahhh, a maternidade  tem essa mania horrível  e destruidora  de comparação. Comparamos nossos bebês: choro, sono, cocô, xixi, peso, altura, desenvolvimento e aprendizagem. Nos comparamos e comparamos os pais. CUIDADO!), ela era calma. Não teve cólica nem refluxo. Mas só queria colo, ficava dia e noite no meu peito e não engordava como os médicos gostariam.  Quando dormia, eram 40 min, 1h, raramente 2h. O quartinho lindo e o berço, nunca foram usados, pois recorremos à cama compartilhada para que as noites ficassem menos pesadas.

A maternidade romântica que idealizei deu lugar à maternidade real. Assim, num piscar de olhos. E eu pude viver o puerpério. O desespero de noites mal dormidas e de não conseguir fazer nada que não fosse cuidar e amamentar meu bebê (Hoje eu entendo que fazia o mais importante de tudo, e que o “nada” que eu não conseguia fazer era realmente NADA). A dificuldade em lidar com amamentação e principalmente com os palpites alheios do tipo “Você não tem leite suficiente, por isso essa menina não dorme, é fome” ou “Seu leite é fraco, por isso ela está tão magrinha e não engorda”.  A falta de ajuda física, pois tanto meus pais, meus sogros e a maioria dos amigos moram longe.  As diferenças no modo de educar entre meu marido e eu. A falta de coragem de pedir ajuda e de assumir que não está sendo fácil.

Chamado à mudança

É fato que, uma gravidez consciente, o modo como este bebê foi gerado, esperado e também como chegou ao mundo, influenciam sim no seu comportamento/personalidade não só quando bebê, mas durante toda a vida. Todavia, o tipo de parto não tem nada haver com a grande convocação que o puerpério nos faz. Somos chamadas à mudança, à desconstrução!

É preciso olhar para dentro, para nossa sombra, nossas feridas de infância. É preciso muito amor, disponibilidade e entrega. É preciso coragem. É preciso ouvir seu coração. É preciso viver um dia de cada vez, ou melhor, um segundo de cada vez… respirar. É preciso parar de criar qualquer tipo de expectativa com relação ao bebê, aos outros e consigo mesma. É preciso aceitar a sua transformação.

Confesso que demorei um pouco para aceitar e entender este turbilhão de mudanças que o nascimento de um filho trás. Por muitas vezes me peguei pensando: “eu queria tanto ser mãe, me preparei durante a gravidez, minha filha nasceu em casa cercada de amor e carinho, por que tem sido tão difícil este momento? O que eu fiz de errado?” (Olha a culpa, parceira das mamães, aparecendo por aqui fazendo com que eu me sentisse culpada pelo peso do puerpério).

Hoje, passando pelo meu segundo pós parto, consigo perceber a minha responsabilidade pelo que vivi após o nascimento da Laís. Percebo também como o autoconhecimento e a ausência de expectativas fazem a diferença. Puerpério é puerpério sempre, mesmo que seja o primeiro, segundo, terceiro ou quarto filho.  Vai ter bebê chorando, bebê pendurado no peito, noites mal dormidas, cansaço… Mas pode ser mais leve. Comigo tem sido. Não em 100% do tempo, pois meu lado de querer dar conta de tudo muitas vezes ainda me sabota, mas na maior parte dele.

Só para dar um exemplo real, como já falei anteriormente, Laís vivia pendurada no peito e não engordava. Hoje, Gael mama em intervalos bem maiores do que ela mamava, engorda que é uma beleza e está sempre no alto da curva. Será que o leite ficou mais forte agora? O que quero mostrar com isso, além da relação do nosso estado emocional com a amamentação, é que é possível viver um pós parto mais leve.

Como trazer leveza para o pós parto

Primeiramente, quero deixar claro que o que vou mostrar para vocês aqui é o que funcionou comigo. Sabemos que cada mulher é única, cada bebê é único, cada pós parto é único, portanto, o que funcionou para mim pode não funcionar para você, mas espero ao menos que sirva de inspiração.

Vou dividir com vocês 5 pontos que me ajudaram a deixar meu puerpério mais leve:

1-Entender e aceitar as necessidades do recém-nascido.

Bebês precisam de colo, de cuidado, de proximidade, de peito, de mãe. Quando eu entendi isso, parei de ficar tentando deixar minha filha no carrinho ou no berço. A cama compartilhada para mim foi fundamental para trazer leveza no meu pós parto e melhorar minhas noites de sono.

2-Compreender a fusão emocional mãe e bebê.

O entendimento da fusão emocional entre mãe e bebê me abriu os olhos para enxergar que o “mau comportamento” do meu filho é reflexo da minha sombra e por isso preciso trazê-la para a luz. Sabemos que bebês que dormem a noite inteira são raros, mas também não podemos achar normal um bebê que não dorme, ou que acorda a cada 30min. Esse bebê pode estar refletindo algum problema atual que esta “tirando o sono” da mãe, por exemplo. Por isso a mãe precisa resolver esta questão, se acalmar, comunicar isso para o bebê.

3-Aceitar que no momento a prioridade é o bebê, e todo o resto é resto.

Para mim esta é uma das práticas mais difíceis, mas quando aceito de fato esta verdade, quanta leveza… A casa, a louça e a roupa suja podem esperar. No caso de mães de segunda viagem, há de se ter um cuidado maior, pois além do bebê, há o filho mais velho, que merece muita atenção, e exclusividade em alguns momentos. Neste ponto, é muito importante a ajuda de terceiros (pai, avós, tios, amigos…) tanto com o bebê ou com o outro filho, que em muitis casos ainda é um bebê também. Mas nem sempre podemos contar com esta ajuda, e neste caso, o que funciona muito comigo é o sling. Gael fica agarradinho em mim enquanto jogo bola ou brinco de pega pega com Laís. E nós três aproveitamos muito.

4-Praticar o autocuidado

É fundamental para nossa sanidade mental, e na maioria das vezes deixamos o autocuidado totalmente de lado por anos depois que nos tornamos mães. Precisamos ter um minuto para nós mesmas, fazer aquilo que gostamos, esvaziar nossa mente. Meditar, respirar, ler um livro, caminhar, dançar… E não necessariamente precisamos nos afastar do bebê para isso. Se você gosta de dançar, por exemplo, pode colocar uma música e dançar com seu bebê no colo ou no sling. Eu amo dançar, e aqui onde moro tem um grupo de danças de mães com bebês no sling. É uma delícia! Danço com Gael e Laís também leva suas bonecas para dançar com ela. Além da prática da atividade física, é um momento de partilha com outras mães, que é o próximo tema que vou falar, a rede de apoio.

5-Rede de apoio

Ajuda. Sim, precisamos de ajuda. E se possível, muita ajuda. E acreditem, para a maioria das mães, aceitar ou pedir ajuda é o ponto mais difícil. A grande parte das mulheres de hoje em dia se sentem orgulhosas por serem fortes, autossuficientes, por conseguirem dar conta de tudo sozinhas. Por isso, quando se tornam mães, não têm coragem de assumir para si mesmas que precisam de ajuda. Infelizmente, estas são as que mais sofrem no pós parto. E não falo só de apoio físico, mas também de apoio emocional. O quanto é enriquecedor compartilhar nossas angústias, medos, desafios, e também as conquistas, aprendizados. E para quem não tem rede de apoio ainda, não tem mais desculpas para continuar sem. A grande vantagem do mundo digital para nós, mamães, são as redes de apoio virtuais.  O Zum Zum de Mães é um exemplo. Para mim, fazer parte do Zum Zum é essencial para trazer leveza não só para o pós parto, mas para a maternidade, para a vida.

E para terminar, deixo algumas perguntas para te inspirar a trazer mais leveza para o seu pós parto:

– Quais expectativas você tinha do pós parto?

– Como foi/esta sendo seu puerpério? Quais os maiores desafios?

– O que você pode fazer de diferente para deixar seu pós parto mais leve?

– O que você já faz e gostaria de compartilhar?

 

Texto escrito por Amanda Balielo, Mãe da Laís e do Gael, Coach de Mães e participante da turma 4 do Zum Zum de Mães.

@amandabalielocoach 

Http://facebook.com/amandabalielocoach

 

A maternidade…

A maternidade me aconteceu de maneira inesperada, o dia que descobri que ia ser mãe a minha reação, confesso, não foi das melhores, ali no banheiro parada com as duas linhas rosas diante da minha cara incrédula, eu simplesmente entrei em pânico, chorei de medo, senti uma enorme insegurança e fui invadida por um mar de incertezas.

Eu não me sentia pronta para tanta responsabilidade, estava acostumada com minha liberdade, minha independência, visualizei de maneira catastrófica todas as mudanças pelas quais teria que passar em tão pouco tempo.

Pensamentos confusos vinham como uma enxurrada na minha cabeça: – Não tinha nada pronto! Não tinha médico! Nosso apartamento não tinha elevador! Eu tinha bebido, na verdade tinha tomado um porre, em um casamento dias antes, será que eu tinha estragado tudo? Era um caos interno de sentimentos misturados, senti até mesmo um pouco de raiva, cheguei a perguntar a Deus:  Porque comigo? Porque agora? Tínhamos combinado que isso aconteceria mais para frente!

Mas quando caiu a noite fui acometida subitamente por um amor imenso que transbordava, amor por aquela vida ainda tão frágil que crescia silenciosamente dentro de mim. E algo como uma brisa divina passou pelo meu coração e levou embora toda aquela confusão, essa brisa reconfortante ainda trouxe com ela um enorme senso de responsabilidade e gratidão, me senti especial e honrada por ter sido escolhida por Deus e pela minha filha para aquela tarefa tão sublime!

Naquela mesma noite, deitados no sofá, eu e meu marido decidimos que daríamos conta, que resolveríamos tudo e faríamos de tudo para receber essa criança com amor e respeito. Mas eu continuava com um frio na barriga e sabia que a partir daquele momento tudo seria diferente.

Daquele dia até hoje muitas coisas se passaram, o parto e suas dores, amamentação em toda sua plenitude, a neblina do puerpério, a desastrosa introdução alimentar, a sofrida (para mim) adaptação escolar, e muitos outros momentos desafiadores, que eu espero ter oportunidade e inspiração para um dia escrever sobre eles, mas nesse primeiro momento gostaria de uma maneira geral contar como cheguei até aqui no Bee Family e também compartilhar algumas reflexões sobre a maternidade.

Tudo começou com uma amiga, que tinha se tornado mãe há uns dois anos e pouco antes de mim, ela nos visitou algumas vezes durante minha licença maternidade, sempre muito cautelosa verificava o melhor horário e se era um bom dia para visitas, combinávamos de manhãzinha e ela levava pãozinho de queijo quentinho e sempre me oferecia conforto e apoio com sua escuta sem julgamentos. Em nossas deliciosas conversas matinais apareceram algumas palavras como conexão, rede de apoio materno, disciplina positiva, criação com apego e outras que ficaram guardadas e reverberando aqui dentro, lembro dela ter comentado especificamente dos trabalhos da Clarissa Yakiara e também do Thiago Queiroz (Paizinho, Virgula!). A partir daí de blog em blog de página em página, com um monte de teorias, pensamentos e ideias dispersas cheguei aqui no Bee Family…. Logo me inscrevi no Workshop gratuito e depois na turma 5 do Zum Zum de Mães. Posso dizer que foi um grande divisor de águas para mim.

O nascimento da mãe consciente…

Dizem que quando nasce uma criança nasce também uma mãe, isso é verdade, ainda me lembro daquele primeiro contato fora da barriga, olhos nos olhos pela primeira vez, parecia que tínhamos parado o tempo, eu estava exausta depois de tantas horas de trabalho de parto, quando ela chegou eu só tive lagrimas e meu colo para oferecer.

Ela ficou ali quietinha e confortável, ainda me olhando nos olhos, sendo alimentada e aquecida por aquela Vivian que acabara de despertar seus instintos mais primitivos de fêmea mamífera, sim é verdade eu nasci ali naquele dia junto com a minha filha. Talvez esse nosso começo visceral e poderoso tenha ajudado, mas acho que somente despertei para uma maternidade mais consciente e presente quando o universo conspirou para que houvesse um encontro da minha vontade com esse lugar, que me forneceu os conhecimentos e as referências que ainda me faltavam. Sou muito grata por ter encontrado a Bee Family e o Zum Zum, que para mim foram os pontos de partida de um novo caminho.

E para tornar esse caminho ainda mais especial, tive a sorte de enfim encontrar minha tribo, encontrei outras mulheres (no mundo virtual, no meu convívio e até mesmo na minha própria família) corajosamente dispostas e comprometidas a questionamentos profundos sobre quem são e sobre que tipo de relação querem construir com seus filhos.

Após o Zum Zum ficou muito claro para mim que não é possível uma maternidade consciente se não estivermos conectas e atentas a nós mesmas e as nossas necessidades. Se a criança que fomos um dia não estiver sendo ouvida, se elas estiverem sendo caladas novamente, vamos continuar andando em círculos e repetindo automaticamente o comportamento de outras gerações, que viveram em um tempo e em um mundo muito diferente daquele que podemos construir.

Sinto que estamos no alvorecer de uma nova Era, e as crianças que estão chegando estão predestinadas a nos redefinir como humanidade e precisam encontrar um terreno fértil para desabrocharem seus verdadeiros eus, sinto que essa energia vital e genuína que vem com elas precisa fluir mais livremente do que nunca. Percebo que elas nunca se adaptarão a comunicação e atitudes violentas e retrógradas, entendo o tamanho da responsabilidade que me cabe como mãe e como parte da sociedade em que vivo.

Por tudo isso eu continuo na busca, avanço lentamente por esse caminho de empatia e respeito pela minha filha e pela minha criança interior, alguns passos para frente, muitos outros para traz, sigo errando miseravelmente em alguns desafios e acertando gloriosamente em outros. Tenho buscado cada vez mais conhecimentos e ferramentas que me apoiem e auxiliem nesse processo de mudanças, não tenho pretensão alguma de me tornar uma mãe perfeita, mas tento me tornar uma mãe cada vez mais presente e consciente.

Um dia antes do dia das mães, acordei com uma enorme necessidade de introspecção, de ir para dentro e transcrever o que sentia em relação a aproximação daquela data especial. Então fiz uma breve reflexão sobre como vejo a maternidade e como ela vem me transformando e é com uma certa timidez que compartilho essa reflexão aqui com vocês.

Uma visão sobre a maternidade e suas transformações…

A maternidade me desnuda a alma, me arranca o véu de Isis, me desmascara, me joga na cara quem eu sou e quem eu não sou, me faz emergir do oceano de mim mesma. Porém vez por outra ainda traz à tona a fera descontrolada e indomável que reage apenas por extinto, e em seguida vira o outro lado dessa mesma moeda que é a face da beata martirizada nas renúncias diárias.

A maternidade me inunda de luz, tanta luz que ilumina até onde não deve, ilumina aquela sombra, aquele canto antes escuro, onde desde de menina eu vinha guardando o que doía, o que eu achava que não servia, o que eu não sabia lidar ou nomear e agora aos poucos esses guardados cheios de poeira vão sendo limpos, arrumados e reintegrados…

A maternidade me impulsiona a sair em urgente missão de resgate daquela criança que fui um dia, ela me permite revisitar minha infância, ser criança de novo, não de maneira a ofuscar o protagonismo da infância da minha filha, mas de forma a possibilitar a verdadeira empatia e conexão entre nós, tornando nosso vínculo indestrutível. Ela me faz olhar o mundo com olhos de primeira vez, me desperta uma vontade de fazer melhor, de ser a melhor de todas as minhas versões! As vezes ela dói e as vezes não…

Ela me faz reviver velhas histórias, me aproxima das minhas ancestrais, incríveis mulheres de fibra, algumas que eu sequer conheci, mas as reconheço em mim, as honro, honro o meu passado, porém a maternidade me permite pedir licença e seguir em frente reescrevendo minha história, rompendo com os velhos padrões, com os velhos ciclos, desbravando um novo caminho, tão necessário para o romper da nova Era que se anuncia…

A maternidade me permite sobretudo compreender minha mãe e a imensidão do amor que ela tem por mim, desvendando os segredos por traz daquelas lágrimas silenciosas e incompreendidas, validando seus medos que antes pareciam tolos, me permite aceitar e perdoar seus erros bem intencionados e reconhecer sua solidão mesmo em meio à multidão, me faz valorizar ainda mais seus sorrisos, suas noites, sua devoção e o seu coração.

 

Vivian Pessoa @viviancpessoa

Mãe da Ive de 2 anos e 3 meses e participante da turma 5 do Zum Zum de mães.

[email protected]

 

 

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