Era uma tarde de sexta feira, sai um pouco mais cedo do trabalho, precisava comprar umas roupas para o inverno que acabara de chegar. Entrei em uma loja, experimentei as peças, decidi o que levaria e fui para o caixa. Percebi que ia demorar, pois duas vendedoras estavam trocando a fita da máquina do cartão, olhei para o relógio, meu tempo era cronometrado, ainda precisava pegar minha filha na escola, mas já que não tinha outro jeito comecei então a prestar atenção na conversa das duas moças. Uma delas estava contando que viveu dos 5 aos 13 anos em um colégio interno junto com a irmã, contou ainda que só iam para casa nos finais de semana há cada 15 dias, fiquei alguns segundos em silêncio e um pouco chocada, olhei para ela com mais atenção, como que procurando alguma coisa, algum traço, ainda que no olhar, que refletisse tamanho abandono.
Não resisti e me intrometi na conversa, perguntei se ela não sentia falta de casa, ela disse que no início sim, que havia sido muito sofrido e solitário, mas que depois se acostumou. Acho que ela percebeu o meu olhar atônito e falou resignada que foi o melhor colégio em que já havia estudado, que os professores eram muito bons e que haviam feito muitos amigos.
A outra vendedora falou algo do tipo: “nunca faria isso com minha filha” e percebi que era exatamente aquilo que eu estava pensando, a moça porém defendeu prontamente sua mãe, dizendo que ela não teve outra escolha, ela era sozinha com duas filhas e essa foi a única maneira de conciliar a maternidade com o seu trabalho, que era o único sustento da família. Mas ainda assim, na intimidade dos meus pensamentos eu julguei ferozmente aquela mãe, só conseguia pensar no abandono que aquela moça havia sofrido em tão terna idade. Perguntei como era a relação com a mãe atualmente, ela me respondeu que não tinham uma relação muito próxima e com sinceridade me contou que se tornou uma pessoa muito carente de afeto, mas que ao mesmo tempo tinha uma enorme dificuldade em criar vínculos com as pessoas, inclusive com a própria mãe.
Sai da loja levando minha sacola, meus pensamentos e um monte de sentimentos desordenados, de indignação principalmente, fui andando apressada em direção ao metrô, o coração apertado e um nó na garganta eu só conseguia pensar na moça da loja e em sua irmã, duas crianças pequenas abandonadas em um colégio interno….
Mas aos poucos minha consciência foi me chamando a razão e comecei a tentar exercitar a verdadeira empatia, fui tentando me colocar no lugar daquela mãe de uma maneira muito verdadeira, fui tentando imaginar que caminhos a teriam levado até a porta daquele colégio e quanta dor e culpa aquela decisão deve ter custado até hoje.
Comecei a visualizar uma mulher diferente da megera do meu primeiro pensamento, comecei a vê-la como uma mulher sozinha, perdida e exausta. Provavelmente devia estar sendo cobrada ao extremo no trabalho, mas ia aceitando, consumindo seu tempo e correspondendo de forma impecável, quem sabe ela tinha em vista uma promoção que poderia melhorar a vida e o futuro de suas meninas. Pensei na possível amargura que a devorava por dentro, pelo fato de ter sido abandonada pelo pai de suas filhas, ou talvez tenha sido uma morte precoce e inesperada que tenha levado para sempre o amor de sua vida, de todo modo imaginei a saudade que ela devia sentir da época que sua família estava inteira, senti sua solidão no silêncio de uma casa vazia e arrumada, pensei em todas as noites quando ela finalmente desabava em sua cama fria, possivelmente era somente ali que se permitia chorar… Como fui injusta com aquela mulher, poderia ter sido eu, poderia ter sido comigo em um outro tempo, em um outro cenário, em outras circunstâncias.
Quando dei por mim já estava na estação que deveria descer, fui caminhando pela rua ainda emersa em meus pensamentos. Chegando perto da escola da minha filha, fui dragada para um passado não muito distante dali, comecei a reviver então os meus caminhos, aqueles que me levaram até a porta daquela escola pela primeira vez, carregando nos braços uma bebê com ainda 6 meses e meio.
Lembro da sensação de que o tempo havia passado rápido de mais, os meses da minha licença teimavam em começar e terminar em uma velocidade que eu não fui capaz de acompanhar, quando dei por mim estava sentada na secretaria matriculando minha filha. Dias depois, prestes a voltar ao trabalho o coração estava estrangulado e cheio de culpa, não sabia se havíamos nos preparado para aquele dia!
Queria dizer para minha filha, de algum modo que ela entendesse, que não havia outro jeito, eu simplesmente precisava voltar ao trabalho, não somente por amar minha profissão, mas nossa realidade financeira naquele momento não me permitia outra opção! Queria explicar que entendia que era cedo demais para nós duas e que não era uma troca, nem abandono, nem falta de amor ou vontade. Queria poder parar o tempo ou começar tudo de novo, ir de volta para o momento em que entramos em casa pela primeira vez com nosso pacotinho nos braços, completamente confusos e arrebatados de amor.
No primeiro dia em que ela ficou na escola sem mim, após o período de adaptação, a saudade que eu senti foi devastadora e irracional, só haviam alguns minutos que eu a havia deixado lá, tentava me convencer de que o que eu sentia não fazia sentido, mas o meu corpo me falava a verdade, do meu peito vazava leite, nos meus braços um imenso vazio e no meu colo só ausência.
Rezei baixinho para que ela não estivesse sentindo minha falta do mesmo jeito que eu estava sentindo a dela, pedi a Deus que fizesse florescer amor pelas suas novas tias e que ela cativasse seus corações, para que em seu novo e precoce caminho ela continuasse cercada de amor, mesmo quando inevitavelmente estivesse longe dos meus olhos…
Já de volta ao presente, na porta da escola, escutei a vozinha da minha pequena dizendo: “é a mamãe é a minha mamãe ” ela veio correndo e pulou no meu pescoço, como sempre faz todos os dias. Esse é sem duvida o melhor momento do meu dia, depois de mais de nove horas longe dela, chega finalmente o momento do nosso abraço, meu corpo todo se prepara, meu espírito se entrelaça com o dela e eu sou preenchida pela felicidade mais verdadeira e pura que já pude experimentar.
No caminho de volta para casa, pensei novamente na moça da loja e em como deviam ser os reencontros após os 15 dias longe da mãe, desejei de coração que esses momentos tenham sido mágicos, como o meu acabara de ser, senti uma enorme gratidão por poder passar todas as noites com a minha filha, por poder compartilhar a cama e dormir de mãos dadas com ela, sentindo seu cheirinho e seu calor, me emocionei e algumas lágrimas começaram a cair pelo meu rosto. Mas logo em seguida senti medo de ser julgada pelas minhas decisões, assim como eu tinha acabado de fazer com uma outra mãe. Ainda no caminho de casa, uma mulher passou por mim na rua, reparou minhas lágrimas e disse: “foi só um dia difícil, eu sei bem como é, estou indo buscar o meu na escola” apesar daquele não ser exatamente o motivo pelo qual eu estava chorando, me senti acolhida por aquele comentário, senti que eu não estava sozinha, somos muitas, somos tantas, estamos em todos os lugares, pelos quatro cantos do mundo…
Quando cheguei em casa chorei ainda mais, já nem sabia mais por que eu estava chorando, se era por mim mesma e o peso da minha escolha, se era pela minha filha que desde de pequenina tem que ficar tanto tempo longe casa, se era pela moça da loja e a ferida emocional que o abandono causou a criança que ela foi um dia, se era pela mãe dela e todo esse tempo convivendo com a solidão e a culpa. Acho que na verdade chorei por todas nós que decidimos seguir com as nossas carreiras apesar de tudo. Chorei também por aquelas que decidiram desistir de suas profissões, ainda que por um tempo, decidiram renunciar aos seus sonhos e aos seus projetos. Sinto tanto por ainda termos que fazer escolhas tão difíceis, por ainda ser tão difícil sustentar essas escolhas e sinto mais ainda por saber que independente de quais sejam, seremos sempre duramente julgadas.
Antes de dormir fiz uma prece, pedi por um mundo como mais empatia e respeito, onde nós voltássemos a acreditar que não fomos feitas para julgarmos ou competirmos entre nós, pedi que nos lembrássemos da nossa essência e de quão natural e poderoso é quando estamos juntas, nos apoiando e aprendendo com nossas diferenças, que nos lembrássemos o quão potente somos quando colaboramos para o crescimento e a mudança que queremos ver mundo. Pedi desculpas aquela mãe pelo meu pré-julgamento e pedi que ainda houvesse tempo de cura, de perdão e de amor para todas nós…
Esse texto foi escrito por: Vivian Pessoa, mãe da Ive de 2 anos e 4 meses e participei da turma 5 do Zum Zum de Mães.
@viviancpessoa
Minha filha já tinha mais de um ano de idade quando eu li o seguinte trecho da obra da Laura Gutman “A maternidade e o encontro com a própria sombra”: “Prevalece, também, a intenção de evitar a dor, embora ‘dor’ seja diferente de ‘sofrimento’. O sofrimento é padecido quando a mulher se sente só, desprotegida, desamparada, humilhada ou acha que não está fazendo o correto. Quando se está em posição dorsal (deitada), com soro (que não permite que se levante da maca nem se vire), ouvindo as pulsações do bebê amplificadas e tentando adivinhar o que significa a expressão do obstetra ou da parteira depois de cada toque.” Eu simplesmente fechei o livro, chorei e demorei um tempo pra voltar novamente naquela página…
Estou preparando há alguns meses, juntamente com um grupo de mães que conhecem profundamente meu trabalho, estes encontros com muito amor, respeito e admiração por você que é pai ou mãe e que tem a OUSADIA e a Coragem de mergulhar neste universo da AUTOEDUCAÇÃO!
Se fosse criar uma imagem para representar o processo de criação destes eventos, me vejo com “A bolsa” que me acompanha em minha jornada pela vida e selecionando cuidadosamente os conteúdos mais valiosos que já encontrei em meu caminho para compartilhar com você!
E sem me delongar mais, envio aqui abaixo as DATAS e LOCAIS destes encontros. Para saber mais informações e se inscrever caso sinta o chamado, basta clicar no nome da cidade:
31/07 – Florianópolis, SC – Conferência: “O Poder da Comunicação na Relação Pais e Filhos!”
02 e 04/08 – Porto Alegre, RS – Conferência + Workshop
25/08 – São Paulo, SP – Workshop: “O Poder da Comunicação na Relação Pais e Filhos”
Qualquer dúvida estou a disposição juntamente com as produtoras que estão organizando e cuidando de cada detalhe destes encontros!
Será uma grande honra olhar nos seus olhos, te conhecer e compartilhar com você momentos íntimos e especiais … 😉
Com carinho e muita gratidão por ter você aqui,
Clarissa Yakiara
Neste ponto já temos uma questão que sempre me intrigou: ser como penso que sou ou como os outros esperam que eu seja?!
O papel da mulher, por muito tempo, foi considerado o de casar, ter filhos e cuidar da casa. Esta era a imagem das mulheres de antigamente, da minha avó, da minha mãe… As mulheres da minha família adotaram um padrão tradicional de comportamento. Ou seja, foram o que se esperava delas! Entretanto, sinto na fala da minha mãe, tia e várias outras mulheres, uma certa revolta, uma raiva mal reprimida deste destino! Parece mais uma sina do que um destino escolhido por elas.
Desta forma, isso era tudo o que minha mãe não desejava para mim! Lembro bem das frases: “você precisa estudar para ser uma mulher independente, autônoma com seu próprio dinheiro, senhora do seu destino!”
Por muito tempo eu fiquei perseguindo este objetivo: ser a mulher que minha mãe esperava que eu fosse! Eu sentia que ela havia feito sacrifícios, havia abdicado de sua própria vida para que eu pudesse ser melhor e mais feliz que ela, de alguma forma!
Por algum tempo busquei na carreira acadêmica esta realização. Mas fui sentindo uma profunda solidão e desconexão com outras coisas que eu desejava. Então comecei a dar aulas, me aproximei afetivamente de pessoas, de crianças e a vida foi me levando por outros caminhos. A mulher independente e poderosa, que minha mãe sonhava, foi se transformando numa pessoa mais voltada para o autoconhecimento, autodesenvolvimento.
Eu fui me desligando aos poucos desta identidade que designaram para mim e fui construindo minha própria identidade feminina.
Há muitas cobranças para que a mulher tenha filhos, para que seja desta ou daquela forma! Mas eu decidi me abrir à possibilidade de gerar um filho de forma muito espontânea, intuitiva, quase inocente! Eu cismava que teria dificuldades para engravidar, e fiquei pasma quando soube da gravidez com 8 semanas! Só acreditei com o ultrasson!
Durante a gestação parece que as pessoas esperavam que eu estivesse num comercial de margarina… Eu tinha que estar sorridente, calma, sentindo coisas boas para não passar nada de ruim para a bebê! E como se faz isso? Eu SENTIA MUITA coisa! Dificuldades de adaptação, medo do futuro, desconforto com o presente… Sem contar meu cenário profissional que andava caótico por algumas questões à parte!
Ali percebi “na pele” que a vida tinha uma engrenagem que eu desconhecia e que girava independente da minha vontade ou estado de espírito! Meu corpo tinha novas necessidades e aceitar isso foi um processo que foi ganhando consistência. Quando consegui me adaptar, a gestação já estava acabando e era hora de pensar na chegada da bebê, algo que eu nem conseguia pensar!
Pasmem, mas eu nunca tinha sequer ouvido falar em puerpério, nem baby blues! Eu tinha em minha memória a famosa e temida “depressão pós-parto”. Lembro das mulheres da minha família mencionando o assunto bastante preocupadas. Então, tudo o que eu temia era a depressão! Como dar vazão à imensa tristeza que eu sentia e não ser taxada de deprimida?! Por que eu estava tão triste se tinha a coisinha mais preciosa do mundo nos meus braços?
Ali descobri que meu mundo estava estilhaçado! Eu não conseguia entender meu corpo, minha mente, meus sentimentos… Estava TUDO absolutamente fora do lugar! Era como se um furacão tivesse passado por mim e eu não reconhecesse nada nem por dentro nem por fora! Nestes momentos, o único lugar que eu encontrava algum conforto era embaixo do chuveiro. Mas logo eu escutava um choro e precisava reassumir o papel que esperavam de mim: a mãe amorosa!
Eu senti que me perdi de mim, do mundo, das pessoas… Estava tudo estranho e havia muita responsabilidade sobre meus ombros, muitas expectativas, muita cobrança! Talvez, na verdade, com certeza a maior cobrança do mundo era a minha!
Lembro do pavor que eu tinha de ir na consulta com a pediatra! Ela fazia umas caras, eu me sentia a pessoa mais desajeitada do mundo para trocar minha bebê na frente dela! Tudo o que eu esperava era um ok, uma validação, mas era uma pediatra de convênio bem econômica com as palavras! Outro capítulo à parte é o lance da amamentação, este vale um post exclusivo! Mas eu lembro do pânico que tinha de que a bebê quisesse mamar quando eu estivesse em público.
Escrevi um post no meu blog Conexão Profunda com este título, porque ele sintetiza o que descobri na minha maternidade. Certamente iniciei uma jornada de profunda consciência da minha capacidade e intensidade para sentir! Depois de um período de estranhamento de mim mesma e daquele serzinho tão puro em meus braços, fui me apropriando de minha capacidade de SENTIR!
Acredito que àquela tristeza imensa que eu senti no puerpério foi a tristeza que eu senti durante toda a minha vida. Nossa cultura não nos educou para sentir, mas para esconder, fingir que… A maternidade que eu vivo não me permite usar máscaras! Ela me exige muita coragem para olhar minhas feridas de perto!
Quando conseguimos silenciar as milhares de vozes à nossa volta, conseguimos dar espaço para escutar nossa voz interna. Temos uma Sabedoria Interna, que é aguçada com a maternidade! No entanto, estamos tão preocupadas em corresponder à identidade que esperam de nós ou àquela que a gente mesmo fantasia, que não conseguimos abrir espaço. É preciso silêncio e conexão profunda para acessar essa Sabedoria!
Não é exagero dizer que vivemos um certo luto no puerpério! Estamos enterrando uma mulher e a partir destas cinzas uma nova mulher está sendo gerada! Vejo muitas mulheres desesperadas para voltar a ser quem eram antes da maternidade: seja com o corpo, cabelo, pele, trabalho… Tenho a sensação de que a vontade é dizer: Tive filho, MAS sou a mesma de antes! Não, não somos! E nunca mais seremos! Demorei muito para aceitar isso, mas quando aceitei foi libertador!
Os filhos nos permitem um contato com a impermanência das coisas, algo que vivemos negando! Nós não somos, nós estamos! Viver agarrada à uma identidade é uma forma de perder a experiência mágica de fluir com a vida! O que pode ser mais mágico e poderoso que o desenvolvimento de um novo ser humano? Na observação de cada fase, cada conquista, vejo a magia da vida, o poder de Deus, Universo ou seja lá o nome que você queira dar… Trazer um novo ser humano ao mundo é uma imensa responsabilidade, mas também uma oportunidade para reavaliar o que realmente é importante em nossa vida!
Acredito que seja válido lembrar das coisas que sempre gostei de fazer para me sentir bem: tomar chá, andar à cavalo, tomar banho de mar e cachoeira, fazer trilha… Isso me coloca em conexão profunda comigo mesma porque faz parte da minha Essência! Mas é preciso lembrar que minha maternidade me trouxe novos cenários, novas prioridades e um talento especial de amar, que jamais acessei em outros tempos.
Como a Fênix renasce das cinzas: convido a todas à se apropriarem de Sua Essência (a identidade que sempre tiveram de si mesmas) e integrarem com a mãe que estão hoje!
Estamos sempre fazendo o melhor que podemos com as condições que temos! Ame a mulher que você está agora! Assuma sua responsabilidade sobre esta mulher!
Certamente você nota muitas coisas que quer mudar… Mas que tal começar reconhecendo o que você gosta nesta mulher que você vê no espelho? Olhe para si mesma com mais carinho, compaixão e compreensão! Dê a si mesma o colo que precisa, o apoio e o conselho que deseja! Silencie as vozes externas e mande seu crítico julgador interno ficar calado, dê espaço interno para sua voz amorosa!
Assuma a sua responsabilidade por suas escolhas! E saiba que é a partir delas que todo o resto vai se desenvolvendo! Aos poucos, mas de maneira firme e consistente vá tomando mais e mais consciência!
Independente de qualquer identidade ou papel que definam para você, o importante é que VOCÊ protagonize sua própria vida! Não permita que os outros digam quem você deve ser, ESCOLHA tornar-se a pessoa que você acredita que veio para ser!
Para inspirar deixo para reflexão um trecho do livro Mulheres Visíveis, Mães invisíveis de Laura Gutman:
“Vivemos em uma época especial talvez porque – em plena crise de identidade social – cabe às mulheres segurar as rédeas do pensamento global, dos movimentos espirituais e da ação criativa. Somos nós que teremos de assumir a recente revalorização da energia feminina integrada. Espero que sejamos capazes de abandonar o autoritarismo desgastado e as ideias preconcebidas do passado e consigamos pular no vazio, mesmo sem saber o que nos espera do outro lado.
Abandonar os preconceitos, parar de repetir as mesmas frases que temos ouvido exaustivamente, nos atrever a pensar em liberdade – cada uma a sua maneira e com o compromisso emocional de procurar a si mesma de acordo com a realidade interior – é, exatamente, o que nos permitirá chegar a conclusões, a acertos, a propostas e a desafios diferentes. E assim, talvez, elevar o pensamento em prol das relações amorosas, esperando conquistar um maior conforto nos intercâmbios pessoais”. (p.9)
Que saibamos aproveitar este espaço para nos inspirar, apropriar de nossas conquistas e estar mais cientes sobre nossos desafios! Gratidão pela leitura! Namastê!
Este texto foi escrito por Gisele Mendonça, cientista social, mestre em sociologia, participante do Zum Zum de Mães e, principalmente, MÃE! Tem um blog chamado Conexão Profunda, visite www.conexaoprofunda.com.br e curta a página no facebook Conexão Profunda
Chega de chorar, o que está acontecendo?
Assim começou nossa conversa, em tom estridente, naquela noite fatídica, em que o meu filho não queria dormir no seu quarto.
Eu não sabia quem estava pior. Eu, uma mãe desprovida de autocontrole para aceitar o choro incessante do seu filho ou ele, uma criança normal, de apenas dois anos de idade, que não conseguia reconhecer e nomear seus sentimentos.
O choro foi aumentando à medida que fui me irritando e como última alternativa eu gritei um basta, mas para mim mesma.
Uma voz sussurrou em meus ouvidos:
“Pense em como foi o seu dia. Ouça esse choro em forma de lamento. Acredite, algo ele está lhe dizendo”.
Meu dia foi normal, Voz do Além. Talvez um pouco agitado e só. Tudo bem, tudo bem, voltemos no tempo.
Trimmm!! Ouvi o barulho do despertador e acordei apressada, coloquei um vestido rodado e um sapato de salto alto, fiz a maquiagem, tomei meu café e como de costume sentei-me no sofá para esperar que o meu filho acordasse.
Porém naquela manhã, eu não podia esperar mais do que cinco minutos e acabei saindo de casa sem me despedir dele.
Voltei apenas no cair da noite, novamente algo diferente, pois jamais passo um dia inteiro longe dele.
É, a tal Voz do Além estava certa, meu dia foi mesmo inusitado e aquele choro tinha nome e sobrenome: saudade da mamãe.
A correria foi tamanha que tomou conta da mente e se esqueceu da alma. Agora é o meu corpo que pede calma.
Deitei-o em meu ombro e comecei a fazer carinho na sua cabeça.
Olho no olho, coração com coração, lágrima com lágrima, perdão com perdão.
Ele adormeceu em instantes, antes mesmo de eu tomar a minha decisão-quarto dele ou meu.
Na verdade, ele decidiu por mim, já que estava em meus braços. Levantei-me e guardei minhas regras e teorias numa gaveta empoeirada lá do porão.
Levei-o para o meu quarto e no meio do caminho encontrei as respostas. Percebi que a força de uma mãe não está nas palavras, mas no eterno caminhar de mãos dadas e que o compromisso é muito mais emocional do que obrigacional.
Deitei-o na minha cama e senti necessidade de falar, imaginando que ele não fosse escutar:
-Filho, a mamãe também estava morrendo de saudade de você, então durma hoje bem aqui do meu lado!
E ao som de um ahhhh ele me respondeu aliviado, como quem ouvia música para seus ouvidos.
Esse texto foi escrito por Lígia Freitas, Mãe do João e Participante do Zum Zum de Mães.
@ligiafreitasescritora
Neste vídeo eu entrevisto a queridíssima Mariana Rosa, mãe da Alice e autora do livro @diariodamaedaalice !
Mariana tem uma voz doce, uma capacidade incrível de dar nome a emoções e sentimentos profundos com delicadeza e sabedoria…
E sua história com a Alice é mais que inspiradora é daquelas que preenchem o coração de alegria e esperança por saber que tem gente tão bacana neste mundão de Deus…
Para assistir a esta Entrevista Encantadora só dar o PLAY no vídeo abaixo:
Para acompanhar o trabalho da Mariana, comprar o seu livro e ler seus textos que tocam nossa alma deixo aqui os contatos dela:
www.diariodamaedaalice.wordpress.com
Instagram: @diario_da_mae_da_alice
Olá! Hoje eu quero falar com você sobre um tema bastante presente no nosso dia a dia com nossos filhos: a autonomia!
Grande parte das mães que atendo, verbaliza o desejo de que o filho seja independente, que aprenda a “se virar”, que saiba se defender. Na prática, o lidar com o crescimento e desenvolvimento do filho e consequentemente o seu alçar de voos, se mostra muito mais complexo e bastante controverso. Não raro, tenho observado uma cultura do medo, uma proteção excessiva, que por vezes, me causa desconforto: crianças presas em seus apartamentos; escolas, que não permitem que seus alunos, nem ao menos, no momento de “recreio”, possam correr, brincarem, expressarem-se livremente.
Nosso discurso, por vezes, se distancia muito da prática: anunciamos que queremos filhos críticos, comunicativos, afetivos e capazes de gerir suas vidas, quando adultos, mas os mantemos distante de nossa convivência no dia-a-dia; buscamos poupá-los das pequenas frustrações, que podem ter, por exemplo, quando perdem num jogo de regras, no picar uma fruta. Não percebemos, que dessa forma, também evitamos todo o aprendizado que o lidar com esses desafios podem ajudar a construir.
De maneira sutil, muitas vezes, vamos evitando que nossos filhos percebam que feridas podem ser curadas; que erros são humanos e podem ser reparados; que a organização dos brinquedos e do seu quarto, além de ser importante para o cuidado e a participação no espaço familiar, pode ser o início do perceber-se capaz de assumir responsabilidades.
Exauridos pelo trabalho, encarcerados em nossas próprias preocupações, quando é que olhamos nos olhos, ouvimos com o coração, conversamos, orientamos ou brincamos com nossos pequenos?
Quando é que estamos inteiros e nos permitimos estarmos presentes, sentindo prazer na companhia de nossos filhos?
Quando é que nos sentimos preparados para apoiá-los a desenvolver suas potencialidades e lidar com suas fragilidades?
Que somos seres da contradição, que nos pegamos muitas vezes sentindo, pensando e agindo de formas totalmente dissonantes, não é novidade. Aí reside nossa humanidade!
E a maternidade, é sem dúvida, uma das experiências grandiosas, que nos coloca diante dessas contradições, de nossos próprios “monstros”, nossos medos e “nós” mais intensos.
E, exatamente, com esses desafios, com esses “entraves internos”, que a maternidade nos apresenta, eu acredito que venha a possibilidade de nos questionarmos, de quebrarmos padrões que reproduzimos de forma mecânica, muitas vezes.
A maternidade ao nos confrontar, nos “cospir verdades à cara”, nos traz inquietações e aponta para aquilo que não faz sentido conosco mesmas e nas relações que vamos construindo. Ao nos deixarmos nos conduzir “por essas águas nem sempre mansas” podemos encontrar o que realmente desejamos para a educação de nossos filhos e buscarmos compreender o quanto estamos em concordância em nosso sentir e agir.
Não é isso que ouvimos tantas vezes em nossas famílias?! Pois é, a minha vivência pessoal e troca com outras mães validaram essa frase para mim!
Por isso, eu tenho compreendido cada vez mais que, a disponibilidade para olharmos para nossas dores internas, para compreendermos a maneira como exercitamos nossa própria autonomia e o modo como vamos construindo nosso espaço de convivência, as regras em nossas casas, com nossos pequenos será uma importante bússola para nos orientar nesse caminho do limite de forma amorosa. No encontro da “nossa dose” entre apresentar possibilidades e o cuidar! Entre o proteger e o superproteger! Entre o reprimir e o permitir experimentar o mundo!”
A nossa auto-observação, o mergulho em nossas vivências poderá nos trazer clareza acerca de nossas relações com nossos filhos e sobre como essas ações nos aproxima ou não daquilo que desejamos para o desenvolvimento da independência de nossos filhos.
Há algum tempo, meu filho, então, com seis anos, foi com os colegas da escola, ao seu primeiro acampamento: três dias fora de casa! A despeito dos dias que antecederam terem sido recheados de conversas, treino ao banho, organização dos próprios pertences (…) um misto de alegria, orgulho, receio e insegurança se fez presente em nosso contexto familiar naqueles dias.
Ainda por essa ocasião, várias mães, colegas que têm filhos da mesma idade, me disseram que não “teriam coragem” de deixar seus filhos experimentarem essa aventura! Sentia nessas falas pitadas de reprovação, insegurança misturadas à certa inveja e até solidariedade. Como mexe conosco “a saída da cria de nosso domínio!” Confesso que chorei, à noite! Que desejei receber um telefonema pedindo para buscá-lo! E, me alegrei, também, ao vê-lo espontâneo e sorridente nas fotos que recebi!
A experiência, sem dúvida, me trouxe transformações verdadeiras, permitindo-me olhar para minha condição de mãe de um garotinho arriscando-se em seu primeiro “voo solo”. Tive a possibilidade de perceber o quanto ele tinha se desenvolvido e como suas necessidades eram de poder ampliar sua conexão com outras pessoas.
Assim, me permiti pensar e sentir a respeito da autonomia, nos modos como a independência interna vai sendo constituída. Pude revisitar as minhas primeiras saídas sem meus pais, o medo sentido, a insegurança frente ao novo e a sensação incrível de liberdade, do “eu dou conta!”.
A experiência com meu filho me fez pensar na alegoria do aprender a “dar linha à pipa”. Sim, as coloridas, alegres e aventureiras pipas nos ensinam muito: se as deixamos muito soltas ou não cuidarmos de suas linhas, podem desaparecer na imensidão azul…por outro lado, se não nos arriscarmos a dar-lhes linha, se tivermos medo de perdê-las, sequer vamos arriscar soltá-las; não vivenciaremos a festa intensa que podem fazer lá em cima!
Os voos que nos são permitidos ou negados, na infância; o incentivo que recebemos ou não; a confiança que aos poucos nos vai sendo depositada, certamente é parte edificante do como nos vemos, de nossa segurança interna, do quanto nos permitimos tentar, ousar, lidar com o erro…
Ao olharmos para nossos pés, para a caminhada que percorremos através de nossa história temos a oportunidade de nos conhecermos, de percebermos nossas forças e nossas possibilidades, bem como, os desafios que fomos capazes de enfrentar. Assim, entendo que podemos olhar, também, para a nossa contribuição, o nosso modo de apoiar os “voos” de nossos filhos.
Entendo que não se trata de nos olharmos com dedos acusatórios, caso nos vejamos muito distantes do que desejamos para a independência dos filhos. Podemos escolher, sim, olhar para os passos que podemos dar na direção que sonhamos; nos permitindo sentir, experimentar e aprender na caminhada lado a lado com nossos pequenos.
Quanto você tem se permitido arriscar em busca de seus sonhos? Quais lembranças você tem sobre seus primeiros passos “fora do alcance dos olhares de seus pais?” De que forma isso pode interferir no modo como você lida com a independência do seu filho?
Ao olhar pra seu interior e se permitir esses questionamentos, eu acredito que você poderá encontrar muitas das respostas ao modo como encara o desenvolvimento de seu filho, às pequenas frustrações que ele enfrenta; os voos que realiza e às conquistas que alcança!
Texto de autoria de Andréia L. Rafael Quintelia – Psicóloga, coach de mães e participante do Zum Zum de Mães. Se você quer conhecer melhor meu trabalho, me acompanhe no Instagram: @andreiaquinteliacoach ou no Facebook: Tecendo Vínculos. Você pode, também, entrar em contato, através do cel (11) 971823324.
Meu primeiro puerpério foi doído. Foi maravilhoso, lindo, lindo! Mas doeu demais. Lembro de me sentir tão frágil, de chorar intermináveis lágrimas com meu bebê no colo.Lembro de gente me tirando ele dos braços, dizendo que ele chorava de calor (e eu sabia que não era de calor). Lembro de ficar paralisada, sem reação, fragilizada….enquanto me tiravam ele do colo sem minha autorização, pra tentarem resolver um choro que só eu podia resolver.
Lembro de um dia estar amamentando e chorando baixinho no quarto, pra família lá fora não escutar. Chorava em silêncio, até que olhei para o meu bebezinho. Ele tinha feito dois meses. Me olhava quietinho, os olhinhos vidrados em mim…. até que uma lágrima escorreu desses olhinhos, o rosto dele imóvel. Nessa hora, senti a primeira força do puerpério. Basta! Levantei decidida. Chamei meu marido: “- vamos embora agora”. Peguei a malinha do bebê e fui arrumando minhas coisas. Ele não perguntou nada, tamanha era a minha certeza. Levantou-se e pois se arrumar as coisas.
Meu marido é um homem maravilhoso, mas lembro de nunca ter sentido tamanha solidão.
Uma vez uma tia avó me telefonoupara dar os parabéns pelo bebê. E aquele papo básico de resposta pronta: Como está o bebê? Tá dormindo? Mama bem? Etc, etc… Eu já estava até acostumada a perguntarem só do bebê, até que ela me disse: ” – E você, filha? Quem é que está cuidando de você?” Silêncio. Meus olhos encheram d’água. Eu não sabia que precisava de cuidados. Como assim? Sou eu quem cuida… Desliguei o telefone e chorei loucamente. Eu precisava de cuidados! Eu precisava desesperadamente de cuidados. Mas não havia ninguém disponível….
Depois de uns 4 anos, engravidei de novo. Amei estar grávida, ambos queríamos muito um outro bebê. Mas estávamos num momento ruim de casal, brigando o tempo todo. Fiquei pensando por muitos dias que não queria passar nada daquela solidão de novo. E de alguma forma, eu o culpava por isso. Como poderia fazer para ele não me abandonar de novo? Não podia força-lo. Cada um tem seus próprios sentimentos e se ele não quisesse me acolher, não haveria nada que eu pudesse fazer. Fiquei remoendo isso um bom tempo, até que o medo ficou insuportável. Tomei coragem e falei com ele. Foi muito difícil, mas fui ganhando força com minha própria verdade. E contei tudo. E disse que nunca mais queria passar por aquilo de novo. Se eu passasse por aquilo de novo, não sei se conseguiria ficar conectada a ele. Eu não queria fazer nenhum tipo de chantagem emocional, na verdade estava apavorada.
Mas cresci aprendendo que a gente não deve se expor tanto num relacionamento. Aprendi que quando a gente se põe frágil, o mundo passa por cima, os homens não te valorizam, as pessoas se cansam de você. Então fiquei esperando que ele revidasse. Ou pior, muito pior, que ele me rejeitasse. Mas ele nem se defendeu. Ficou quieto, bem quieto. Depois de alguns segundos, me disse: “eu só fico triste que você não confiou em mim para falar isso antes e ficou sentindo isso o tempo todo. Não vai ser igual dessa vez, mas fala! Você precisa falar as coisas.” E me abraçou.
Curioso como a gente, às vezes, imagina que os outros têm obrigação de saber o que se passa conosco. Ou que são responsáveis pelo que a gente sente. Algo dentro de mim o culpava pela minha dor. Foi muito bom perceber a força que tem você simplesmente falar o que sente. Ao tomar coragem de falar, me senti forte para aceitar que ele me rejeitasse. E ele se sentiu agradecido por eu abrir esse canal. Ele teve espaço pra contar como foi com ele. Eu estava tão imersa em minha dor que não consegui vislumbrar a dor dele. A verdade é que nem eu sabia bem o que estava sentindo, e ao colocar pra fora, fui ganhando clareza. Percebi que essa solidão já estava transformada. E percebi o quanto pra ele também foi solidão e dor. O quanto a criança dele também gritou em silêncio e eu não ouvi.
Quantas vezes me calei, me enchendo de raiva porque ele dormia na sala enquanto eu chorava. E dentro da cabecinha da minha criança ferida, eu estava sendo ignorada. De novo, meus sentimentos não eram importantes. Mas ele não sabia que eu estava chorando, ele não sabia de quase nada! Eu não falava. E ele estava no processo dele mesmo, trabalhando exaustivamente, e batalhando pra vencer sua própria dor. Apagava em frente a tv para manter sua própria sanidade. Cantarolava após uma discussão para se acalmar e poder manter um clima bom na casa, e não pra afrontar meus sentimentos..
O primeiro puerpério doeu absurdamente e eu agradeço por essa dor. E agradeço por ter tido coragem. Eu tive um bebê anjo, que quase não chorava e dormia das 7 às 7. Eu sempre sabia o que fazer para acalmar e fortalecer esse bebê. Hoje eu tenho um bebê bem mais desafiador, tudo está bem mais difícil no dia a dia. Muitas vezes me sinto perdida, não sabendo o que é melhor para esse bebê. Mas não me sinto só com minhas dores. Pude dividi-las com quem mais importava, e juntos achamos caminhos para lidar com isso. Por muitas vezes, ainda tenho que deixar bem claro que eu não quero uma solução. Não quero um conselho. Não quero uma opinião. Tenho que deixar claro que eu só quero um abraço. Um abraço que dure mais de 20 segundos. Um abraço para eu poder me soltar ali. Ou um colo, um ninho, um travesseiro nos braços dele.
Este texto foi escrito Chantal Tambara, mãe de dois, dentista e participante da turma 6 do Zum Zum de Mães.
Em nossa vida Materna vira e mexe aparecem pessoas com um “conselho”, opinião, palpite para nos dar sobre como devemos ou não educar nossos filhos! Mesmo que a gente não pergunte nada, lá vem a sogra, o marido, a professora da escola, a cunhada, a irmã, a mãe ou sei lá quem com um comentário daqueles que nos tiram do sério…
“Você está mimando demais essa menina!”, “É só você chegar que ele fica assim…”, “Mas até hoje você amamenta?”, “Deixa ele chorando no berço que logo se acostuma”, “Uma palmada não mata ninguém, oh eu tô aqui vivo…” e por aí vai.
Já parou pra pensar que estas pessoas simplesmente pensam diferente de você? Será que existe alguma maneira de nos relacionarmos com estas pessoas sem nos sentirmos ofendidas, incomodadas ou rejeitadas?
Neste Podcast vamos falar sobre “Como nós Lidamos com as pessoas que pensam diferente na Hora de Educarmos nossos Filhos!”, se este tema te interessa entre em nossa tenda, aperte o PLAY e desfrute! <3
Aqui o seu comentário, pergunta, crítica, palpite ou opinião é super bem vindo, mesmo que você pense diferente da gente! 😉 Só escrever aqui embaixo!
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Queridas mamães, é a primeira vez que escrevo para vocês e gostaria de compartilhar o motivo que me levou a conhecer a Escola de Pais Bee Family e como isso foi impactante na minha vida.
Logo após ter minha primeira e única filha, a Maria Luíza, que atualmente está com quatro anos, pensei que enlouqueceria nos primeiros três meses. Eu queria manter a amamentação e, como ela chorava muito e era magrinha, tive muitas dúvidas se o meu leite a estava nutrindo adequadamente.
Apesar das dificuldades, mantive a amamentação até os três anos e meio da minha filha. Acredito que, após o término da licença maternidade, continuar amamentando era uma forma de manter o vínculo, já que trabalho o dia todo e a minha pequena permanece período integral na creche.
Enfim, acredito que o término da amamentação foi mais difícil para mim do que para a Maria Luíza.
O fato é que, durante o primeiro ano de amamentação, engordei muito. Eu acordava várias vezes durante a noite e, creio que, para combater o cansaço, comia várias vezes por dia e tomava muito café, independentemente do horário.
Assim, dormia pouco, me alimentava mal e ainda tentava estudar em casa após um dia inteiro de trabalho e após a Maria Luíza dormir. Enfim, essa rotina me deixou estressada e irritada.
Procurei ser mais produtiva, já que não é possível aumentar as horas do dia e, durante minhas buscas por orientação sobre o assunto, li o maravilhoso livro “Produtividade para quem quer tempo”, de Gerônimo Theml. Nele, há uma recomendação interessante de escrever uma espécie de diário, em que devo listar todas as prioridades para o dia seguinte, informar o que eu aprendi com as experiências do dia e, por fim, listar três coisas para agradecer.
Colocando em prática esse ensinamento do livro, os dias foram passando e notei, ao reler referido diário, um arrependimento que sempre aparecia, principalmente nos dias em que eu estava mais cansada: falta de paciência com a minha filha, irritação com suas birras. Assim, a elaboração de tal diário me deixou consciente de que eu deveria fazer algo para mudar essa situação. Já não bastava constatar o problema, que me deixava imensamente triste. Eu já tinha clareza do problema e precisava buscar uma solução.
Com esse objetivo na mente, chamou-me a atenção um vídeo da Clarissa Yakiara no facebook sobre a abertura de uma nova turma para o curso Zum Zum de Mães: “um programa diferenciado e acolhedor para mães que desejam falar abertamente sobre limites, raiva, falta de paciência…”.
A Clarissa me passou muita paz, segurança e, principalmente, o equilíbrio que eu tanto buscava. Eu queria ser aquela mãe calma, centrada e linda do vídeo. Aposto que muitas de vocês também desejam isso, não é?!
Não tive dúvidas. Era a minha oportunidade de melhorar essa parte da minha vida, que tanto me angustiava.
Comecei a assistir as aulas, fiz os exercícios e o que guardei de mais valioso foi a necessidade de “estar presente”, consciente, e de ser melhor a cada dia, procurando ser um exemplo para minha filha.
É claro que muitas vezes saio da rotina e acabo cansada, caindo na mesma armadilha e perco a paciência, no entanto, é mais fácil agora recuperar o centro, ficar presente novamente, enxergar de fora o meu comportamento e “ajustar as velas”.
O fato de procurar ser uma pessoa mais realizada para ser uma mãe melhor, me levou a buscar evoluir em outras áreas da vida.
Assim, incluí a rotina de praticar atividade física no meu dia-a-dia, dormir as cerca das sete horas diárias que necessito para me sentir bem disposta e me alimentar melhor.
A rotina que é tão importante para as crianças e inclui essas três atividades fundamentais (sono, alimentação saudável e atividade física), também é importante para nós adultos, para que haja equilíbrio e energia necessários para enfrentarmos o dia e sermos mais produtivos.
Sei que, assim como eu, você se cobra muito, procurando ser perfeita em tudo. No entanto, não somos perfeitas. O que precisamos é nos aperfeiçoar e procurar melhorar um pouquinho a cada dia. Quem já não ouviu aquela frase: “feito é melhor do que perfeito”?
É bem isso. Antigamente eu me torturava pensando: não nasci para isso, não nasci para aquilo. Não levo jeito para ser mãe. Não tenho habilidade para tal coisa. Com o tempo e a disposição adquirir hábitos saudáveis, percebi que precisamos tentar, errar e fazer melhor da próxima vez. Os erros não são mais do que oportunidades de aprender e prosseguir até atingirmos nossos objetivos.
Nascemos com facilidade para a aquisição de certas habilidades, no entanto, as dificuldades em determinadas áreas da vida não podem nos impedir de tentar, treinar e melhorar.
Somos um exemplo para nossas crianças. Assim, a prática de bons hábitos em nossa rotina é percebida e internalizada por nossos filhos.
É muito fofo ver a minha filha me imitando fazendo exercícios, sendo extremamente carinhosa com as próprias bonecas.
Por outro lado, ela fica tão insuportável quanto eu quando está com sono, cansada. Quero mudar esse comportamento nela. Então, devo mudar esse meu comportamento também, pois percebi que essa atitude da minha filha apenas reflete o meu próprio comportamento.
Desejo que minha Maria Luíza se sinta segura e amada em nossa casa, que adquira valores como honestidade e respeito. Desejo que ela possua motivação para correr atrás dos próprios sonhos e, nas dificuldades, seja resiliente. Assim, devo ser um exemplo de tudo isso para ela.
As intenções acima ficaram evidentes após um exercício proposto numa das aulas do curso Zum Zum de Mães. Tal exercício proporcionou a clareza que eu e meu marido precisávamos na condução da educação da Maria Luíza.
Agradeço à Clarissa Yakiara que, por meio do Zum zum de Mães, me ajudou a ser uma pessoa mais consciente, olhar para mim, procurar suprir minhas próprias necessidades e ir atrás da minha felicidade e realização, para ser uma mãe inspiradora para minha filha.
Giulianna P. Barbosa, mãe da Maria Luiza (4 anos) e participante do Zum Zum de Mães.
Nasce uma mãe, nasce uma culpa. Ninguém discute. Há dois anos, no entanto, descobri um outro parto. Nasce um irmão, nasce uma pergunta: Ele tem ciúmes?
Meu filho mais velho já estava com 8 anos quando a irmã nasceu. Sempre achei intrigante essa curiosidade quase mórbida das pessoas sobre ciúme entre irmãos. E mais intrigante ainda é perguntar em terceira pessoa (ELE tem ciúmes?), ignorando a presença da criança ali, como se ela fosse invisível.
Na primeira vez que ouvimos esse questionamento, os olhos do Miguel me fitaram curioso, ele também, pela resposta. Respondi com um sorriso à la Monalisa, fiz minhas considerações e mais tarde conversei com ele sobre isso. Hoje, quando alguém pergunta, nossos olhos se dizem: “Lá vem a pergunta do tempo”. Sabe as perguntas do tempo? Quando você entra em um táxi e um será-que-vai-chover surge com naturalidade?!
Você pode estar como os curiosos olhos do Miguel, caçando a resposta para minha pergunta. Afinal, o que ela responde?
Quando eu estava grávida, pesquisei bastante sobre ciúme entre irmãos. Estava a procura de uma fórmula mágica de harmonia do lar! Mesmo não sendo mãe de primeira viagem, minha insegurança diante da novidade me jogou direto para esse espaço ilusório de que alguém me passaria o pó mágico para resolver qualquer problema, entre qualquer pessoa em qualquer ocasião.
Em uma dessas pesquisas, uma pessoa usou uma metáfora que foi muito esclarecedora:
“Imagina você que, numa sociedade monogâmica, seu marido chega em casa com uma nova mulher. E diga para você que você precisa amá-la e respeitá-la imediatamente. Você vê todos os dias o tempo que você passava com seu marido dividido entre você e essa nova mulher.”
Nesse dia, eu dei um clique! Por que eu deveria supor que meu filho precisava amar e respeitar imediatamente a irmã? E aceitar tranquilamente que o tempo dele seria redividido? É claro que a gente é levado a ter empatia por um bebê. Mas vamos voltar a usar nossa imaginação:
“Maria está no saguão do aeroporto e avista uma pessoa com um bebê! Ela passa e troca com ele sorrisos em alguns gu-gu-da-dás. Quando Maria descobre que a mãe e o bebê estão no mesmo voo que o seu, o primeiro pensamento de Maria pode ser ‘tomara que não chore’, ou ‘tomara que durma’ ou qualquer coisa do tipo para que não a incomode.”
Guardadas as devidas proporções, não há como negar que haverá uma nova divisão de tempo e espaço com a chegada de um irmão e que foi para mim importante chegar a um ponto revelador: o amor é construção.
Naquela primeira vez que aqueles olhos de jabuticaba do meu filho me fitaram querendo saber a resposta, eu dei uma respirada profunda. E falei com uma voz firme e gentil: o amor é construção.
A pessoa me olhou com cara de que eu estava doida! Ela esperava um sim ou não e eu nem um talvez falei! Esperei o espanto passar um pouco e continuei: A gente não ama ninguém imediatamente… esse amor à primeira vista só existe em contos de fadas. O amor entre eles está sendo construído pouco a pouco, dia a dia. Senti Miguel aliviado.
E isso também tirou de mim um peso. Entender que tudo é um processo. Nomear os sentimentos envolvidos sem julgamentos ou valores morais ajuda a deixar o caminho para essa construção do amor mais leve e sadia.
Porque a pergunta ele tem ciúmes vem cheinha de julgamentos, afinal, ciúme, assim como a raiva, não é um sentimento muito bem visto na sociedade.
O entendimento de que o amor entre meus filhos, Miguel e Gabriela, vai se construindo, como algo em movimento constante, com altos e baixos, criou um espaço para que ele verbalizasse o que se passava em seu mundo interno. Não que isso tenha sido o meu pó mágico exterminador de problemas, mas humanizou a nossa relação. Tirou tudo do automatismo e nos colocou como pessoas, conectadas com as situações presentes e com os desafios de cada um.
Muitas vezes não conseguimos, nós adultos até, elaborar o que estamos sentindo. Somos tomados por raivas, histeria, tristeza e temos dificuldades em compreender esses sentimentos. O espaço que se formou ali, na resposta à pergunta, se ampliou ao ponto de Miguel conseguir um dia elaborar o que sentia. Chegou no pé do meu ouvido e disse: – Mamãe, eu amo a minha irmã, mas eu não estou gostando da vida que a gente está levando!
Meu mundo parou por alguns extensos segundos. Claro que ele poderia não estar gostando. A Gabi chorava dia e noite sem parar com muitas cólicas, refluxos e suspeita de alergia à proteína do leite da vaca. Eu tinha parado de comer muitas coisas para não ter que parar de amamentar.
Meu ímpeto era dizer: Como você pode falar isso??? Mas agradeci o fato de ele me contar o que estava sentindo e perguntei o que estava incomodando.
Conversamos sobre como estava sendo difícil para todos, mas que provavelmente, em breve essa fase passaria. Peguei fotos e comecei a lembrar sobre quando ele também era bebê.
É claro que o espaço que criamos para sermos sinceros em relação ao nosso sentimento não nos impediu de agir de modo impetuoso algumas vezes. Eu tenho um objetivo no meu modo de maternar que é possibilitar que meus filhos sejam autênticos em relação a si mesmos. Desejo que não se escondam por meio de comportamentos que só irão gerar elogios. Quero encorajá-los a ser quem eles realmente são. Claro que isso não é fácil, por ainda estamos quebrando o paradigma de que para ser aceito e amado preciso ser somente agradável.
E vou te contar! Como é difícil! Mas é totalmente necessário! Agora me vem a imagem da Clarissa, aqui do Bee Family, falando sobre caminhar na direção da consciência plena. Um caminho meio pantanoso no começo, que vai melhorando. É preciso confiar no processo. Confiar e agradecer.
Não é só o amor entre irmãos que está sendo construído. O amor entre filho/filha e mãe/pai também está, diariamente. Mas agora a gente já pode se olhar e rir da pergunta-padrão que fazem quando sabem que são irmãos.
Este texto foi escrito por: Ana Paula Nogueira, mãe do Miguel e da Gabriela, Participante da Turma 6 do Zum Zum de Mães.
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