Eu uso máscaras a todo o momento e nesta época de isolamento social tenho refletido sobre como será quando a pandemia acabar. Sim, quando tudo voltar ao “normal” porque acredito que as coisas irão se organizar novamente, mas não sei se posso dizer que tudo será como antes. Agora me escondo sob as máscaras de proteção, de pano, de feltro ou de acrílico. Feias ou bonitas, sustentáveis ou decoradas. Se eu quiser posso não sorrir que poucos perceberão, também posso desdenhar de algumas opiniões já que não verão a minha boca se contraindo. Aos mais sensíveis, meus olhos revelarão minhas expressões mais íntimas, aos demais, a máscara física me encobrirá. Entro nesta primeira segunda-feira de maio na oitava semana de isolamento e por aqui muitas máscaras caíram, outras começam a ruir. Sinto que as energias que atuavam fortemente para evitar que determinadas emoções e comportamentos emergissem tem se exaurido, porque tem faltado espaço para me esconder. E junto do cansaço as máscaras também caem. Está difícil não demonstrar medo, irritação, discordância, pânico, desanimo. E, sinceramente, isto tem me feito tão bem! Parece que tenho tirado uma tonelada de peso das minhas costas, esvaziando minha mochila cheia de “máscaras” desnecessárias. Que delicia poder extravasar e demonstrar, além de não conseguir esconder, agora temos a desculpa de que são os efeitos da “quarentena”, e que tudo e todos estão perdoados. De qualquer forma, é bom demais, poder mostrar um pouco de quem eu sou de verdade, sem precisar fingir, enganar, atuar, sorrir! Mas, é claro que nem tudo são flores porque tenho inúmeros defeitos e sentimentos não aceitos em nossa sociedade e quando os expresso me sinto frágil, fraca, vulnerável (ainda não sei entender muito bem minha vulnerabilidade) e sinto que ninguém mais vai me amar. Já aprendi com a mente racional que se trata da minha criança interior ferida e rejeitada que ainda pede por ser amada, aceita e reconhecida. Porém, nestas horas de conflito interno, meu coração ainda não aprendeu a acolher esta pequena na sua totalidade e ainda tenho um longo percurso a limpar nesta jornada de cuidar da “Ana Banana” (nome carinhoso da minha criança interior!) que chora e se debate na “estrada”…
Tenho passado muito tempo sozinha com minha filha de três anos, pois meu marido trabalha na área da saúde e intensificou seus plantões neste momento. Esta “imersão em educação” me fez passar por muitos espaços. Primeiro, por um desespero avassalador por achar que eu não conseguiria sobreviver, nem descansar, nem dar conta das atividades de casa e do trabalho. Um terror em pensar que estaria com minha filha 24 horas por dia e desesperada por não conseguir estar presente e estabelecer uma conexão saudável entre nós. Depois, com o passar do tempo, fomos acessando outros espaços em que fui incluindo a menina nas atividades e buscando algumas frações de tempo para mim. É querida leitora, se você é mãe me entende e sabe que expectativas altas causam frustração, aprendi a valorizar cada instante em que posso me cuidar e me ver, no meio do dia para não explodir “tanto”. E está sendo tão aterrorizante ver que, ao mínimo sinal de minha raiva, minha filha já percebe que vou me descontrolar. Sim ela parece uma “antena captadora de emoções” que sente a minha mudança de comportamento, acho que até antes de mim. Penso que na realidade é e sempre foi assim com as crianças, acredito que elas são muito sensíveis e a sua percepção é inexplicável aos céticos, no entanto, agora tenho tido tempo e oportunidade de ver com os olhos do coração. Bom, digo aterrorizante porque imagino como será após voltarmos para a nossa rotina “normal”. Quando o isolamento acabar com que máscara eu vou? Como irei me esconder? E será possível me encobrir depois de tanta revelação? E a pergunta que acho mais importante: Eu quero mesmo me esconder? Se foi tão bom me revelar, quem me amar vai permanecer! E os pequenos, eles não vão embora nunca, eles estão ali firmes, prontos para nos apoiar e nos amparar. Logo nós, adultos, cujo papel é cuidar e proteger. Minha filha sente minha dor e de imediato ela diz que me ama e que me adora, é como um abraço bem forte que ela me dá, ela sabe como me acolher, como cuidar da minha dor, coisa que nem eu sei fazer direito ainda.
Eu acredito que um mundo melhor está por vir. Penso que estamos vivendo um marco histórico e que ninguém sairá ileso, ainda que não seja contaminado pelo tal vírus. Nossa estrutura interna e externa se alterará de formas ainda não vivenciadas. Até pouco tempo eu acreditava que era preciso viver “papeis” na vida e que estes personagens nos permitiam sobreviver aos eventos diários. A maternidade e isolamento me mostram e me revelam a cada dia que as máscaras são desnecessárias, eu sinto que ao me desmascarar eu me mostro e que me mostrando eu me vejo e que somente aí eu tenho a oportunidade de me ressignificar. Hoje, acredito na “cara limpa”, no coração vivo, nos sentimentos à flor da pele e ao me enxergar sem filtro, vejo muita dor, raiva, imperfeição, mas vejo também muita força para renovar, mudar, agir. Assim, quando a quarentena acabar de máscara é que eu não vou sair!
SOBRE A AUTORA:
Ana Blasi, Mãe da Flávia, Participante da Turma 9 do Zum Zum de Mães e apaixonada por educação e conexão.
IG @blasi_ana
E-mail: [email protected]
A quarentena e toda a complexidade que estamos vivendo no mundo devido à pandemia, chegou inesperadamente e tirou o chão de todos.
Eu que há dois anos optei por não ver os noticiários por absorver demais as notícias ruins, só tive dimensão do que estava acontecendo quando a escola da minha filha suspendeu as aulas.
Meu marido e eu trabalhamos juntos e nosso horário era cronometrado com o da escola da nossa filha, tínhamos tudo sob controle. Não ter escola pra ela, para nós podermos trabalhar normalmente, foi o primeiro gatilho pra mim.
Fiquei aflita e dividida entre o desejo de cuidar dela de perto num momento como esse, ao mesmo tempo em que me afastei do trabalho, cheia de preocupações pois desempenho uma função de confiança e meu trabalho não teve opção de ficar em home office.
Naturalmente, não ter o controle sobre os acontecimentos me deixou angustiada, com a mente agitada, pensando em mil possibilidades negativas diferentes. Como em geral são os pensamentos que geram as emoções, consequentemente meu campo emocional sofreu um grande impacto, trazendo à tona as mais diversas emoções negativas, como o medo, insegurança, tristeza. Quando todo planejamento se torna ilusório, nossa mente fica perdida e isso reflete nas nossas emoções.
Percebo que na minha vida o medo é a emoção mais predominante, e sempre que ele vem sinto-o em meu corpo todo, ele começa no meu plexo solar, que é a região da barriga e estômago, traz uma onda de mal estar físico generalizado e uma angústia se instala em meu peito.
Quanto mais angustiada eu fico mais pensamentos negativos eu produzo, e quanto mais pensamentos negativos mais angústia. Esse é o ciclo do medo no meu corpo.
Essas sensações que experimento em meu corpo dizem algo sobre mim, esse contexto inesperado que traz esse medo, me faz reviver sensações físicas e emocionais que eu já vivi antes, possivelmente na infância, e de certa forma elas vêm para serem olhadas e integradas. Se ignoro a mensagem que há por trás desse medo, por exemplo, perco uma grande oportunidade de me conhecer melhor, de saber sobre o que sinto, de conhecer meu corpo e quem sou de verdade além dessas sensações. Perco uma grande oportunidade de cura através do autoconhecimento.
Mas sinto que no momento em que estou com meu corpo nesse colapso nervoso, primeiramente preciso sair desse estado, distraindo minha mente, trocando esses pensamentos por pensamentos mais positivos, movimentando meu corpo, mudando minha mente do lugar ilusório do passado ou futuro, e trazendo para o presente.
Tenho me sentido assim por diversas vezes durante essa quarentena, precisando lidar com minha mente o tempo todo, e por muitos momentos quando me dou conta já perdi o controle dela e meu corpo está paralisado no estado que descrevi acima. Às vezes, melhora rápido, às vezes fica um dia todo ou até mais em meu corpo… como tenho dito: dias bons, dias ruins. Ainda bem que nós, mães, pais, estamos acostumados com essa realidade na maternagem, de certa forma nos ajuda a lidar.
Quando nossa mente está preocupada com o que há de vir, está atuando no futuro, fora do presente, que é o único momento que realmente existe. Porém, estamos tão treinados a viver no futuro que pelo automatismo do nosso inconsciente não conseguimos sair de lá tão facilmente quando nos deparamos com algo que tira nosso controle e planejamento, e que desperta pensamentos e emoções negativas em nós, como é o caso do momento que estamos vivendo.
Desde cedo nos ensinaram que temos que pensar no nosso futuro, em ser “alguém na vida”, e não trago isso de forma negativa. Só quero chamar a atenção para as convenções que nos ensinaram desde sempre a focar no futuro, que colocamos nossa felicidade nele, nossa realização, nossa paz. Porém, só temos o presente, e num momento como esse podemos olhar pra isso com mais consciência e rever alguns conceitos. Estou tentando fazer isso.
Mas creio que o medo do futuro seja inevitável, e por mais que tentemos evitar, os pensamentos fatalistas estão vindo. As crises emocionais estão vindo. O medo de morrer, de perder alguém que amamos, nossos filhos, nossos pais… Sabemos que muitos já perderam e estão sofrendo seu luto nesse momento, estão lidando com a morte e seus mistérios.
Eu tenho lidado com o medo da morte diariamente, me questionado por que vim pra esse mundo, o que estou fazendo aqui, qual o propósito disso tudo, por que dói tanto perder um ente amado ou somente pensar nessa possibilidade, por que a morte é esse grande enigma e nos assombra tanto. E tudo que eu sei é que não tenho nenhuma resposta exata pra nenhuma dessas perguntas.
Como eu disse acima, não existe resposta exata para a maioria dessas perguntas existenciais, não existe fórmula mágica para lidar com nossa mente, nem com nossas emoções.
Entendo que o medo do futuro e da morte são reflexo da falta de confiança, de fé no que vem depois. Quando penso que a natureza é farta e sábia e não deixará faltar o necessário para que eu sobreviva, eu fico em paz. Quando penso que mesmo depois que eu morrer, eu continuarei vivendo, eu fico em paz. Quando penso que antes de ser minha, a minha filha é filha de Deus, e eu fui apenas um canal pra que ela estivesse aqui, eu fico em paz. Quando penso que se minha filha morrer antes de mim, isso já estava acordado entre nós antes de virmos pra cá, eu fico em paz. Quando penso que não há separação, pois somos todos parte de um Todo, e de certa forma sempre estaremos juntos, eu fico em paz. Quando penso que existe uma Inteligência cuidando de tudo que não podemos entender, eu fico em paz. Quando penso que essa mesma Inteligência, que pra mim é Deus, está comigo, eu fico em paz.
A dor muitas vezes é inevitável, mas se tivermos paz pra lidar com ela, tenho certeza que será mais leve. Por isso que em minhas orações eu não peço pra entender, eu peço para ter paz para aceitar aquilo que não posso entender, e assim eu sigo.
A forma que eu encontrei de ficar bem foi estruturando essas crenças na minha mente, e confiando no mistério da vida. Funciona em boa parte do tempo, nas outras estou vivendo os emaranhamentos da falta de confiança, que geram os estados que citei, afinal sou humana e a vida não é uma linha reta.
Se posso te dizer algo é que encontre as crenças que te tragam paz, assim como eu encontrei as minhas. Na hora do colapso nervoso, o que me traz para o presente é pedir um abraço apertado pro marido ou pra filha, rezar e chorar no chuveiro, meditar, respirar, respirar, respirar, rezar antes de dormir, alongar, mudar o pensamento, encontrar um lugar interno de paz, um lugar que amo estar e pra onde posso ir quando eu quiser e precisar. Brincar com minha filha com conexão, fazer uma comida gostosa com atenção plena, comer algo que gosto, organizar a casa com atenção plena, colocar uma música que eu amo e sei a letra e cantar junto bem alto, dançar. Esses dias tirei da prateleira um CD da Ana Carolina e cantei todas as músicas a plenos pulmões… eu tinha me esquecido de como amava fazer isso, e me fez tão bem! Me tirou de um estado deprimido que estava fazia dias.
Nessa quarentena, assim como na vida, encontre aquilo que te nutre, te faz bem, te ajude a voltar para o aqui agora, te ajude a ter confiança na vida e no que vem depois, te enche de paz mesmo quando fora tudo é guerra. Eu também estou nessa busca com você, e sei que isso se estenderá enquanto respirarmos, pois isso é a vida!
SOBRE A AUTORA:
NATALIA CAMILA DA SILVA
33 anos, mãe da Olívia de 4 anos, Participante da Turma 5 do Zum Zum de Mães, Funcionária Pública, Gestora de Recursos Humanos, adepta do Sagrado Feminino. Escreve para elaborar suas emoções, só de escrever se sente mais leve e mais inteira.
IG: @natycamila87
O momento em que estamos é certamente muito desafiador e porque não apavorante. Não temos dúvida de que este vírus o tal do COVID-19 ameaça a saúde pública e devemos nos preparar para passar por ele com o mínimo de efeitos negativos.
Porém, neste emaranhado de informações, textos, vídeos de aulas, depoimentos e relatórios médicos me pergunto sobre a importância que damos as coisas somente quando elas tomam grandes proporções, quando a mídia nos força a acompanhar toda esta situação, e quando sentimos medo real de algo que possa afetar a nossa família. Mas, como lidamos com isso junto às crianças? Como e quando falamos sobre o medo que sentimos com e para elas?
Observo como lido com isso e penso em maneiras de auxiliar a minha filha a trabalhar este sentimento tão pouco falado. NÃO NOS PERMITIMOS SENTIR MEDO. Sempre pensei que o medo me tornaria fraca e frágil, suscetível a tudo, achava que sentir medo me colocaria numa posição de vítima a ser salva.
Neste contexto, compramos todo o álcool gel do mercado, não andamos de ônibus, não vamos a festas e tomamos outras medidas protetivas, mas não falamos sobre o medo que estamos TODOS sentindo. E claro, é muito importante que façamos tudo isso a fim de auxiliar a saúde do coletivo a se recuperar. Mas estamos nomeando tudo isso para os nossos pequenos? Ou estamos somente fazendo um “experimento” sobre como eles devem lavar as mãos? Explicamos sobre o vírus, mas falamos pra eles que também estamos com medo?
Estamos seguindo todo o protocolo de cuidados e achamos que assim sairemos ilesos, nos colocamos numa posição de defesa e falamos que não fazemos parte de um grupo de risco então está tudo bem? Mas está tudo bem mesmo? Porque deixamos de falar sobre o que sentimos para eles, sendo que eles já estão sentindo tudo isso e isso (sentir e não saber do que se trata!) os deixa bem mais angustiados!
Sinto ainda que nos colocamos numa postura defensiva onde não nos deixamos expressar este medo real, temos medo de sentir medo e tudo fica embolado. Sabe, moro numa cidade rural há uns 20 km de distancia do trabalho que fica numa cidade mais movimentada.
Quando estou em casa, no meu bairro, a vida tem seguindo normalmente e o medo não é tão forte, aí eu até relaxo, muitas vezes esquecendo deste assunto mundial. Quando volto ao trabalho, tudo muda, e a minha calma se esvai, começo a conversar com as pessoas e saber das notícias, dos relatos, então meu coração vai disparando, vou ficando ansiosa e sinto este medo: o medo de entrar em pânico e de não dar conta de sustentar e tranquilizar a minha filha.
Volto pra casa e tento “fingir” que nada está acontecendo, mas não temos como fugir do que está em nosso corpo, pois o medo vai dando sinais e escapando quando não percebemos, isso se não nos apropriamos dele.
Ontem fui lavar as mãozinhas de minha filha porque tinha brincado com tinta. Subimos no banquinho perto da pia e aproveitei a situação para explicar sobre a importância de lavar as mãos neste momento já que temos aí pelo ar, um bichinho, chamado vírus que passa de um pro outro pelas nossas mãozinhas e boquinha.
Neste momento, senti um friozinho na barriga pois os olhinhos dela foram ficando estáticos, brilhantes e vi que ela estava sentindo medo, ela estava projetando a minha angústia, o meu pânico e eu fui ficando insegura em falar sobre este assunto.
Mudei de tema, lavei as mãos dela e fomos comer. Depois deste episódio fiquei pensando em como movimentar em mim o medo para que eu possa ser porto seguro e permitir que ela também o sinta com segurança e que este “amigo medo” seja nomeado e colocado em seu devido lugar.
Enfim, esta reflexão me fez perceber que não tenho como amparar a minha filha se não permitir que ela sinta aquilo que seu corpo está manifestando, assim como eu me permito sentir. Ser exemplo e educar por exemplo, é ser o mais autentica possível, é estar conectada com o meu eu essencial, é sentir e expressar. E estes movimentos, muitas vezes sutis, são partes do nosso coração e não da nossa mente. Sejamos, portanto, porto seguro, onde nossos filhos possam navegar neste mar de emoções que nos envolvem e aprendem a cada dia a transitar como ondas, pelo oceano da vida!
Sobre a AUTORA:
Ana Blasi, Mãe da Flávia, Participante da Turma 9 do Zum Zum de Mães e apaixonada por educação e conexão
@blasi_ana
“Quem aí nunca chorou com o bebê no colo? Quem aí já não se sentiu sozinha e desamparada? Como explicar essa tristeza que nos invade depois de nos tornarmos mães em paralelo a momentos de tanta alegria?
Por mais maravilhosa que possa ser a chegada de um bebê, a maternidade também pode nos fazer viver um turbilhão de sentimentos. No 20o episódio da Tenda Materna, eu e a Clarissa convidamos a Roberta Arend para falar sobre Puerpério, esta fase da maternidade que pode nos partir no meio e nos deixar sem chão e sem identidade.
A Roberta é doula, educadora parental, mãe do Joaquim e da Aurora e criadora do Programa Online Puérperas. Na gravação, revisitamos nossos partos e puerpérios e o quanto aprendemos com eles.
Falamos do quanto a chegada do bebê nos derruba a ilusão de que temos controle da vida, de como nossos filhos vão ser e de como seremos como mães.
Abrimos nosso coração e contamos algumas de nossas experiências dolorosas, como perdas gestacionais e problemas de saúde de nossos bebês, o quanto isso nos desestabilizou em princípio e nos serviu de aprendizado e pareceu ter mais sentido tempos depois.
Hoje fica mais claro o quanto esses tombos nos ajudaram a nos conectar com nossa essência e até a entender e nos preparar melhor para nossas missões de vida.
Entre na nossa Tenda, aperte o PLAY, para escutar esta conversa íntima e delicada que tivemos, bastante emotivas pelo contexto da quarentena mundial.
Um abraço,
Maíra e Clarissa” (Texto escrito por Maira Soares)
Em tempos de agrotóxico, quero falar das abelhas, em tempos de certezas absolutas sobre a maternidade, quero falar de um curso de mães que se chama “Zum Zum de Mães”.
A colheita chega a nossa mesa como num passe de mágicas, ninguém vê o percurso do alimento da terra até o estômago, aquilo que acontece entre o início e o fim.
“No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho” já dizia o poeta, e a pergunta que não quer calar é: como identificarmos as pedras nos nossos caminhos?
O agrotóxico, por exemplo, não foi criado como pedra, mas sim para acabar com as pragas, mas será que não se tornou pedra a partir do momento que está acabando também com as abelhas, rainhas da polinização, responsáveis pela manutenção da flora, com suas folhas e frutos? Será que estamos a usar o Maquiavel, onde os fins justificam os meios?
Eis uma pedra no meio do caminho da sociedade contemporânea: O DESCARTE DO VELHO PELO NOVO, do idoso pelo jovem, da sabedoria milenar pela teoria atual, da abelha ou meios de polinização natural pelo agrotóxico, do instinto materno pelas certezas da maternidade.
ACUMULAMOS e acumulamos LIXO =aquilo que vem DE FORA, e de outro lado, DESCARTAMOS O ESSENCIAL=aquilo que vem DE DENTRO.
As armaduras desse novo mundo têm nos colocado de costas para nós mesmos. É como se criássemos uma casca grossa em torno do nosso corpo, até que chegará um dia em que essa casca alcançará os nossos olhos e não nos enxergaremos mais nem no espelho.
Em extinção está a busca pela simplicidade, pelos motivos que nos conduzem a continuarmos nesta caminhada terrestre, apesar das pedras no meio do caminho, em extinção estão pessoas que olhem para a nossa essência por trás da tal armadura, mas eu conheci uma pessoa assim.
Essa pessoa é a professora Clarissa Yakiara, que ministra um curso de mães que leva o símbolo de uma abelha, não por acaso, e se chama “Zum Zum de Mães”.
Entrei no curso quando o João tinha seis meses, com a ideia de receber um manual para ser mãe, mas quando saí do curso percebi que esse manual não existe, ou melhor, que ele até existe, mas não está lá fora, está aqui dentro, na conexão única e pessoal que eu estabeleço a cada dia com o meu filho.
O zunido da abelha me resgata até hoje à minha natureza interna e o “Zum Zum” me faz lembrar a cada manhã de que é preciso alimentar não só o meu corpo, mas também a minha alma e a do meu filho.
Depois do curso, pude ver que por baixo de toda armadura há um ser humano e onde tem ser humano tem sentimento, e onde tem sentimento pode haver alguma necessidade não atendida.
Antes do curso, as situações da maternidade pareciam meramente matemática: doente= remédio, vomitou= comida fez mal, frio=cobertor, chilique= não tem motivo, vontade exagerada por algo específico: vontade exagerada por algo específico.
Só que não, como diz a moçada. Não é simples assim, diz a professora Clarissa Yakiara.
Hoje quando o João fica doente ou vomita, não olho apenas para FORA, a comida, a doença, mas principalmente para DENTRO: será que ele tem me mostrado algo que o incomoda? Será que ele está com dificuldade de conviver com alguma emoção e o seu corpinho está falando?
Recentemente ele deu um chilique de cinema e demonstrou uma vontade exagerada por um chocolate, logo após a despedida da minha mãe que mora longe, antes eu enxergaria somente o desejo exagerado e ponto, agora, consigo ver uma vontade interposta, um desejo camuflado: estava triste porque a vovó foi embora (o desejo exagerado era pela sua volta), e eu o abracei, tanto e tanto, acolhi a saudade já anunciada, e em pouco tempo ele não tocou mais no assunto do chocolate.
Hoje estou grávida do meu segundo filho, e o João anda expressando os seus sentimentos por linguagens variadas, o meu desafio maior tem sido desvendá-las.
Abro a janela, e inspiro profundamente a minha essência, posso ouvir o zunido das abelhas cuidando de mim e do meu entorno, olho fixo num ponto e vejo: no meio do caminho tem uma pedra, tem uma pedra no meio do caminho. Expiro confiança nesta travessia, na certeza de que a janela deve permanecer aberta para deixar o sol entrar.
SOBRE A AUTORA:
Este texto foi escrito por Lígia Freitas, Mãe do João e Participante do Zum Zum de Mães.
@ligiafreitasescritora
Querida leitora! Sei que estão sendo dias difíceis, sinto a sua dor revelada no íntimo do meu coração, suas angústias, seus medos, as incertezas do futuro e do mundo. Neste momento, muitas de nós temos sentido um vazio, uma tristeza ao final da tarde, uma sensação de que não nos reconhecemos mais em nós. Temos tantos afazeres e está tudo tão diferente, um cansaço que não é nosso nos possui e não nos reconhecemos em nossa eficiência aparente. A realidade está tão mudada, estamos em casa por mais tempo e com a nossa família. Pelos nossos olhos as cores são outras, as flores tem outro perfume, a lua outro brilho, o sol outro calor. Quando olhamos as estrelas vemos mais do que luzes no céu, vemos a escuridão lá fora refletindo as trevas que nosso ser revela… E quanta impaciência e amor transbordando. Num momento somos uma luz infindável de cuidado e zelo, noutro não suportamos estar em contato com aqueles que amamos. Não sabemos o que fazer como agir, o que dizer. Não conseguimos falar, nem gritar, nem chorar. Queremos sair correndo, mas não sabemos para onde e se podemos ir. Parece que ninguém nos escuta, nos vê, nos entende, não temos com quem conversar. Nos falta um abraço caloroso, um ombro amigo, compreensão, carinho, contato, tato.
Estas palavras te relembram ago? É, querida leitora, estou falando da quarentena! Mas poderia ser a descrição dos nossos puerpérios, aquele momento em que mergulhamos em nossa sombra mais profunda ou aquela bem visível. Aquele instante em que temos vontade de chorar “sem motivo”, de ficar quietinha em nosso canto, e que, por muitas vezes, não temos nem vontade de levantar da cama. Mas agora estamos em quarentena e esta contenção que mais parece uma imersão em nosso lar, com nossos filhos, companheiros e com o nosso ser real, pode e traz muitos sentimentos do passado e o puerpério revivido (para mim) tem sido muito desafiador.
Durante o meu puerpério vivi e revivi muitas dores. Deveria ser o instante mais belo de minha vida, e realmente foi já que minha filha amada veio ao mundo, porém com muitas dificuldades e angústias. Tivemos um parto de risco, uma cesárea não programada na qual sofremos violência obstétrica onde minha filha quase não sobreviveu. Muitos medos foram gerados e reativados neste parto, o medo que minha mãe sentiu em minha gravidez (ela não saia de casa por medo de doenças) o medo que minha avó materna sentiu (ela foi mãe solteira e muito jovem criou minha mãe sozinha entre muito preconceito)! Sem falar em todos os outros medos que surgiram no exato momento em que peguei minha filha nos braços… Senti medo de não conseguir amamentar, de não saber dar banho ou cuidar de um serzinho tão frágil e dependente de mim. Senti medo de ser julgada por sentir tantos medos, por me sentir insegura, aflita, incapaz. Logo eu que era tão informada, tão resolvida, tão instruída, tão inteligente, tão segura (só que aparentemente!). O que aconteceu comigo pode ser muito semelhante com o que você sentiu após o nascimento de seus filhos, isso porque muitas de nós não fomos educadas e não fomos instruídas a cuidar de nossas emoções de maneira segura e livre. Somos frutos de uma geração reprimida emocionalmente, e de uma sociedade “treinada” para fazer da maternidade tudo menos um o caminho de transformação e crescimento. Ao sabermos de nossa gravidez pensamos em muitas coisas materiais que temos que resolver e comprar: o quarto, os móveis, o enxoval, tudo isso é muito importante e valoroso, mas (para mim) não é mais o essencial. Desta forma, não pensamos sobre como ficará o nosso coração após o parto. Não sei o seu, mas o meu se espatifou sendo que ainda hoje, após quase quatro anos ainda tento juntar seus pedacinhos. Somente quando reconheci meu processo de resgate e de sombra é que aceitei a minha realidade, podendo, de fato, sentir aquela prometida alegria em estar com minha filha. Entretanto, o meu puerpério continua, porque ele não tem data certa para terminar, não é um período estabelecido por médicos, ou livros. É um período que somente a mulher/mãe sabe, pois ela é que o está vivendo, e somente ela saberá o seu tempo quando ele terminar. E nesta quarentena, querida leitora, percebi que ainda estou puérpera e que minha “quarentena” está chegando ao fim!
Enfim, a quarentena está aí e esta é a nossa condição atual, gostemos ou não. Como em muitas outras situações de nossas vidas. Sinto que, para nós mães, muitos cenários dos nossos puerpérios estão sendo reproduzidos, porque as crianças estão em casa, estamos com a demanda do lar sob nossa responsabilidade e, em geral, nossos companheiros estão trabalhando fora ou em casa. É evidente que este modelo não é regra geral, temos muitos companheiros assumindo as atividades do lar e os cuidados dos filhos, bem como muitas mães trabalhando fora ou em casa! Em verdade, me refiro aquele sentimento de descontato (acho que este termo nem existe!) com o mundo, com pessoas, com adultos, aquele momento de imersão, em casa, mergulhadas nos cuidados do bebê e do lar, naquele reencontro com o nosso lado feminino cuidador, acolhedor, muitas vezes ferido. Aquele momento em que não saímos, nem para ir à padaria ou na farmácia e que não temos mais aquela referência de nós mesmas. Tudo muito semelhante ao nosso momento atual. Enfim, leitora querida, te convido a reviver seu puerpério, a sentir “aquela” sombra de novo, aquele nó na garganta, aquela sede de chorar até as lágrimas acabarem. Mas agora vamos falar, expressar, chorar acompanhadas, pedir colo (ainda que virtual!). Honremos a nossa quarentena interior, o nosso momento de reconexão, de acolhimento de nossas emoções. Com certeza, nada será como antes, tudo irá se transformar, como num puerpério, ninguém sairá ileso, igual, intacto! Ninguém passará por esta contenção sem se olhar, ainda que bem pouquinho, lá no fundinho de sua alma! Honremos a nossa quarentena e sairemos dela modificadas, transformadas, revividas, regeneradas, reconectadas, fortalecidas!
Sobre a AUTORA:
Ana Blasi, Mãe da Flávia, Participante da Turma 9 do Zum Zum de Mães e apaixonada por educação e conexão
@blasi_ana
Neste episódio, convidamos Lua Barros, para entrar em nossa Tenda. Lua é Educadora Parental, Especialista em Equilíbrio Emocional, mãe de 4 filhos (João, Irene, Teresa e Joaquim) e companheira do Pedro Fonseca.
Em tempos sombrios de pandemia mundial do codiv 19 muitas coisas mudam, se desestruturam. E, diante do caos desta situação, eu te faço um convite ousado: vamos refletir mais profundamente sobre isso?
Claro, sei que a vida mudou radicalmente, as demandas aumentaram e está tudo uma loucura! Afinal, o medo bate à porta, a casa e as crianças pedem atenção e o chefe não quer saber de diminuir a produtividade por conta das demandas do lar! Neste cenário, tudo ficou em suspenso e por mais que as pessoas queiram fingir que nada está acontecendo, está todo mundo sem saber de onde o perigo virá e onde é que tudo isso vai dar!
Desta forma, ficamos ativados no medo, cheios de ansiedade e beirando ataques de pânico. Isto porque, o grande convite deste vírus é mostrar para a humanidade que nosso controle sobre as coisas é ilusório! Por maior que seja nossa ganância e prepotência, somos filhos da natureza e, ainda que seja somente uma criatura microscópica, ela ainda pode, de repente, destruir tudo ao que, ilusoriamente, nos apegamos!
Mas, calma! Este artigo é para dar um fôlego das más notícias e trazer palavras de reflexão para que usemos este momento em nosso favor! Vamos começar pelo mais importante?!
Vale deixar claro que as crianças NÃO precisam assistir TV ou mesmo outras telas com notícias sensacionalistas, disseminando o pânico de forma ainda pior que o vírus! Desta maneira, vale a pena usar o autocontrole para tentar conversar com as crianças, reforçando a importância da quarentena para nos protegermos de uma “gripe muito forte”. Neste ponto, vale frisar que estou apenas adaptando o que está acontecendo a algo que as crianças possam compreender, ao menos, é assim que estou trabalhando com minha filha de quase 4 anos.
Outro ponto a ser ressaltado é que as crianças NÃO precisam ser distraídas de forma aleatória, sentindo que queremos nos livrar dela de qualquer forma. Claro, eu sei que nem sempre estamos emocionalmente disponíveis para lidar com nossos filhos. Neste período de quarentena, este desafio é ainda maior dada a restrição de contatos e a necessidade de ficar dentro de casa! Mas, é fato, as crianças NÃO precisam se sentir um estorvo em nossas vidas, aquele ser que sempre atrapalha o trabalho da mamãe ou do papai. Ou seja, acredito que todos nós temos memórias de rejeição e inadequação e elas doem bastante, que tal tentarmos trabalhar a necessidade de concentração de uma forma mais leve?!
Sob este prisma do que as crianças NÃO precisam, vale lembrar que elas não têm capacidade emocional para entender a seriedade da situação. Por isso, é importante que nós adultos cuidemos dos hábitos de higiene das crianças, da casa e trabalhemos isso com elas de forma lúdica e gentil! Claro, neste cenário de pânico, encontrar esta paciência parece algo ilusório, mas agora vamos cuidar dos adultos!
Neste momento de pane é preciso colocar a máscara de oxigênio para raciocinar com calma, estratégia e muita paciência! Por isso, o que pais e mães NÃO precisam é ficar enterrados nos noticiários, contabilizando contaminações e óbitos! Afinal, ficar mergulhado nas tragédias não vai proteger sua família, nem amenizar os desastres lá fora! Mas, certamente, vai esgotar toda a sua energia e paciência com algo que, simplesmente, está fora de nosso controle! Portanto, foque no que realmente está sob o seu domínio, foque no que é possível fazer dentro de sua casa e com as pessoas que ama!
Desta maneira, outra coisa que mães e pais NÃO precisam é ficar com o rosto colado em redes sociais, disseminando o pânico através de fake news. Ou mesmo encaminhando e compartilhando piadas de mau gosto por conta de um senso de humor duvidoso! Além de ser tóxico para si mesmo e para o mundo, já bastante poluído, isso é outra coisa que rouba sua energia num momento em que ela é vital para sua sanidade mental e emocional!
Outro item que mães e pais também NÃO precisam é se preocupar com milhões de atividades didáticas para fazer em casa! De forma muito inusitada, li a mensagem de uma mãe com medo de não mandar o filho para a escola e isso atrapalhar o seu processo de alfabetização! Meu Deus, em que ponto do caminho pegamos o atalho errado? Afinal, será tão importante o desenvolvimento intelectual que dispense outros cuidados? Quanta necessidade de entulhar as crianças de conhecimentos, tantas vezes, desnecessários e inúteis na vida prática!
Para além das fake news, do pânico pela escassez e morte, do medo da doença, o convite é para olharmos para nossa vida, nossas escolhas e sonhos! Por isso, te convido a assistir o vídeo Carta do COVID19 para a Humanidade
O momento pede sim reclusão e leveza, bem como criatividade e disponibilidade emocional. Assim, o convite é para reavaliarmos nossa trajetória, nossos valores e, principalmente, nossa família. Isto significa, na minha ótica, reavaliarmos a forma como estamos cuidando de nós mesmos e das pessoas que amamos!
Sabe aquele ano sabático que muita gente gostaria de tirar e não consegue? Que tal encarar a quarentena como um período para reavaliar a vida, destralhar aquela gaveta, rever a educação dos filhos, encontrar tempo para repensar a relação com o marido. Ah, e mais importante ainda, que tal rever como estamos lidando com a gente mesmo? Estamos nos impondo muitas obrigações ou ainda encontramos espaço para o prazer, aquele simples e genuíno como de um bebê que está descobrindo o sabor de uma fruta?
A partir desta perspectiva, a quarentena pode ser produtivamente aproveitada para rever nossas relações conosco e com quem amamos! Todos nós precisamos de uma pausa e que tal aproveitar este momento para vibrar na suficiência!? Ou seja, desfrutar o que temos no momento ao invés de lamentar o que perdemos ou ter ansiedade pelo que virá depois disso? A vida é aqui e agora!
Neste momento tão delicado, portanto, ouso dizer que todos nós precisamos: PARAR! E não é como nas férias em que usamos o tempo para nos distrair! Esta sociedade tecnológica já nos distrai demais! Por isso, o convite é realmente para PARAR, SE AQUIETAR e dar uma chance para o coração falar! Há quanto tempo perdemos este contato com o coração ou esta conexão profunda!?
Este é um momento que pede Fé, seja ela em qual forma se manifestar! Por isso, todos nós precisamos nutrir dentro de nós este sentido em algo maior, mais profundo do que o piloto automático cotidiano! Então, o momento pede SENTIDO, rituais de fé, de celebração da vida, de autocuidado e cuidado com o outro! Desta forma, é preciso voltar a olhar para a vida com coragem, ou seja, a partir do coração!
Portanto, TODOS nós precisamos lembrar que “tudo passa!” e este momento um dia será lembrado como um marco. Que seja um marco de um momento em que a Terra parou e as pessoas reavaliaram as rotas de sua vida, suas ações e como tudo se transformou! Desta maneira, o momento pede amor, nutrição emocional interna, da família, da casa… Paradoxalmente, através do isolamento temos a oportunidade de olhar para o que verdadeiramente importa em nossa vida e como temos tratado tudo isso!
Certamente, é o momento para fortalecer vínculos emocionais e lembrar que as crianças estão descobrindo o mundo e isso pode e deve ser muito divertido! Então, relaxe do politicamente e didaticamente correto e encontre uma forma de se divertir com as crianças na quarentena!
Cada vez mais me convenço de que a melhor forma de cuidar do outro é através do exemplo e do transbordamento! Assim, cada vez que cuidamos de nós mesmos com amor, compaixão e responsabilidade, estamos despertando nos outros este mesmo potencial! Por isso, neste momento de quarentena aproveite para descobrir como cuidar melhor de si mesmo e das pessoas que você ama!
Ao cuidarmos de nossa saúde por amor ao invés de medo, plantamos a semente de uma cura planetária! Afinal, neste momento temos a oportunidade de perceber, através de um vírus, como estamos próximos e vulneráveis. Ou seja, independentemente de classe social, de poder, de cargo, TODOS SOMOS UM neste momento!
Assim como estamos unidos no medo, no pânico diante da morte, temos a oportunidade de nos unir pelo amor! E, esta união começa dentro de casa, na família, no autocuidado e no cuidado com quem amamos! Que unidos possamos transmutar e curar dentro de nós tudo o que criou a realidade que estamos vivendo neste momento!
Luz, Paz e Bem a todos! Gratidão pela leitura! Namastê! _/\_
SOBRE A AUTORA
Este texto foi escrito por Gisele Mendonça, cientista social,
mestre em sociologia, participante do Zum Zum de Mães e, principalmente, MÃE!
Tem um blog chamado Conexão Profunda, visite www.conexaoprofunda.com.br e curta a página no facebook Conexão Profunda e siga no instagram gm_conexaoprofunda
Falar sobre gerações anteriores à minha me pareceu um pouco ousado a princípio, pois como falar daquilo que não vivi sem ser arrogante e sem julgamentos. Porém falo das percepções que precisei elaborar dentro de mim mesma para poder entender minha própria vida e história, a forma como fui criada, a forma como meu companheiro foi criado, e o quanto isso impacta na nossa relação e na criação da nossa filha.
Quando comecei a trilhar o caminho do autoconhecimento e remexer nas feridas infantis, a entender como cenas do meu passado haviam me impactado e como elas foram determinantes em alguns comportamentos “negativos” que eu apresentava, como outras tantas experiências da minha primeira infância ajudaram a formar minha personalidade e os aspectos destrutivos dela, a primeira reação foi me colocar num lugar de vítima e de muita raiva.
Quando eu fui entendendo que algumas das fortes emoções “negativas” e medos que a maternidade trouxe à tona vinham dores da minha criança interior ferida desencadeadas por choros contidos, frustrações não validadas, falas marcantes dos meus cuidadores, falta de acolhimento nos momentos de medo e solidão segundo as minhas expectativas, baixa autoestima na infância e adolescência, foi impossível não julgar meus pais, alguns professores e outras figuras que fizeram parte desse período da minha vida.
Já os culpei por tudo de ruim que estava me acontecendo naquela fase, por não terem “me dado aquilo que eu precisava”, posteriormente me culpei por tê-los julgado, por sentir raiva, por sentir pena, por me sentir melhor, e hoje, entendo que o julgamento é natural quando entendemos todo o mecanismo de formação da personalidade e como nossa psique é moldada e impactada pela forma como fomos criados.
Entendi que a culpa, essa estrutura que a meu ver tem um papel importante inicialmente, não podemos negá-la pois ela também faz parte do processo, o que não podemos é nos fixar nela. Porém tanto culpar nossos pais, como posteriormente nos culparmos por culpá-los é instintivo. Isso aconteceu comigo, porém eu percebo que quanto mais consciência fui tomando dos meus processos, mais fui entendendo que nem meus pais nem ninguém tinham culpa de nada, mas inconscientemente eu transferia essa culpa para mim mesma.
Hoje vejo essa culpa ao mesmo tempo como uma defesa e uma resistência à mudança, porque mudar dói. E tudo bem culpar e sentir culpa, se você estiver nessa fase do caminho, prossiga, ela pertence e te garanto que vai passar. Não reprimindo a culpa, podemos transpô-la com consciência.
Nas minhas buscas terapêuticas, descobri, por exemplo, que o choro da minha filha me incomodava por causa do choro e raiva reprimidos na minha infância, não só porque meus pais podem ter “calado” meu choro e explosões de raiva algumas vezes, usando falas pré-estabelecidas que a sociedade da época consideravam certas, e ainda hoje muitas pessoas consideram apesar de todas as pesquisas científicas que já provaram o contrário. Não sou melhor do que ninguém e nem estou isenta, também carreguei essas crenças e falas comigo, e já usei com minha filha, falas como: “engole o choro”, “isso não é choro, é manha”, “vou te dar motivo pra chorar”, “chorar é feio”, “não pode ter raiva da mamãe-papai”, “Papai do céu não gosta de criança que chora”, “ninguém gosta de criança que chora”, “sentir raiva dos pais é pecado”, e por aí vai.
Atualmente, é fácil acessar informações científicas e entender no nível consciente e mental que deixar a criança chorar e se deixar levar pela energia da raiva faz bem pra ela, ajuda a limpar o “lixo emocional”, e é o ideal para ela crescer mais conectada com os próprios sentimentos e desenvolver inteligência emocional. Que acolher o choro da criança refletirá na sua saúde emocional quando ela for adulta, a fará entender que o sofrimento e a frustração fazem parte da vida, mas que ela nunca precisará sofrer sozinha pois pode contar com o apoio dos pais, da família, redes de apoio, criando assim resiliência ao sofrimento. Que deixar uma criança colocar toda sua raiva pra fora e ir ajudando ela a se acalmar, a ensina sobre autorregulação e autocontrole. Até aí, ok!
Mas se tem algo que demorei pra entender é que quando a criança tem uma explosão emocional de qualquer nível, nos fazendo acessar nossas próprias emoções feridas, não há conceito teórico científico que possa ser aplicado se o nosso emocional estiver abalado. Não há ferramenta de disciplina positiva que funcione se a criança estiver nos espelhando em nossos próprios conflitos emocionais e não nos dermos conta, a única ferramenta que resolverá será analisar e sanar a origem do conflito em nós para limpar do nosso campo o que é nosso, e podermos olhar genuinamente pra emoção da criança no momento presente e acolhê-la.
Para mim está provado, por minha experiência, que uma coisa está intimamente ligada a outra, pois quando o comportamento desafiador da minha filha traz sensações em mim como raiva, revolta, medo, dor, sei que não sinto tudo isso por causa do comportamento em si, mas sim em razão de emoções minhas que aquele comportamento dela desperta em mim, trazendo algo meu, e não dela. Quando ela tem um momento de explosão, e eu não consigo encarar sem levar pro lado pessoal, sem pensar coisas como “eu não aguento isso”, “ela quer me enlouquecer”, “chora por nada, ou chora por tudo”, (eu já pensei todas elas e às vezes ainda penso), quando levo pra esse lado, sei que ali alguma ferida minha foi acessada e geralmente as falas usamos são as mesmas que usaram conosco na infância.
Conforme fui olhando pra esses sentimentos que eram despertados, e de certa forma fui integrando-os à medida que me policiava e me acolhia quando esses sentimentos vinham, os mesmos comportamentos de antes não incomodavam mais, eram apenas algo que eu lidava com tranquilidade. Devagar, quando ela chora, e eu estou bem comigo mesma, eu trago pra mente que ela é apenas uma criança, e que o choro é uma expressão emocional que a ajuda a se sentir melhor quando passa, e que aquilo não é pessoal. Não sou técnica no assunto, nem quero provar nada, pois esse trabalho já tem sido feito pelos especialistas da área, mas toda essa dinâmica eu aprendi nos meus estudos pessoais e terapias, pode ser explicada com uma pesquisa específica na internet e em muitos livros. Eu mesma, leio muitos livros sobre maternidade, autoconhecimento, relações humanas, psicologia do desenvolvimento, primeira infância.
Quando eu era criança, vejo que muitas vezes o choro era encarado como sinônimo de vulnerabilidade, “manha”, fraqueza, falta de controle sobre a criança, falta de “pulso firme”. Portanto, os pais que não educavam seus filhos seguindo esse princípio, eram considerados como fracos, “maus pais”. Ao pedir para pararmos de chorar, nossos pais acreditavam estar nos dando a melhor educação, e assim também foi com eles quando eram crianças, e assim sucessivamente. Se voltarmos um pouco no tempo, teremos acesso à informações que desconsideravam totalmente a infância e o querer da criança praticamente não existia.
O que pra mim foi inicialmente visto como falta de empatia pelo meu choro na infância, com o tempo pude compreender que meus pais estavam tentando me dar o melhor. O choro foi o exemplo que quis trazer pois foi e ainda é algo que “pega” muito pra mim no meu maternar, que já pude melhorar bastante, hoje consigo acolher mais a minha filha nesses momentos de choro e raiva, geralmente com mais eficácia quando estou mais tranquila e mais nutrida emocionalmente.
Mas quando estou vivendo minhas próprias crises, tendo meus picos emocionais, como no período pré menstrual que fico mais sensível, haja paciência e empatia pra acolher o choro, a vontade é de calar e não acolher, sou sincera em dizer que em muitos momentos desses toda teoria vai pro brejo. Nem sempre estaremos bem para não misturar as coisas e levar pro lado pessoal, é um trabalho de formiguinha, dia a dia. Um dia será melhor, o outro menos, e assim caminhamos comemorando as pequenas vitórias e driblando a culpa que possa surgir nos momentos difíceis. Até porque a busca não é pela perfeição, acredito que mostrar uma falsa perfeição para nossos filhos fará com que eles cobrem de si mesmos a mesma perfeição e sofrerão por nunca alcançá-la, pois nunca seremos perfeitos nessa vida.
Por isso que acho que mesmo com toda informação que temos, não vamos acertar sempre, e ainda assim, não somos melhores que nossos pais, pois a informação não basta, a informação sem o autoconhecimento e a nossa reeducação é ineficaz e ilusória. Não há educação sem autoeducação. Claro que muitos adultos viveram em famílias disfuncionais, e talvez não concordem com o que estou trazendo, pois sei que tive o privilégio de ter uma família estruturada e amorosa.
Vejo que meus pais fizeram o que eles podiam com a consciência que tinham e repetindo a criação que tiveram, que hoje não me permito usar adjetivo nenhum para qualquer que seja o tipo de criação em questão. Acho que tudo precisa evoluir, e se está evoluindo está tudo certo. Não tem nada de errado, nem antes nem agora. Eles nos deram o que receberam. Fizeram o melhor que puderam, e por mais difícil que seja, pois sei que fácil não é, além de qualquer falta que tivemos, eles nos deram o dom maior da vida, que vinda deles e com as informações e apoio profissional que temos hoje podemos fazer melhor da vida que recebemos deles.
Acredito que mesmo nas famílias desestruturadas tudo se trata de uma grande repetição onde ninguém é culpado e ninguém é vítima, todos escolhemos a família que precisávamos, para um propósito maior. Acreditar nisso me trouxe paz. Não quero impor minhas crenças neste texto, só acho que precisamos encontrar uma crença que nos faça sentir paz, se nosso coração sente que aquilo é verdade, e se acalma naquela crença, com certeza pra ele é verdade, e isso que importa.
A verdade é que cada pessoa lida como pode com suas feridas e traumas, inconsciente ou conscientemente dá apenas o que recebeu na criação dos seus filhos, essa máxima vale para as gerações anteriores também.
Nesse momento gostaria de direcionar esse olhar empático para geração dos meus pais, que é a geração que diante de tantas informações e estudos novos sobre criação de filhos, por muitas vezes se sente incompreendida, não validada, que quando veem como hoje aderimos a tantas mudanças, informações diferentes e novas na forma de criar e educar nossos filhos, se sentem até mesmo ofendida, podendo sentir que se concordarem com tudo isso que estamos optando estariam assumindo o próprio fracasso.
Não há certo ou errado, há evolução. Há informações que podem colaborar com maior saúde física e emocional para as próximas gerações, mudanças alimentares, mudanças de atitude. Mas ainda assim, cada um só consegue aplicar aquilo que sua estrutura emocional permite, e tudo bem! Como disse antes, temos que evoluir, rápido ou devagar, aos poucos e a vida toda, pela nossa própria cura, e pela cura dos ancestrais e descendentes, pois com certeza nossa cura é a deles.
A minha mãe não teve carreira, nunca foi assalariada, criou cinco filhos de idades próximas com marido trabalhando em outra cidade em alguns momentos, com rede de apoio familiar limitada a como podiam ajudar. Com tanta demanda física, emocional, doméstica, dificuldades financeiras, fez o melhor que pôde com a estrutura que tinha, e hoje tenho consciência que me deu exatamente o que eu precisava pra ser quem sou, tive as experiências que definiram meus valores e aprendizados atuais e me fizeram ser quem eu sou.
Quando era cultural ter vários filhos, hoje eu com apenas uma filha tive tantas questões emocionais que muitas vezes me colocaram em desespero e pânico, imagino ela com cinco e tendo que lidar com tudo ao mesmo tempo… Eu tive ajuda profissional para lidar com minhas questões, ela não teve. Hoje é tão fácil ter acesso a terapias on line e presenciais com valores acessíveis, ainda bem que existem muitos profissionais disponíveis no mercado, e hoje existem terapias excelentes específicas para mães com rede de apoio, como o Zum Zum de Mães, que expandiu minha mente, me ajuda e ajudou demais.
Por tantas vezes me senti impotente diante de todas as coisas que tenho que lidar fora à maternidade, estar disponível emocionalmente e ainda assim ter que trabalhar fora, cuidar da casa, das roupas, proporcionar uma alimentação balanceada pra minha família, por tantas vezes tenho a sensação de estar caindo num poço sem fundo… Mais uma vez, imagino como foi pra minha mãe com cinco filhos e mesmo não trabalhando fora, como ela deve ter se sentido impotente em tantos momentos, achando que ia enlouquecer com tantas responsabilidades, e isso me faz sentir empatia pelos momentos em que ela explodiu comigo e meus irmãos, e mais do que isso, empatia genuína por ela.
Só pude entender e ter mais empatia pela minha mãe quando me tornei mãe. Antes, por melhor filha que eu fosse eu não poderia ter entendido tudo que a maternidade traz para nossa vida, sem sermos avisados, levando nossa identidade e o que entendíamos como vida antes dela, muitas vezes adiando nossos sonhos, projetos, desejos, nossa própria liberdade. Vejo que muitas mulheres passam a vida tentando resgatar quem eram e não conseguem, e para as gerações anteriores era mais difícil ainda por tantas questões sociais ligados ao patriarcado, a falta de liberdade financeira, a falta de voz e olhar sobre essas questões.
Se hoje é mais fácil pra nós, é porque as gerações que nos antecederam abriram os caminhos e doaram suas vidas para que fosse mais fácil para nós, tanto para vivermos quanto para criarmos nossos filhos nesse momento que estamos. Eles sacrificaram sua liberdade para nos dar a liberdade que temos hoje. Somos privilegiados.
Volto a falar, quem viveu em famílias disfuncionais talvez discorde do que trago aqui, mas o dom maior eles nos deram: a vida!!!
Chega de julgamentos e comparações pelas diferenças de antes e agora, antes havia uma informação, hoje há outras mais embasadas cientificamente, mas não por isso melhores ou piores, apenas encaro pelo lado de que junto com a humanidade, os conhecimentos evoluíram e mesmo que os conhecimentos sejam bons, se nos colocamos num lugar de saber mais que nossos ancestrais, seremos arrogantes e não gratos ao que foi da forma que foi, e isso gera sofrimento. Aceitar tudo como foi nos traz paz!!!! Mas não é de repente que conseguimos, é um longo e doloroso processo que requer muita coragem, mas que precisa começar em algum momento.
Da mesma forma que chamo a atenção para nossa geração ter mais empatia pelas anteriores, também apelo que essas gerações que vieram antes tenham empatia por nós, pois quando optamos em fazer diferente baseados em estudos e informações que hoje temos acesso, não o fazemos para descreditar tudo que vocês fizeram de diferente de nós e muito menos para ofendê-los, o fazemos pensando em fazer o melhor para nossos filhos, assim como vocês também fizeram tudo que puderam para dar o melhor que puderam para nós.
Persistir nessas discussões é uma luta sem vencedores, eu honro tudo aquilo que recebi da forma que foi, e agradeço a todos meus ancestrais por absolutamente tudo. Peço a benção deles para que eu possa agir diferente deles na minha forma de maternar e de viver a minha vida com mais consciência e leveza. Que assim seja!
SOBRE A AUTORA:
NATALIA CAMILA DA SILVA: 32 anos, mãe da Olívia de 3 anos, Participante da Turma 5 do Zum Zum de Mães, Funcionária Pública, Gestora de Recursos Humanos, adepta do Sagrado Feminino. Escreve para elaborar suas emoções, só de escrever se sente mais leve e mais inteira.
IG: natycamila87
“Neste encontro incrível, eu e a Clarissa tivemos a oportunidade de receber a Taryana Rocha, para falar sobre um tema delicado e urgente: Mães Narcisistas.
Esse assunto, além de muito doloroso, é um grande tabu. Pouca gente se atreve a falar disso, pouca gente ousa tirar as mães deste lugar sagrado de ser sempre boa para os filhos. No entanto, muitas mães, movidas por feridas muito profundas, acabam sendo tóxicas com seus filhos e precisamos falar disso para proteger nossas crianças.
Depois de gravar 3 lives com a Taryana, senti vontade de convidá-la para um episódio na Tenda Materna, pois acredito que é fundamental tomarmos consciência do que realmente aconteceu em nossa infância. Muitas filhas e muitos filhos de mães ou pais narcisistas passam a vida acreditando que o problema são eles, que não há nada de errado com os pais. Entender que de fato houve maltrato (e em muitos casos ainda há) e abuso emocional é o primeiro passo para quem quer se libertar disso. Poder nomear e validar o que nos aconteceu de fato é o primeiro passo para curar nossas feridas!
Espero, do fundo do coração, que este episódio contribua para a cura de muitas pessoas.
Dê o play no episódio e compartilhe com quem você acredita que precisa ouvir a fala da Taryana.
A Taryana Rocha é psicanalista, coach e empreendedora digital. Além disso, ela é criadora do Workshop Entre No Seu Poder, um programa online que educa, acolhe e orienta filhas e filhos de mães com traços narcisistas patológicos.
Para saber mais sobre o Workshop Entre No Seu Poder, clique aqui 👉
Depois escreve para a gente contando o que achou do episódio!
Um abraço,
Maíra ” (Texto escrito por Maira Soares @cantomaternar minha parceira querida na Tenda Materna) 😉
“Hoje eu considero que estou num outro momento de vida, num outro recálculo de rota, que é o de conhecer muito bem minhas sombras, poder olhar para elas, poder convidá-las inclusive. Porque muitos desses sentimentos que a gente rejeita e considera negativos na verdade são super úteis pra gente existir no mundo e fazer acontecer no mundo. Quando eu me aproprio das minhas sombras, eu me torno um ser muito mais poderoso, eu não tenho nada pra esconder. Pra ascender ao mundo luminoso, a gente precisa descer lá na treva da gente mesmo pra que essa ascensão seja realmente verdadeira. E a maternidade faz isso.” – Alana Trauckzynski, durante o episódio.
Neste episódio da Tenda Materna, eu e a Maíra convidamos a Alana Trauckzynski para falar sobre como a maternidade impacta nossas vidas e dá um chacoalhão em nossa identidade mesmo quando já estamos bem aceleradas no nosso processo de autoconhecimento. A Alana é autora do Recalculando a Rota, um livro que se transformou em Programa Online, e também do Programa Shine (http://bit.ly/ProgramaShineCM).
Durante a conversa, acabamos falando muito do desafio de inspirar outras pessoas quando nós mesmas estamos passando por mudanças e crises pessoais. Como ser autêntica e dar espaço para o novo, quando não nos identificamos mais com quem somos e temos um público que nos acompanha e passa a nos estranhar? Afinal, a vida é um constante Recalcular a Rota, e aceitar que estamos mudando constantemente é o que torna esse processo mais leve.
Quer saber como foi a conversa? Dá o play e curta o primeiro episódio da Tenda de 2020!
Com carinho,
Clarissa e Maíra
O Negócio desfeito, o plano mal feito,
O horário perdido, o livro não lido,
A louça acumulada, a proposta negada, a palavra entalada,
O jantar enlatado, o saldo,
A palavra mal dita, uma frase confusa e muito comprida,
Minha eterna tagarelice desmedida.
Cai a noite calada, o coração de repente dispara,
Lá estou eu de novo atravessando a sala
Dai me vem à cabeça, travestida de reflexão,
A auto punição:
“Quem você pensa que é? Não devia ter feito isso…
Já para seu quarto pensar!
Não devia ter dito aquilo…
Não quero nem te olhar!
Sonhos muito grandes para alguém pequena como você!
Não tinha como ser diferente, completamente sem noção,
Ainda diz que tem intuição!
Você não está vendo? O universo está te dizendo não!
Quem mandou desobedecer, que ideia louca é essa de ser você?
Quem falou que aos seus próprios caprichos deve ceder?”
Muito fácil cair na armadilha da mente treinada à base de castigo e punição
E você? Para onde vai quando comete “uma má ação”?
Vai para o castigo? Vai ajoelhar no milho?
Eu ia sim, sim senhora, sim senhor!
Mas agora estou treinando no sentido anti-horário,
Em alta velocidade, no caminho contrário
Reescrevendo o antiquado.
Assumindo a direção, desprogramando o velho padrão.
Os olhares alheios já não me impedem de tentar
Os comentários externos já não me fazem parar
Se posicionem agora para me ver passar
Sem pedir licença ou permissão à ninguém, já estou pronta para voar!
Já não me serve mais essa máscara de boa menina
Que quando erra é diminuída
Já não me cabe mais a personagem de Madalena arrependida.
Sou auto responsável pelo meu sucesso e progresso
E escolho fazer com respeito e afeto
Assim como busco atuar com minha filha
Faço também com minha criança interna pequetita:
“Vem cá comigo, pouse seus cachinhos bem no meio do meu abraço
Me conte sem medo o que aconteceu, confie em nosso laço.
Com atenção vou te escutar,
A sua dor, sua aflição vou validar
Juntas vamos traçar um plano para consertar, resolver, melhorar…
Estou aqui com você e pode apostar
Da próxima vez vamos acertar
Escute a voz da razão que escapa do meu coração
É uma bela oportunidade essa a de errar!
E quero muito ir com você para onde esse caminho nos levar.”
Sobre a AUTORA:
Vivian Pessoa, Mãe da Ive de 3 anos, Geóloga, Participante da turma 5 do Zum Zum de mães, Educadora Parental pela Positive Discipline Association.
@viviancpessoa