O momento em que estamos é certamente muito desafiador e porque não apavorante. Não temos dúvida de que este vírus o tal do COVID-19 ameaça a saúde pública e devemos nos preparar para passar por ele com o mínimo de efeitos negativos.
Porém, neste emaranhado de informações, textos, vídeos de aulas, depoimentos e relatórios médicos me pergunto sobre a importância que damos as coisas somente quando elas tomam grandes proporções, quando a mídia nos força a acompanhar toda esta situação, e quando sentimos medo real de algo que possa afetar a nossa família. Mas, como lidamos com isso junto às crianças? Como e quando falamos sobre o medo que sentimos com e para elas?
Observo como lido com isso e penso em maneiras de auxiliar a minha filha a trabalhar este sentimento tão pouco falado. NÃO NOS PERMITIMOS SENTIR MEDO. Sempre pensei que o medo me tornaria fraca e frágil, suscetível a tudo, achava que sentir medo me colocaria numa posição de vítima a ser salva.
Neste contexto, compramos todo o álcool gel do mercado, não andamos de ônibus, não vamos a festas e tomamos outras medidas protetivas, mas não falamos sobre o medo que estamos TODOS sentindo. E claro, é muito importante que façamos tudo isso a fim de auxiliar a saúde do coletivo a se recuperar. Mas estamos nomeando tudo isso para os nossos pequenos? Ou estamos somente fazendo um “experimento” sobre como eles devem lavar as mãos? Explicamos sobre o vírus, mas falamos pra eles que também estamos com medo?
Estamos seguindo todo o protocolo de cuidados e achamos que assim sairemos ilesos, nos colocamos numa posição de defesa e falamos que não fazemos parte de um grupo de risco então está tudo bem? Mas está tudo bem mesmo? Porque deixamos de falar sobre o que sentimos para eles, sendo que eles já estão sentindo tudo isso e isso (sentir e não saber do que se trata!) os deixa bem mais angustiados!
Sinto ainda que nos colocamos numa postura defensiva onde não nos deixamos expressar este medo real, temos medo de sentir medo e tudo fica embolado. Sabe, moro numa cidade rural há uns 20 km de distancia do trabalho que fica numa cidade mais movimentada.
Quando estou em casa, no meu bairro, a vida tem seguindo normalmente e o medo não é tão forte, aí eu até relaxo, muitas vezes esquecendo deste assunto mundial. Quando volto ao trabalho, tudo muda, e a minha calma se esvai, começo a conversar com as pessoas e saber das notícias, dos relatos, então meu coração vai disparando, vou ficando ansiosa e sinto este medo: o medo de entrar em pânico e de não dar conta de sustentar e tranquilizar a minha filha.
Volto pra casa e tento “fingir” que nada está acontecendo, mas não temos como fugir do que está em nosso corpo, pois o medo vai dando sinais e escapando quando não percebemos, isso se não nos apropriamos dele.
Ontem fui lavar as mãozinhas de minha filha porque tinha brincado com tinta. Subimos no banquinho perto da pia e aproveitei a situação para explicar sobre a importância de lavar as mãos neste momento já que temos aí pelo ar, um bichinho, chamado vírus que passa de um pro outro pelas nossas mãozinhas e boquinha.
Neste momento, senti um friozinho na barriga pois os olhinhos dela foram ficando estáticos, brilhantes e vi que ela estava sentindo medo, ela estava projetando a minha angústia, o meu pânico e eu fui ficando insegura em falar sobre este assunto.
Mudei de tema, lavei as mãos dela e fomos comer. Depois deste episódio fiquei pensando em como movimentar em mim o medo para que eu possa ser porto seguro e permitir que ela também o sinta com segurança e que este “amigo medo” seja nomeado e colocado em seu devido lugar.
Enfim, esta reflexão me fez perceber que não tenho como amparar a minha filha se não permitir que ela sinta aquilo que seu corpo está manifestando, assim como eu me permito sentir. Ser exemplo e educar por exemplo, é ser o mais autentica possível, é estar conectada com o meu eu essencial, é sentir e expressar. E estes movimentos, muitas vezes sutis, são partes do nosso coração e não da nossa mente. Sejamos, portanto, porto seguro, onde nossos filhos possam navegar neste mar de emoções que nos envolvem e aprendem a cada dia a transitar como ondas, pelo oceano da vida!
Sobre a AUTORA:
Ana Blasi, Mãe da Flávia, Participante da Turma 9 do Zum Zum de Mães e apaixonada por educação e conexão
@blasi_ana