A maioria de nós, quando estamos grávidas pela primeira vez, pouco nos preparamos para o puerpério. Na verdade, estamos tão empolgadas com a gravidez, temos tanta coisa pra pensar, planejar e organizar (pré natal, tipo de parto, enxoval, quartinho do bebê, nome…) que, quando paramos para pensar como será nossa vida após a chegada do bebê, só conseguimos imaginar que tudo será lindo, colorido e feliz!
Mesmo que tenhamos lido algo a respeito do “terrível pós parto”, ou que alguma recém mãe tenha tentado nos alertar sobre, poucas de nós demos ouvidos, ou apenas ouvimos aquilo que nos convinha. E ainda, quando alguma mãe partilha conosco sua experiência, quantas de nós pensamos: “Nossa, que exagero!” ou “Que mãe ingrata!”. De fato, é necessário viver o puerpério. Pelo menos comigo foi assim!
Na minha primeira gravidez optei por ter um parto natural domiciliar. E para isso, me preparei, cuidei da alimentação, pratiquei yoga, participei de rodas de gestante, li muito sobre gravidez e parto e li um pouco sobre amamentação e cuidados com bebês. Para mim, (não sei se li em algum lugar ou se foi fruto da minha imaginação, acredito que tenha sido a segunda opção) bebês que nascem em casa são mais “calmos, comportados e dormem bem”. Sonho de toda mãe…
É incrível, quando você está com um recém nascido no colo, a pergunta que mais te fazem é: “Ele é calminho? Dorme bem?”. Eu também já fiz estas perguntas. Hoje, no meu segundo puerpério, entendo que a realidade por trás desta pergunta é uma mãe aflita querendo encontrar uma outra mãe com a qual possa partilhar a mesma dor, apenas para não se sentir sozinha. Mães com bebês que dormem a noite inteira não fazem este tipo de pergunta. E, como bem sabemos, são raros os bebês que dormem a noite inteira…
E Laís nasceu. Parto natural, em casa, rodeada de amor. Comparando –a com outros bebês, (ahhh, a maternidade tem essa mania horrível e destruidora de comparação. Comparamos nossos bebês: choro, sono, cocô, xixi, peso, altura, desenvolvimento e aprendizagem. Nos comparamos e comparamos os pais. CUIDADO!), ela era calma. Não teve cólica nem refluxo. Mas só queria colo, ficava dia e noite no meu peito e não engordava como os médicos gostariam. Quando dormia, eram 40 min, 1h, raramente 2h. O quartinho lindo e o berço, nunca foram usados, pois recorremos à cama compartilhada para que as noites ficassem menos pesadas.
A maternidade romântica que idealizei deu lugar à maternidade real. Assim, num piscar de olhos. E eu pude viver o puerpério. O desespero de noites mal dormidas e de não conseguir fazer nada que não fosse cuidar e amamentar meu bebê (Hoje eu entendo que fazia o mais importante de tudo, e que o “nada” que eu não conseguia fazer era realmente NADA). A dificuldade em lidar com amamentação e principalmente com os palpites alheios do tipo “Você não tem leite suficiente, por isso essa menina não dorme, é fome” ou “Seu leite é fraco, por isso ela está tão magrinha e não engorda”. A falta de ajuda física, pois tanto meus pais, meus sogros e a maioria dos amigos moram longe. As diferenças no modo de educar entre meu marido e eu. A falta de coragem de pedir ajuda e de assumir que não está sendo fácil.
É fato que, uma gravidez consciente, o modo como este bebê foi gerado, esperado e também como chegou ao mundo, influenciam sim no seu comportamento/personalidade não só quando bebê, mas durante toda a vida. Todavia, o tipo de parto não tem nada haver com a grande convocação que o puerpério nos faz. Somos chamadas à mudança, à desconstrução!
É preciso olhar para dentro, para nossa sombra, nossas feridas de infância. É preciso muito amor, disponibilidade e entrega. É preciso coragem. É preciso ouvir seu coração. É preciso viver um dia de cada vez, ou melhor, um segundo de cada vez… respirar. É preciso parar de criar qualquer tipo de expectativa com relação ao bebê, aos outros e consigo mesma. É preciso aceitar a sua transformação.
Confesso que demorei um pouco para aceitar e entender este turbilhão de mudanças que o nascimento de um filho trás. Por muitas vezes me peguei pensando: “eu queria tanto ser mãe, me preparei durante a gravidez, minha filha nasceu em casa cercada de amor e carinho, por que tem sido tão difícil este momento? O que eu fiz de errado?” (Olha a culpa, parceira das mamães, aparecendo por aqui fazendo com que eu me sentisse culpada pelo peso do puerpério).
Hoje, passando pelo meu segundo pós parto, consigo perceber a minha responsabilidade pelo que vivi após o nascimento da Laís. Percebo também como o autoconhecimento e a ausência de expectativas fazem a diferença. Puerpério é puerpério sempre, mesmo que seja o primeiro, segundo, terceiro ou quarto filho. Vai ter bebê chorando, bebê pendurado no peito, noites mal dormidas, cansaço… Mas pode ser mais leve. Comigo tem sido. Não em 100% do tempo, pois meu lado de querer dar conta de tudo muitas vezes ainda me sabota, mas na maior parte dele.
Só para dar um exemplo real, como já falei anteriormente, Laís vivia pendurada no peito e não engordava. Hoje, Gael mama em intervalos bem maiores do que ela mamava, engorda que é uma beleza e está sempre no alto da curva. Será que o leite ficou mais forte agora? O que quero mostrar com isso, além da relação do nosso estado emocional com a amamentação, é que é possível viver um pós parto mais leve.
Primeiramente, quero deixar claro que o que vou mostrar para vocês aqui é o que funcionou comigo. Sabemos que cada mulher é única, cada bebê é único, cada pós parto é único, portanto, o que funcionou para mim pode não funcionar para você, mas espero ao menos que sirva de inspiração.
Vou dividir com vocês 5 pontos que me ajudaram a deixar meu puerpério mais leve:
Bebês precisam de colo, de cuidado, de proximidade, de peito, de mãe. Quando eu entendi isso, parei de ficar tentando deixar minha filha no carrinho ou no berço. A cama compartilhada para mim foi fundamental para trazer leveza no meu pós parto e melhorar minhas noites de sono.
O entendimento da fusão emocional entre mãe e bebê me abriu os olhos para enxergar que o “mau comportamento” do meu filho é reflexo da minha sombra e por isso preciso trazê-la para a luz. Sabemos que bebês que dormem a noite inteira são raros, mas também não podemos achar normal um bebê que não dorme, ou que acorda a cada 30min. Esse bebê pode estar refletindo algum problema atual que esta “tirando o sono” da mãe, por exemplo. Por isso a mãe precisa resolver esta questão, se acalmar, comunicar isso para o bebê.
Para mim esta é uma das práticas mais difíceis, mas quando aceito de fato esta verdade, quanta leveza… A casa, a louça e a roupa suja podem esperar. No caso de mães de segunda viagem, há de se ter um cuidado maior, pois além do bebê, há o filho mais velho, que merece muita atenção, e exclusividade em alguns momentos. Neste ponto, é muito importante a ajuda de terceiros (pai, avós, tios, amigos…) tanto com o bebê ou com o outro filho, que em muitis casos ainda é um bebê também. Mas nem sempre podemos contar com esta ajuda, e neste caso, o que funciona muito comigo é o sling. Gael fica agarradinho em mim enquanto jogo bola ou brinco de pega pega com Laís. E nós três aproveitamos muito.
É fundamental para nossa sanidade mental, e na maioria das vezes deixamos o autocuidado totalmente de lado por anos depois que nos tornamos mães. Precisamos ter um minuto para nós mesmas, fazer aquilo que gostamos, esvaziar nossa mente. Meditar, respirar, ler um livro, caminhar, dançar… E não necessariamente precisamos nos afastar do bebê para isso. Se você gosta de dançar, por exemplo, pode colocar uma música e dançar com seu bebê no colo ou no sling. Eu amo dançar, e aqui onde moro tem um grupo de danças de mães com bebês no sling. É uma delícia! Danço com Gael e Laís também leva suas bonecas para dançar com ela. Além da prática da atividade física, é um momento de partilha com outras mães, que é o próximo tema que vou falar, a rede de apoio.
Ajuda. Sim, precisamos de ajuda. E se possível, muita ajuda. E acreditem, para a maioria das mães, aceitar ou pedir ajuda é o ponto mais difícil. A grande parte das mulheres de hoje em dia se sentem orgulhosas por serem fortes, autossuficientes, por conseguirem dar conta de tudo sozinhas. Por isso, quando se tornam mães, não têm coragem de assumir para si mesmas que precisam de ajuda. Infelizmente, estas são as que mais sofrem no pós parto. E não falo só de apoio físico, mas também de apoio emocional. O quanto é enriquecedor compartilhar nossas angústias, medos, desafios, e também as conquistas, aprendizados. E para quem não tem rede de apoio ainda, não tem mais desculpas para continuar sem. A grande vantagem do mundo digital para nós, mamães, são as redes de apoio virtuais. O Zum Zum de Mães é um exemplo. Para mim, fazer parte do Zum Zum é essencial para trazer leveza não só para o pós parto, mas para a maternidade, para a vida.
Texto escrito por Amanda Balielo, Mãe da Laís e do Gael, Coach de Mães e participante da turma 4 do Zum Zum de Mães.
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