A maioria de nós vive correndo de um lado para o outro. Temos horário para levantar, comer, trabalhar. Parece que nunca temos tempo para fazer tudo o que desejamos e o que “temos que fazer”.
Entre os afazeres de casa e do trabalho, muitas vezes sobra pouco tempo para os filhos. Não conseguimos verdadeiramente priorizar o que muitas vezes dizemos por ai que é nossa prioridade: nossos pequenos. Justificamos para nós mesmas dizendo que o que importa é a qualidade e não a quantidade de tempo. Explicamos aos nossos filhos que mamãe e papai trabalham muito porque tem que pagar pela casa, escola, as roupas, brinquedos…
Nos sentimos culpados e substituímos o carinho e a presença que “não temos tempo de dar”, alias que não priorizamos dar, por bens materiais, jogos e filmes para distrair e manter as crianças ocupadas. Esses brinquedos as deixam momentaneamente entretidas e gratificadas, mas a longo prazo trazem consequências que impactarão todo o sistema familiar.
Cristina Ramirez Roa professora de Psicologia Evolutiva e Educação da Universidade de Barcelona, tem estudado este fenômeno que se chama “A Síndrome da Criança Super Presenteada”. Segundo ela, as crianças que ganham brinquedos e joguinhos em excesso são “crianças com baixa tolerância a frustração pois as enchemos de presentes e gratificação sem razão alguma. São crianças que valorizam pouco o que tem porque não precisam se esforçar-se para consegui-lo; crianças muito mercantilistas, que catalogam as pessoas pelo preço do presente que recebe e não pelo valor emocional e afetivo; e quando recebe algo já pensa imediatamente no próximo presente que conseguirá.”
Acontece que como não consegue o que realmente necessita, nunca se sentirá satisfeito e seguirá pedindo mais e mais objetos.
E o que as crianças querem de verdade? O que estão solicitando por trás desta montanha de brinquedos?
Possivelmente estamos ensinando nossos filhos a substituir nossa presença por estes brinquedos. Em muitos casos as crianças aprendem também a não mais pedir o tempo dos pais, que estão muito ocupados com os afazeres mais importantes e desde pequenos nossos filhos se sentem menos importantes.
Dessa maneira podemos dizer que os pedidos de um brinquedo novo, de um chocolate, de mais um pouquinho de filme na TV, são pequenos sintomas perto de uma doença bem mais complexa.
Escutar o que as crianças realmente estão pedindo: nossa atenção, disponibilidade e presença, muitas vezes nos permite ir de encontro à maneira como nossa sociedade está organizada e a forma na qual nos submetemos e vivenciamos isso.
E a partir deste encontro deixo o convite para QUESTIONARMOS nosso estilo de vida:
Talvez podemos pensar que as crianças nos guiam em direção a verdadeira natureza do ser humano e nos trazem uma mensagem de que podemos viver com menos e viver melhor. E que esta chegando o momento de reordenar nossas prioridades e recordar que o mais importante são as pessoas que estamos formando em nossos lares e que necessitam nosso tempo: em qualidade e quantidade também.