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Hoje em dia percebo que muitas mulheres vivenciam a maternidade de maneira solitária, se fecham em seus lares e vivem em um silêncio avassalador. Em um dos momentos em que mais precisam de apoio em suas vidas, muitas mães se sentem sozinhas e abandonadas em suas experiências.
Cada mulher vai vivenciar a sua gestação de maneira única e a medida que a barriga cresce ela vai construindo interna e externamente este novo papel que vai desempenhar, o de ser mãe.
Este período de gestar um Ser é muito mais importante do que muitas de nós imaginamos. Ao meu ver o que torna este momento tão sagrado é o “simples” fato deste bebê estar intimamente conectado com esta mulher e ser capaz de sentir em tempo real tudo que está acontecendo com sua mãe. Na barriga mãe e filho vivem em unidade, naquele momento eles são um só!
Muitas mulheres vivenciam a gestação direcionado grande parte de seus pensamentos e ações apenas para questões de ordem prática, tais como o enxoval, a decoração do quarto, o desenvolvimento fisico do bebê, as consultas com o obstetra. Agora se olharmos para além dos olhos e elevarmos nossos pensamentos conseguiremos imaginar que este corpo do bebê não é apenas matéria, mas também há ali um corpo sutil, emocional, e espiritual.
E isso talvez fique mais claro quando este bebê nasce, neste momento há uma ruptura física entre mãe e filho, para nossos olhos eles já não são mais um só, mas a unidade de ordem emocional ainda persiste. Quero dizer que este bebê que saiu das entranhas de sua mãe ainda permanece conectado emocionalmente com ela.
E esta grande ruptura que é o momento do nascimento de um ser é para a mulher um momento de grande revelações e movimentos internos, nos quais a percepção de si mesma e do mundo podem sofrer um impacto profundo.
O puerpério é o momento em que percebemos que muitas de nossas expectativas e idealizações, construídas ao longo de nossas vidas, não correspondem mais à realidade. A rotina, a vivencia e a relação do bebê real e da família real podem ser muito diferentes das fantasias construídas durante a gestação.
É claro que há sim uma parte deste processo que pode ser belo e realizador e hoje quero me deter a esta outra parte que também existe e é um tanto quanto sombria e angustiante.
Vamos lidar com um bebê chorando, com a privação de sono, com o peito dolorido, com emoções intensas e às vezes inimagináveis para este momento, pensamentos nem sempre agradáveis, com o pai que está tentando se encontrar nesta nova configuração familiar, às vezes, com outros filhos que também estão se acomodando com a presença deste novo membro. Estas e outras infinitas possibilidades surgem e não se diferem tanto, de um lar para o outro.
Há aqui um ponto em comum que conecta todas estas mulheres: o bebê devido a suas capacidades intuitivas e sutis vai revelar aspectos sombrios da alma de sua mãe. Ele sente como próprio tudo o que sua mãe sente, principalmente o que ela não consegue reconhecer, ou seja, aquilo que ela relegou à sombra e não faz parte do campo de consciência desta mulher.
Dito de outra maneira, ademais das mudanças na rotina e dinâmica familiar um novo bebê revela vários aspectos do mundo interno desta mulher. Muitas vezes medos, angústias, tristezas, raivas e dúvidas se abrem de maneira muito intensa para esta mulher, especialmente no pós-parto. Mesmo estando felizes com a maternidade, podemos sentir tristeza e até uma vontade de reaver a vida que tínhamos antes. Novas dinâmicas nos relacionamentos, mudanças físicas e emocionais, a experiência de ter um bebê em desenvolvimento intenso, além de várias outras adaptações postas pelas vivências do pós-parto, são desafiadoras e muitas vezes angustiantes.
E exatamente por constatar a existência deste ponto tão fundamental que passa com cada mulher depois do nascimento de seu filho, que sinto que precisamos nos unirmos e criarmos espaços confiáveis entre mulheres, nos quais possamos falar abertamente sobre o que
está acontecendo no silencio, não tão silencioso, de nossos lares.
Precisamos criar “redes de apoio” que nos ajudem num primeiro momento nos aspectos práticos, nos cuidados com a casa, comida, com as contas a pagar, para que possamos mergulhar profundamente na experiência da maternidade, conectarmos e sentirmos nosso filho em sua totalidade e sutileza. Para pouco a pouco irmos compreendendo as necessidades físicas e afetivas deste pequeno. E tudo que esta conexão com este ser a principio extremamente frágil, dependente e demandante vai acessar em nosso ser.
E num segundo momento a partir dos movimentos internos provocados por este mergulho na relação mãe-bebê sinto que precisamos nos conectar com outras mulheres que já passaram ou estão passando por este processo. Mulheres que sejam capazes de nos escutar com compaixão e com respeito, pois elas também já vivenciaram isso e sabem exatamente como é acessar este espaço. Mulheres que saibam silenciar-se internamente e se abrirem verdadeiramente paraescutar outras mulheres. Para assim suavizarmos os desafios da maternidade por meio do suporte mutuo.
E se você que está lendo este texto se sentiu tocada por estas palavras e deseja se unir a outras mulheres e encontrar este apoio, a minha sugestão é que você comece a se movimentar. Vá em direção da sua rede de apoio, não fique parada esperando que ela venha até você.
Vou te contar como consegui criar duas redes de apoio presenciais durante os primeiros anos de vida dos meus dois filhos. Quando ambos tinham por volta de 6 meses senti que era o momento de começar a me movimentar mais, não tinha tanta clareza do que estava fazendo. E simplesmente comecei a frequentar uma pracinha que tinha perto da minha casa diariamente e nos mesmos horários. Ia para levar os meninos para tomarem banho de sol e respirarmos um pouco, pois naquela época eu morava em apartamento.
Aos poucos fui me dando conta que outras mães passeavam por ali também. E comecei a me aproximar delas. Geralmente as primeiras conversas giravam em torno da idade do bebê, do nome dele, se moravam ali por perto. E quando sentia abertura combinava de nos encontrarmos no dia seguinte e aos poucos com o passar das semanas outras mães foram se aproximando… E as relações foram se fortalecendo tanto a minha com as outras mulheres, quanto a das próprias crianças que já se reconheciam, compartilhavam brinquedos e escutavam as historias de suas mães.
Para você ter uma idéia quando me mudei de Belo Horizonte para o Chile em Agosto de 2016, meu filho mais novo tinha 1 ano e nove meses e naquela época já éramos mais de 12 mães que nos reuníamos diariamente na pracinha. Era um dos momentos mais especiais do meu dia e me permito dizer que para elas também. Compartilhávamos sobre o sono das crianças, amamentação, relação com nossos companheiros, nossa vida profissional, nossos desejos que vão além desta relação intensa com as crianças, sobre nossas emoções mais intensas, sobre os desafios diarios, assunto era o que não faltava. Todas estas conversas e confidencias eram sempre envolvidas por respeito, empatia e cumplicidade entre nós.
Estar entre mulheres ativa nosso Ser feminino, nos abre para aceitarmos nossas imperfeições, nossos desgastes diários, nossa dores, nossas confusões… Nos permite acessar uma sensação de que todas transitamos em espaços internos muito similares e que não há porque esconder.
Podemos nos unirmos, nos revelarmos e nos acolhermos. Conectarmos com espaços de mais autenticidade, positividade, criatividade, amor e sabedoria!
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