Quando nós escutamos falar sobre vínculo e conexão muitas vezes queremos uma fórmula que sirva para todas as mães e para todos os filhos, não é mesmo?
E se tivesse essa fórmula talvez fosse bem mais fácil, já que só precisaríamos seguir o passo a passo, usando mais o nosso lado racional, a nossa mente.
Contudo, quando vamos para a vida real com uma, duas, três ou mais crianças, as coisas não são uma ciência exata, como gostaríamos que fosse, não é mesmo?
E é aí que mora a grande oportunidade…
Oportunidade de cada uma descobrir o seu jeito, através da observação deles e de nós mesmas… Através da entrega para essa relação, para conhecer os seus filhos e para se conhecer nesse processo.
E ainda de despertar a sua intuição para entender as necessidades do seu filho.
Foi nos primeiros meses de vida, quando minha filha ainda era tão pequena que descobri um grande segredo:
“_ Se você quiser ter vínculo e conexão com sua filha, vai precisar ter disponibilidade emocional para isso”. Assim eu pensei.
E, não posso negar que já havia estudado sobre o assunto, porque para mim não é algo natural falar sobre sentimentos, entender as emoções. Precisei fazer um movimento para conseguir praticar isso e sigo aprendendo.
Estar presente fisicamente não é a mesma coisa que estar presente emocionalmente.
Estar presente emocionalmente precisa ter um contato olho no olho, precisa se interessar pelo que o outro está dizendo de forma verbal ou não verbal. Até mesmo com os bebês conseguimos fazer isso, eles se comunicam conosco e sentem-se ainda mais necessitados por essa conexão.
Então comecei a trabalhar mais isso comigo mesma…
Quando minha filha ainda era bebê, procurei conversar muito.
Conversava sobre a rotina, sobre o que eu estava fazendo, se fosse trocar a fralda, por exemplo, já começava a falar antes que iria trocar a fralda e, durante, contava o que estava fazendo. Para que ela se sentisse mais calma sabendo o que iria acontecer e o que estava acontecendo.
Nessa fase de bebê que ainda não tem muita interação, eu também usava muito o toque, as massagens, ficar no colo, no sling e o próprio contato da amamentação. Isso auxiliava muito que ela se sentisse mais calma, principalmente porque até 3 meses e meio ela ainda tinha muitas cólicas.
Também comecei um movimento de falar sobre sentimentos. Mostrar que eu entendia o que ela estava sentindo. E conforme ela foi crescendo e desenvolvendo a linguagem, ensinei que reconhecesse seus próprios sentimentos e como ela pode fazer para se acalmar.
E às vezes falava sobre os meus sentimentos, sobre o que eu estava vivendo, mas deixando claro que aqueles sentimentos eram minha responsabilidade e não estavam relacionados com a minha filha, pois ela é um motivo de muita alegria. Também procuro não responsabilizar outras pessoas pelo que estou sentindo, principalmente quando converso com ela, para que ela não crie uma imagem negativa de outras pessoas, devido a algo que eu falei.
Apenas, busco falar como estou me sentindo e que estou olhando para aquela situação e procurando um jeito de melhorar.
Quando fazemos essa comunicação com os nossos filhos, também é importante deixar claro que você é o adulto da situação, que você consegue se cuidar. Para que a criança não gere uma crença de que precisa cuidar de você.
Comunicar-se verdadeiramente com os filhos é colocar em palavras aquilo que eles já estavam percebendo e muitas vezes sentindo também. Eles percebem e sentem o que está acontecendo, mas precisam de um adulto para auxiliá-los a traduzir de forma racional.
Quando minha filha tinha ainda 10 meses, tive uma experiência bem marcante com a “Comunicação Mãe e Filho”. Na época eu estava passando por uma situação de muita oscilação de humor, desequilíbrio emocional e havia começado o curso da Clarissa. Aprendi com ela e com a médica e psiquiatra Dra. Eleanor Luzes sobre a comunicação que liberta nossos filhos de sentir as nossas dores. Às vezes eles tomam para si essas dores, como se fossem deles, numa tentativa de trazer à tona para a consciência da Mãe ou do Pai aquilo que não está sendo visto.
E nessa época, mesmo eu estando presente 24 horas com minha filha eu estava passando por uma situação bem desafiante e, se quer entendia o que estava acontecendo comigo.
Minha filha apresentava o seguinte comportamento, ela ainda não focava os olhos, ainda não olhava direto para os olhos das outras pessoas, não conseguia focar para olhar direto para objetos também.
E aquilo começou a me incomodar, principalmente porque eu já havia percebido que tinha relação com o que eu estava sentindo e vivendo.
Então usei a técnica de conversar no sono REM. Você sabe o que é sono REM?
Segundo o Instituto do Sono, o sono REM caracteriza-se pela atividade cerebral de baixa amplitude e mais rápida, por episódios de movimentos oculares rápidos e de relaxamento muscular máximo. É a fase onde ocorrem os sonhos. O sono não REM e o sono REM repetem-se a cada 70 a 110 minutos, com 4 a 6 ciclos por noite.
REM significa Rapid Eye Movement (“movimento rápido dos olhos”), sabe quando seu filho ou um adulto está dormindo e os olhos ficam se mexendo?
É aquele momento que você coloca seu filho para dormir depois de um bom tempo e ele está em um sono “mais pesado” e não acorda. Nessa fase a criança pode sorrir ou chorar dormindo e mesmo assim não acordar.
Então, em uma certa noite depois de colocá-la no berço, esperei um pouco até ter certeza que não iria acordar e comecei a falar sobre os meus sentimentos.
Falei que estava tomando consciência sobre o que estava acontecendo e que já estava cuidando disso, para que ela não mais precisasse dividir aquilo comigo no nosso processo de fusão emocional. Também aproveitei o momento para contar sobre o parto e sobre algumas situações que talvez tivessem deixado algum trauma. Pedi desculpas por algumas coisas também.
Depois dessa conversa que tivemos, no outro dia ela já estava focando mais o olhar! Naquela semana, gradativamente, ela passou a focar o olhar!
Foi uma experiência mesmo incrível e para mim ficou evidente o poder que tem essa comunicação.
Durante o dia eu já conversava sobre os sentimentos, mas falando de um jeito que uma criança entendesse. Já no sono REM, segundo a Dr. Eleanor, podemos falar como se fosse com um adulto.
Essa comunicação diária, estabelecer um diálogo, ouvir a criança, olhar nos olhos, se interessar pelo que elas querem nos dizer com palavras ou por linguagem não verbal, gera uma ligação forte entre pais e filhos.
Essa disponibilidade emocional de observar, sentir e acolher a criança é um investimento na relação familiar e, certamente, a longo prazo você perceberá cada vez mais os resultados da confiança que estabeleceram juntos.
Ainda, eu não poderia deixar de contar sobre a importância que vejo em brincar com minha filha. Nas brincadeiras conseguimos reforçar tudo isso que falei anteriormente, sobre o diálogo, ter empatia e gerar conexão.
E tem um ponto que considero fundamental: quando brincamos com os filhos eles enxergam em nós uma amiga.
A cada dia que passa, aprendo mais e mais… criar filhos não tem mesmo um manual, mas sinto que quando buscamos nos conhecer, entender a nós mesmas fica mais fácil para entender e conhecer também os nossos filhos.
Ter disponibilidade emocional para algumas pessoas pode ser natural, mas para outras pode ser algo bem desafiador, pode ser que você tenha que criar um novo hábito.
Crescemos e nos desenvolvemos com base nos valores, nas nossas crenças, aquilo que recebemos e aprendemos. E é bem comum que na sua criação possa não ter tido um espaço para o diálogo e, talvez, até falar sobre sentimentos fosse visto como um sinal de fraqueza.
Contudo a vida é agora. A medida que eu reconheço e vou cultivando gratidão por tudo que aconteceu, da forma que aconteceu, honro minha história, minhas raízes e me fortaleço para ir além daquilo que recebi.
Somos quem somos por termos vivido exatamente o que vivemos.
Quanto mais pudermos cultivar essa gratidão, mais podemos olhar para trás com amorosidade e usar essa força de amor e gratidão para construir a história que queremos ter com os filhos e com o marido.
A vida em família é começar e recomeçar…
Ainda está em tempo de fortalecer esses laços, esse vínculo com seus filhos.
Imagine-se com 80 anos, como você vai querer contar a sua história? Como você vai querer contar a história da sua família?
Nossa família, nossos filhos são o principal legado que deixaremos nesse mundo. Nossos filhos são a continuidade da nossa história e dos nossos antepassados. São o principal caminho para construirmos a paz no mundo!
Essa paz que precisamos encontrar em nós primeiro e depois expandir para o mundo!
A vida em família tem seus desafios, mas também pode ter paz, alegria e amor. Desperte o seu olhar para tudo que tem de bom na sua vida hoje e construa uma vida melhor para você e sua família!
Com carinho,
Priscilla Soares.
Autora:
Esse texto foi escrito por: Priscilla Soares, Coach de Mães, participante do Zum Zum e autora do Blog http://www.maecomcarinho.com/
Auxilia a mãe a conciliar sua vida pessoal, familiar e profissional com mais equilíbrio e a melhorar seu relacionamento familiar.
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