Para o meu primeiro Amor…

Minha mãe engravidou de mim com 35 anos quando eu já tinha um irmão e uma irmã mais velhos. Logo no comecinho da gravidez, no banheiro de casa, ela teve um sangramento seguido do que pareceu ser um aborto espontâneo. Quando foi ao médico foi constatado que ela ainda estava grávida, não foi possível fazer uma ultrassonografia para saber o que tinha de fato acontecido, o plano de saúde não cobria e meus pais não tinham a grana para fazer o exame particular.

Existiam duas suspeitas, a primeira era que haviam dois fetos e um deles tinha sido abortado. A segunda era a de um único feto com problema de má formação, e que alguma “parte” dele havia sido expelida. Minha mãe decidiu corajosamente prosseguir com a gravidez, não importava o que houvesse, ela queria o bebê do jeito que ele viesse. Com o meu nascimento a primeira opção foi confirmada, ela havia perdido meu irmão gêmeo. Eu sempre soube dessa história e sempre a contei sem nenhum pesar, sem nenhuma emoção minha, mas sempre com respeito e empatia a dor da minha mãe, afinal perder um filho é sempre muito difícil.

Até que comecei a fazer terapia individual com a Clarissa e logo de início, algumas emoções em relação a esse fato vieram à tona. Pude enfim acessar a dor da minha perda, eu perdi o meu primeiro amor, a gestação gemelar é a única situação em que o primeiro amor do bebê não é a mãe e sim o irmão, pude validar essa saudade e esse luto.

As sessões de terapia, junto com reike e recentemente o Thetahealing me ajudaram a mapear onde estão impressas as marcas dessa perda e como elas impactaram na  minha vida até o presente. Me trazendo repetições de padrões inconscientes que me impediam de acessar todo meu potencial, me levando sempre ao mesmo lugar de medo e iminência de perigo, e o pior de tudo, passando adiante essa herança para minha filha.

Tomando consciência disso tudo, paro por aqui e escolho a partir de agora seguir de uma maneira diferente, deixando para traz crenças que me impediam de ser quem eu vim ser, deixando minha filha ser quem ela veio ser. Sou feliz e grata pelos caminhos que me trouxeram até aqui. Emocionada e honrada com a minha história, agradeço ao meu irmão por ter escolhido compartilhar comigo o início, a beira dessa jornada.

Para o meu primeiro amor e como marco de um novo caminho,  escrevi:

Meu irmão, meu anjo caído que me trouxe até o útero abrigo.
Ciente ou não do que viria a seguir e se iríamos conseguir, prosseguir.
Meu primeiro amor prometido, perdido.
A estrela que se apagou diante dos meus olhos para renascer em outros orbes, longe do alcance das minhas mãos ainda em formação.
Nos meus primeiros registros o medo, a culpa e a solidão. Vagando na imensidão vazia onde antes outro coração batia.
Dividida entre a cruz e a espada, entre vontade de te rever e a necessidade de crescer, renascer.
De repente tudo fica tranquilo e pacato, sinto para além da matéria que nosso laço está intacto, nato.
Com o pensamento ainda meio torto,  relembro que esse era exatamente o nosso acordo.
Estou bem, inteira e perfeita, prometi ansiosa para minha mãe temerosa, corajosa.
Mais de 30 anos depois e eu sigo cumprindo o combinado, mesmo quando estou aos cacos.
O luto veio enfim, a verdade sobre o que essa perda foi para mim.
Uma saudade sem nome, do inacabado, do que não foi vivido, dividido.
Gratidão pelo tempo que tivemos juntos ainda que tenha sido curto, ainda que tenha sido duro.
Gratidão meu anjo amigo, que me trouxe de mãos dadas até o útero abrigo, me trouxe até o portão da minha evolução te agradeço com todo meu coração.                                                               
E diante da vastidão que o universo oferece  de possibilidades, me sinto honrada de dividir contigo as primordiais verdades.

Esse texto foi escrito por: Vivian Pessoa, geóloga e mãe da Ive de 2 anos e 10 meses e participante da turma 5 do Zum Zum de mães.

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@viviancpessoa