Expectativas e Desafios da Segunda Gestação

No texto que escrevi mês passado, contei um pouco sobre a reviravolta que os filhos fazem na nossa vida, e deixei algumas perguntas para você refletir se quer ou não ter mais de um filho (a).  Para você que leu e decidiu que sim, ou pra você que não leu, mas já está grávida de novo, espero que este texto possa te ajudar de alguma forma.

O ser humano, em geral, tende a criar muitas expectativas a respeito de tudo e de todos. Quando uma mulher fica grávida pela segunda vez, é natural que ela espere que a atual gestação seja como foi a primeira, ou pelo menos bem parecida, ou quem sabe mais tranquila e melhor. Por isso, algumas gestantes de segunda viagem, principalmente as que não planejaram conscientemente a gravidez, entram em pânico ao se descobrirem grávidas, ou não. Este sentimento é o reflexo das memórias que guardamos da primeira gravidez e também do primeiro pós-parto, e que são trazidas para o consciente no momento em que confirmamos o resultado positivo. Podemos sentir paz, se na primeira gestação foi tudo bem. Ou não, se foi uma gestação difícil, muitos enjoos, dores, desconfortos em geral… Não vou comentar aqui sobre os sentimentos que vêm a tona devido às memórias do pós-parto, guardo-os para outro momento.

Vou compartilhar com vocês o que aconteceu comigo, que é também semelhante ao que aconteceu com algumas mães que conheço e atendo.

A primeira gestação

Minha primeira gravidez foi bem tranquila, não tive enjoos, não vomitei… Eu havia parado de tomar o anticoncepcional há 4 meses, por isso, o atraso da menstruação me fez desconfiar que eu poderia estar grávida. Dito e feito, exame positivo!

Descoberta a gravidez, parece que uma “chavinha virou”. Eu só conseguia pensar nisso, o milagre da vida. E eu agradecia a Deus por estar experimentando este milagre. O tempo todo eu ficava imaginando o bebê crescendo dentro de mim. Comecei a ler sobre o assunto, acompanhava semana a semana o desenvolvimento do bebê, o meu ganho de peso, o crescimento da barriga. Também comecei a pensar sobre o parto, troquei de médico (busquei um que aceitasse minha decisão de parto natural), participei de roda de gestantes.

Durante toda a gestação não tive fome em excesso nem vontades estranhas. Pratiquei yoga (eu já praticava antes da gravidez, continuei até 36 semanas), melhorei minha alimentação, cuidei mais de mim, conectei-me  bastante com minha filha. Curti muito minha barriga e cada movimento no meu ventre. Conversava e cantava frequentemente com ela. Único desconforto que eu tive foi o sono… como eu tinha sono! Mas nos dias de folga eu aproveitava e dormia…ahhh como eu dormia! Acordava mais tarde e após o almoço ainda tirava aquele cochilinho esperto. Eu tinha tempo!

A partir do oitavo mês comecei a sentir o incomodo da barriga pesando. Foi ficando mais difícil encontrar uma posição para dormir, xixi era quase toda hora, as costas e a região do púbis doíam. Mas tudo dentro do esperado, já estava na reta final e logo eu iria ver o rostinho da minha filha, segura-la em meus braços, sentir o seu cheirinho.

Na 37ª semana meu tampão começou a sair e as contrações de treinamento começaram a ficar mais constantes. Com 38 semanas e 2 dias Laís nasceu. Tivemos um parto domiciliar, conforme nos preparamos e planejamos.

Segunda Gestação: As expectativas

Conforme já falei no texto A maternidade como oportunidade de autoconhecimento”, engravidei do Gael quando Laís tinha 1 ano e 6 meses. Assim que confirmei o teste positivo, os sentimentos que me invadiram no momento foram gratidão, por mais uma vez ter a oportunidade de experimentar em meu corpo o milagre de uma nova vida, e ao mesmo tempo medo, pelo pós-parto que me esperava. Eu não tive medo pela gravidez, mas pelo que viria depois. Também fiquei apreensiva com a reação que meu marido teria, pois não estava nos nossos planos uma segunda gravidez naquele momento, tínhamos resolvido adiar um pouco a chegada do segundo filho para focar em algumas questões profissionais. Para minha surpresa, ele me abraçou com um sorriso no rosto, enxugou minhas lágrimas e disse que se Deus tinha nos mandado este filho, então nós iriamos amar e cuidar, assim como amamos e cuidamos da Laís. Ouvir estas palavras foi relaxante.

Passado o momento do susto e do êxtase da descoberta (mais susto do que êxtase!) hora de parar e rever os planos. Eu tinha iniciado minha formação em Coaching fazia pouco tempo, e em paralelo tinha acabado de entrar para o ZumZum. Estes dois fatos estavam ajudando muito no meu processo de autoconhecimento, eu estava começando a entender várias questões do meu primeiro pós-parto e da relação com minha filha, assim também como da minha vida profissional. Tudo estava indo muito bem.

O plano naquele momento era seguir firme e forte no ZumZum, nos estudos do Coaching, e no trabalho no mundo corporativo (Para quem não sabe, eu sou Engenheira de Alimentos, e na época trabalhava como Supervisora de Produção de uma empresa de refrigerantes, a maior do ramo no mundo). Minha grande expectativa era aproveitar o tempo da gravidez e as folgas do trabalho para me dedicar à formação de Coaching, com o intuito de antes de o Gael nascer eu já estar com o diploma em mãos e, deste modo, fazer uma transição de carreira tranquila após o nascimento dele (#sóquenão). Eu só esqueci que, além de grávida, eu tinha uma filha pequena para cuidar, casa para organizar, comida para fazer…

Eu também esperava que a gravidez fluísse de maneira leve, e que o pós parto fosse diferente e mais fácil.  A expectativa era que tudo fosse mais ou menos como foi na gravidez da Laís. Apenas com relação à DPP (Data Provável do Parto) eu tinha uma expectativa diferente da que tive na primeira gestação. Eu sempre achei que a Laís fosse “atrasar” e nascer após 40 semanas, e como já disse, ela nasceu com 38 semanas e 2 dias. Em virtude disso, eu esperava que Gael fosse “adiantar”, me dar os mesmos sinais que a irmã (tampão saindo uma semana antes, pé inchando no dia anterior ao nascimento) e nascer antes mesmo das 38 semanas completas.

Segunda Gestação: Os desafios

Foram pequenos, simples e sutis. Olhando de fora, há quem diga que nem foram desafios. Na verdade, talvez este tenha sido o maior de todos os desafios, identificá-los e driblá-los.

Lembram quando eu disse que assim que descobri a minha primeira gravidez uma “chavinha virou”? Pois bem, na segunda eu não encontrava a tal “chavinha”. No início, várias vezes eu precisava parar e pensar: “Eu estou grávida.” Ou às vezes, quando eu começava a reclamar de sono e cansaço, eu era lembrada pelo meu marido: “Lógico, você esta grávida!”.  Como eu também não tive enjoos, levou certo tempo para me acostumar que havia uma vida crescendo dentro de mim. Acredito que a rotina corrida que eu já tinha colaborou com isso. Afinal, como já disse, era o trabalho fora de casa, os afazeres domésticos, a vida de mãe de um bebê que ainda mamava no peito (sim, Laís ainda era um bebê, não tinha nem 2 anos), os estudos…e além de tudo isso eu também estava grávida. Eram muitos papéis ao mesmo tempo, e o mais recente, o de gestante, ainda não estava tão incorporado. Quando eu me dava conta que eu não estava agindo e pensando como grávida, vinha a culpa…

Ahhhh, a culpa materna… aquela que a gente insiste em querer carregar. Eu me sentia culpada por não estar o tempo todo pensando no meu bebê, falando com ele, cantando para ele. É estranho, mas no início eu não me sentia grávida, e eu me culpava por isso. Foi necessário a barriga começar a crescer e eu sentir os movimentos do bebê no meu ventre para realmente ter a consciência que tinha uma vida se desenvolvendo dentro de mim. E ainda assim, muitas vezes eu me sentia em dívida com me bebê, pois na correria do dia eu pouco tinha interagido com ele.  A noite, depois que a pequena já estava dormindo e eu me deitava, era o momento que eu conversava com ele, pedia perdão e também me perdoava por estar me cobrando tanto.  Sim, eu precisava me perdoar, pois não fazia sentido me culpar por algo que muitas vezes eu não conseguia oferecer. Afinal de contas, eu tinha minha pequena que me demandava muito e que estava sentindo a chegada do irmão.

E falando nisso, este foi um dos desafios, preparar a Laís para o nascimento do irmão. No Texto “Como identificar o momento do desmame”, eu contei para vocês que quando fiquei grávida do Gael a Laís ainda mamava em Livre Demanda e eu não pretendia desmamar. Aos poucos fui reduzindo as mamadas para apenas o momento do soninho. No início foi um pouco desafiador, mas conseguimos. O desafio maior foi lidar com as explosões emocionais dela, que nada mais eram do que meu espelho. Eu andava estressada e descontente com o trabalho, cansada. Além disso, meu marido estava em um momento profissional delicado e também super estressado. Em resumo, estávamos com os nervos à flor da pele. E pra completar, um bebê a caminho indicando que em breve mamãe não seria mais só dela. Lógico que nossa pequena nos mostrava isso da maneira que ela conseguia, com gritos, choros, esperneios… Não foi fácil!

Sabem aquelas dores que eu comentei que comecei a sentir lá pelo sétimo/oitavo mês da gestação da Laís? Elas apareceram por volta do terceiro mês, e me acompanharam até o final da gestação. No começo até que foi um pouco mais tranquilo, como meu marido é osteopata, ele fazia algumas manipulações e as dores sumiam, mas após uma ou duas semanas apareciam de novo. Só que elas vinham com tudo. Quando eu descia escadas o osso do púbis doía demais! Nos últimos meses, o marido manipulava, a dor ia embora, dois dias depois voltava. Sério, eu me considero bem resistente para dor, porém sentia as vezes que não ia aguentar as costas e o púbis. Eu desejava que o Gael nascesse o quanto antes só para acabar com essas dores.

Assim como na primeira gravidez, eu tive muito sono. Todavia, eu não tinha como dormir e descansar da maneira que eu fiz antes. Laís ainda acordava bastante a noite para mamar, e nos dias da minha folga, ela queria brincar. Eu até conseguia tirar um cochilo com ela após o almoço algumas vezes, mas não era sempre. Por causa da formação que eu estava fazendo, qualquer tempinho que a Laís dormia eu queria aproveitar para estudar, assistir as aulas tanto do Coaching quanto do ZumZum. E aí o sono e o cansaço só acumulavam. Tinha dias que eu dormia na frente do computador estudando.

Fui começando a ficar ansiosa e estressada, pois eu não estava rendendo como gostaria de estar. E ao mesmo tempo, não estava curtindo minha gravidez e nem os últimos meses de ser mãe exclusiva da Laís. Eu estava tão preocupada com o futuro, pensando que eu precisava urgente terminar a formação, que deixava de viver o momento presente. E o mais engraçado é que uma das premissas fundamentais que aprendi com o Coaching e também com o ZumZum é estar presente, viver o presente. Por isso para mim este foi um grande desafio durante a gestação. Imaginem sem o Coaching e o ZumZum, com certeza teria sido pior!

Aprendizados

Apesar de saber que cada gravidez é única, portanto diferente, a maioria de nós tende a insistir em esperar que sejam iguais, ou ao menos parecidas. Eu, por já ter parido uma vez, julguei que tudo estava sob meu controle, quando na verdade eu não tinha controle de nada.

Gael, com todo seu amor, me chamou a olhar mais para dentro, para minhas emoções. É incrível como ele mexia na minha barriga muito mais que a Laís, me chamando a atenção quase que a todo o momento, como se estivesse falando comigo, me pedindo para estar presente. E assim ele me mostrou que muita coisa ainda estava fora do lugar. Mesmo praticando yoga, meditando, e com todo conhecimento do Coaching e do ZumZum, muitas vezes eu me vi perdida, com medos, inseguranças, fragilidades….e junto com tudo isso a vontade imensa de fazer diferente, de mudar, de ser uma mãe melhor, uma esposa melhor, uma mulher melhor!

Gael também me mostrou que era hora de parar, desacelerar. E como foi difícil enxergar esta necessidade… como foi difícil assumir que não era hora de focar na vida profissional e mudança de carreira. Eu precisava focar na minha gravidez, no meu bebê que estava em formação dentro de mim. Também precisava curtir meus últimos momentos de mãe exclusiva da minha filhota.

Só mesmo quase aos 45 minutos do segundo tempo consegui. Graças a Deus, a tempo! E ainda assim, até o final segui aprendendo.  Conforme comentei, eu esperava que Gael nascesse antes de 38 semanas, e ele nasceu com 39 e 3 dias sem me dar nenhum sinalzinho prévio de alerta. Controlar minha ansiedade e saber lidar com a espera foi um mega desafio e aprendizado.

O que quero trazer de reflexão com este texto é justamente isso, a importância de estar presente e de se livrar das expectativas. Eu sei que é bastante desafiador, mas que tal experimentar? Superar um desafio é libertador e nos deixa mais fortes e empoderadas para os próximos que virão.

Texto escrito por Amanda Balielo, Mãe da Laís e do Gael, Coach de Mães e participante da turma 4 do Zum Zum de Mães.

@amandabalielocoach 

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