No dia que o Lucas, meu segundo filho nasceu, João seu irmão mais velho passou a noite ardendo em febre e vomitando. Ficou assim por quatro noites e depois todos os sintomas sumiram. O filho mais velho de uma amiga caiu e quebrou o braço, nos dias que se seguiram ao nascimento do seu irmãozinho. Conheço outra criança mais velha que quando sua irmãzinha tinha apenas dois dias de vida pediu a sua mãe para devolvê-la a cegonha! A filha de outra amiga beliscava a irmãzinha sempre que a mãe não estava por perto.
Enfim, quando um bebê nasce emoções de todos os tipos vão emergir nos membros daquela família, que está passando por uma profunda transformação. Adultos e crianças sentirão este impacto.
Abaixo reuni algumas dicas sobre como podemos nos preparar para a chegada de um bebê na família e seguir apoiando as crianças mais velhas a lidarem com suas emoções diante da chega de um irmãozinho ou irmãzinha.
A princípio as crianças podem ficar muito animadas com a chegada deste novo Ser, mas aos poucos sentimentos como ciúmes, raiva, tristeza e ansiedade podem vir à tona. Sendo assim, pais e mães precisam estar atentos para apoiar suas crianças a trilharem esta jornada com suavidade e confiança.
Da mesma maneira, falarei nas dicas 06 e 07, sobre a importância da criação de uma rede de apoio familiar para que a mãe possa mergulhar nesta relação com os filhos tranquilamente, desfrutando de cada aprendizado que possa emergir. Vamos lá então:
Desde antes do nascimento do bebê é importante que você separe um tempo na rotina diária dos seus filhos mais velhos para que eles façam, juntos com você, o que eles quiserem. Passear na praça, dançar, cantar, pular na cama, explorar um jardim, o que quiserem será bem vindo e você será sua grande parceira. Fique atenta e mergulhe no brincar da criança. Convide sua criança interna para participar da brincadeira e deixe o adulto de lado, evite dar conselhos, orientações e simplesmente deixe-se guiar por seus filhos. Você está ali para conhecê-los ainda mais, para estreitar os laços desta relação e gerar um espaço de intimidade e confiança fundamental para qualquer desafio futuro que possa surgir.
Meia hora diária, ou umas duas horas semanais são suficientes para ajudar no aprofundamento da relação. Desligue seu celular, faça um lanchinho, vá ao banheiro antes do seu tempo exclusivo com as crianças! Nada nem ninguém deve tirar seu foco nestes minutos especiais de conexão, amor e presença, eles podem revitalizar seus pequenos e você, também, poderá se sentir muito bem. Essa atitude vai mostrar para seus filhos o quanto ele é importante para você e vai gerar segurança para que ele enfrente a mudança que está por vir. Lembre-se de continuar este trabalho após o nascimento do bebê sempre que possível.
O brincar é o lugar onde a criança vai expressar o que vem absorvendo do mundo ao redor. É ali que a criança elabora suas emoções. Um adulto que sabe disso assume sua responsabilidade de “guardião do brincar” e vai favorecer ao máximo que seu filho entre em atividade lúdica. É responsabilidade do adulto preparar um ambiente seguro com estímulos adequados para que a criança possa se movimentar livremente, tanto dentro quanto fora de casa.
Tente presenciar alguns momentos deste brincar, você não precisa brincar junto aqui, simplesmente prepare o ambiente e fique por ali fazendo suas atividades de adulto, cuidando do bebê, limpando a casa, cozinhando, etc. Fique sempre atenta, observando. Vozes, histórias, personagens, podem dizer muito do que a criança está sentindo, você poderá se surpreender com a quantidade de questões que serão explicitadas pelas crianças. Essa é mais uma oportunidade de você aprofundar o conhecimento sobre seus filhos e apoiá-los a liberar as emoções que por ventura estejam trancadas em seu mundo interior.
Os filhos mais velhos vão precisar de alguns momentos para “respirar” longe do seu lar que está passando por intensas mudanças. Nesse momentos é fundamental que eles estejam com um adulto de confiança, com o qual possam se expressar livremente e passar um tempo juntos. Esse adulto pode ser uma avó, uma tia, uma amiga da mãe, enfim encontre pessoas próximas que deem atenção e apoio aos seus filhos e combine encontros mesmo antes do bebê nascer. Essa relação entre adulto e criança pode ser muito confortante e acolhedora para a criança.
Além do adulto, dependendo da idade da criança (sugiro a partir de 3 ou 4 anos) é legal criar uma rotina com amigos com os quais ela possa brincar junto. O João meu filho, 7 anos, depois do nascimento do Lucas, 7 meses, se aproximou muito do seu amigo Tom, que por sua vez também havia ganhado um irmãozinho recentemente. Os dois vão e voltam da escola juntos, brincam ao menos duas tardes na semana livremente na pracinha perto de nossa casa, além de fazerem aula de skate duas vezes por semana. Essa relação entre os dois é extremamente positiva para ambos, eles se apoiam e se divertem muito brincando juntos.
A Angústia da separação é um sentimento comum para as crianças em diversos momentos de sua vida. A chegada de um irmão ou irmã pode evocar ainda mais este sentimento e trazer comportamentos desafiadores para os pais.
O que sugiro aqui é que você observe, mesmo antes do bebê nascer, em quais momentos de separação a criança tem maior dificuldade. Pode ser durante a chegada na escola, à noite antes de dormir, quando a mãe vai para o trabalho, ou quando ela está conversando com outra pessoa, ou prestando atenção no celular, enfim, observe o que vem à tona nestes momentos de pequenas separações. Às vezes ela ficará mais chorosa, irritada, agressiva, manhosa.
O que fazer para apoiá-la? Imaginemos que antes de dormir a criança peça para você contar mais uma história. Fique atenta, pois isso pode indicar que ela está angustiada diante deste momento de separação. E você deve colocar o limite com muito amor. Simplesmente pode dizer: “Meu amor, agora é hora de dormir e já contamos a história de hoje!”. Caso ela comece a chorar, fique ali presente. Este choro está te dizendo o quanto é difícil se despedir e se entregar sozinha a uma longa noite de sono. Escute o choro com compaixão pelo que seu filho está sentindo, sem julga-lo, sem intervir demais, sem tentar dizer para ele o que está sentindo. Não coloque os sentimentos dele em palavras neste momento. Somente fique presente, escutando e siga firme e amorosamente com sua intenção. Dessa forma ele terá a oportunidade, por meio do choro, de trazer este sentimento para a superfície e esvaziar seu campo emocional de forma natural.
Alguns dias antes do nascimento do meu segundo filho pedi a uma grande amiga que costurasse um boneco de tricô para o João. Assim, no dia que o Lucas nasceu, deixei o bonequinho envolvido em uma mantinha de flanela em cima da cama do João. Quando ele chegou no seu quarto e viu o boneco ficou muito surpreso, seus olhinhos brilhavam de alegria e seus gestos diziam o quanto ele estava grato pelo presente trazido “dos céus” por seu pequenino irmão. Eu e meu esposo dissemos para ele que o boneco foi um presente do anjo da guarda do Lucas: “Ele trouxe o bonequinho para você no mesmo momento que trouxe o Lucas para nossa família!”
A ideia de presentear a criança mais velha tem o intuito de trazer um objeto simples e aconchegante que possa apoiar a criança a lidar com este momento novo. É claro que o boneco não irá substituir nada, mas pode servir como um pequeno conforto para momentos nos quais o irmão mais velho se sentir sozinho, “abandonado”, etc. Sinto que ajuda a criança a elaborar e expressar melhor o que está sentindo. É importante também deixar claro para a criança mais velha que você a ama muito e ninguém jamais vai tirar o lugar dela em sua vida, em seu coração.
O ideal aqui é dar algum presentinho simples e que traga conforto e alento para seu filho. Pode ser um boneco, um paninho destes gostosos de dormir, um anjinho, uma fadinha, enfim algo que faça parte da crença familiar e que simbolize este momento especial!
Nos primeiros dias após o nascimento do bebê toda ajuda é bem vinda! A mãe está se recuperando do parto e toda a família se reorganizando com a chegada do bebê. Há muito o que se fazer.
Eu me recordo que nas duas primeiras semanas após o nascimento do Lucas, minhas amigas se organizaram para trazer o almoço para minha família, cada dia uma preparava uma comidinha deliciosa e a entregava por volta de 11:30 em minha casa. Foi um presente especial que me trouxe uma sensação de amparo e cuidado maravilhosos. Esse gesto me permitiu ficar mais tranquila e liberada para cuidar do bebê e descansar.
Durante os primeiros quarenta dias de vida do bebê, é importante que a mãe organize uma rede de apoio que a deixe amparada o suficiente para que possa cuidar do bebê e de si mesma. Avós, tias e tios, amigos, vizinhos, ou até mesmo uma empregada doméstica que façam as tarefas da casa, limpeza, comida, roupas, etc. que apoiem nos cuidados com as outras crianças, cuide coisas que precisariam ser feitas em bancos, lojas, fora de casa que antes poderiam ser de responsabilidade da mulher, para que a mesma fique liberada para mergulhar neste momento profundo de auto descoberta e conexão com o bebê.
Como disse anteriormente, sentimentos de todos os tipos surgirão após a chegada do bebê, tanto nos adultos quanto nas crianças. A mãe, que está física, emocional e mentalmente “revirada” , além de lidar com tudo isso, precisa estar tranquila para cuidar do bebê.
Eu me lembro que, após o nascimento dos meus dois filhos, tive uma sensação parecida: quando estava escurecendo eu sentia uma tristeza tão profunda que as lágrimas brotavam dos meus olhos e eu ficava ali debruçada no bercinho deles por alguns minutos olhando para aquele pequenino ser, tão frágil e delicado. Era uma sensação de angústia que tomava conta e trazia uma mistura de sentimentos tais como medo, tristeza, ansiedade e esperança.
Estas e outras sensações são comuns após a chegada de um bebê. Elas trazem, junto com a alegria pela chegada do filhinho, a possibilidade de mostrar à mãe parte de sua sombra, ou seja, aquilo que é rejeitado pelos padrões sociais e por ela mesma ao longo de sua vida e fica ali escondido povoando o seu inconsciente. Estas criações mentais reprimidas precisam vir à tona, vez ou outra, para que façamos uma “limpeza”, e assim possamos integrar esta parte sombria que nos amedronta, afim de buscar a verdadeira liberdade de nosso ser.
A relação mãe-bebê é uma grande oportunidade de auto descoberta e crescimento para a mãe, se ela está disponível e relaxada o suficiente para se conectar com seu bebê e mergulhar neste universo desconhecido de sua sombra. Neste momento o apoio de uma grande amiga, um terapeuta, ou uma rede de mães é fundamental para amenizar e amparar esta jornada intensa e muitas vezes desafiante.
Eu tenho praticado todas as dicas relatadas acima nestes últimos meses após a chegada do Lucas. Penso que eles podem ser úteis e vão apoiar você e sua família nesta linda jornada que é a gravidez e a chegada de um filho!
Aguardo seus comentários para aprender com você!!! 😉
Inspirado no artigo do site “Hand in Hand Parenting”: http://www.handinhandparenting.org/article/five-keys-preparing-for-the-birth-of-a-sibling/?inf_contact_key=aed2e0440926fe4cafd57df1b27837955167993a9e11cd21fa8a50975f9f3e55