Os ensaios do dia a dia apontavam-no para uma portinha que se abria, rumo à primeira grande separação, a escola.
Criamos um clima de véspera, aparentemente saudável, na intenção de prepará-lo para a mudança.
Mas o bom diálogo se tornou vivência antecipada e ansiedade, com direito a vômito e à febre no primeiro dia de adaptação.
Apesar de tudo, ele quis ir e me ensinou sobre superação.
Chorou, ficou só um pouquinho, para ter vontade de voltar no dia seguinte. Assim aprendi a lição de que não precisamos chegar ao nosso limite.
Feito a expressão popular “o gato subiu no telhado” foram os demais dias de adaptação, tudo bem devagarinho, ao tempo dele.
A cada olhar cabisbaixo, as professoras se revezavam e olhavam-no nos olhos, como se quisessem tocar seu coração.
E se não resolvesse era o meu coração que aparecia, até que em pouco tempo as lágrimas que caíam ficaram escassas diante do novo mundo que se abria ao seu redor.
O cheiro da chuva, os animais soltos, o pique esconde, a areia que esfrega e afaga, a música, a ciranda, as mãos dadas com o amiguinho ao lado, o joelho ralado.
Um espaço para os sapatos. O quê? Meu filho vai pisar com seus pesinhos limpinhos no chão?
Não só pisou como se sentiu livre para brincar e se conectar com os seus desejos e emoções.
E foi assim, de camarote, que eu assisti a espontaneidade correr livre leve e solta pelo ar.
Em pouco tempo fui colocada na coxia desse lindo espetáculo, para me preparar para o grande dia.
E ele chegou, veio a galope, bateu à porta e me convidou para passear.
Olhei pelo vão da maçaneta e senti um clarão cegar meus olhos marejados da saudade que ainda estava por vir. Sim, era eu quem não estava pronta para partir.
Olhei ao longe, como quem fingia ter que se despedir de alguém para sair e avistei uma criança, rindo às gargalhadas.
Ah, era ele, o meu menino. A claridade penetrou em meus pensamentos, que me fizeram enxergar a felicidade fora de mim.
Não, ele não me viu, pensei e virei-me para ir embora. De repente, ele levantou os bracinhos e acenou em minha direção.
Com um tchau certeiro, mostrou-me que estava inteiro e que era chegada a hora de eu ser o personagem principal desta nova atuação.
Esse texto foi escrito por Lígia Freitas, Mãe do João e Participante do Zum Zum de Mães.
@ligiafreitasescritora