Chega de chorar, o que está acontecendo?
Assim começou nossa conversa, em tom estridente, naquela noite fatídica, em que o meu filho não queria dormir no seu quarto.
Eu não sabia quem estava pior. Eu, uma mãe desprovida de autocontrole para aceitar o choro incessante do seu filho ou ele, uma criança normal, de apenas dois anos de idade, que não conseguia reconhecer e nomear seus sentimentos.
O choro foi aumentando à medida que fui me irritando e como última alternativa eu gritei um basta, mas para mim mesma.
Uma voz sussurrou em meus ouvidos:
“Pense em como foi o seu dia. Ouça esse choro em forma de lamento. Acredite, algo ele está lhe dizendo”.
Meu dia foi normal, Voz do Além. Talvez um pouco agitado e só. Tudo bem, tudo bem, voltemos no tempo.
Trimmm!! Ouvi o barulho do despertador e acordei apressada, coloquei um vestido rodado e um sapato de salto alto, fiz a maquiagem, tomei meu café e como de costume sentei-me no sofá para esperar que o meu filho acordasse.
Porém naquela manhã, eu não podia esperar mais do que cinco minutos e acabei saindo de casa sem me despedir dele.
Voltei apenas no cair da noite, novamente algo diferente, pois jamais passo um dia inteiro longe dele.
É, a tal Voz do Além estava certa, meu dia foi mesmo inusitado e aquele choro tinha nome e sobrenome: saudade da mamãe.
A correria foi tamanha que tomou conta da mente e se esqueceu da alma. Agora é o meu corpo que pede calma.
Deitei-o em meu ombro e comecei a fazer carinho na sua cabeça.
Olho no olho, coração com coração, lágrima com lágrima, perdão com perdão.
Ele adormeceu em instantes, antes mesmo de eu tomar a minha decisão-quarto dele ou meu.
Na verdade, ele decidiu por mim, já que estava em meus braços. Levantei-me e guardei minhas regras e teorias numa gaveta empoeirada lá do porão.
Levei-o para o meu quarto e no meio do caminho encontrei as respostas. Percebi que a força de uma mãe não está nas palavras, mas no eterno caminhar de mãos dadas e que o compromisso é muito mais emocional do que obrigacional.
Deitei-o na minha cama e senti necessidade de falar, imaginando que ele não fosse escutar:
-Filho, a mamãe também estava morrendo de saudade de você, então durma hoje bem aqui do meu lado!
E ao som de um ahhhh ele me respondeu aliviado, como quem ouvia música para seus ouvidos.
Esse texto foi escrito por Lígia Freitas, Mãe do João e Participante do Zum Zum de Mães.
@ligiafreitasescritora