Um convite inusitado

Tenho acessado minha ira com frequência. Sinto o corpo todo esquentar enquanto minha mente tagarela assume o controle. Isso tudo geralmente se intensifica quando estou perto de outras pessoas que podem ou não necessariamente compartilhar da mesma linha que escolhi para criar meu filho e, geralmente pelas quais tenho grande carinho apesar das diferenças.

Dentre elas, amig@s e familiares e, ainda que eu já tenha lido inúmeras vezes que no momento da crise de uma criança o mais importante é conexão com ela, minha mente (meu ego) me teletransporta para um tempo-espaço que ainda não chegou. Na realidade, nesse momento quero (pra não dizer exijo) respeito. Quero encarecidamente que meu filho pare de bater, gritar, fugir (de mim, do sono, do banho, da escovação dos dentes, da arrumação do quarto e de todas as atividades básicas de uma criança de três anos recém completos), quero enfim que ele se acalme e pare de me constranger e sobretudo de me apontar todas as possíveis falhas que cometi antes de chegar nesse caos.

Se você reparar bem (sem me julgar), esse ainda desconhecido (e temido) tempo-espaço, me fazem crer diante do caos que meu filho é uma criança incontrolável, mimada e desrespeitosa. Me iludo com a ladainha de que “se ele não for corrigido com rigor se tornará um adolescente e um adulto degenerado e que nunca irá me respeitar e que, e que, e que…” Alô mente tagarela! Peraí! Será que eu penso mesmo nisso? 

A grande verdade é que, ao escrever neste exato momento, me dou conta de que nada disso passa realmente na minha cabeça. O que fica mesmo martelando aqui dentro é: “o que vão pensar de você?”, “O que vão pensar da sua competência enquanto mãe?”, ” O que vão pensar do SEU filho?”. Acredite, conscientemente sei que isso é obra do meu Ego que, para sobreviver, precisa se manter no controle, mas também sei conscientemente que, quando ele assume o controle, é o meu inconsciente quem dita as regras, as reações, os medos, as angústias e escancara as crenças que me limitam ser quem realmente, em essência, sou.

Mas então, como fazer? Como mudar o mindset? Como virar a chave que me faz usar com propriedade uma personagem inconscientemente agressiva para se manter no controle? Por que raios eu preciso tanto desse controle minha Deusa? 

Se você me deu as mãos ali em cima e também deseja encontrar as respostas para todas essas perguntas, vamos juntas até porque eu mesma – sinto muito em dizer – ainda não conheço as respostas para as minhas perguntas. Mas, sei que encarar e lidar com meu filho nessas situações acima citadas, são o que mais me fazem ter, mais uma vez, a certeza de que não tenho controle de absolutamente nada. Descobri com o tempo que, é também nessas mesmas condições, que me dou conta de que meu grande desafio é justamente esse: baixar a guarda do Ego, tirar o alimento dele para que ele não assuma a liderança e me afaste cada vez mais da minha essência. E mais, outra verdade que encarei e assumi, é que é certamente muito mais simples fazer esse movimento de desidentificação com a mente tagarela no aconchego de nossas casas, no perímetro das nossas paredes protetoras, do que diante de olhos expectadores – ou nem tão expectadores assim.

À medida em que escrevo, percebo e integro a informação de que essas pessoas são personagens de uma história que precisava ser delicada e homeopaticamente revelada para mim. Elas são, nada mais que o meu reflexo no meu filho, elas são as atrizes e os atores da minha peça – chamada vida,  que eu precisava para entender que, em realidade, elas não existem, estão apenas projetando o que já existe em mim, ancorado em algum canto do meu inconsciente, tentando me salvar de algum perigo que, algum dia – num outro tempo-espaço que minha mente consciente não se lembra – me marcou.

Então eu paro, olho e acolho as infinitas inseguranças inerentes da maternidade. Acolho aquilo que compreendo e também o que ainda não compreendo, acolho a mulher e a mãe que sou: possível, imperfeita e eternamente buscadora de uma melhor versão de mim mesma. E não que esse movimento introspectivo de se acolher seja tão natural quanto parece, acredite, me levou tempo para aceitá-lo e ainda me leva tempo para colocá-lo em prática, mas no final das contas, eu tô tentando. Permito-me ainda afirmar que, certamente esse movimento é tão desafiador quanto lidar com os desafios de educar meu filho com limites, gentileza e amorosidade, tudo junto e ao mesmo tempo. Mas, ainda assim, não tenho dúvidas que a grande chave para abrir essa porta desconhecida, é a tomada de consciência, onde o acolhimento e conexão só se tornam possíveis quando abrimos espaço para enxergarmos além da sombra. E aí, você aceita o convite? 

TEXTO escrito por: Iara Schmidt
Iara é mineira, e como boa sagitariana é uma viajante nata e buscadora de si. Mãe de um aquarianinho nascido em fevereiro de 2016 – fonte do puro amor e inspiração infinita – realizou da gestação ao puerpério ritos de passagem que transformaram – e continuam transformando – sua essência.