Foi depois que me tornei mãe que a busca pelo autoconhecimento veio com força total. Muitas questões vieram a tona no meu pós parto e eu precisava trazer luz para minha sombra. Iniciei um processo de Coaching, o qual me ajudou a enxergar fora da caixa. Me apaixonei tanto pelo processo que resolvi me capacitar e estudar para também ser Coach.
Dos vários assuntos abordados na formação, me chamava sempre a atenção os temas relacionados à mente humana, sobretudo quando se tratava do nosso obscuro inconsciente. Aprendi que cerca de 95% de toda nossa atividade cerebral é comandada pelo nosso inconsciente, e apenas 5% pelo consciente. Fiquei intrigada com esta afirmação. Considerando que nossa mente é responsável por criar a realidade em que vivemos e pelo que somos, e se 95% dela trabalha de forma inconsciente, há de se ter cuidado. Esta é uma das razões pela qual ultimamente existem tantos estudos para desvendar os mistérios da mente humana, sobretudo no que diz respeito ao inconsciente.
Para ficar mais claro, trago para vocês de forma bem simples e resumida, a diferença entre Mente Consciente, Mente Subconsciente e Mente Inconsciente.
Mente Consciente:
É a parte do cérebro que pensa. É a mente desperta, acordada, que observa e coordena todas as nossas ações. É capaz de comparar, julgar e identificar se algo é bom ou ruim. Quando uma pessoa sente uma dor e sabe onde é essa dor, essa pessoa é consciente da existência da dor.
Mente subconsciente.
É a parte do cérebro que é responsável pelas nossas crenças, sejam elas fortalecedoras ou não. Se uma mãe acredita que não será capaz de nutrir seu bebê, pois não tem leite suficiente ou o mesmo é fraco, então ela tem algo relacionado a amamentação armazenado em seu subconsciente que a faz pensar deste modo.
Costumo dizer que o subconsciente é um acervo das nossas memórias que para serem acessadas precisam de um esforço a mais. Sabe quando você esta querendo lembrar o nome de um livro super interessante que você leu sobre o sono dos bebês e você não consegue? Você se esforça, se lembra de trechos do livro, mas nada do nome. E de repente, minutos ou horas depois, quando você nem pensava mais sobre o assunto, você se lembra.
Mente Inconsciente.
É a parte do cérebro responsável pelos sentimentos. Essa parte domina o corpo e é por esse motivo que faz a pessoa fazer algumas coisas que muitas vezes não queria fazer. Sabe quando seu filho esta num momento de descontrole emocional, e mesmo você não querendo, de repente se vê gritando ou falando “coisas horríveis”? É seu inconsciente em ação.
Quando uma mãe vai trocar a fralda de seu bebê, por exemplo, o faz de forma inconsciente, pois não fica pensando o tempo todo o que tem que fazer. Por isso é possível trocar a fralda ao mesmo tempo que se canta uma música para entretê-lo.
Eu sempre desejei ser mãe. Gostava e gosto muito de bebes e crianças. Quando jovem, sempre pensei em ter três filhos, acredito que pelo fato de eu ter dois irmãos. Todavia, meu marido desde o inicio falava que queria um só. Decidimos então que teríamos dois. Quando eu estava grávida da minha primeira filha, a Laís, eu já pensava e comunicava para as pessoas que após dois anos eu estaria grávida de novo. Eu imaginava uma diferença de idade entre um filho e outro de cerca 2 a 2 anos e meio. Comentava inclusive que ia amamentar os dois ao mesmo tempo.
Laís nasceu, e com ela veio o puerpério, uma reviravolta. Mesmo eu desejando tanto ser mãe, não tinha consciência de tamanha mudança e transformação que a maternidade proporciona na vida de uma mulher. Infelizmente muitas não estão preparadas, não têm apoio, não buscam ajuda, e em meio ao caos, desistem de ter mais um filho.
Meu marido, que desde antes só queria um filho, sempre que estávamos em algum momento desafiador do pós parto, me instigava a “fecharmos a fábrica”. Confesso que muitas vezes cheguei a pensar nessa possibilidade, mas não me enxergava sendo mãe apenas de um. Então resolvemos que iríamos esperar um pouco mais para ter o segundo, talvez 3 ou 4 anos ao invés de 2. Assim seguimos, mas não nos prevenimos adequadamente.
Voltei a menstruar após 1 ano e 3 meses do nascimento da Laís, exatamente no dia 01/01/2016. Lembro que fiquei feliz e pensei: “já estou pronta para engravidar de novo, e o período é o ideal para a diferença de idade que eu desejo”. Mas ao mesmo tempo este pensamento foi substituído por: “Agora não é hora de engravidar, há algumas questões profissionais que precisam ser resolvidas, tenho que me cuidar”. Como a vida sexual não estava assim tão ativa, reflexo ainda da adaptação da maternidade, eu estava seguindo a boa e velha tebelinha e não tendo relações nos possíveis dias férteis (foi seguindo a tabelinha que engravidei da Laís, mas fazendo o contrário).
Mas mesmo meu consciente dizendo NÃO, o meu inconsciente dizia SIM. Eu via outras mulheres grávidas e com crianças pequenas, e ficava me imaginando na mesma situação. Eu sentia saudade da minha barriga de grávida. E quando alguém me perguntava a respeito de ter mais filhos, eu respondia que queria mais um, falava da diferença de 2 anos que eu desejava e concluía dizendo que por algumas questões pessoais e profissionais eu tinha resolvido esperar mais um pouco. Só me esqueci de dar este recado para o meu inconsciente e por isso meu corpo estava todo preparado para engravidar. No terceiro mês após a menstruação ter voltado, tendo feito sexo esporadicamente e em datas que possivelmente eu não estava fértil, ENGRAVIDEI. (Quando engravidei da Laís foi um intensivão de 2 meses no período fértil).
Foi a partir desta constatação que eu realmente pude comprovar que nossa mente é fantástica e poderosa. Lógico que na hora que descobri a gravidez isso nem passou pela minha cabeça. Foi necessário algum tempo para eu digerir essa nova mudança e entender que mesmo eu não tendo planejado conscientemente esta gravidez, estava tudo muito bem planejado inconscientemente.
Este é apenas um exemplo real da ação do inconsciente na minha vida.
Quando me tornei mãe, assim como grande parte das recém mães, comecei a ler muito sobre maternidade com o objetivo de me tornar uma mãe melhor. Dentre as diversas páginas nas internet e livros, encontrei a BeeFamily e A Maternidade e o Encontro com a Própria Sombra – Laura Gutman, respectivamente. Ambos foram um divisor de águas na minha maternidade. São fonte de inspiração que me motivam a seguir em busca do autoconhecimento para assim trazer luz para minhas sombras e ser a melhor mãe que posso ser.
Mas o que é essa tal sombra? Segundo a autora, “Este termo, usado e difundido por Carl Jung, tenta ser mais abrangente do que o termo “inconsciente”, defendido por Sigmund Freud. Refere-se às partes desconhecidas de nossa psique e, também, àquelas de nosso mundo espiritual que são desconhecidas.”
Podemos considerar que parte desta sombra encontra-se bem escondida no nosso inconsciente. São memórias do que vivemos, desde nossa concepção até aproximadamente nossos 20 anos, mas principalmente na primeira infância (0 a 3 anos). Medo, abandono, abuso, violência, desamor, insegurança… são alguns exemplos do que muitos de nós experimentamos, mas não lembramos, pois “engavetamos” todas essas “memórias ruins” no inconsciente. E então desenvolvemos um tipo de uma capa protetora, uma máscara, e seguimos firmes e fortes sem nos dar conta do que realmente nos aconteceu, de quem realmente somos. Até que nasce um bebê.
Quando nasce um bebê, recebemos um dos convites mais importantes da nossa vida, olhar para dentro.
O ser humano em geral, só consegue ser plenamente feliz quando aceita e honra sua história, quando se conhece de verdade. Infelizmente, nem todos têm consciência disto e se vão deste plano sem saber quem são. Outros chegam nesta consciência já em idade avançada, e tudo bem, nunca é tarde para buscar o autoconhecimento, ser feliz. Mas nós, mães, costumo dizer que somos privilegiadas, pois recebemos da vida o convite para o autoconhecimento. E melhor ainda, da vida que geramos, de nossos filhos.
É fato que, não é tão simples assim reconhecer este convite, ainda mais sozinha. É muito mais fácil e cômodo cair na mesmice de dizer que:
“Depois que meu filho nasceu …
…minha vida virou um caos.”
…meu casamento está indo de mal a pior.”
…meu marido não me entende.”
…eu não tenho mais tempo para nada.”
…eu não tenho mais vida social.”
…eu deveria estar mais feliz, mas não estou.”
…as vezes tenho vontade de sumir.”
…qualquer coisa me estressa.”
Ou ainda, costumamos rotular nossas crianças como: chorona, birrenta, nervosa, agitada, desobediente, teimosa, mimada, centralizadora…e não faltam rótulos, não faltam reclamações. O que falta mesmo, na grande maioria das vezes, é coragem para buscar ajuda, enxergar e aceitar este convite tão precioso. Eu mesma demorei mais de um ano para entender. Precisei ler muito, passar por um processo de Coaching e pelo ZumZum. Só então me dei conta que, devido ao estado de fusão emocional mãe e bebê, o que minha filha estava expressando com sua inquietação, dificuldade para dormir, choros, algumas vezes febre, era na verdade o que estava dentro de mim.
E assim, o olhar para dentro ficou mais fácil. Não que tenha sido fácil, pelo contrário, foi e é doloroso. O processo de autoconhecimento geralmente dói, pois insistimos em carregar a máscara que criamos de nós mesmas. E quanto mais a gente resiste em ser quem realmente somos, em aceitar nossa história, em trazer luz para a sombra, mais difícil é. Por isso, infelizmente, muitas mães optam, mesmo que inconscientemente, por recusarem este maravilhoso convite ao mergulho nas profundezas do seu ser.
-E você, já aceitou seu convite?
-Consegue perceber nas ações e expressões do seu filho, as suas sombras?
-Como tem sido para você a experiência da maternidade?
-Você é plenamente feliz?
-Quem realmente é você?
Texto escrito por Amanda Balielo, Mãe da Laís e do Gael, Coach de Mães e participante da turma 4 do Zum Zum de Mães.
@amandabalielocoach
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