TV / Tablet para distrair seu filho?!

758_aplicativos_educativosVira e mexe escuto PAIS E MÃES comentarem que suas CRIANÇAS ficam constantemente ENTEDIADAS, que solicitam muito a sua atenção ou que NÃO PARAM QUIETAS para brincar calmamente! Outros ainda completam “a TELEVISÃO E JOGOS ELETRÔNICOS são a melhor forma de distraí-los e conseguir um tempinho livre!” Confesso que me identifico com essa problemática muitas das vezes.

Será mesmo que as crianças hoje em dia não conseguem se CONCENTRAR PARA BRINCAR TRANQUILAMENTE? E a TV e os Jogos Eletrônicos são bons aliados para pais que desejam um TEMPO LIVRE, sem as crianças lhes solicitando atenção sem parar?

Pensando nessas perguntas tentei refletir sobre os impactos de deixar nossos filhos expostos a este tipo de estímulo, TV e Jogos eletrônicos, e sobre como posso apoiá-los a BRINCAR de forma livre, espontânea, criativa e concentrada. Meu objetivo neste texto é compartilhar minhas reflexões com você e não dizer o que pais e mães podem fazer em relação ao brincar das crianças. Vou levantar alguns pontos para que possamos criar juntos novas possibilidades para nossos filhos vivenciarem uma infância saudável e nós pais e mães sentirmos cada vez mais prazer em estar com eles. Sintam-se à vontade para comentar no final do texto e deixar suas opiniões, elas são sempre bem-vindas!

É sempre bom começar observando a criança e suas reais necessidades. É por meio de uma observação atenta que podemos ficar um mais tranquilos com as escolhas que fazemos para nossos filhos. E esta observação bem feita, talvez, seja o maior desafio pois, para logra-la, é necessário que o adulto silencie sua mente, suas vozes mentais repletas de necessidades próprias, juízos e preconceitos e vá ao encontro desta criança, com total quietude interna, interesse e abertura que o permita escutar de forma profunda e clara o que este pequeno ser tem a lhe dizer.

Hoje, percebo que pais e mães, e me incluo neste grupo, têm grande dificuldade de praticar esta observação adequadamente. Posso afirmar que ela é de fundamental importância para a relação entre pais e filhos, pois é preciso despertar um interesse profundo de um pelo outro e isso nasce de um desejo genuíno de crescimento, de evolução para assim inspirar as crianças com nosso exemplo, com o melhor que temos. Na verdade, poucos estão realmente disponíveis e interessados em olhar para dentro quando há tanto o que olhar, escutar, saborear e tocar por fora em um mundo construído pelo consumo pronto para ser vivido por pessoas que se distrairão e serão cooptadas pelo que está de fora.

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Para nós, pais, o trabalho requer ainda mais atenção pois, na maioria das vezes,  viemos de famílias pequenas com pouca experiência de cuidar de outra pessoa, com pouca prática em “sair de si” e ir em direção as necessidades deste outro, o que aumenta a probabilidade de nos tornarmos seres individualistas e com dificuldades de nos movimentarmos de forma autêntica nesta direção. Muito diferente das grandes famílias do início do século passado, nas quais os filhos mais velhos cuidavam dos irmãos mais novos desde muito cedo e os adultos quando tinham filhos já estavam acostumados a cuidar e se ocupar de outras pessoas, pois praticavam esse movimento de ir em direção do outro e voltar para si desde muito cedo.

As reais necessidades das crianças

É possível identificar as reais necessidades das crianças? SIM, é um desafio para nós, mas é possível fazê-lo! E quando conseguimos romper as barreiras do individualismo e as distrações que nos impedem de silenciar a mente, podemos perceber quais as reais necessidades de nossos filhos.

Quando silencio, consigo observar e perceber que uma criança, em seus primeiros anos de vida, precisa basicamente de:

1) CONTATO, criar vínculo com outros seres humanos, olhar nos olhos, ouvir vozes carinhosas, estar rodeada de pessoas interessadas e atentas a ela, se “sentir sentida”, se sentir amada.  Se apegar a este outro (pai/mãe/cuidador) para se inspirar e imitá-lo, pois dessa forma ela vai aprender o que é SER humano, o que é o mundo e como se relacionar com seu entorno. ‘Somos seres de relações e precisamos dessa interação social tanto quanto precisamos de comida’.
2) MOVIMENTO – A criança é puro movimento, é preciso deixa-la livre para se conhecer, conhecer seu corpo e  o mundo ao redor! Mover-se com liberdade, num espaço seguro e acolhedor, devidamente preparado e organizado, é uma das necessidades básicas das crianças. Elas precisam se movimentar para descobrir todas as possibilidades de seu corpo e, assim, alimentar a força da vontade para, futuramente, se desapegar dessa mãe/pai/cuidador e caminhar de forma autônoma, livre e confiante pelo mundo.

O contato e o movimento são fundamentais para o desenvolvimento do ser. A criança que tem ao seu lado um adulto atento as suas necessidades, presente, disponível para aprofundar-se nesta relação, que prepara um ambiente seguro, com estímulos adequados e permite que ela se movimente com liberdade, se sente segura e tem energia suficiente para explorar o mundo.  E a exploração e a experimentação do mundo vão acontecer por meio do brincar.

O Brincar e os Eletrônicos

154051cafe36fcc904a7f2b9254f841d1068920fBrincando a criança imita o mundo e recria o que recebe das pessoas que a cercam, ela elabora, no seu ritmo, tudo que absorve do seu entorno. No brincar ela movimenta e coloca seu corpo, emoções e mente em funcionamento, a serviço do mundo, das pessoas e dela mesma. Ela cria e explora cada detalhe de coisas simples como um toquinho de madeira, que ora é avião e ora é um cavalinho balançando. Quanto mais simples o brinquedo, mais espaço há para a criança fantasiar e se projetar, mais envolvida e concentrada em seu fazer/brincar ela ficará. Dessa forma, há fantasias suficientes para permitir que a criança fique ali entregue ao momento, inteira e presente e não exista a necessidade de buscar a TV e os jogos eletrônicos.

Num primeiro momento, estes a TV e os joguinhos podem parecer bons aliados para pais e mães que desejam um tempo de descanso sem as crianças por perto.  Este tipo de entretenimento deixa a maioria das crianças hipnotizadas, apáticas e imóveis, por um bom tempo. E aí pensamos que deixá-las assistir um pouco de TV ou jogar um joguinho eletrônico por alguns minutos diários talvez não faça mal. No entanto, o excesso de contato com esse tipo de estímulo, vai no sentido oposto das necessidades das crianças e pode ser extremamente perigoso.

Você tem dúvidas sobre isso? Observe então os impactos dos eletrônicos em você e nos seus filhos ou em outras pessoas ao seu redor. O que vocês sentem, pensam e fazem quando passam tempo demasiado em contato com o que se passa nas telas?

Num primeiro momento o contato excessivo com os eletrônicos gera uma PREGUIÇA E INÉRCIA incríveis. Sinto que a falta de movimento corporal aumenta quando estamos vendo TV, jogando joguinhos eletrônicos ou navegando na internet, quanto mais tempo de contato temos com eles. E os impactos não param por aí, por vezes me sinto angustiada e ansiosa, minha mente fica muito acelerada. E essa aceleração mental e as emoções “negativas” decorrentes deste processo, tais como ansiedade e raiva, influenciam minha relação com os demais e em especial com meus filhos e anseio que eles acompanhem este meu ritmo mental acelerado: “anda logo, menino!”.  Além disso, por vezes, me sinto sozinha e triste, mesmo quando estou rodeada de amigos virtuais e informações “super interessantes”. Percebo que na vida real as pessoas estão cada vez mais distantes umas das outras, pouco disponíveis para se escutarem, para se comunicarem  e aprofundarem em suas relações.

E o mesmo percebo no João, meu filho de 6 anos, quando assiste, digamos, a 1 hora de TV (a regra aqui em casa é TV e Joguinhos somente na sexta, sábado e domingo por não mais do que 1 hora por dia)  ele fica mais preguiçoso e pouco colaborativo. Passa o dia brincando de forma mais agressiva e agitada, com muita dificuldade de se aquietar e concentrar nas brincadeiras.

Além dos impactos que percebemos gerados pelo contato com as telas, há um conteúdo por trás disso tudo que também deve ser muito bem avaliado pelos pais. O que chega por meio das telas até nossas crianças?

Mais uma vez o caminho é colocar-se lado a lado dos pequenos e avaliar com atenção o conteúdo dos programas e jogos que eles têm contato. Eu tento selecionar ao máximo aqui em casa, mas sempre passa algo desapercebido ou uma avó que finge não conhecer os combinados da casa e deixa ver e jogar algo que não é permitido. É violência, lutas, disputas, competitividade, super poderes, valores e conceitos que impregnam nossos filhos com uma rapidez assustadora. Fora toda a indústria do consumo, que está por trás dos personagens queridinhos das crianças e dos comerciais, que mina a criatividade e o brincar espontâneo das mesmas, uma vez que cria a necessidade de ter/adquirir aquilo para que seu brincar aconteça e você seja feliz.

Desacelere!

Enfim, há muito mais o que observar e compreender sobre os impactos e as sensações dos eletrônicos em nossas vidas e na criação e desenvolvimento de nossos filhos. Seguir neste trabalho nos permite fazer escolhas mais conscientes, para nós e nossos filhos. A sensação que fica é a de que, cada vez mais, precisamos ficar atentos para escolher caminhos de forma consciente e não seguir cegamente o que a grande maioria das pessoas anda fazendo. Muitas vezes há a necessidade de movimentos contraculturais se o desejo de educar de verdade é legítimo. Assim, DESACELERAR, SILENCIAR, ESCUTAR e APROFUNDAR na compreensão se tornam grandes aliados de pais e mães que querem fazer a diferença na educação de seus filhos.

É sempre bom lembrar que as crianças estão chegando agora neste mundo e o ritmo delas é completamente diferente do ritmo de um adulto e do mundo que nos cerca. A criança se coloca numa postura de abertura e confiança e aceita o que seus cuidadores têm para lhe entregar – elas não têm como se protegerem. É preciso que este adulto que já está inserido no mundo, reflita sobre sua vida, desacelere seu ritmo, de vez em quando silencie sua mente, escute seu coração, ouça sua intuição e se aprofunde nas necessidades daquele SER que acabou de chegar, para não seguir repetindo, sem questionar, a forma como a maioria de nós tem se relacionado com o mundo, com seus recursos e principalmente com as crianças.

Continue o seu trabalho e siga observando e se aprofundando neste universo incrível que são nossos filhos. Veja se consegue entregar a eles o que realmente necessitam, com amor, paciência e muita tranquilidade. E se questione: será que eles precisam mesmo de tanto estímulo eletrônico e virtual ao seu redor? E qual a sua responsabilidade como pai e mãe em proteger seu filho e dar limite ao que chega até ele? Deixe seu comentário aqui abaixo para seguirmos juntos nesta reflexão!

Aqui em casa fazemos assim:

1) Deixamos as regras e limites claros e combinadas entre todos!

A vivência do limite já deve vir desde muito cedo para as crianças. O ventre materno é a primeira fronteira que elas se deparam e logo que nascem o corpo da mãe, as roupinhas, a quantidade de luz e som a que o bebê é exposto são exemplos de fronteiras que são percebidas pela criança. Dessa maneira, quanto mais consciente o cuidador está deste processo, mais tranquilo será a vivência do limite para as crianças. Elas se sentirão seguras e confiantes nos limites estabelecidos e isso favorecerá a cooperação delas com relação às regras e aos combinados no futuro.

Aqui em casa, deixamos as regras claras desde muito cedo, a rotina das crianças é prioridade e poucas vezes alterada pelas necessidades dos adultos. Hora de dormir, hora de comer, o que comer, onde brincar (dentro ou fora de casa) e com o que brincar, quais dias e quantas horas ver TV, quais programas são permitidos, jogar joguinhos eletrônicos, entre outras coisas, são decisões minhas e do meu marido somente. Essas regras funcionam como limites  firmes e seguros que guiam o desenvolvimento de nossos filhos de acordo com o que julgamos ser saudável para eles. É importante que pais e mães pesquisem sobre os temas acima, para tomar decisões conscientes sobre as necessidades das crianças e os limites que seguirão a partir daí. Cada família vai ter suas regras e combinados, mas estes devem ser baseados primeiramente nas necessidades das crianças e isso não difere muito de uma para outra. Por exemplo, está cientificamente provado que as crianças devem dormir cedo, entre 18h e 20h, e por muitas horas (12 horas aproximadamente) sem interrupção. Esta regra não deve variar muito de uma família para outra.

Uma outra dica é comunicar as regras da casa a todos que participam da vida e criação das crianças. Avós, tias e tios, cuidadores devem seguir as mesmas regras definidas pelos pais. Crianças precisam de rotina e de limites.

2) Os adultos viram crianças em algum momento do dia ou da semana e brincam com os filhos.

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Em nossa rotina há momentos que os adultos, deixam a racionalidade, a rigidez e a vergonha de lado e submergem no mundo encantado das crianças. E aqui cada um faz o que gosta. Eu, por exemplo, adoro pintar, desenhar, cantar, pular corda e dançar com meu filho mais velho e faço isso sempre que possível com o maior prazer. Meu marido por sua vez, adora lutar, rolar no chão, andar de bicicleta e skate e jogar futebol. Isso ele faz com prazer e alegria mútuos, dele e do João.

Você pode estar pensando, “mas eu não gosto de fazer nada disso, detesto brincar!”. Posso te afirmar que isso não é 100% verdade, dentro de você há uma criança escondidinha doida para sair, se liberar e se entregar a esta experiência tão fundamental de reviver sua infância junto com seus filhos, agora, como adulto e resignificando as experiências do passado! O que você precisa é tentar… se observar, se permitir e descobrir pequenos prazeres que podem ser vividos de forma leve, divertida e muito alegre junto com seus filhos!

3) Os adultos trabalham com as mãos, convidam as crianças para acompanha-los e inspiram um brincar mais concentrado para os pequenos. 

Quando trabalhamos com as mãos e com nosso corpo as crianças podem perceber o processo do trabalho, que tem início, meio e fim (isso fica claro para a criança). Esse Fazer, e não só o Pensar como estamos acostumados em nossa vida de adulto, é o que colocamos em ação quando cozinhamos, costuramos, dançamos, cuidamos do jardim, regamos as plantas, construímos algo, concertamos o carro, arrumamos armários, limpamos a casa. Isto inspira nossos filhos a se movimentarem também, eles começam a fazer algo junto com o adulto, sozinho ou com outras crianças. Assim, o brincar atinge um ritmo de criatividade e concentração muito bonito de se ver.

Percebo que João encontrou seu ritmo na brincadeira e está ali presente e entregue quando começa a cantarolar. Ele passa horas brincando de massinha, montando Lego, brincando com seus bonecos, fazendo cabacinhas e naves espaciais, sempre cantarolando, contando histórias e fazendo vozes diferentes para os personagens que cria em seu brincar! Esta é uma observação que você pode e deve fazer junto ao seu filho, para descobrir quando ele está efetivamente entregue ao brincar.

Esses 3 pontos que pratico em minha casa me ajudam a desenvolver uma relação mais saudável e harmônica com meus filhos. Quanto mais os pratico, maior é a conexão com às necessidades de meus filhos, mais claros ficam os limites e mais criativo e concentrado é o brincar das crianças.

E você o que faz em sua casa? Me conta ai embaixo vou adorar aprender  com você!!! 😉