Abri o armário e o aroma refrescante do Anis invadiu a cozinha. Neste instante me transportei para um passado bem distante: a minha infância. Numa fração de segundos viajei para uma época em que eu nem lembrava que havia passado, mas que aquele cheirinho me lembrou…

Quando pequena eu amava as estrelas, o céu, os planetas. Aprendi com meu pai a olhar para as constelações, dar nome a elas. Ele me ensinou sobre os astros e sobre tudo o que se referia ao céu. Ele gostava tanto que as vezes parecia estar mais lá do que aqui. E por sua influência também aprendi a gostar e a fazer do céu a minha fuga, o meu refúgio. Algumas noites dormia com ele em redes ao ar livre e ficávamos observando o céu e conversando, e eu, sonhava em ser astronauta, a voar livremente pelo universo. Lá eu não sofria, não havia problemas, lá eu era livre de mim e de tudo o que eu não entendia. Naquela época minha irmã do meio nasceu e a minha atenção de filha única se foi. Meus pais, identificados com suas dores, não conseguiam ver a minha tristeza. Eu fiquei então sozinha, calada, invisível. Sentia-me desamparada nos meus sofreres, pois era tão pequena e tão frágil e eram tantas coisas que eu não conseguia entender e que nenhum adulto conseguia me dizer. Também ganhei um cachorro, uma linda pastora alemã chamada Maribel, que chegou numa mochila, bem pequena, virou minha amiga e confidente, ela me entendia, recebia dela amor incondicional. Logo, ela virou um problema e a mandaram para um sítio qualquer. Não entendi o porquê, nem me disseram ou explicaram, só me mandaram aceitar. Novamente me calei, não chorei, não gritei, só emburrei e segui assim, brava, de cara amarrada, embotando uma dor que eu nem sabia como chamar. Com o tempo fui percebendo como fazer e parei de me expressar, aprendi logo a me adequar para recuperar meu lugar no sistema, para tentar ser amada e para receber algumas “migalhas” de atenção e amor

De repente ouvi um som e despertei de meu pensamento, senti o cheirinho do Anis Estrelado de novo e uma nostalgia me invadiu. Chorei, e agora me abracei, me entendi, me dei colo. Agora cresci e aquela pequena criança que queria morar no céu, entre as estrelas, pôde por mim ser amparada. Aos poucos estou aprendendo a cuidar dela, a dar a ela o que não tive, a envolvê-la com todo o amor que eu puder. E toda vez que encontro aquela pequenina, pego em sua mão e a levo ao coração. Enxugo suas lágrimas, sorrio para ela e a faço rir. Hoje, a levo comigo e a consolo, e assim curamos uma a uma nossas feridas, e a cada dor descoberta nos unimos um pouco mais e a cada novo encontro vamos nos tornando uma, integrando nosso ser.

Relato de vivência a partir da participação na primeira turma do Caminho de Conexão com sua Criança Interior.

Texto: Ana Blasi. Mãe da Flávia, Participante da Turma 9 do Zum Zum de Mães e apaixonada por educação e conexão. @blasi_ana / [email protected] .

Fotografia: Iza Guimarães. Mãe, fotógrafa, participante da turma 3 do Zum Zum, que descobriu e acredita na fotografia como instrumento de autoconhecimento e conexão. Visite o site www.retratoterapia.com.br e siga no instagram @izaguimaraesfotografia. 

A mão que bate rebate toda forma de conexão com o amor.

Quando se aproxima da criança sua raiva exala e agride aquele ser indefeso, vulnerável, sensível.

Ela separa, entristece, anoitece, oprime.

A mão que bate não corrige, não educa, não muda comportamentos.

Essa mão que não enxerga, fica cega e marca.

E as marcas da mão que bate ficam no corpo e na alma.

Tiram a energia em cada palmada, calam a voz, sequestram a vontade de seguir, desmoronam e implodem o porvir.

A mão que bate apaga o sorriso no rosto, o calor do corpo, desmonta a vida!

A mão que bate, desata laços, causa embaraços, persegue, desalinha, descarrila, empobrece!

Toda a mão que bate também bate e assim ela abate toda a chance de mudar.

De toda sorte, oh mão que bate!

… transforme-se na mão que acolhe e abrace a chance de recomeçar!

Seja a mão que acolhe, que sorri, que ri.

Que acaricia a cria, que sente um pé, uma mão, um coração!

Uma mão que acolhe, faz correr de emoção, faz chorar de tanto rir, faz unir o coração.

A mão que acolhe enxuga as lágrimas não as derrama, apenas proclama todo o amor que vem trazer.

A mão que acolhe alegra, sorri, aquece, move, impulsiona, une e reúne!

A mão que acolhe cura doença de filho, tem poder de acalmar, baixa febre, cura machucado, tira a dor, pela medicina do amor.

Toda mão que acolhe o ser, é acolhida também e vai acolhendo pelo caminho todo outro que aparecer.

Assim, para o ser proteger, sejamos todos mãos que acolhem, que envolvem, que abraçam, que enlaçam…. sejamos todos defensores do futuro que nos espera, amparando toda criança que caminhe por essa Terra!

Texto: Ana Blasi, Mãe da Flávia, Participante da Turma 9 do Zum Zum de Mães e apaixonada por educação e conexão. IG @blasi_ana E-mail: [email protected]

Fotografia: Iza Guimarães. Mãe, fotógrafa, participante da turma 3 do Zum Zum, que descobriu e acredita na fotografia como instrumento de autoconhecimento e conexão. Visite o site www.retratoterapia.com.br e siga no instagram @izaguimaraesfotografia. 

 

 

O pano vermelho encobria a entrada da Tenda. Aquela porta cujo acesso era permitido somente às mulheres. Lá dentro tudo era decorado com muito carinho, panos, estátuas, incensos e velas transformavam o ambiente, tornando a experiência de estar naquele local única. Os detalhes indicavam carinho e aconchego. Lá estávamos todas reunidas, das mais jovens às anciãs. Os ensinamentos eram passados verbalmente e as trocas eram um momento especial de crescimento e proteção. Em rodas as minhas dores eram as dores de todas, as minhas alegrias eram festa em união, o individual e o coletivo se confundiam e ninguém estava sozinha. A “Tenda Vermelha” era o lugar onde as mais novas aprendiam sobre os mistérios femininos e as mais sábias ensinavam por meio de suas falas e experiências. Lá, tínhamos nossos bebês, todas juntas, numa só força, rezando, cantando, apoiando.  Ao chegar a hora da amamentação, a “Lua de Leite” era respeitada e a proteção feminina permitia que a mãe e o bebê se conectassem intensamente, sem interrupção, sem distrações, somente os dois num só corpo. Em roda conversávamos sobre as nossas sombras e as nossas luzes, não havia solidão, toda tristeza tinha uma companhia, e sempre havia um olhar carinhoso e um escutar amoroso. Uma vez por mês, quando nosso sangue chegava, nos recolhíamos na Tenda para apaziguar nosso corpo e aprender com nosso momento, respeitando nossa energia e entrando na caverna do nosso eu, era um ambiente seguro. Hoje não temos mais as “Tendas Vermelhas”, novos tempos surgiram e as reuniões de mulheres foram acabando. Não podemos mais nos recolher uma vez por mês para respeitar o nosso corpo que pede parada. A maioria de nós tem seus bebês em locais frios e na presença de poucas mulheres. Não usufruímos de paz para amamentar e conhecer a nossa cria. Há muitas interferências, poluição, pouca proteção. Estamos sozinhas em nossos lares, nas madrugadas, sem as mulheres de nossas vidas e sem a sabedoria feminina que é essencial. As dores, as sombras e as tristezas aparecem e a roda de mulheres não está mais lá, não há mais o pano vermelho indicando que aquele é um local protegido, não sabemos para onde ir. Entretanto, existe uma Tenda sendo aberta, renascendo, ressurgindo… é a Tenda Materna. Um espaço virtual de amor, carinho, acolhimento, aconchego, escuta! Aqui as tuas dores são nossas e poderemos nestes dias recriar a atmosfera sagrada das rodas de mulheres. Reviva conosco essa energia que nos empodera, essa vitalidade da união, da conexão, do auxílio. A Tenda Materna é um movimento e um espaço terapêutico em que nós mulheres/mães nos encontraremos, como no passado, e poderemos nos apoiar em nossas angústias, nossos medos e nossas aflições para juntas, seguirmos fortalecidas.

Se você sentiu o chamado te convidamos a participar do primeiro Workshop Online e Gratuito da Tenda Materna que acontecerá de 19 a 26 de agosto 2020. Para inscrições segue o link: https://escoladepais.beefamily.com.br/cadastro-workshop-tenda-materna

Este texto foi escrito por: 

Ana Blasi, Mãe da Flávia, Participante da Turma 9 do Zum Zum de Mães e apaixonada por educação e conexão.

IG @blasi_ana

E-mail: [email protected]